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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
9ª Parábola – Capítulos 78 a 110.
NONA PARÁBOLA
CAPÍTULO 78
Depois que escrevi os mandamentos e as parábolas do pastor, anjo
da penitência, ele veio a mim e disse: “Quero te mostrar tudo o que te mostrou
o Espírito Santo, que te falou na figura da Igreja. Esse Espírito é o Filho de
Deus. Estavas muito fraco na carne e, por isso, não te foi revelado por meio de
anjo. Contudo, quando ficaste fortalecido pelo Espírito e tu mesmo tiveste a
força para poderes ver um anjo, então te foi revelada, por meio da Igreja, a
construção da torre. Viste bem e santamente, qual uma virgem, todas as coisas.
Agora, graças a um anjo, vês por meio do próprio Espírito. E preciso que
compreendas tudo, por meu intermédio, de modo mais preciso. O anjo glorioso me
conferiu a missão de habitar em tua casa, para que vejas tudo com coragem, e não
mais com apreensão, como antes.” Então me transportou para a Arcádia, sobre um
monte de forma cônica. Fez-me sentar no topo da montanha, e me mostrou uma
grande planície e, ao redor da planície, outras doze montanhas, cada uma com
aspecto diferente. A primeira era negra como fuligem; a segunda, seca e sem
vegetação; a terceira, cheia de espinhos e cardos; a quarta, com vegetação meio
seca, verde na parte de cima e seca junto às raízes; quando o sol brilhava,
parte da vegetação secava. A quinta montanha era muito rochosa, mas tinha
vegetação verde. A sexta montanha estava cheia de fendas, algumas pequenas,
outras grandes; nas fendas havia vegetação, mas não era muito verdejante:
parecia antes estar murcha. A sétima montanha tinha vegetação cheia de viço e a
montanha toda era exuberante; todas as espécies de rebanhos e aves se
alimentavam sobre a montanha e, quanto mais os rebanhos e aves comiam, tanto
mais a vegetação brotava da montanha. A oitava montanha estava cheia de fontes,
e todas as espécies da criação do Senhor vinham beber nessas fontes da
montanha. A nona montanha não tinha água nenhuma, e estava completamente
deserta; havia nela animais selvagens e répteis mortíferos, que provocam a
morte dos homens. Na décima montanha havia árvores gigantes e estava coberta de
sombras; debaixo das sombras estavam deitadas muitas ovelhas, que repousavam e
ruminavam. A décima primeira montanha era coberta de árvores, as quais eram
frutíferas e carregadas de frutas de toda espécie, e quem as via, desejava
comê-las. A décima segunda montanha era inteiramente branca; seu aspecto era
muito exuberante, e a montanha em si mesma era belíssima.
CAPÍTULO 79
No meio da planície,
ele me mostrou uma grande rocha branca que se erguia da planície. Era mais alta
que as montanhas, e quadrada, de modo a conter o mundo inteiro. A rocha era
antiga, e havia nela uma porta escavada, que parecia ter sido escavada
recentemente. Resplandecia mais do que o sol, e eu me maravilhava com tal
esplendor. Ao redor da porta estavam doze virgens. As quatro que havia nos
cantos me pareciam mais gloriosas, mas as outras o eram também. As virgens
estavam nos quatro lados da porta, duas a duas, à meia distância das quatro
primeiras. Vestiam túnica de linho, belamente cingidas, com o ombro direito descoberto,
como para transportar algum peso. Estavam prontas, alegres e animadas. Vendo
isso, fiquei admirado pelas coisas grandes e gloriosas que via. Além disso,
fiquei perplexo com essas virgens, que eram delicadas, mas que se comportavam
virilmente, como se devessem sustentar todo o céu. Então o pastor me disse: “Em
que estás pensando, preocupando-te e causando tristeza a ti mesmo? As coisas
que não consegues compreender, não as trates como se fosses inteligente. Pede
antes ao Senhor que te dê inteligência para compreender essas coisas. Não podes
ver o que está atrás de ti, mas vês o que está diante de ti; não te atormentes
pelo que não podes ver. Procura dominar as coisas que vês, e não te angusties
com o resto. Explicarei tudo o que te vou mostrar. Vê, portanto, o resto.”
CAPÍTULO 80
Então vi que haviam chegado seis homens
altos, gloriosos e de aspecto semelhante. Chamaram uma multidão de homens.
Estes recém-chegados eram de grande estatura, muito belos e fortes. Os seis
homens lhes deram ordens de construir uma torre sobre a rocha. Os homens que
vieram construir a torre fizeram então grande tumulto, correndo de cá para lá
ao redor da porta. As virgens que estavam ao redor da porta diziam aos homens
que apressassem a construção da torre. Elas estendiam as mãos, como se devessem
receber alguma coisa dos homens. Os seis homens ordenaram que subissem pedras
de um abismo e se colocassem na construção da torre. Então subiram dez pedras
quadradas e brilhantes, não lavradas. Os seis homens chamaram as virgens e lhes
disseram que carregassem todas as pedras que haviam de entrar na construção da
torre, que as passassem através da porta, e entregassem aos homens que iriam
construir a torre. As virgens então carregaram sobre si, mutuamente, as dez
primeiras pedras que haviam subido do abismo, e as transportaram juntas, pedra
por pedra.
CAPÍTULO 81
Elas carregavam as pedras na mesma ordem
em que estavam ao redor da porta: as virgens que pareciam vigorosas, se
colocavam nos ângulos da pedra; as outras se colocavam dos lados. E assim
carregavam todas as pedras, passando pela porta, conforme lhes fora ordenado, e
as entregavam aos homens na torre, os quais recebiam as pedras e construíam. A
torre era construída sobre a grande rocha e em cima da porta. As dez pedras foram
então ajustadas e cobriram toda a rocha, tornando-se, desse modo, o alicerce da
construção da torre. A rocha e a porta suportavam toda a torre. Depois das dez
pedras, subiram do abismo outras vinte e cinco. Elas também foram ajustadas à
construção, carregadas pelas virgens como as anteriores. Depois, subiram trinta
e cinco pedras, que foram igualmente ajustadas à torre. A seguir, subiram
outras quarenta pedras, e todas foram também empregadas na construção da torre.
Desse modo, formaram-se quatro camadas no alicerce da torre. Pararam então de
subir do abismo, e os construtores descansaram um pouco. Depois, os seis homens
ordenaram à multidão numerosa que trouxesse pedras das montanhas, a fim de
construir a torre. Eram trazidas de todas as montanhas, de cores variadas,
lavradas pelos homens, e entregues às virgens, as quais as transportavam pela
porta e as entregavam para a construção da torre. Quando essas pedras de cores
diferentes eram colocadas na construção, tornavam-se igualmente brancas,
mudando as cores precedentes. Algumas pedras eram entregues aos homens para a
construção, mas não se tornavam brilhantes; continuavam tais como eram antes,
pois não tinham sido entregues pelas virgens, nem tinham passado pela porta.
