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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
5º ao 12º Mandamentos - Capítulos
33-46
QUINTO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
33
Ele me disse:
“Sê paciente e prudente, e dominarás todas as ações más e realizarás toda a
justiça. Se fores paciente, o Espírito Santo, que habita em ti, será límpido e
não ficará na sombra de outro espírito mau. Encontrando grande espaço livre,
ele ficará contente e se alegrará como o vaso em que ele habita e servirá a Deus
com alegria, pois terá felicidade em si mesmo. Se sobrevier acesso de cólera, imediatamente
o Espírito Santo, que é delicado, se angustiará por não ter lugar puro, e
procurará afastar-se do lugar. Ele se sente sufocado pelo espírito mau e não
tem mais lugar para servir a Deus como quer, porque está contaminado pela
cólera. Com efeito, o Senhor habita na paciência e o diabo, na cólera. Que
esses dois espíritos habitem juntos é, portanto, coisa inconveniente e má para
o homem em que habitam. Se tomas uma pequenina gota de absinto e a derramas num
vaso de mel, não se estraga todo o mel? O mel fica estragado pelo pouquíssimo
absinto, que destrói a doçura do mel, e já não agrada ao dono, porque se tornou
amargo e sem utilidade. Todavia, se não se derrama absinto no mel, o mel
permanece doce e agrada muito ao seu dono. Vê: a paciência supera o melem
doçura, é útil ao Senhor, que habita nela. Ao contrário, a cólera é amarga e
inútil. Portanto, se se mistura a cólera com a paciência, a paciência se mancha,
e sua oração não é útil para Deus.” Eu disse: “Senhor, eu desejaria conhecer a
força da cólera, para me preservar dela.” Ele respondeu: “Se não te guardares
com tua família, destruirás toda a esperança. Mas preserva-te dela, pois eu
estou contigo. Todos os que fizerem penitência do fundo do coração se guardarão
dela, porque eu estarei com eles e os protegerei. Com efeito, todos foram
justificados pelo anjo santíssimo.”
CAPÍTULO
34
Ele me disse: “Escuta agora qual é a
força da cólera como ela é má, como perverte os servos de Deus com sua força, e
como os desvia da justiça. Ela não desvia os pleno. de fé, nem pode fazer nada
contra eles, pois meu poder está com eles. Ela desvia somente os vazios e
vacilantes. Quando a cólera vê essas pessoas tranquilas, insinua-se no coração
delas e, por um nada, o homem ou a mulher se deixam tomar pela amargura, com os
negócios da vida cotidiana, alimentação, ou qualquer futilidade, um amigo, um
presente dado ou recebido, ou ainda qualquer outra ninharia. Tudo isso são
coisas fúteis, vãs, insensatas e prejudiciais para os servos de Deus. A
paciência, ao contrário, é grande e forte, tem força poderosa e sólida, que se
expande largamente; a paciência é alegre, contente e sem preocupações, e
glorifica o Senhor em todo momento. Nada nela é amargo; ela permanece sempre
doce e calma. Essa paciência habita com os que têm fé íntegra. A cólera, ao
contrário é, em primeiro lugar, estulta, leviana e estúpida; da estupidez nasce
a amargura; da amargura a irritação; da irritação, o furor, e do furor o
ressentimento. Tal ressentimento, nascido de tantos males, é pecado grave e
incurável. Quando todos esses espíritos vêm habitar o mesmo vaso, onde já
habita o Espírito Santo, o vaso não pode mais conter tudo e transborda. Então o
espírito delicado, que não tem o costume de habitar com o espírito mau, nem com
a aspereza, afasta-se de tal homem e procura habitar com a doçura e a mansidão.
Mas, quando se afasta do homem em que habitava, esse homem se esvazia do
espírito justo e, daí para a frente, cheio de espíritos maus, agita-se em todas
as suas ações, arrastado de cá para lá pelos espíritos maus, completamente cego
para todo pensamento bom. Eis o que acontece com todas as pessoas coléricas.
Afasta-te, portanto, da cólera, esse espírito maligno. Reveste-te, em troca, de
paciência, resiste à cólera e à amargura, e te encontrarás com a santidade, amada
pelo Senhor. Estejas atento para não te descuidares desse mandamento. Se o
dominares, poderás observar também os outros mandamentos, que te ordenarei. Sê
forte e inabalável neles, e fortaleçam-se igualmente todos os que quiserem
caminhar neles.”
