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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
O Pastor de Hermas (155)
1ª a 5º Parábolas - Capítulos 47
a 60
CAPÍTULO
47
Ele me disse isso de modo tão indignado, que fiquei confuso e com
muito medo. Sua aparência se alterou de tal modo que nenhum homem poderia
suportar sua ira. Vendo-me completamente perturbado e confuso, começou a
falar-me de modo mais brando e sereno, dizendo: “Tolo, insensato e vacilante!
Não compreendes que a glória de Deus é grande, forte e admirável? Ele não criou
o mundo para o homem e não lhe submeteu toda a sua criação, dando-lhe o poder
de dominar todas as coisas que existem debaixo do céu? Portanto, se o homem é o
senhor de todas as criaturas de Deus e domina sobre todas, será que ele não
pode dominar também esses mandamentos? Somente o homem que leva o Senhor em seu
coração é capaz de dominar todas as coisas e todos esses mandamentos. No entanto,
para os que têm o Senhor somente nos lábios, e cujo coração está endurecido e
estão distantes de Deus, esses preceitos são duros e inacessíveis. Esteja o
Senhor em vosso coração, vós homens vazios e levianos na fé, e sabereis que não
há nada mais fácil, suave e simples do que esses mandamentos. Convertei-vos, vós
que seguis os mandamentos do diabo, mandamentos difíceis, amargos, brutais e
licenciosos, e não temais o diabo, pois ele não tem poder nenhum sobre vós. Eu,
o anjo do arrependimento, que triunfo sobre o diabo, estarei convosco. O diabo só
pode amedrontar, mas esse medo não tem força alguma. Não o temais, portanto, e
ele fugirá de vós.”
CAPÍTULO
48
Eu lhe disse: “Senhor, escuta ainda algumas palavras.” Ele
respondeu: “Dize o que queres.” Eu continuei: “Senhor, o homem tem o desejo de
guardar os mandamentos de Deus, e ninguém deixa de pedir ao Senhor que o
reforce nos seus mandamentos e o submeta a eles. O diabo, porém, é duro, e
domina os homens.” Ele me respondeu: “Ele não conseguirá dominar os servos de
Deus, se estes, de todo coração, nele tiverem esperança. O diabo é capaz de
combater, não porém de triunfar. Se lhe resistirdes, será derrotado e,
envergonhado, fugirá de vós. Todavia, aqueles que são vazios temem o diabo como
se ele tivesse poder. Quando um homem enche de bom vinho recipientes
apropriados e entre estes deixa alguns semicheios, ao voltar para os
recipientes ele não se preocupa com os que estão cheios, pois sabe que estão
cheios; observa, sim, os que estão semicheios, temendo que tenham azedado, e o
vinho perca o sabor. O mesmo acontece com o diabo: Ele vai e tenta todos os
servos de Deus. Os que estão cheios de fé lhe resistem fortemente, e o diabo se
afasta deles, pois não encontra por onde entrar. Então, ele vai até os que
estão semicheios e, encontrando lugar, entra neles, faz o que quer, tornando-os
seus escravos.”
CAPÍTULO
49
“Eu, o anjo do arrependimento, vos digo: não temais o diabo, pois
fui enviado para estar com aqueles de vós que de todo o coração fazem arrependimento,
para os fortificar na fé. Portanto, crede, em Deus, vós que, por causa dos
vossos pecados, desesperastes da vida e acrescentais pecados a pecados,
agravando assim profundamente a vossa própria vida. Se vos converterdes ao
Senhor de todo o vosso coração e praticardes a justiça pelo resto dos dias de
vossa vida; se o servirdes retamente, conforme a sua vontade, ele vos curará de
vossos pecados passados e não vos faltará força para dominar as obras do diabo.