Tais pedras, portanto, destoavam na construção da torre. Os seis homens viram
que essas pedras destoavam na construção, e ordenaram que fossem retiradas,
levadas para baixo, para o lugar de onde tinham sido transportadas. Então
disseram aos homens que transportavam as pedras: “De modo nenhum, não
entregueis vós mesmos pedras aos construtores. Colocai-as perto da torre, para
que as virgens, fazendo-as passar pela porta, as entreguem para a construção.
Com efeito, se elas não passarem a porta pelas mãos das virgens, não poderão
mudar suas cores. Portanto, não vos afadigueis em vão.”
CAPÍTULO 82
Naquele dia o trabalho
de construção, mas a torre não ficou concluída. Devia-se retomar a construção,
mas houve uma pausa. Os seis homens mandaram que todos os construtores se
retirassem um pouco e descansassem; às virgens, porém, ordenaram que não se
afastassem da torre. Parecia-me que as virgens foram deixadas aí para
guardá-la. Depois que todos se retiraram para descansar, eu perguntei ao
pastor: “Senhor, por que não foi terminada a construção da torre?” Ele
respondeu: “A torre não pode ser terminada enquanto o seu proprietário não vier
examinar a construção, para trocar as pedras que estiverem corroídas. A torre
foi construída segunda a vontade dele.” Eu então pedi: “Senhor, desejaria saber
o que significa a construção da torre e a rocha, a porta, as montanhas, as virgens
e as pedras que subiram do abismo, porque não foram lavradas, mas entraram na
construção tais quais eram. Também desejaria saber por que primeiro foram
postas no alicerce dez pedras, depois vinte e cinco, trinta e cinco, e
quarenta. E também o que significam as pedras que entraram na construção e
depois foram logo retiradas e recolocadas em seu lugar. Senhor, tranquiliza a
minha alma sobre tudo isso, e explica-me tudo.” Ele respondeu: “Se tua
curiosidade não for considerada vã, conhecerás tudo. Daqui a poucos dias
voltaremos aqui, e verás o resto do que acontecerá a esta torre, e saberás
completamente todas as parábolas.” Poucos dias depois, voltamos ao lugar onde
estivéramos sentados, e ele me disse: “Vamos até à torre, pois o proprietário
virá examiná-la.” Então fomos até à torre, e perto dela não havia absolutamente
ninguém, exceto as virgens. O pastor perguntou às virgens se o proprietário da
torre estava aí, e elas responderam que ele chegaria para examinar a
construção.
CAPÍTULO 83
Eis que pouco depois vejo um cortejo de
muitos homens chegando, e no meio deles um homem tão alto que ultrapassava a
torre. Os seis homens que trabalharam na construção caminhavam com ele à direita
e à esquerda, e todos os que trabalharam na construção estavam com ele, e
muitos outros, gloriosos, ao seu redor. As virgens que guardavam a torre
correram ao seu encontro, o beijaram e começaram a caminhar com ele ao redor da
torre. Esse homem examinava minuciosamente a construção, a ponto de apalpar
pedra por pedra; com um bastão na mão, batia em cada uma das pedras da
construção. À medida que batia nelas, algumas ficavam negras como fuligem;
outras, corroídas, ou fendidas, ou mutiladas, ou nem brancas nem negras;
outras, desiguais, já não se harmonizavam com as demais pedras; e outras ainda,
cheias de manchas. Tais foram as variedades de pedras achadas inúteis para a
construção. E ele ordenou retirá-las todas da torre, colocá-las junto dela e
trazer outras para substituí-las. Os construtores lhe perguntaram de qual
montanha ele queria que tirassem as pedras para colocar no lugar das outras.
Ele ordenou que fossem tiradas, não das montanhas, mas de uma planície vizinha.
Cavou-se então a planície e foram encontradas pedras brilhantes, quadradas, e
algumas redondas. Todas as pedras encontradas nessa planície foram trazidas, e
as virgens as transportaram através da porta. As pedras quadradas foram
lavradas e colocadas no lugar das que tinham sido tiradas; as redondas não
foram colocadas na construção, porque eram duras, e o trabalho de lavrá-las era
lento. Foram colocadas perto da torre, pois deviam ser lavradas para serem
colocadas na construção, já que eram muito brilhantes.
CAPÍTULO 84
Terminando isso, o homem glorioso e
senhor de toda a torre chamou o pastor e lhe entregou todas as pedras que se
achavam perto da torre e que foram tiradas da construção, e lhe disse: “Limpa
cuidadosamente todas essas pedras, e emprega na construção da torre as que se
ajustam às outras; as que não se ajustarem, atira-as para longe da torre.”
Depois de ordenar isso ao pastor, foi embora, acompanhado de todos os que
tinham vindo com ele; as virgens, porém, permaneceram ao redor da torre, para
guardá-la. Eu perguntei ao pastor: “Como podem essas pedras, que foram
rejeitadas como indignas, voltar à construção da torre?” Ele me respondeu: “Vês
estas pedras?” Eu disse: “Sim, senhor, estou vendo.” Ele continuou: “Lavrarei a
maior parte delas e as empregarei na construção, e elas se ajustarão às
outras.” Eu perguntei: “Senhor, como poderão, depois de esquadradas, preencher
o mesmo lugar?” Ele me respondeu: “As que forem achadas pequenas serão
colocadas no interior da construção; as maiores serão colocadas no lado externo
e sustentarão as outras.” Dito isso, continuou: “Vamos embora. Dentro de dois
dias voltaremos, limparemos essas pedras e as colocaremos na construção. E
preciso limpar tudo ao redor da torre, pois, se o proprietário vier de
improviso e encontrar tudo sujo ao redor da torre, ficará irritado. Nesse caso,
essas pedras não entrariam na construção da torre, e aos olhos do proprietário
eu pareceria negligente.” Dois dias depois, voltamos à torre e ele me disse:
“Examinemos todas as pedras e vejamos quais delas podem entrar na construção.”
Eu respondi: “Sim, senhor, vamos examiná-las”.
CAPÍTULO 85
Para começar, examinamos primeiro as
pedras negras. Da forma como foram retiradas da torre, assim as encontramos. O
pastor ordenou que fossem levadas embora da torre e colocadas à parte. Depois,
examinou as corroídas. Pegou muitas delas, lavrou-as e ordenou que as virgens
as levantassem e as colocassem na construção. As virgens as levantaram e as
colocaram no interior da construção da torre. Ele ordenou então que as
restantes fossem colocadas com as pretas, pois elas também foram encontradas
pretas. Em seguida, examinou as fendidas. Lavrou muitas e mandou que as virgens
as levassem para a construção. Puseram-nas, porém, no lado externo, pois eram
mais sólidas. As outras, como tinham muitas fendas, não puderam ser lavradas e,
por isso, foram excluídas da construção da torre. Examinou depois as mutiladas.