SEXTO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
35
Ele me disse:
“No primeiro mandamento, eu te ordenei guardar a fé, o temor e a continência.”
Eu respondi: “Sim, Senhor.” Ele continuou: “Agora te explicarei as forças dele,
para que conheças o poder e a eficácia que elas possuem. Suas forças são de
dois tipos e estão relacionadas com o justo e com o injusto. Tem confiança no
justo, mas não confies no injusto. De fato, o justo segue caminho reto, ao
passo que o injusto segue caminho tortuoso. Quanto a ti, anda pelo caminho direito
e plano, deixando o caminho torto. O caminho tortuoso não tem trilhas, mas é
impraticável, cheio de obstáculos, pedregoso e espinhoso. Ele é fatal para os
que nele caminham. Aqueles, porém, que andam pelo caminho reto, andam de
maneira uniforme e sem tropeços, porque
ele não é pedregoso, nem espinhoso. Vês, portanto, que é mais conveniente
seguir o caminho reto. Eu lhe disse: “Senhor, eu gosto de andar por esse
caminho.” Ele me disse: “Segue-o, e siga também por ele todo aquele que se
converte ao Senhor, do fundo do coração”.
CAPÍTULO
36
Ele me disse: “Ouve agora o que vou te
falar sobre a fé. Há dois anjos com o homem: um é da justiça, e outro é do
mal.” Eu perguntei: “Senhor, como distinguirei as ações deles, se os dois anjos
habitam comigo?” Ele me respondeu: “Ouve e compreende. O anjo da justiça é
delicado, modesto, doce e suave. Quando entra em teu coração, imediatamente
fala contigo sobre a justiça, a castidade, a santidade,
a temperança, sobe todo ato e toda
virtude nobre. Quando tudo isso entra em teu coração, saibas que o anjo da
justiça está contigo, pois essas obras são próprias do anjo da justiça. Tem
confiança nele e em suas obras. Vê agora as obras do anjo do mal. Em primeiro
lugar, ele é colérico, amargo e insensato, e suas obras malignas os servos de
Deus. Quando entra em teu coração, tu o conheces por suas obras.” Eu disse:
“Senhor, não sei como poderei reconhecê-lo”. Ele continuou: “Escuta. Quando a
cólera se apodera de ti, ou a amargura, saibas que ele está em ti. Da mesma
forma, os desejos da atividade, dispersa os gastos loucos em numerosos festins,
em bebidas inebriantes, em orgias sem fim, em requintes variados e supérfluos,
paixões pelas mulheres, grande riqueza, orgulho exagerado, altivez e tudo o que
se assemelha a isso, se essas coisas entram no teu coração, saibas que o anjo
do mal está em ti. Reconhecendo suas obras, afasta-te dele e não creias nele,
pois essas obras são más e inconvenientes para os servos de Deus. Aí tens as
ações dos dois anjos. Compreende essas ações e depõe tua confiança no anjo da
justiça. Afasta-te do anjo do mal, porque seu ensinamento é mau para qualquer
obra. Se alguém é fiel e o pensamento desse anjo entra em seu coração, é
inevitável que essa pessoa, homem ou mulher, cometa pecado. Por outro lado, se
homem ou mulher são depravados e as obras do anjo da justiça entram em seu
coração, é inevitável que essa pessoa faça o bem. Vê, portanto, que é bom
seguir o anjo da justiça e renunciar ao anjo mau. Esse mandamento explica o que
se refere à fé, para que acredites nas obras do anjo da justiça e,
cumprindo-as, vivas em Deus. Acredita também que as obras do anjo do mal são
funestas. Evitando-as, viverás em Deus.”
