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História Eclesiástica de Eusébio de
Cesaréia
Livro IV
- Capítulos 17 a 18
XVII - Dos
mártires mencionados por Justino em sua própria obra
XVIII - Que tratados de Justino chegaram a nós
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XVII - Dos
mártires mencionados por Justino em sua própria obra
1. O mesmo autor, antes de seu próprio combate, menciona
em sua primeira Apologia a outros mártires anteriores a ele. Também este
relato é útil para nosso intento.
2.
Escreve assim: "Uma
mulher vivia com seu dissoluto marido, e ela mesma havia-se dado anteriormente
à vida dissoluta. Mas, depois que conheceu os ensinamentos de Cristo, aprendeu a conter-se e tratava de persuadir seu marido a
tornar-se casto também, apresentando os ensinamentos e anunciando-lhe o
castigo que no fogo eterno terão os que não
vivem castamente e conforme a reta razão.
3.
Mas ele perseverava na mesma devassidão e com suas obras
seguia afastando-se de sua esposa, pois a
mulher, considerando ímpio seguir compartilhando o leito com um homem que buscava recursos de prazer por todos os
meios, contra a lei da natureza e contra a justiça, quis divorciar-se.
4.
E como os seus lhe suplicaram e a
aconselharam que aguardasse ainda, com a esperança de que o homem pudesse um dia
mudar, fazendo uma violência contra si mesma, esperou.
5.
Mas depois que seu marido foi para
Alexandria e ela teve notícia de que ali fazia coisas piores,
para evitar compartilhar com ele as injustiças e impiedades permanecendo
no matrimônio e compartilhando a mesa e o leito, deu-lhe o que entre vós se
chama repudium e se separou.
6.
Mas o bom de seu marido, que deveria
alegrar-se de que sua mulher, antes entregue à vida fácil com criados e
diaristas, desfrutando de bebedeiras e todo
tipo de maldades, não somente havia cessado com todas estas práticas, mas que
também queria que ele deixasse de fazer o mesmo, porque havia se separado
sem que ele o quisesse, vai e a acusa de ser cristã.
7.
E ela apresentou a ti, imperador, um
libelo em que pedia, em primeiro lugar, que lhe fosse
permitido dispor de seus bens, e depois, quando seus assuntos estivessem
arranjados, apresentar sua defesa frente à acusação. E tu o permitiste.
8.
Mas seu ex-marido, não podendo então dizer nada contra ela,
voltou-se contra um tal Ptolomeu - a quem
Urbicio havia imposto um castigo - porque havia sido mestre daquela nas
doutrinas cristãs. Procedeu da seguinte maneira:
9. Ao Centurião que havia aprisionado Ptolomeu, e que era seu amigo, persuadiu a que se
apoderasse de Ptolomeu e lhe dirigisse esta única pergunta: se era cristão. E
Ptolomeu, que amava a verdade e não tinha o caráter embusteiro nem mentiroso, confessou que era cristão. O Centurião fez
com que o acorrentassem, e durante muito tempo submeteu-o a castigo no
cárcere.
10. E quando por último Ptolomeu foi conduzido à presença de Urbicio, também lhe perguntaram unicamente isto: se era cristão. E novamente, consciente do bem que havia
recebido por meio da doutrina de Cristo, confessou a escola da divina virtude;
11. porque quem nega algo, o que quer que seja, ou nega porque o condena, ou rejeita a
confissão porque considera a si mesmo indigno e alheio a isto. Nenhum destes
casos enquadra o verdadeiro cristão.
12. E quando Urbicio mandou que o levassem à execução, um tal Lúcio, que também era cristão, vendo que a sentença era dada tão contra a razão,
disse dirigindo-se a Urbicio: 'Qual é a causa de que tenhas
condenado este homem sem haver provado que seja um adúltero, um
fornicador, um homicida, um ladrão e sem que, em uma palavra,
tenha cometido injustiça, mas somente porque confessou levar o nome de cristão?
Tu, Urbicio, não julgas como corresponde ao
imperador Pio nem ao filósofo que é o filho do César, nem tampouco ao
senado sagrado.'