Entre elas se encontraram muitas pedras pretas, e algumas com grandes fendas, e
ele mandou que também essas fossem colocadas com as rejeitadas. Quanto às
restantes, ele as limpou, lavrou e mandou colocar na construção. As virgens as
levantaram e as ajustaram no meio da construção, pois eram muito fracas.
Depois, examinou as meio brancas e meio pretas, e muitas delas foram encontradas
pretas. Mandou que também essas fossem levantadas e colocadas junto com as que
tinham sido rejeitadas. Todas as outras foram levantadas pelas virgens. Como
eram brancas, foram ajustadas à construção pelas próprias virgens. Foram postas
no lado externo da muralha, pois foram encontradas sólidas, de modo que podiam
sustentar as que eram colocadas no meio. Nada foi cortado delas. Em seguida,
examinou as que eram duras e ásperas, e algumas delas foram rejeitadas; não era
possível lavra-las, porque eram muito duras. As outras foram lavradas,
levantadas pelas virgens, e ajustadas no interior da construção da torre, pois
eram mais fracas. Em seguida, ele examinou as que tinham manchas, e delas
poucas ficaram pretas e foram rejeitadas com as outras. As que restaram foram
encontradas brilhantes e sólidas, ajustadas pelas virgens à construção; foram
colocadas no lado externo, porque eram resistentes.
CAPÍTULO 86
Em seguida, ele foi examinar as pedras
brancas e redondas, e me disse: “Que faremos com essas pedras?” Eu respondi:
“Que sei eu, senhor?” (Ele continuou:) “Não tens nenhuma ideia sobre isso?” Eu
respondi: “Senhor, não conheço esse ofício, não sou talhador de pedras, nem
consigo entender nada.” Ele continuou: “Não vês que elas são redondas e que, se
eu quiser deixá-las quadradas, será preciso cortar bastante? Contudo, é preciso
que algumas delas entrem na construção.” Eu perguntei: “Senhor, se é
necessário, por que te preocupas? Por que não escolhes para a construção
aquelas que preferes e as ajustas na construção?” Ele escolheu as maiores e
mais brilhantes delas, e as lavrou. As virgens as levantaram e as ajustaram no
lado externo da construção. As restantes foram levantadas e colocadas na
planície, de onde tinham sido tiradas. Não foram, porém, reprovadas. Ele me
disse: “Porque resta ainda um pouco da torre para construir, e o proprietário
dela quer de todo modo que essas pedras sejam ajustadas à construção, pois são
muito brilhantes.” Então ele chamou doze mulheres muito belas, vestidas de
preto e cingidas, com os ombros descobertos e os cabelos soltos. Elas me
pareceram selvagens, e o pastor ordenou que levantassem as pedras rejeitadas da
construção e as levassem para as montanhas de onde tinham sido tiradas. Elas as
levantaram, alegres, e transportaram todas e as puseram no lugar de onde haviam
sido tiradas. Quando todas as pedras foram retiradas, e não restou nenhuma
pedra ao redor da torre, o pastor me disse: “Percorramos ao redor da torre,
para ver se não há nenhum defeito.” Dei a volta com ele. Vendo que a torre era
bela em sua construção, o pastor ficou muito contente. Com efeito, a torre era
tão bem construída, que eu experimentei o desejo de habitá-la, pois ela era
construída como se fosse uma pedra única, sem a mínima juntura. A pedra parecia
ter sido cortada da rocha, pois me parecia formar um único bloco.
CAPÍTULO 87
Andando com ele, eu estava contente de
ver coisas tão boas. E o pastor me disse: “Vai me buscar cal e cacos para
igualar as formas das pedras que foram levantadas e empregadas na construção. E
preciso que todo o contorno da torre fique igualado.” Fiz conforme ele ordenou
e lhe trouxe tudo. Ele pediu: “Ajuda-me, para que a obra fique logo terminada.”
Então ele igualou as formas das pedras que entraram na construção; depois
mandou varrer e limpar ao redor da torre. As virgens pegaram vassouras e
varreram, tirando toda a sujeira da torre, e espalharam água. Então o lugar da
torre ficou alegre e muito belo. O pastor me disse: “Tudo foi lavado. Se o
proprietário vier examinar a torre, não terá nada a nos reprovar.” Dito isso,
queria ir embora. Eu, porém, o segurei pelo bornal e comecei a conjurá-lo, pelo
Senhor, que me explicasse o que me mostrara. Ele me disse: “Ainda tenho coisas
para fazer. Depois te explicarei tudo. Espera-me aqui até que eu volte.” Eu lhe
perguntei: “Senhor, que farei aqui sozinho?” Ele respondeu: “Não estás sozinho.
As virgens estão contigo.” Eu lhe pedi: “Recomenda-me então a elas.” Então o
pastor as chamou, e lhes disse: “Confio a vós este homem, até que eu volte.” E
foi embora. Fiquei sozinho com as virgens. Elas estavam muito contentes, e me
trataram com muita atenção, principalmente as quatro mais gloriosas.
CAPÍTULO 88
As virgens me disseram: “O pastor não
voltará aqui hoje.” Eu perguntei: “Então, o que é que eu faço?” Elas
responderam: “Espera-o até à tarde. Se ele vier, falará contigo; se não vier,
ficarás até que ele volte.” Eu lhes disse: “Vou esperá-lo até à tarde. Se não
vier, voltarei para casa e retornarei amanhã de manhã.” Elas responderam:
“Foste confiado a nós. Portanto, não podes sair de perto de nós.” Eu perguntei:
“Onde ficarei?” Elas responderam: “Dormirás conosco, como irmão, e não como
marido, pois tu és nosso irmão e, doravante, habitaremos contigo, porque te
amamos muito.” Eu fiquei envergonhado de permanecer com elas. Então, aquela que
me parecia ser a primeira delas começou a beijar-me e abraçar-me. As outras,
vendo-a abraçar-me, começaram também a beijar-me, a andar ao redor da torre e a
brincar comigo. De minha parte, eu me senti rejuvenescido, e também comecei a
brincar com elas. Umas formavam coros de danças, outras dançavam e outras
cantavam. Eu fiquei em silêncio, passeava com elas ao redor da torre, e estava
alegre com elas. Chegando a tarde, quis retirar-me para casa. Elas, porém, não
me deixaram e me retiveram. Fiquei com elas à noite e dormi perto da torre. As
virgens estenderam no chão suas túnicas de linho e me fizeram deitar no meio
delas. E nada mais fizeram do que orar. Eu comecei a orar sem cessar com elas,
e não menos que elas. As virgens se alegraram, vendo-me orar assim. Permaneci
aí com as virgens até à manhã seguinte, pela décima hora. Em seguida, o pastor
chegou e perguntou: “Não lhe fizestes nenhuma insolência?” Elas responderam:
“Pergunta a ele mesmo.” Eu lhe respondi: “Senhor, estou muito contente de ter
ficado com elas.” Ele me perguntou: “O que você comeu?” Eu respondi: “Comi
palavras do Senhor a noite inteira.” Ele perguntou: “Elas te receberam bem?” Eu
respondi: “Sim, senhor.” Ele continuou: “Agora, o que queres ouvir em primeiro
lugar?” Eu disse: “Senhor, quero ouvir na mesma ordem que me mostraste desde o
começo. Peço-te, senhor, que me expliques à medida que eu for perguntando.” Ele
me disse: “Explicarei como quiseres e não esconderei de ti absolutamente nada.”
