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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Militão
de Sardes (†177)
Introdução

No fim do
segundo século, conforme mostra a obra História Eclesiástica, de
Eusébio de Cesaréia, Polícrates de Éfeso enviou
a Roma uma carta na qual defendia a observância da “Páscoa no décimo quarto
dia, segundo o evangelho, sem nenhuma transgressão, mas conformando-se à regra
da fé”.
De acordo com
essa carta, Melito — bispo de Sardes, em Lídia — era um dos que
defendia o dia 14 de nisã como a data a ser observada.
A carta afirmava
que os contemporâneos de Melito o consideravam um dos ‘grandes luminares que
adormeceram na morte’. Polícrates disse que Melito não se casou e “viveu
inteiramente sob o Espírito Santo e repousa em Sardes, esperando a visita do
Senhor que virá dos céus, quando ressuscitará dos mortos”.
Melito foi um
homem corajoso e determinado. De fato, ele escreveu uma Apologia dos cristãos — uma das primeiras de
que há registro — dirigida a Marco Aurélio, imperador romano de
161 EC a 180 EC.
Ele não tinha
medo de defender o cristianismo e de denunciar homens perversos e gananciosos.
Esses homens procuravam obter várias ordens imperiais como desculpa para
perseguir e condenar injustamente os cristãos, a fim de roubarem seus bens.
Melito
corajosamente escreveu o seguinte ao imperador: “Nós te apresentamos apenas o
pedido de tomares conhecimento primeiramente de quais são os invejosos e
sentencieis de acordo com o direito se eles são merecedores de morte e suplício
ou de salvação e tranquilidade. Se, porém, de ti não se originam essa decisão e
esse novo edito, que nem mesmo conviriam contra bárbaros inimigos, postulamos
com a maior insistência que não nos deixes entregues a essa pública rapina.”
Melito
demonstrava muito interesse no estudo das Escrituras Sagradas. Embora não
tenhamos uma lista completa de suas obras, os títulos de algumas delas revelam
o interesse que ele tinha em assuntos bíblicos. Estes são alguns dos títulos: Da Maneira de Viver e das Profecias; A Fé do Homem; A Criação; O
Batismo; A Verdade, a Fé e o Nascimento de Cristo; A Hospitalidade e a Chave; O
Diabo e Apocalipse de João.
Fez questão de
viajar para terras bíblicas a fim de pesquisar o número exato de livros das
Escrituras Hebraicas. A respeito disso ele escreveu: “Tendo ido, portanto, ao
Oriente e tendo estado até mesmo no lugar onde a Escritura foi anunciada e
cumprida, tive exato conhecimento acerca dos livros do antigo Testamento.
Levantei uma lista, que te envio.”
Essa lista não
menciona os livros de Neemias e de Ester, porém, é o mais antigo catálogo dos
livros canônicos das Escrituras Hebraicas em obras de professos cristãos.
Durante sua
pesquisa, Melito compilou uma série de versículos, tirados das Escrituras
Hebraicas, que contêm profecias acerca de Jesus.
A obra de Melito
intitulada Éclogas mostra que Jesus era o muito esperado
Messias e que a Lei mosaica e os Profetas apontavam para Cristo.
Era
notória a forte presença judaica em cidades importantes da Ásia Menor. Os
judeus de Sardes, onde Melito vivia, observavam a Páscoa hebraica em 14 de
nisã. Melito escreveu um sermão, com o título A Páscoa, que mostrava a
legitimidade da Páscoa segundo a Lei mosaica e defendia a observância cristã da
Refeição Noturna do Senhor em 14 de nisã.
Depois de fazer
comentários sobre o capítulo 12 de Êxodo e de mostrar
que a Páscoa prefigurava o sacrifício de Cristo, Melito explicou que, uma vez
que Deus já havia abolido a Lei mosaica, não fazia sentido os cristãos
observarem a Páscoa.
Depois ele
mostrou por que o sacrifício de Cristo era necessário: Deus colocou Adão num
paraíso onde ele poderia viver feliz. Mas o primeiro homem desobedeceu à ordem
de não comer da árvore do conhecimento do que é bom e do que é mau. Por isso,
surgiu a necessidade de um resgate.
Melito reafirmou
que Jesus havia sido enviado à Terra e morrido numa cruz para resgatar do
pecado e da morte quem acreditasse nele. É interessante que Melito tenha usado
a palavra grega xylon, que significa
“madeiro”, ao escrever sobre a cruz em que Jesus morreu.
Melito não era
conhecido apenas na Ásia Menor. Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes
conheciam suas obras.
No entanto, o
historiador Raniero Cantalamessa declara: “O declínio de Melito, que levou ao
desaparecimento gradual das suas obras, começou quando os quartodecimanos (que guardavam
o dia 14 de Nisa para comemorar a Páscoa) passaram a ser considerados hereges
— depois que o costume de celebrar a Páscoa Dominical ficou estabelecido.”
Por fim, as
obras de Melito desapareceram quase por completo.
Melito nos proveu com o que é
possivelmente o mais antigo cânon cristão do Antigo Testamento conhecido, tendo
viajado por toda a Palestina (e provavelmente à famosa biblioteca
de Cesareia Marítima) tentando obter informações sobre este assunto.
O cânon de Melitão era
este:
De Moisés, cinco livros: Gênesis,
Êxodo, Números, Levítico e Deuteronômio; Josué (filho de Nun), Juízes, Rute; de
Reis, quatro livros; de Crônicas, dois; de Salmos de Davi, de Provérbios de
Salomão (Sabedoria) também, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó; de profetas:
Isaías, Jeremias; dos doze profetas menores, um livro; Daniel, Ezequiel e
Esdras.
O que você deseja destacar no texto?
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