Não temais de modo nenhum a ameaça do diabo, pois ele, como nervos de cadáver,
não tem força nenhuma. Escutai, portanto, e temei aquele que pode salvar ou
destruir tudo; observai seus mandamentos e vivereis em Deus.” Eu lhe pedi:
“Senhor, agora estou fortificado em todos os mandamentos do Senhor, porque
estás comigo. Sei que abaterás todo o poder do diabo e que nós o dominaremos, e
venceremos todas as
suas
obras. Senhor, espero que, fortalecido pelo Senhor, eu possa guardar os preceitos
que me deste.” Ele me respondeu: “Tu os guardarás, contanto que teu coração permaneça
puro, voltado para o Senhor. Todos aqueles que os guardarem, purificando o
coração dos desejos vazios deste mundo, viverão em Deus.”
PRIMEIRA
PARÁBOLA
CAPÍTULO
50
Ele me disse: “Vós, servos de Deus, sabeis que habitais em terra
estrangeira. De fato, vossa cidade acha-se longe desta cidade. Portanto, se
conheceis vossa cidade, aquela que deveis habitar, por que correis assim atrás
de campos, instalações luxuosas, palácios e mansões inúteis? Quem procura tais
coisas nesta cidade não espera retornar à sua própria cidade. Insensato,
vacilante, homem infeliz! Ignoras que tudo isso é estrangeiro e está em poder
de outro? De fato, o dono desta cidade dirá: 'Não quero que habites na minha
cidade. Vai embora daqui, porque não obedeces às minhas leis'. Então, tu, que
possuis campos, casas e muitos bens, ao ser expulso por ele, o que farás com
teu campo, tua casa e tudo o que te resta do que acumulaste? Porque o dono
desta cidade te diz justamente: 'Ou obedeces às minhas leis, ou sais do meu
país'. Portanto, o que farás, tu que segues a lei da tua cidade? Por causa de
teus campos e do resto de teus bens, renegarás tua lei e andarás de acordo com
a lei dessa cidade? Atenção! É perigoso renegar tua lei, porque, se queres
retornar à tua cidade, temo que não te acolham mais, por teres renegado a lei
de tua cidade, e assim sejas excluído dela. Vigia, portanto. Visto que moras em
terra estrangeira, não reserves para ti senão o estritamente necessário, e
estejas pronto. Desse modo, quando o dono dessa cidade quiser te expulsar,
porque te opões às suas leis, sairás da sua cidade, chegarás à tua, e aí
viverás conforme tua lei, sem prejuízo e com alegria. Atenção, vós que servis
ao Senhor e o tendes no coração. Praticai as obras de Deus, lembrando-vos de
seus mandamentos e das promessas que ele vos fez. Crede que ele as manterá, se
seus mandamentos forem observados. Em lugar de campos, resgatai os oprimidos,
conforme cada um puder; visitai as viúvas e os órfãos, e não os desprezeis.
Gastai vossas riquezas e todos os vossos bens, que recebestes de Deus, nesses
campos e casas. De fato, o Senhor vos enriqueceu, para que presteis a ele tais
serviços. E melhor adquirir esses campos, bens e casas, que reencontrarás em
tua cidade, quando aí retornares. Esse investimento é nobre e alegre, não
produz tristeza, nem medo, mas alegria. Não procureis o investimento dos
pagãos, perigoso para os servos de Deus. Fazei vossos próprios investimentos,
com os quais podeis alegrar-vos. Não cometais fraude, não toqueis nos bens de
outros, nem os desejeis, porque é mau desejar os bens alheios. Realiza tua
tarefa, e serás salvo.”
ü Comente
a Parábola lida.