CAPÍTULO 89
Eu perguntei: “Antes de tudo, explica-me
o que representam a rocha e a porta.” Ele me respondeu: “A rocha e a porta são
o Filho de Deus.” Eu continuei: “Como é que a rocha é antiga e a porta é
recente?” Ele explicou: “Escuta, homem insensato, e compreende. O Filho de Deus
nasceu antes de toda a criação, embora ele tenha sido o conselheiro de seu Pai
para a criação. E por isso que a rocha é antiga.” Eu lhe perguntei: “E por que
a porta é nova, senhor?” Ele respondeu: “Por que ele se manifestou nos últimos
dias da consumação. Aporta foi feita recentemente, para que os que devem
salvar-se entrem por ela no Reino de Deus.” Viste que as pedras que passaram
pela porta foram utilizadas na construção da torre, mas as que não passaram por
ela foram rejeitadas para seu antigo lugar?” Eu respondi: “Sim, senhor, eu vi.”
Ele continuou: “Da mesma forma, ninguém entrará no Reino de Deus, se não tiver
recebido o seu nome santo. Se quiseres entrar numa cidade e ela for cercada de
muralhas e só houver uma porta, poderias entrar nela sem ser pela única porta
que tem?” Eu respondi: “Como poderia ser de outra maneira, senhor?” Ele
continuou: “Da mesma forma que não poderias entrar na cidade a não ser pela sua
porta, também o homem não pode entrar no Reino de Deus senão pelo nome de seu
Filho amado. Viste a multidão que construía a torre?” Eu respondi: “Sim,
senhor, eu vi.” Ele continuou: “Todos eles são anjos gloriosos. E por meio
deles que o Senhor foi cercado com muralha. A porta é o Filho de Deus. É a
única entrada para o Senhor. Ninguém chegará até ele, senão por meio de seu
Filho. Viste os seis homens e, no meio deles, um homem grande e glorioso, que
andava ao redor da torre e que rejeitou como indignas as pedras da construção?”
Eu disse: “Sim, senhor, eu vi.” Ele explicou: “O homem glorioso é o Filho de
Deus, e os outros seis são os anjos gloriosos que o escoltam, à sua direita e à
sua esquerda. Sem ele, nenhum desses anjos gloriosos poderá entrar para junto
de Deus. Quem não tiver recebido o nome dele, não entrará no Reino de Deus.”
CAPÍTULO 90
Eu perguntei: “O que é a torre?” Ele
disse: “A torre é a Igreja”. (Eu perguntei:) “E quem são as virgens?” Ele
respondeu: “São espíritos santos. Um homem não pode entrar de outra forma no
Reino de Deus, se essas virgens não o revestirem com a própria veste delas. Se
receberes apenas o nome, mas não a veste, nada adiantará, porque essas virgens
são os poderes do Filho de Deus. Se levas o nome, mas não a força dele, é em
vão que serás o portador do nome. As pedras que viste rejeitadas, são as
pessoas que levaram o nome, mas não foram revestidas com as vestes das
virgens.” Eu perguntei: “Senhor, qual é a veste delas?” Ele, respondeu: “O
próprio nome delas é sua veste. Aquele que leva o nome do Filho de Deus, deve
levar também os nomes delas, porque o próprio Filho de Deus leva o nome dessas
virgens. Todas as pedras que viste entrar na construção da torre, levadas pela
mão delas, e aí permanecem, são pessoas revestidas com o poder dessas virgens.
Por isso vês a torre formar um só bloco com a rocha. O mesmo acontece com os
que acreditaram no Senhor por meio do seu Filho e, revestidos com esses
espíritos, formarão um só espírito, um só corpo, e suas vestes terão uma só
cor. Tais pessoas que portam o nome das virgens têm sua morada na torre.” Eu
perguntei: “Senhor, e as pedras que foram rejeitadas? Por que o foram? Elas
tinham passado pela porta e foram colocadas na construção da torre pela mão das
virgens.” Ele respondeu: “Uma vez que te preocupas de tudo e pesquisas acuradamente,
escuta o que se refere às pedras rejeitadas. Todos esses indivíduos receberam o
nome do Filho de Deus e também o poder das virgens. Acolhendo esses espíritos,
eles foram fortalecidos e se encontraram entre os servos de Deus. Tinham um só
espírito, um só corpo e uma só veste, pois todos pensavam a mesma coisa e
praticavam a justiça. Depois de certo tempo, porém, foram seduzidos pelas
mulheres que viste vestidas de preto, com os ombros descobertos, cabelos soltos
e belos. Vendo-as, eles as desejaram e se revestiram com o poder delas,
rejeitando a veste e o poder das virgens. Esses foram rejeitados da casa de
Deus e entregues a essas mulheres. Mas os que não se deixaram seduzir pela
beleza delas, permaneceram na casa de Deus. Aí tens a explicação das pedras rejeitadas.”
CAPÍTULO 91
Eu perguntei: “Senhor, se esses homens,
mesmo que sejam assim, fizerem penitência, rejeitarem o desejo por essas
mulheres e voltarem às virgens, andando conforme seus poderes e suas obras não
entrarão na casa de Deus?” Ele respondeu: “Eles entrarão se renunciarem às
obras dessas mulheres, assumirem o poder das virgens e andarem em suas bras. Houve uma pausa na construção,
justamente para que eles pudessem, no caso de se arrependerem, entrar de novo
na construção da torre. Caso não fizerem penitência, outros entrarão, e eles
serão definitivamente rejeitados.” Dei graças ao Senhor por todas essas coisas,
por se ter compadecido de todos os que são chamados pelo nome dele, por nos ter
enviado o anjo da penitência, a nós que pecamos contra ele; por ter concedido
nova vida, a nós que já estávamos corrompidos e sem esperança de viver. Eu
disse: “Agora, Senhor, explica-me por que a torre não está construída no chão,
mas sobre a rocha e sobre a porta.” Ele respondeu: “Ainda és idiota e insensato!”