13. E Urbicio, sem nada responder, disse dirigindo-se também a Lúcio: 'Parece-me que também tu és cristão.' E como Lúcio respondeu: "Assim
é!", mandou que também a este levassem à execução.
Lúcio declarou que estava agradecido, pois -
acrescentava - afastava-se de uns amos tão malvados e ia para Deus, seu bom Pai
e Rei. E a um terceiro que se apresentou foi infligida a mesma pena."
A isto Justino
acrescentou, com razão e logicamente, as palavras que já citamos mais acima:
"E eu mesmo
espero ser vítima da conspiração de algum dos nomeados, etc."
XVIII - Que tratados de Justino chegaram a nós
1.
Justino deixou-nos um grande número
de obras, extremamente úteis, testemunho de uma inteligência cultivada e
empenhada nas coisas divinas. A elas
remetemos os estudiosos, depois de assinalar propriamente as que chegaram
a nosso conhecimento[1].
2.
Dele há primeiramente um tratado
dirigido a Antonino, o chamado Pio, e a seus filhos, assim
como ao senado romano, em favor de nossas doutrinas; e outro que contém uma segunda Apologia em defesa de nossa fé, que
dirigiu ao sucessor e homônimo do citado imperador
Antonino Vero[2],
cuja época
estamos registrando até o presente.
3.
Há também esta obra, o Discurso aos gregos, na qual,
depois de estender-se largamente sobre os problemas apresentados a nós e aos
filósofos gregos, discorre sobre a natureza dos demônios. Mas não é urgente
citá-lo aqui.
4.
Também chegou a nós outra obra sua contra os gregos, que
intitulou Refutação; e além destas, outra Sobre a monarquia de
Deus, que compôs com elementos recolhidos não somente de nossas Escrituras,
mas também dos livros dos gregos.
5.
Escreveu ainda o intitulado Psaltes
e outro, de uso escolar, Sobre a alma, no qual propõe
diversas questões sobre o problema que discute, e lista as opiniões dos
filósofos gregos, prometendo contradizê-las e expor a sua própria em outro
escrito.
6.
Compôs também um Diálogo contra
os judeus, diálogo que sustentou na cidade de Éfeso com
Trífon, o mais ilustre dos hebreus de então. Nele explica de que modo a
graça divina o levou à doutrina da fé, com que empenho inicialmente se inclinava para as ciências filosóficas e que entusiasmo
havia depositado na busca da verdade.
7.
Na mesma obra diz dos judeus que eles foram os que prepararam
uma conspiração contra a doutrina de Cristo
e expõe este pensamento dirigindo-se a Trífon:
"Não
somente não vos haveis arrependido do mal que fizestes, mas até, tendo
escolhido então alguns homens especialmente aptos, os enviastes desde Jerusalém a toda a terra dizendo que havia
aparecido um seita atéia de cristãos e enumerando as mesmas calúnias que
todos os que nos desconhecem repetem contra
nós, de modo que não somente sois culpados de vossa própria injustiça, mas
também, simplesmente, da de todos os demais homens."
8.
Escreve também que inclusive até seu
tempo seguiam brilhando os carismas proféticos na Igreja,
e menciona o Apocalipse de João dizendo claramente que é do apóstolo. E cita igualmente alguns ditos de profetas, provando a Trífon que os judeus os eliminaram da Escritura. Conhecem-se ainda outros numerosos trabalhos seus, conservados entre muitos irmãos.
9. E assim é que inclusive aos antigos pareceram do maior interesse os
tratados de Justino, tanto que Irineu cita suas palavras. Efetivamente, no livro IV
Contra as heresias diz textualmente:
"E muito bem disse Justino, em sua obra Contra Márcion, que
não poderia crer nem no próprio Senhor se este lhe anunciasse outro Deus
diferente do demiurgo."
E no livro V da mesma obra com estas palavras:
"E muito bem disse Justino que, antes da vinda do Senhor, nunca
Satanás se atreveu a blasfemar contra Deus; como se ainda não soubesse de sua
condenação."
10. Isto era obrigação dizer para animar os
estudiosos a um trato aplicado e solícito
para com as obras deste autor. Tais eram as notícias que a ele se referem.
1.
O
que mais te chamou a atenção neste texto?
2.
O
que o texto contribui para a sua espiritualidade?