SÉTIMO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
37
Ele me disse:
“Teme o Senhor e guarda seus mandamentos. Guardando os mandamentos de Deus,
serás forte em tudo o que fizeres e tua ação será incomparável. Com efeito,
temendo ao Senhor, farás tudo bem. Ele é o temor que precisas ter, e então
serás salvo. Não temas o diabo. Temendo ao Senhor, triunfarás do diabo, pois
ele não tem poder. Se alguém não tem poder, também não apresenta motivo para
temor. Quem tem poder glorioso, também inspira temor. De fato, todo aquele que
tem poder, inspira temor; aquele que não o tem, é desprezado por todos. Teme as
obras do diabo, porque elas são más. Temendo ao Senhor, teme também as obras do
diabo, e não as pratiques, mas afasta-te delas. Há duas espécies de temor. Se
quiseres praticar o mal, teme ao Senhor e não o praticarás. Todavia, se
quiseres praticar o bem, teme ao Senhor, e o praticarás. O temor do Senhor é
forte, grande e glorioso. Teme, portanto, ao Senhor, e nele viverás. Os que o
temem e observam seus mandamentos, viverão em Deus.” Eu perguntei: “Senhor, por
que disseste: aqueles que observam seus mandamentos viverão em Deus?” Ele
respondeu: “Porque tola a criação teme ao Senhor, mas não guarda seus mandamentos.
Os que o temem e guardam seus mandamentos têm a sua vida junto de Deus.
Aqueles, porém, que não guardam seus mandamentos não têm vida em si mesmos.”
OITAVO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
38
Ele continuou:
“Já te disse que as criaturas de Deus são de dois tipos; a abstinência também é
dupla, pois é preciso se abster de algumas coisas e de outras não.” Eu pedi:
“Senhor, ensina-me de quais coisas preciso me abster e de quais não.” Ele
respondeu: “Escuta. Abstém-te do mal e não o pratiques. Não te abstenhas do
bem, mas pratica-o. Com efeito, se te abstiveres de praticar o bem, cometerás
grande pecado; por outro lado, se te abstiveres de praticar o mal, praticarás
um grande ato de justiça. Abstém-te, portanto, de todo mal e pratica o bem.” Eu
perguntei: “Senhor, quais são os males de que nos devemos abster?” Ele me
respondeu: “Escuta: adultério, fornicação, excesso na bebida, prazer depravado,
comer em demasia, luxo da riqueza, ostentação, orgulho, altivez, mentira, maledicência,
hipocrisia, rancor e todo tipo de blasfêmia. São essas as piores obras que
existem na vida dos homens. O servo de Deus deve abster-se dessas obras, pois
aquele que não se abstém delas, não pode viver em Deus. Escuta agora as obras
que seguem a essas.” Eu perguntei: “Senhor, há ainda outras obras más?” Ele
respondeu: “Muitas, das quais os servos de Deus devem se abster: o roubo, a
mentira, a fraude, o falso testemunho, a avareza, os desejos maus, o engano, a
vanglória, a arrogância e outros vícios semelhantes. Não te parece que tudo
isso é mau?” Eu respondi: “E muito mau para os servos de Deus.” (Ele
continuou): “É preciso que o servo de Deus se abstenha de tudo isso. Abstém-te,
portanto, de tudo isso, para que vivas em Deus e sejas inscrito com os que se
abstêm dessas coisas. São essas as coisas das quais te deves abster. As coisas
das quais não te deves abster e sim praticar, são estas: não te abstenhas do
bem, mas pratica-o.” Eu pedi: “Senhor, mostra-me o poder das boas ações, para
que eu siga seu caminho e as sirva, a fim de que, praticando-as, possa
salvar-me.”Ele respondeu: “Escuta as obras do bem, que deves praticar e não
evitar. Em primeiro lugar, a fé, o temor do Senhor, a caridade, a concórdia, as
palavras justas, a verdade, a perseverança. Não há nada de melhor na vida
humana. Se alguém as observa e delas não se abstém, será feliz em sua vida.
Escuta agora as obras que seguem a essas: assistir às viúvas, visitar os órfãos
e necessitados, resgatar da escravidão os servos de Deus, ser hospitaleiro
(pois na hospitalidade encontra-se por vezes a ocasião de fazer o bem), não
criar obstáculos para ninguém, ser calmo, tornar-se inferior a todos, honrar os
anciãos, praticar a justiça, conservar a fraternidade, suportar a violência,
ser paciente, não nutrir rancor, consolar os aflitos na alma, não afastar da fé
os escandalizados, mas convertê-los e dar-lhes coragem, corrigir os pecadores,
não oprimir os devedores e necessitados, e outras ações semelhantes. Não te
parece que essas sejam boas ações?” Eu respondi: “Que coisa é melhor do que
isso, Senhor?” Ele continuou: “Anda, portanto, nesse caminho, não te abstenhas
dessas coisas, e viverás em Deus. Observa este mandamento: se praticares o bem
e não te abstiveres dele, viverás em Deus, e todos os que agirem assim, também
viverão em Deus. E ainda, se não praticares o mal e te abstiveres dele, viverás
em Deus; e todos aqueles que guardarem esses mandamentos e andarem em seus
caminhos, também viverão em Deus.”