Eu repliquei: “Senhor, tenho necessidade de perguntar tudo, pois não consigo
compreender absolutamente nada. Essas coisas são grandes, gloriosas e difíceis
para os homens compreenderem.” Ele explicou: “Escuta. O nome do Filho de Deus é
grande, imenso e sustenta o mundo inteiro. Se toda a criação é sustentada pelo Filho
de Deus, o que pensar então daqueles que foram chamados por ele, que levam o
nome do Filho de Deus e andam conforme os seus mandamentos? Estás vendo,
portanto, os que ele sustenta? São os que levam o seu nome de todo o coração.
Por isso, ele se constituiu alicerce deles e, para ele é uma alegria
sustentá-los, pois eles não se envergonham de levar o nome dele.”
CAPÍTULO 92
Eu pedi: “Senhor, dize-me o nome das
virgens e das mulheres trajadas de preto.”
Ele respondeu: “Escuta o nome das virgens mais fortes, que estão nos
ângulos (da porta). A primeira é a Fé; a segunda, a Temperança; a terceira, a
Força; a quarta, a Paciência. As outras, colocadas entre as primeiras,
chamam-se: Simplicidade, Inocência, Castidade, Alegria, Verdade, Inteligência,
Concórdia, Caridade. Aquele que leva esses nomes e também o nome do Filho de
Deus, poderá entrar no Reino de Deus. Escuta também os nomes das mulheres
trajadas de preto. Quatro delas são mais fortes: a primeira é a Incredulidade;
a segunda, Intemperança; a terceira, Desobediência; a quarta, Engano. As que se
seguem chamam-se: Tristeza, Maldade, Dissolução, Cólera, Falsidade, Insensatez,
Maledicência e Ódio. O servo de Deus que leva esses nomes verá o Reino de Deus,
mas nele não entrará.” Eu perguntei: “Senhor, e as pedras que saíram do abismo
e foram ajustadas à construção? Quem são elas?” Ele respondeu: “As dez
primeiras, colocadas no alicerce, é a primeira geração; as vinte e cinco
seguintes são a segunda geração de homens justos; as trinta e cinco seguintes
são os profetas de Deus e seus servos; as quarenta são os apóstolos e doutores
que anunciaram o Filho de Deus.” Eu perguntei: “Senhor, por que as virgens
passaram as pedras pela porta, para entregá-las aos construtores da torre?” Ele
respondeu: “Porque eles foram os primeiros a levar esses espíritos e não se
separaram uns dos outros; nem os espíritos se separaram dos homens; nem os
homens, dos espíritos. Os espíritos permaneceram com eles até à morte. Se não
levassem em si esses espíritos, tais homens não teriam sido úteis à construção
da torre.”
CAPÍTULO 93
Eu pedi: “Senhor, explica-me mais
ainda.” Ele respondeu: “O que procuras mais?” Eu continuei: “Senhor, por que as
pedras tiveram que subir do fundo, para ser colocadas na construção da torre,
embora tivessem esses espíritos?” Ele respondeu: “Era preciso que saíssem da
água, para receber a vida. Elas não podiam entrar no Reino de Deus, senão
deixando a mortalidade da vida anterior. Tais mortos receberam o selo do Filho
de Deus e entraram no Reino de Deus. De fato, antes de levar o nome do Filho de
Deus o homem está morto. Quando recebe o selo, deixa a morte e retoma a vida. O
selo é a água: eles descem à água e daí saem vivos. Também a eles foi anunciado
esse selo, e eles o usaram para entrar no Reino de Deus.” Eu perguntei:
“Senhor, por que as quarenta pedras também sobem com eles do abismo, visto que
estas já haviam recebido o selo?” Ele respondeu”. “Porque esses apóstolos e
doutores que anunciaram o nome do Filho de Deus, adormecidos no poder e na fé
do Filho de Deus, o anunciaram também àqueles que tinham morrido antes deles, e
lhes deram o selo do anúncio. Desceram com eles à água e novamente subiram.
Contudo, desceram vivos e subiram vivos, enquanto os que estavam mortos antes
deles desceram mortos e subiram vivos. E graças a eles que estes últimos
receberam o nome do Filho de Deus. Por isso, subiram com eles, foram ajustados
à construção da torre, e colocados sem ser lavrados, porque morreram na justiça
e na pureza. Apenas não tinham o selo. Agora tens a explicação dessas coisas.”
Eu respondi: “Sim, senhor.”
CAPÍTULO 94
(Eu perguntei): “Senhor, explica-me
agora a respeito das montanhas. Por que são tão diferentes entre si e suas formas
variadas?” Ele respondeu: “Escuta. Essas doze montanhas são as doze tribos, que
habitam o mundo inteiro. O Filho de Deus lhes foi anunciado por meio dos
apóstolos.” (Eu pedi): “Porque as montanhas têm formas variadas entre si?
Explica-me, Senhor.” Ele respondeu: “Escuta. Essas doze tribos que habitam o
mundo inteiro são doze nações. Elas são diferentes no sentimento e no
pensamento. Assim como são diversas as montanhas que vês, também o são as
qualidades do pensamento e do sentimento das nações. Eu te explicarei, porém, o
comportamento de cada uma em particular.” Eu pedi: “Senhor, explica-me
primeiramente porque, apesar da diversidade dessas montanhas, as pedras, quando
colocadas na construção, se tornaram brilhantes e com a mesma cor branca, como
as pedras que subiram do abismo.” Ele me respondeu: “E porque todas as nações
que habitam debaixo do céu, tendo ouvido e acreditado, foram chamadas com o
nome do Filho de Deus. Depor de terem recebido o selo, tiveram todas um só
sentimento e um só pensamento, uma só fé e uma só caridade. Com o nome levaram
também os espíritos das virgens. Por isso, a construção da torre tornou-se de
uma só cor, brilhante como o sol. Mas, depois de terem entrado para o mesmo
lugar e terem formado um só corpo, alguns deles se contaminaram. Foram
excluídos do povo dos justos e se tornaram como antes, ou talvez piores.”
CAPÍTULO 95
Eu perguntei: “Senhor, como puderam
tornar-se piores, depois de conhecer a Deus?” Ele respondeu: “Aquele que não
conhece a Deus e pratica o mal, merece alguma punição por seu mal. Contudo,
aquele que conhece a Deus não deve praticar o mal, e sim o bem. Se aquele que
deve praticar o bem, pratica o mal, não te parece que comete erro maior do que
aquele que não conhece a Deus? Por isso, aqueles que não conhecem a Deus e
praticam o mal, são condenados à morte. Mas os que conhecem a Deus, que viram
sua grandeza, e ainda praticam o mal, serão duplamente castigados, e morrerão
para sempre. É desse modo que a Igreja de Deus será purificada. Viste essas
pedras tiradas da torre, entregues aos espíritos maus e rejeitadas dela.
