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História Eclesiástica de Eusébio de
Cesaréia
Livro IV
- Capítulos 19 a 23
Texto Bíblico: II Tm 2.2
XIX - Quem esteve frente à frente
das igrejas de Roma e de Alexandria sob o reinado de Vero
1. Havia
avançado já até seu oitavo ano o reinado mencionado[1]
quando Sotero sucedeu Aniceto no
episcopado da igreja de Roma, tendo este passado nele onze anos completos. O da igreja de Alexandria, depois de
presidida por Celadion durante catorze anos, passou a seu sucessor, Agripino.
XX - Quem esteve à frente da igreja de Antioquia
1. Na igreja de Antioquia conhecia-se como sexto sucessor dos
apóstolos a Teófilo. O quarto havia sido
Cornélio, instituído sobre ela depois de Heron[2].
E depois de Cornélio, em quinto
lugar Eros havia recebido em sucessão o episcopado.
XXI - Dos escritores eclesiásticos
que brilharam naquele tempo
1. Por estes
tempos[3] florescia
na igreja Hegesipo, a quem já conhecemos pelo
que foi dito anteriormente; também Dionísio, bispo de Corinto, e Pinito, bispo
por sua vez dos fiéis de Creta. E além destes, Felipe, Apolinário, Meliton Musano, Modesto e, sobre todos, Irineu.
Deles chegou até nós por escrito a ortodoxia da santa fé da tradição
apostólica.
XXII - De Hegesipo e dos que ele
menciona
1.
Assim é, pois,
que Hegesipo deixou-nos um monumento completíssimo de seu próprio pensamento nos cinco livros de
Memórias que chegaram a nós. Neles mostra
como, realizando uma viagem a Roma, esteve em contato com muitos bispos e como de todos eles recebeu uma mesma doutrina. Será
bom escutá-lo, depois que disse
algumas coisas sobre a Carta de Clemente aos Coríntios, acrescentar
o seguinte:
2.
"E a igreja dos Coríntios
permaneceu na reta doutrina até que Primo foi bispo
de Corinto. Quando eu navegava para Roma, convivi com os Coríntios e com eles passei muitos dias, durante os quais
me reconfortei com sua reta doutrina.
3. E chegado a Roma, fiz-me uma sucessão até Aniceto, cujo
diácono era Eleutério. A Aniceto sucedeu
Sotero, e a este, Eleutério. Em cada sucessão e em cada cidade as coisas
estão tal como pregam a lei, os profetas e o Senhor."
4. O
mesmo escritor nos explica o início das heresias de seu tempo nestes termos:
"E depois que Tiago o Justo
sofreu o martírio, o mesmo que o Senhor e pela mesma razão, seu primo Simeão, o filho de Clopas, foi
constituído bispo. Todos o
haviam proposto, por ser o outro primo do Senhor. Por esta causa[4]
chamavam virgem à Igreja, pois ainda não
havia se corrompido com vãs tradições.
5.
"Mas foi
Tebutis, por não ter sido nomeado bispo, que começou a corrompê-la, partindo das sete seitas que havia no povo, das quais
também ele formava parte. Delas saíram Simão - daí os simonianos -, Cleobio -
donde saíram os cleobinos -, Dositeo -
donde os dositanos -, Gorteo - de onde os goratenos - e os masboteus. Destes procederam os menandristas, os
marcianistas, os carpocratianos, os
valentinianos, os basilidianos e os saturnilianos. Cada um destes
introduziu sua própria opinião por caminhos próprios e diferentes.
6.
Deles saíram pseudocristos,
pseudoprofetas e pseudoapóstolos, que despedaçaram a unidade da Igreja com suas
doutrinas corruptoras contra Deus e contra seu Cristo."
7. O mesmo autor descreve ainda inclusive as seitas
que houve em outro tempo entre os judeus, dizendo:
"Existiam diferentes opiniões
na circuncisão, entre os filhos dos israelitas, contra a tribo de Judá e contra o Cristo, a saber: essênios,
galileus, hemerobatistas, masboteus,
Samaritanos, Saduceus e fariseus."
8.
Escreveu
também muitas outras coisas, das quais fizemos menção anteriormente, em parte, ao dispor as narrativas conforme as
circunstâncias. Põe algumas coisas tomadas
do Evangelho dos hebreus e do Siríaco, e em particular tomadas da língua hebraica, mostrando
assim que se fez crente sendo hebreu.
E não apenas isto mas também menciona outras coisas procedentes de uma
tradição judia não escrita.
9.
Mas não somente ele, pois também
Irineu e todo o coro dos antigos chamavam
os Provérbios de Salomão "Sabedoria toda virtuosa". E ao
decidir sobre os livros chamados
apócrifos conta que alguns deles foram fabricados em seu tempo por
alguns hereges[5].
Mas já é hora de passar a outro.
XXIII - De
Dionísio, bispo de Corinto, e das cartas que escreveu
1.
Sobre
Dionísio, o primeiro que temos a dizer é que foi-lhe confiado o trono do episcopado da igreja de Corinto, e
também que suas atividades divinas influenciaram
abundantemente não apenas os que estavam sujeitos a ele, mas também os de outros países, sendo utilíssimo
a todos com suas cartas católicas que compunha para as igrejas.
2.