NONO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
39
Ele continuou:
“Remove de ti a dúvida e por nada no mundo hesites em pedir alguma coisa a
Deus, dizendo a ti mesmo: 'Como poderia eu pedir alguma coisa ao Senhor e
obtê-la, tendo cometido tão grandes pecados contra ele?' Não penses assim. Ao
contrário, converte-te ao Senhor, do fundo do coração, suplica-o confiante e
conhecerás sua grande misericórdia, porque ele não te abandonará, mas atenderá
a oração da tua alma. De fato, Deus não é como os homens rancorosos; ele não
conhece o rancor e tem compaixão de sua criatura. Tu, portanto, purifica teu
coração de todas as vaidades deste mundo e dos males dos quais já te falei. Suplica
ao Senhor e obterás tudo; nenhuma de tuas orações será rejeitada, se suplicares
ao Senhor com confiança. Contudo, se duvidares em teu coração, não alcançarás
nenhum dos teus pedidos, pois os que duvidam de Deus são indecisos e não
alcançam nada do que pedem. Em troca, os que são íntegros na fé, pedem tudo com
plena confiança no Senhor, e são atendidos, porque pedem sem vacilar e sem
incerteza. Com efeito, todo homem que duvida, se não fizer penitência, dificilmente
se salvará. Portanto, purifica da dúvida o teu coração, reveste-te de fé,
porque ela é forte e tem confiança que Deus atenderá todas as tuas orações. E
se alguma vez pedires alguma coisa ao Senhor e ele tardar em concedê-la, não duvides
porque não obtiveste logo o pedido da tua alma; certamente, tardas a receber o
que pediste, por causa de alguma provação ou de algum pecado que ignoras. Não
deixes, portanto, de pedir o que tua alma deseja, e o obterás. Contudo, se ao
rezar caíres no desânimo e na dúvida, culpa-te a ti mesmo e não àquele que está
disposto a te dar. Cuidado com a dúvida: ela é má, insensata e desenraiza da
fé, não poucos, até pessoas muito fiéis e firmes, pois a dúvida é filha do
diabo e faz muito mal aos servos de Deus. Despreza, portanto, a dúvida, e
domina-a em tudo. Para isso, reveste-te de fé firme e poderosa. De fato, a fé tudo
promete e tudo cumpre, mas a dúvida, que não tem confiança sequer em si mesma,
malogra-se em toda obra que empreende. Vês, portanto, que a fé vem do alto, do
Senhor, e tem grande força; a dúvida, porém, é apenas um espírito terrestre que
vem do diabo e não tem força, nenhuma. Serve, portanto, à fé que
tem força e afasta a dúvida que não tem
força nenhuma. Então viverás em Deus, e todos os que pensam assim também
viverão em Deus.
DÉCIMO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
40
Ele continuou:
“Afasta de tia tristeza, pois ela é irmã da dúvida e da cólera.” Eu perguntei:
“Senhor, como é que ela é irmã delas? Parece-me que a cólera é uma coisa, a
dúvida é outra, e a tristeza ainda outra coisa.” Ele me respondeu: “És
homem insensato. Não compreendes que a
tristeza é o pior de todos os espíritos e o mais terrível para os servos de
Deus e que, mais do que todos os espíritos, ela arruína o homem e expulsa o
Espírito Santo, e depois salva?” Eu disse: “Senhor, de fato sou insensato e não
compreendo essas parábolas. Com efeito, não compreendo como a tristeza pode
expulsar e depois salvar.” Ele continuou: “Escuta.
Os que nunca pesquisaram a verdade, nem
indagaram sobre a divindade, que se limitaram a crer, ficam presos em seus
negócios, riquezas, amizades pagãs e outras numerosas ocupações deste mundo.