Aqueles que tiverem sido purificados, formarão um só corpo. Desse modo, a
torre, depois de purificada, ficou aparentemente como de uma só pedra.
Igualmente acontecerá com a Igreja de Deus, depois que for purificada e forem
expulsos os maus, os hipócritas, os blasfemadores, os vacilantes e os que
tiverem praticado todo tipo de mal. Depois da exclusão deles, a Igreja de Deus
será um só corpo, um só sentimento, um só pensamento, uma só fé, uma só caridade.
Então, o Filho de Deus se alegrará e se regozijará com eles por ter encontrado
puro o seu povo.” Eu disse: “Senhor, tudo isso é grande e glorioso. Mas agora,
Senhor, mostra-me o poder e a conduta de cada uma das montanhas, a fim de que
cada alma fiel ao Senhor, ouvindo isso, glorifique o seu nome grande, admirável
e glorioso.” Ele respondeu: “Escuta a respeito da diversidade das montanhas e
das doze nações.”
CAPÍTULO 96
“Os fiéis que vieram da primeira
montanha, a preta, são apóstatas, pessoas que blasfemaram contra o Senhor e
traíram os servos de Deus. Para esses não há penitência, mas a morte; são
pretos porque é geração sem lei. Os fiéis que vieram da segunda montanha, a
seca, são hipócritas e mestres do mal. São semelhantes aos anteriores: não
produziam nenhum fruto de justiça. Com efeito, assim como a montanha deles é
infrutífera, tais homens possuem o nome, mas são vazios de fé, e neles não há
nenhum fruto de verdade. A penitência é possível para eles, caso se arrependam
logo; porém, se tardarem, a morte será o destino deles, junto aos primeiros.”
Eu perguntei: “Senhor, por que existe penitência para estes, enquanto para os
primeiros não? Até certo ponto, as ações deles são semelhantes.” Ele respondeu:
“A penitência é possível para eles, porque não blasfemaram o seu Senhor, nem
traíram os servos de Deus. Agiram hipocritamente pelo desejo do lucro, e cada
um ensinou conforme os desejos dos homens pecadores. Por isso, sofrerão alguma
pena. Para eles há possibilidade de penitência, porque não foram blasfemadores,
nem traidores.”
CAPÍTULO 97
“Os fiéis que vieram da terceira
montanha, a coberta de espinhos e cardos, são estes: alguns deles são ricos e
outros enredados em numerosos negócios. Os cardos simbolizam os ricos, e os
espinhos são os que se enredaram em múltiplos negócios. Estes últimos,
enredados em múltiplos negócios, não se ligam aos servos de Deus, mas se
extraviam, afogados em seus negócios. Os ricos dificilmente se ligam aos servos
de Deus, porque temem que alguém lhes peça alguma coisa e, por isso,
dificilmente entrarão no Reino de Deus. Assim como é difícil andar descalço sobre
os cardos, também o é para eles entrar no Reino de Deus. Todavia, para todos
esses existe possibilidade de penitência, com a condição de que seja logo, para
recuperar nesses dias o que não fizeram no passado, e assim praticar alguma
coisa boa. Se fizerem penitência e praticarem algo de bom, viverão em Deus;
mas, se persistirem obstinados em suas obras, serão entregues àquelas mulheres que
os matarão.”
CAPÍTULO 98
“Os fiéis que vieram da quarta montanha,
a que possui muita vegetação verde na ponta e seca perto das raízes, e alguma
ressequida pelo sol, são os seguintes: alguns são vacilantes, outros têm o
Senhor nos lábios, mas não no coração. Por isso, a base deles é seca e sem
força; somente suas palavras são vivas, mas suas obras são mortas. Tais pessoas
não estão vivas, nem mortas; são parecidas com os vacilantes, que não são nem
verdes, nem secos, pois eles não vivem nem estão mortos. Assim como essa vegetação
seca ao ver o sol, também os vacilantes, quando ouvem falar de perseguição, por
causa de sua covardia, sacrificam aos ídolos e se envergonham do nome do seu
Senhor. Eles, portanto, nem vivem, nem estão mortos. Contudo, também eles, se
fizerem logo penitência, viverão; se não fizerem penitência, porém, já estão
entregues às mulheres que lhes tirarão a vida.”
CAPÍTULO 99
“Os fiéis que vieram da quinta montanha,
que tinha vegetação verde e era pedregosa, são os seguintes: indóceis,
arrogantes, cheios de si; querem saber tudo, mas não sabem nada. Por causa de
sua presunção, a inteligência se afastou deles e a loucura insensata neles
penetrou. Gabam-se de como se tivessem inteligência e desejam ser mestres,
quando são apenas insensatos. Por causa desse orgulho, muitos, enaltecendo a si
mesmos, acabaram se esvaziando. De fato, a presunção e a vaidade são um grande
demônio. Muitos deles, foram rejeitados; alguns fizeram penitência, creram e,
reconhecendo sua própria insensatez, submeteram-se aos que têm inteligência. Os
outros também ainda podem fazer penitência, pois não eram maus, mas idiotas e
insensatos. Se fizerem penitência, viverão em Deus; mas, se não fizerem
penitência, habitarão com as mulheres que lhes fazem mal.”
CAPÍTULO 100
“Os fiéis que vieram da sexta montanha,
a que tem grandes e pequenas fendas e vegetação murcha nas fendas, são os
seguintes: os que têm pequenas fendas são os que guardam algum rancor mútuo e,
por causa de suas maledicências recíprocas, estão murchos na fé. Muitos deles,
porém, fizeram penitência; outros a farão quando ouvirem os meus mandamentos,
pois suas maledicências são pequenas e
eles se arrependerão logo. Os que têm grandes fendas, obstinam-se na
maledicência, tornam-se rancorosos e furiosos uns com os outros. Esses foram
rejeitados para longe da torre e julgados indignos da sua construção. Tais
homens dificilmente viverão. Deus nosso Senhor, que domina tudo e tem poder
sobre toda a sua criação, não guarda rancor para com os que confessam seus
pecados. Se ele é misericordioso, por que o homem, que é mortal e cheio de
pecados, guarda rancor contra o homem, como se tivesse poder de destruí-lo ou
salvá-lo? Eu, o anjo da penitência, vos digo: Vós que tendes essa tendência,
afastai-a e fazei penitência. O Senhor curará vossos pecados passados, se vos
purificardes desse demônio; caso contrário, sereis entregues a ele para a
morte.”