SEGUNDA
PARÁBOLA
CAPÍTULO
51
Caminhava eu para o meu campo e, observando um olmeiro e uma
videira, refletia sobre essas árvores e seus frutos. Então o Pastor me apareceu
e disse: “O que pensas sobre o olmeiro e a videira?” Eu respondi: “Senhor,
penso que eles se completam perfeitamente.” Ele disse: “Essas duas árvores
existem para servir de modelo aos servos de Deus.” Eu pedi: “Desejaria saber o
modelo que podem oferecer essas árvores das quais falas.” Ele perguntou: “Vês o
olmeiro e a videira?” Respondi: “Sim, senhor.” Ele continuou: “A videira produz
frutos, mas o olmeiro é estéril. Entretanto, se essa videira não se prende ao
olmeiro, fica estendida no chão e não produzirá frutos. Os frutos que produzir
apodrecerão, se ela não estiver suspensa no olmeiro. Vês, portanto, que o olmeiro
também dá muitos frutos, não menos que a videira, e até mais.” Eu perguntei:
“Por que mais, Senhor?” Ele respondeu: “Porque a videira suspensa no olmeiro dá
muitos frutos belos, ao passo que estendida no chão só produz frutos podres e
poucos. Essa parábola vale para os servos de Deus, o pobre e o rico.” Eu
perguntei: “Senhor, como assim? Explica-me.” Ele respondeu: “Escuta. O rico tem
muitos bens, mas aos olhos do Senhor ele é pobre, porque se distrai com suas
riquezas. A oração e a confissão ao Senhor não lhe são importantes e, se ele as
faz, são breves, fracas e sem nenhum poder. Contudo, se o rico se volta para o
pobre e atende às suas necessidades, crendo que o bem que ele fez ao pobre
poderá encontrar sua retribuição junto a Deus (porque o pobre é rico por sua
oração e confissão, e sua oração tem grande poder junto de Deus), então o rico
atende sem hesitação às necessidades do pobre. Assim, o pobre, socorrido pelo
rico, reza por ele e agradece a Deus pelo seu benfeitor; este, por sua vez,
redobra o zelo para com o pobre, para que não lhe falte nada na vida, pois sabe
que a oração do pobre é bem acolhida e rica junto a Deus. Desse modo, ambos
cumprem sua tarefa: o pobre o faz mediante sua oração, que é sua riqueza
recebida do Senhor. Ele a devolve ao Senhor na intenção daquele que o ajuda. E
o rico, sem hesitação, dá ao pobre a riqueza que recebeu do Senhor. Essa é uma
ação nobre e bem acolhida por Deus, porque o rico compreendeu perfeitamente o
sentido da sua riqueza e partilhou com o pobre os dons do Senhor, cumprindo
assim, convenientemente, a sua tarefa. Para os homens, o olmeiro parece não
produzir fruto. Eles não ignoram e não compreendem que, se vier seca, o
olmeiro, que conserva água, nutre a videira, e esta, continuamente provida de
água, produz o duplo de frutos, para ela mesma e para o olmeiro. Da mesma
forma, os pobres, rezando ao Senhor para os ricos, asseguram pleno
desenvolvimento às riquezas deles. Por sua vez, os ricos, atendendo às
necessidades dos pobres, dão satisfação à sua alma. Portanto, ambos participam
da ação justa. Quem age assim não será abandonado por Deus, mas será inscrito
no livro dos viventes. Felizes os que possuem e compreendem que o Senhor
preserva suas riquezas, pois aquele que o compreende poderá também prestar bons
serviços.”
ü Comente
a Parábola lida.
TERCEIRA
PARÁBOLA
CAPÍTULO
52
Ele
me mostrou muitas árvores sem folhas, que me pareciam mortas, e eram todas
semelhantes. E me perguntou: “Vês essas árvores?” Respondi: “Sim, senhor, eu as
vejo: são semelhantes e mortas.” Ele continuou: “Essas árvores que vês são os
habitantes deste mundo.” Eu perguntei: “Senhor, então por que são semelhantes e
mortas?” Ele respondeu: “Porque os justos e os pecadores não se distinguem
neste mundo, mas são semelhantes. De fato, para os justos este mundo é inverno,
e eles não se distinguem, pois nele habitam juntamente com os pecadores. No
inverno, despojadas de suas folhas, as árvores são semelhantes, e não se
distingue quais estão mortas e quais vivas. Da mesma forma, os justos e os
pecadores não se distinguem neste mundo; são todos semelhantes.”
QUARTA
PARÁBOLA
CAPÍTULO
53
De novo, ele me mostrou muitas árvores, umas verdes e outras
secas. E me disse: “Vês essas árvores?” Respondi: “Sim, senhor, eu as vejo:
umas estão verdes e outras secas.” Ele continuou: “As árvores verdes são os
justos, que habitarão no mundo que está para chegar. De fato, o mundo que está
para chegar será verão para os justos e inverno para os pecadores. Portanto,
quando brilhar a misericórdia do Senhor os servos de Deus poderão ser
distinguidos e serão visíveis para todos. No verão, os frutos de cada árvore
aparecem e se pode saber de que espécie são. Do mesmo modo, naquele mundo os
frutos dos justos serão manifestos e se saberá que todos eles são vigorosos.