Todos esses, que só vivem para isso, são incapazes de compreender as parábolas
a respeito da divindade. Ficam obscurecidos por essas atividades, se corrompem
e ficam áridos. As vinhas, antes belas, por falta de cuidados, secam por causa
dos espinhos e ervas daninhas de todo tipo. Da mesma forma, os homens que
abraçaram a fé e se perdem nas múltiplas atividades de que falei, extraviam-se
do seu bom senso e nada mais compreendem sobre a justiça. Até mesmo quando
ouvem falar sobre divindade e verdade, sua mente está em seus negócios, e nada
compreendem. Todavia, os que temem a Deus, buscam a divindade e a verdade, e
têm o coração voltado para o Senhor. Esses logo entendem e compreendem tudo o
que se lhes diz. Eles têm em si o temor do Senhor. Com efeito, onde o Senhor
habita, aí há total compreensão. Adere, portanto, ao Senhor, e compreenderás e
entenderás tudo.”
CAPÍTULO
41
Ele continuou:
“Escuta, portanto, insensato, como a tristeza expulsa o Espírito Santo e depois
salva. Quando o vacilante empreende uma ação e não colhe êxito por causa de sua
própria dúvida, a tristeza se insinua nele e entristece o Espírito Santo e o
expulsa. Em seguida, a cólera se apodera da pessoa por causa de qualquer coisa,
e o amargura muito. De novo, a tristeza entra no coração do homem que se
irritou, o qual se entristece pelo que fez e se arrepende de ter feito o mal.
Essa tristeza, portanto, parece trazer a salvação, porque, depois de ter feito o
mal, a pessoa se arrepende. Essas duas atitudes entristecem o espírito: a dúvida,
porque não colheu êxito no empreendimento; e a cólera, porque fez o mal. As
duas entristecem o Espírito Santo. Afasta, portanto, a tristeza de ti, para não
entristecer o Espírito Santo que habita em ti, a fim de que ele não suplique a Deus
contra ti e de ti se afaste. Com efeito, o Espírito de Deus, que foi dado ao teu
corpo, não suporta a tristeza nem a angústia.”
CAPÍTULO
42
“Reveste-te,
portanto, da alegria, que agrada a Deus e ele a aceita: faze dela as tuas
delicias. De fato, todo homem alegre realiza sempre o bem, pensa no bem e despreza
a tristeza. O homem triste pratica sempre o mal. Em primeiro lugar, pratica o
mal porque entristece o Espírito Santo, que foi dado alegre ao homem; em
seguida, entristecendo o Espírito Santo, pratica a injustiça por não suplicar a
Deus, nem louvá-lo. Com efeito, a oração do homem triste jamais tem a força de subir
ao altar de Deus”. Eu perguntei: “Por que a súplica do homem triste não sobe ao
altar?” Ele respondeu: “Porque a tristeza reside no seu coração. Unida à oração,
a tristeza não permite que a oração suba pura ao altar. O vinho misturado com
vinagre não tem o mesmo sabor. Igualmente acontece com a tristeza: misturada
com o Espírito Santo, não conserva a própria oração. Purifica-te, portanto, dessa
tristeza maligna, e viverás em Deus. E todos os que afastarem de si a tristeza
e se revestirem de toda alegria, também viverão em Deus.”