CAPÍTULO 101
“Os fiéis da sétima montanha, onde
crescia vegetação verde e viçosa, e onde tudo era exuberante, todo tipo de
rebanho e aves se alimentavam da vegetação dessa montanha, e cuja vegetação,
quanto mais era cortada, mais abundante brotava, são os seguintes: aqueles que
sempre foram simples, inocentes, felizes, sem rancor mútuo, sempre satisfeitos
com os servos de Deus e revestidos com o santo espírito dessas virgens, sempre
cheios de compaixão para com todos os homens e, graças a seus esforços, puderam
socorrer a todos, sem altivez e sem hesitação. O Senhor, vendo sua simplicidade
e candura, multiplicou o fruto do trabalho de suas mãos e os favoreceu em todas
as ações. Eu, o anjo da penitência, digo a vós que assim sois: permanecei
assim, e vossa descendência jamais será destruída. Com efeito, o Senhor vos
experimentou e vos inscreveu no número dos nossos, e toda a vossa posteridade
habitará com o Filho de Deus, pois recebestes do seu Espírito.”
CAPÍTULO 102
“Os fiéis que vieram da oitava montanha,
cheia de fontes, nas quais ia beber toda a criação do Senhor, são os seguintes:
apóstolos e doutores que anunciaram no mundo inteiro e que ensinaram, com
santidade e pureza, a palavra do Senhor. Não se deixaram de modo algum desviar
por paixão má, mas sempre caminharam na justiça e na verdade, conforme o
Espírito Santo que receberam. O lugar desses homens é ao lado dos anjos.”
CAPÍTULO 103
“Os fiéis que vieram da nona montanha,
repleta de répteis e feras que causam a morte do homem, são os seguintes:
aqueles que têm manchas são diáconos que administraram mal a sua função,
roubando a subsistência de viúvas e órfãos Enriqueceram- se com os recursos que
receberam para socorrer. Se continuarem nessa ambição, já estão mortos e não
têm mais nenhuma esperança de viver. Contudo, se fizerem penitência e
desempenharem retamente seu ministério, poderão viver. Os que têm sarna são
aqueles que renegaram seu Senhor e não se converteram a ele. Tornando-se áridos
e solitários, não se vinculam aos servos de Deus, mas vivem isolados e perdem a
vida. A vinha abandonada em alguma parte degenera por falta de cuidados;
sufocada pelas ervas daninhas, com o tempo ela se torna selvagem, e seus frutos
não são mais úteis para o seu dono. Da mesma forma, esses homens, abandonados a
si mesmos, tornam-se selvagens e inúteis para o seu Senhor. Eles ainda podem
fazer penitência, se não tiverem de coração renegado o Senhor; contudo, se
alguém o tiver renegado de coração, não sei se poderá viver. O que digo não
vale para o tempo presente, de modo que alguém o negue e faça penitência. Para
aqueles que o renegaram no passado é que parece haver possibilidade de
penitência. Portanto, se alguém quiser fazer penitência, que a faça logo, antes
que a torre esteja terminada. Caso contrário, será morto pelas mulheres. Os
mutilados são os espertos e maledicentes; eles são as feras que viste na
montanha. Essas feras, com seu veneno, matam e destroem o homem. Da mesma
forma, as palavras dessas pessoas envenenam o homem e o fazem morrer. Eles
estão mutilados na fé, por causa da conduta que assumem. Alguns fizeram
penitência e foram salvos; os outros, sendo como são, podem ser salvos, se se
arrependerem. Se não fizerem penitência, morrerão vitimados pelas mulheres, das
quais têm o poder.”
CAPÍTULO 104
“Os fiéis que vieram da décima montanha,
onde as arvores abrigavam ovelhas, são os seguintes: bispos e pessoas
hospitaleiras, que sempre receberam com prazer os servos de Deus em sua casa,
sem nenhuma hipocrisia. Os bispos, com seu ministério, continuamente protegeram
os necessitados e as viúvas, e sempre levaram vida pura. Eles serão, por sua
vez, protegidos pelo Senhor, para sempre. Os que assim agiram são gloriosos
junto de Deus; seu lugar já é junto com os anjos, se perseverarem até o fim no
serviço ao Senhor.
CAPÍTULO 105
“Os fiéis que vieram da décima primeira
montanha, cujas árvores estavam cheias de frutos de várias espécies, são os seguintes:
homens que sofreram por causa do nome do Filho de Deus, que sofreram
corajosamente, de todo o coração, entregando a própria vida.” Eu perguntei:
“Senhor, por que todas essas árvores têm frutos e, algumas delas, frutos mais
belos?” Ele respondeu: “Escuta. Todos aqueles que sofreram por causa do Nome
são gloriosos junto de Deus. Os pecados de todos eles foram perdoados, porque
sofreram por causa do nome do Filho de Deus. Escuta, porém, por que os frutos
deles são variados, e alguns deles melhores. Aqueles que foram arrastados
diante das autoridades, submetidos a interrogatórios e não renegaram, mas
sofreram corajosamente, são muito mais gloriosos junto do Senhor, e o fruto
deles é o melhor. Aqueles, porém, que tremeram e hesitaram e interrogavam no coração
se renegariam ou confessariam, e sofreram, esses levam frutos inferiores, por
lhes ter entrado essa intenção no coração. Com efeito, é má intenção um servo
renegar seu próprio Senhor. Vigiai, portanto, vós que tendes essa intenção,
para que ela não permaneça em vosso coração, e morrais para Deus. Vós que
sofreis por causa do Nome deveis glorificar a Deus, por vos ter julgado dignos
de levar seu nome e ser curados de todos os vossos pecados. Felicitai-vos,
portanto, e crede também que realizastes grande obra, quando algum de vós
sofrer por causa de Deus. O Senhor vos agracia com a vida, e vós não
compreendeis. De fato, os vossos pecados se tornaram pesados, e se não
sofrêsseis pelo nome do Senhor, estaríeis mortos para Deus por causa de vossos
pecados. Digo isso a vós que hesitais em negar ou confessar. Confessai que
tendes um Senhor, pois, se o negardes, sereis entregues à prisão. Se os pagãos
punem o escravo que renega seu senhor, o que pensais que fará convosco o vosso
Senhor, que tem poder sobre todas as coisas? Afastai esses desejos de vossos
corações, a fim de viver eternamente para Deus.”