Uma delas, Aos Lacedemonios, é
uma catequese de ortodoxia e exorta à paz e
à união; outra, Aos Atenienses, é uma chamada à fé e a uma conduta conforme o Evangelho; aos que descuidam desta,
repreende-os por estarem a ponto de apostatar da doutrina, precisamente
desde que seu presidente, Publio, sofreu martírio nas perseguições de então.
3.
Menciona que
Codrato foi nomeado seu bispo depois do martírio de Publio, e atesta ainda que, graças a seu zelo,
voltaram eles a se unir e reavivaram sua fé. Em
continuação mostra que Dionísio o Areopagita, depois de convertido à fé por
Paulo, segundo o exposto nos Atos, foi o primeiro a quem se confiou o
episcopado da igreja de Atenas.
4.
Existe outra
carta sua aos fiéis de Nicomedia, na qual combate a heresia de Márcion e compara-a com a regra da verdade.
5.
E quando
escreve à igreja que peregrina em Gortina, em vez de às outras igrejas de Creta, felicita seu bispo Felipe porque a igreja
que tem a seu cargo deu testemunho com suas numerosíssimas virtudes e
adverte-os de que se guardem da perversão dos hereges.
6.
E escrevendo à igreja que peregrina
em Amastris, em vez das do Ponto, recorda
que Baquílides e Elpisto haviam-no animado a escrever, apresenta algumas
interpretações das divinas Escrituras e dá a seu bispo o nome de Palmas. Sobre o matrimônio e a continência
dirige-lhes não poucas exortações e ordena-lhes acolher aos que se
convertem de qualquer queda, seja devida à negligência, seja a erro herético[6].
7.
Entre estas
cartas acha-se catalogada outra, aos de Knosos, na qual exorta Pinito, bispo daquela igreja, a não impor aos irmãos
obrigatoriamente o pesado fardo da
continência, mas antes a ter consideração com a fraqueza dos demais[7].
8. Respondendo a esta carta, Pinito rende admiração e aprova
Dionísio; mesmo assim, exorta-o por sua vez
a que reparta um alimento mais sólido e sustente o povo a ele confiado
com escritos mais perfeitos, para que ao final, depois de haver passado todo o
tempo em palavras semelhantes ao leite, não venham a envelhecer, sem dar-se
conta, em uma conduta pueril[8]. Por esta
carta fica manifesta, como numa imagem acabada, a ortodoxia de Pinito quanto à
fé, sua preocupação pelo proveito dos ouvintes, sua eloqüência e sua
compreensão das coisas de Deus.
9.
Existe ainda outra carta de
Dionísio, Aos Romanos, dirigida ao bispo de então, Sotero. Nada melhor do que citar dela as frases em que o autor
aprova o costume romano, observado até a perseguição de nossos dias,
quando escreve:
10. "Porque desde o princípio tendes este
costume, o de fazer o bem de muitas maneiras a todos
os irmãos e enviar provisões por cada cidade a muitas igrejas; remediais assim
a pobreza dos necessitados e, com as provisões que desde o princípio estais enviando, atendeis aos irmãos que se
encontram nas minas, conservando
assim, como romanos que sois, um costume romano transmitido de pais a filhos, costume que vosso bem-aventurado bispo
Sotero não somente manteve, mas até melhorou, ministrando por um lado socorros abundantes para enviar aos santos, e por
outro, como pai que ama ternamente os seus, consolando com afortunadas
palavras os irmãos que chegam a ele."
11.
Na mesma
carta menciona também a de Clemente Aos Coríntios, mostrando que se vinha fazendo a leitura da mesma na
igreja desde tempos atrás por antigo costume; diz assim:
"Hoje pois, celebramos o dia santo do
Senhor e lemos vossa carta. Continuaremos lendo-a de vez em quando para admoestação nossa, tanto quanto a primeira que nos foi escrita por meio de Clemente."
12. E o mesmo, falando ainda de suas próprias cartas,
que haviam sido falsificadas, diz o seguinte:
"Eu escrevi efetivamente algumas
cartas depois que alguns irmãos pediram que as escrevesse. Mas estes apóstolos do diabo encheram-nas de joio[9],
suprimindo umas coisas e acrescentando outras. Sobre
eles pesa o 'Ai de vós!'[10].
Na verdade não se deve estranhar que alguns também tenham se lançado sobre as Escrituras do Senhor, para
falsificá-las, quando conspiraram até contra as que não são tão
importantes."
13. E além destas, há ainda outra carta de Dionísio
que escreve A Crisófora[11],
irmã cheia de fé. A esta escreve
o que lhe corresponde e fornece o alimento espiritual adequado.
Isto é o que tange a Dionísio.
1.
O que mais te chamou a atenção neste texto?
2.
O que o texto contribui para a sua espiritualidade?
[1] Isto é,
o ano 168-169.
[2] Sucessor
de Inácio (vide III:36:14).
[3] São os
tempos de Marco Aurélio.
[5] Não se
sabe a quais apócrifos e a quais hereges se refere.
[6] Márcion era natural cio Ponto, daí
o cuidado especial para com as heresias.
[7]
At 15:28.
[8]
1 Co 3:1-2; Hb 5:12-14.
[9]
Mt 13:25.
[10]
Ap 22:18-19.
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