DÉCIMO
PRIMEIRO MANDAMENTO
CAPÍTULO
43
Ele me mostrou
homens sentados num banco e outro homem sentado numa poltrona. E me disse: “Vês
as pessoas sentadas no banco?” Eu respondi: “Sim, senhor.” Ele explicou: “Esses
são fiéis, e o que está sentado na poltrona é falso profeta, que corrompe a
inteligência dos servos de Deus, isto é, corrompe a inteligência dos que duvidam,
e não dos fiéis. Aqueles que duvidam vão até ele como adivinho e lhe perguntam
o que lhes acontecerá. Então esse falso profeta, sem ter em si nenhum poder do
espírito divino, responde-lhes segundo o que perguntam e segundo seus maus
desejos, satisfazendo-lhes a alma com o que desejam. Sendo vazio ele próprio,
dá respostas vãs a homens vãos. Seja qual for a pergunta, ele responde conforme
a vaidade do interrogador. Também diz coisas verdadeiras, pois o diabo o enche
com o seu espírito, a fim de dobrar algum justo. Contudo, os fortes na fé do
Senhor, revestidos de verdade, não aderem aos espíritos maus, mas se afastam
deles. Por outro lado, os vacilantes e que mudam constantemente de opinião,
consultam os adivinhos como os pagãos, e carregam-se de pecado maior que o dos
idólatras. Com efeito, quem faz consulta a um falso profeta sobre alguma coisa,
é idólatra, vazio da verdade e insensato. De fato, todo espírito dado por Deus
não se deixa interrogar, mas, possuindo força da divindade, diz tudo
espontaneamente, porque vem do alto, do poder do espírito divino. Ao invés, o
espírito que se deixa interrogar e que fala conforme o desejo dos homens, é
terreno e leviano, porque não tem nenhum poder. Se não é interrogado, não diz
nada.” Eu lhe perguntei: “Senhor, como saber quem deles é verdadeiro e quem é
falso profeta?” Ele respondeu: “Escuta o que estou para te dizer sobre ambos os
profetas, e então discernirás o verdadeiro do falso profeta. Discerne pela vida
o homem que tem o espírito divino. Em primeiro lugar, quem tem o espírito que
vem do alto, é calmo, sereno e humilde. Ele se abstém de todo mal e de todo
desejo vão deste mundo; ele se considera inferior a todos e, quando interrogado,
nada responde a ninguém e não fala em particular. O Espírito Santo não fala
quando o homem quer, mas só quando Deus quer que ele fale. Quando um homem, que
tem o espírito de Deus, entra numa assembleia de homens justos, crentes no
espírito divino, e nessa assembleia de homens justos se suplica a Deus, então o
anjo do espírito profético que está junto dele, plenifica esse homem, e ele,
pleno do Espírito Santo, fala à multidão conforme quer o Senhor. É desse modo
que se manifesta o espírito da divindade. Tal é o poder do Senhor sobre o
espírito da divindade. Escuta agora a respeito do espírito terreno e vão, que
não tem poder e é insensato. Primeiro, tal homem, que julga possuir o espírito,
exalta-se a si mesmo, quer ter o primeiro lugar, e logo se apresenta descaradamente,
imprudente e loquaz. Vive em meio a muitas delícias e muitos outros prazeres, e
aceita pagamento por sua profecia. Quando nada recebe, também não profetiza.
Poderia um espírito divino receber pagamento para profetizar? Não é possível que
o profeta de Deus aja desse modo; o espírito desses profetas é terreno. Além
disso, ele não se aproxima da assembleia de homens justos para nada, mas foge
deles. Ele se une aos vacilantes e vãos, e profetiza
para eles à parte. Engana-os,
falando-lhes coisas vazias, conforme o que desejam, pois responde para gente
vazia. Um vaso vazio quando bate em outro vaso vazio não quebra, apenas ressoam
mutuamente. Quando o falso profeta entra em assembleia repleta de homens
justos, portadores do espírito da divindade, se eles começam a rezar, tal homem
se esvazia e o espírito terrestre, tomado de medo, foge dele. Tal homem
emudece, completamente desorientado e incapaz de falar. Se armazenas óleo e
vinho num depósito e aí colocas uma vasilha vazia, quando quiseres desocupar o
depósito, encontrarás vazia essa vasilha. Igualmente acontece com os profetas
vazios, quando entram em meio aos espíritos dos justos: da mesma forma que
entraram, assim são encontrados. Aí tens a vida dos dois tipos de profeta.
Examina, portanto, o homem que se diz portador do espírito, a partir de seus
atos e de sua vida. Quanto a ti, crê no espírito que vem de Deus e tem poder,
mas não creias no espírito terrestre e vazio, porque nele não existe poder. Ele
vem do diabo. Escuta a parábola que vou te contar. Pega uma pedra e atira para
o céu. Vê se podes atingi-lo. Ou então pega um tubo de água e atira o jato para
o céu. Vê se és capaz de furar o céu.” Eu perguntei: “Senhor, como se pode
fazer isso? As duas coisas que disseste são impossíveis!” Ele respondeu: “Assim
como essas coisas são impossíveis, também os espíritos terrestres são
impotentes e fracos. Toma agora a força que vem do alto. O granizo é grão pequenino,
mas quando cai sobre a cabeça de uma pessoa, que dano lhe causa! Ou então, pega
a gota de água, que cai do telhado no chão e fura a pedra. Vês, portanto, que
as melhores coisas que caem do alto sobre a terra têm grande força. Da mesma
forma, o espírito divino que vem do alto é poderoso. Crê, portanto,
nesse espírito e afasta-te do outro.”