CAPÍTULO 106
“Os fiéis que vieram da décima segunda
montanha, a branca, são os seguintes: são como crianças pequeninas, em cujo
coração não entra maldade nenhuma. Eles nem sequer sabem o que é o mal, e
sempre permaneceram na inocência. Tais homens certamente habitarão no Reino de
Deus, pois em nada violaram os mandamentos de Deus, mas perseveraram todos os
dias de sua vida na inocência e no mesmo sentimento. Todos vós que assim
perseverardes e fordes sem malícia, como crianças equenas, sereis mais gloriosos do que todos os
anteriores. Com efeito, todas as crianças são gloriosas diante de Deus e os
primeiras diante dele. Felizes, portanto, sereis vós, se arrancardes de vós
mesmos o mal e vos revestirdes da inocência, pois sereis os primeiros de todos
a viver em Deus.” Depois que ele terminou (de explicar) as parábolas a respeito
das montanhas, eu lhe pedi: “Senhor, explica-me agora o que são as pedras tiradas
da planície e colocadas no lugar das pedras que foram tiradas da torre, e
também as pedras redondas que foram colocadas na construção, e aquelas que
ainda são redondas.”
CAPÍTULO 107
Ele respondeu: “Escuta também o sentido
de todas essas coisas. As pedras tiradas da planície e que entraram na
construção da torre, no lugar das pedras que foram tiradas, são as raízes dessa
montanha branca .2Como os fiéis que vieram dessa montanha branca foram todos
encontrados inocentes, o Senhor da torre mandou empregar, na construção da
torre, pedras que vieram das raízes dessa montanha. De fato, ele sabia que se
essas pedras entrassem na construção da torpe, elas permaneceriam brilhantes, e
nenhuma delas escureceria. Se ele tivesse acrescentado pedras vindas de outras
montanhas ter-lhe-ia sido necessário examinar e purificar a torre novamente.
Estes, porém, foram encontrados brancos, tanto os que creram, como os que
creriam, pois eles pertencem à mesma geração. Feliz essa geração, pois ela é
inocente! Escuta agora o que se refere às pedras redondas e brilhantes. Elas
vêm todas dessa montanha branca. Escuta, porém, por que foram encontradas
redondas. Suas riquezas os obscureceram um pouco na verdade e os ofuscaram;
porém, nunca se afastaram de Deus, nem saiu palavra má, de sua boca, mas sempre
a equidade e a virtude da verdade. Vendo, pela mente deles, que poderiam servir
à verdade permanecendo bons, o Senhor mandou cortar suas riquezas, sem as tirar
de todo, para que pudessem fazer algum bem com o que lhes restava. Essas
pessoas viverão em Deus, porque são de índole boa. E por isso que essas pedras
foram cortadas ligeiramente, e depois colocadas na construção dessa torre.”
CAPÍTULO 108
“Quanto às outras, que até agora se
conservaram redondas e não foram ajustadas à construção, porque não tinham
ainda recebido o selo, foram recolocadas em seu lugar; de fato, foram
encontradas demasiadamente redondas. É preciso cortá-los deste século e da
vaidade de suas riquezas, e então se adaptarão ao Reino de Deus. De fato, é
necessário que eles entrem no Reino de Deus, pois o Senhor abençoou essa
geração inocente. Dessa geração, ninguém perecerá. Pode ser que alguém deles,
seduzido pelo diabo infame, cometa algum pecado e imediatamente recorra a seu
Senhor. Eu, o anjo da penitência, vos julgo todos felizes. Sois inocentes como
as crianças, pois vossa herança é boa e honrada diante de Deus. Digo a todos
vós, que recebestes esse selo: sede simples, esquecei as ofensas, não
permaneçais em vossa malícia ou na lembrança amarga das ofensas. Tende um só
espírito, remediai e tirai de vós essas más divisões, a fim de que o Senhor das
ovelhas se alegre com isso. Ele ficará contente, se encontrar todas as suas ovelhas,
e nenhuma transviada. Ai, porém, dos pastores, se ele encontrar transviada alguma
delas. Se os próprios pastores forem encontrados desviados, o que poderão dizer
ao Senhor do rebanho? Poderão talvez dizer que foram desviados pelas ovelhas?
Não se dará crédito a eles, pois é incrível que o pastor sofra alguma coisa por
parte das ovelhas. Será mais gravemente punido por causa de sua mentira. Eu
também sou pastor, e é preciso que eu preste rigorosamente conta de vós.”
CAPÍTULO 109
“Curai-vos, portanto, enquanto a torre
ainda está em construção. O Senhor habita nos homens que amam a paz, pois de
fato a paz lhe é agradável, e ele se afasta para bem longe dos que brigam e dos
que se perderam pela malícia. Devolvei-lhe, portanto, o espírito íntegro, como
o recebestes. Se entregas ao lavadeiro uma roupa nova e intacta, esperas
recebê-la de volta intacta. Se o lavadeiro te devolver a roupa rasgada, tu a
receberás? Não te irritarás e o perseguirás com reprovação, dizendo: “Eu te
entreguei uma roupa intacta. Por que a rasgaste, tornando-a inútil? Por causa
do rasgão que nela fizeste, agora não pode ser mais usada.” Não dirás tudo isso
ao lavadeiro, por causa do rasgão que ele fez em tua roupa? Se ficas aborrecido
assim com a tua roupa e te lamentas, por não tê-la recebido intacta, o que
julgas que te fará o Senhor, que te deu espírito intacto, e tu o devolves
completamente inútil, a ponto de não servir para mais nada ao teu Senhor? De
fato, ele se tornou inútil, desde o dia em que o corrompeste. O Senhor desse
espírito não te fará morrer por teres feito isso?” Eu respondi: “Certamente. Ele
tratará assim todos aqueles que conservarem o rancor.” Ele concluiu: “Não
calceis nos pés a clemência dele, mas glorificai-o por ser tão paciente frente
aos vossos pecados e por não ser semelhante a vós. Fazei, portanto, penitência útil
para vós.”
CAPÍTULO 110
Eu, o pastor, o anjo da penitência,
mostrei e expliquei aos servos de Deus todas essas coisas, que estão acima
escritas. Portanto, podereis viver se acreditardes e ouvirdes as minhas
palavras, se caminhardes nelas e corrigirdes os vossos caminhos. No entanto, se
permanecerdes na malícia e no rancor, não vivereis em Deus. Tudo o que devia
dizer, eu vos disse. Então o pastor me disse: “Fizeste-me todas as perguntas?”
Eu respondi: “Sim, senhor.” (Então ele me perguntou:) “Por que não me
perguntaste sobre a forma das pedras recolocadas na construção, das quais
melhoramos as formas?” Eu respondi: “Senhor, eu esqueci.” Ele explicou: “Escuta
agora sobre elas. São aqueles que ouviram os meus mandamentos e fizeram penitência
de todo o coração. Tendo visto que a penitência deles era boa e pura, e que
podiam nela perseverar, o Senhor mandou apagar seus pecados anteriores. Aquelas
formas eram os pecados deles, e foram igualadas, para que não aparecessem
mais.”
O que você deseja destacar
no texto?
Em que esta parábola serviu
para a sua espiritualidade?
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