DÉCIMO-SEGUNDO
MANDAMENTO
CAPÍTULO
44
Ele continuou:
“Arranca de ti todo mau desejo, e reveste-te do desejo bom e santo. Revestido
desse desejo, odiarás o desejo mau e o domarás como quiseres. O desejo mau é
selvagem e difícil de amansar. É terrível, e com sua selvageria consome os
homens. Principalmente se o servo de Deus cair nesse desejo e não tiver
discernimento, será consumido de modo terrível. Ele consome também os que não
têm a veste do desejo bom e se deixam enredar por este mundo. O desejo entrega-os
à morte”. Eu perguntei: “Senhor, quais são as obras do desejo mau, que entregam
os homens à morte? Dá-me a conhecê-las, para que me afaste delas.” Ele
respondeu: “Escuta com quais obras o desejo mau mata os servos de Deus.”
CAPÍTULO
45
Antes de tudo, o
desejo de outra mulher ou homem, o luxo das riquezas, os banquetes numerosos e
vãos, a embriaguez, e muitos outros prazeres insensatos. Com efeito, todo
prazer é insensato e vazio para os servos de Deus. Tais desejos são maus, e
matam os servos de Deus, porque o desejo mau é filho do diabo. E preciso,
portanto, abster-se dos desejos maus para que, abstendo-vos, vivais em Deus.
Todos os que são dominados por eles e não lhes resistem, acabarão morrendo, pois
esses desejos são mortais. Reveste-te, portanto, do desejo da justiça e, armado
do temor de Deus, resiste a eles. De fato, o temor de Deus habita no desejo
bom. Se o desejo mau te vir armado do temor de Deus e resistindo, ele fugirá
para longe de ti e não o verás mais, porque ele teme as tuas armas. Quanto a
ti, vitorioso e coroado por sua derrota, apresenta-te diante do desejo da justiça
e entrega-lhe a vitória que recebeste, e serve-o do modo que ele quiser. Se
servires o desejo bom e te submeteres a ele, poderás dominar o desejo mau e comandá-lo,
conforme quiseres.
CAPÍTULO
46
Eu disse:
“Senhor, desejaria saber de que modo devo servir ao desejo bom.” Ele respondeu:
“Escuta. Pratica a justiça e a virtude, a verdade e o temor do Senhor, a fé, a
mansidão e todas as coisas boas semelhantes a essas. Praticando essas coisas,
serás servo agradável de Deus e viverás nele. Todo aquele que servir ao desejo
bom viverá em Deus.” Ele terminou os doze mandamentos e me disse: “Tens agora esses
mandamentos. Anda em conformidade com eles e exorta os ouvintes, para que se
exercitem na penitência purificadora pelo resto dos dias de sua vida. Cumpre
com cuidado esse serviço que te confio. Desse modo, realizarás. Com efeito,
encontrarás boa acolhida daqueles que se dispõem a fazer penitência; eles
acreditarão em tuas palavras. Eu estarei contigo e os induzirei a crer em ti.”
Eu lhe disse: “Senhor, esses mandamentos são grandes, sublimes e só podem alegrar o coração do homem que for capaz
de observá-los. Todavia, Senhor, não sei se esses mandamentos podem ser
guardados pelo homem, pois eles são muito duros”. Ele me respondeu: “Se te
convenceres de que esses mandamentos podem ser guardados, tu os guardarás
facilmente, e eles não serão duros. Contudo, se se insinuar no teu coração que
não podem ser guardados pelo homem, não os guardarás. Agora, porém, eu te
garanto: se não os guardares e os negligenciares, nem tu, nem teus filhos, nem
tua família vos salvareis, pois decidindo que esses mandamentos não podem ser
guardados pelo homem, tu te condenas a ti mesmo.”
O que você
deseja destacar neste texto?
O que serviu
para sua espiritualidade?
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