Entretanto, naquele mundo, os pagãos e os pecadores, as árvores secas que
viste, serão encontrados secos e mortos, e serão queimados, como madeira morta,
patenteando-se assim que durante a vida deles sua conduta foi má. De fato, os
pecadores serão queimados, porque pecaram e não fizeram arrependimento; os
pagãos serão queimados porque não conheceram o seu Criador. Portanto, leva
frutos em ti mesmo, para que, naquele verão, teu fruto seja conhecido. Evita
muitas ocupações e não cometas nenhum pecado. Os que se carregam de muitas
ocupações cometem também muitos pecados. São absorvidos por seus negócios e não
servem mais em nada ao Senhor. Como poderia o homem assim pedir algo ao Senhor
e ser atendido, se ele não serve ao Senhor? Os que o servem, receberão o que
pedem, mas os que não o servem, não receberão absolutamente nada. Aquele que
tem apenas uma ocupação, pode também servir ao Senhor; o seu pensamento não se
corromperá longe do Senhor, mas o servirá, conservando pensamento puro. Se
assim fizeres, poderás levar frutos para o mundo que está para chegar. Qualquer
um que fizer isso, levará frutos.”
ü Comente
a Parábola lida.
QUINTA
PARÁBOLA
CAPÍTULO
54
Eu jejuava, sentado sobre um monte, e agradecia a Deus tudo o que
ele fizera por mim. Então vi o Pastor sentado junto de mim, dizendo: “Por que
vieste aqui tão cedo?” (Eu respondi): “Senhor, porque estou montando guarda.” Ele
perguntou: “Que quer dizer guarda?” Eu respondi: “Senhor, estou jejuando.” Ele
continuou: “E que jejum é esse que estás fazendo?” Eu respondi: “Senhor, eu
jejuo por costume.” Ele disse: “Não sabes jejuar para o Senhor, e esse jejum
que fazes é sem valor.” Eu perguntei: “Senhor, por que dizes isso?” Ele
explicou: “Digo-te que não é jejum esse que imaginas fazer. Eu te ensinarei,
porém, qual é o jejum agradável e perfeito para o Senhor.” Eu disse: “Sim,
senhor. Tu me farás feliz, se eu puder conhecer o jejum que agrada a Deus.”
Então ele explicou: “Escuta. Deus não deseja esse jejum vazio. Com efeito,
jejuando desse modo para Deus, não farás nada para a justiça. Jejua do seguinte
modo: Não faças nada de mau em tua vida e serve ao Senhor de coração puro;
observa seus mandamentos, andando conforme seus preceitos, e que nenhum desejo
mau entre em teu coração, e crê em Deus. Se fizeres isso e o temeres,
abstendo-te de toda obra má, viverás em Deus. Se cumprires essas coisas, farás
um jejum grande e agradável ao Senhor.”
CAPÍTULO
55
Escuta a parábola sobre o jejum. Um homem possuía um campo e
muitos escravos, e mandou plantar uma vinha numa parte do campo. Ele escolheu
um servo muito fiel e estimado, chamou-o e lhe disse: “Toma conta desta vinha
que plantei e, durante minha ausência, coloca as estacas. Não faças mais nada
na vinha. Observa esta minha ordem e serás livre na minha casa.” Então o senhor
do escravo saiu de viagem. Depois que partiu, o escravo tomou conta e
estaqueou. Tendo terminado de estaquear, viu que a vinha estava cheia de mato.
Então refletiu e disse: “Já executei a ordem do senhor. Agora capinarei a
vinha, pois capinada ficará mais bela e, não sendo sufocada pelo mato,
produzirá mais fruto. Decidido, capinou a vinha e arrancou todo o mato que
havia nela. Sem o mato que a sufocava, a vinha ficou mais bela e florescente.
Depois de certo tempo, o senhor do campo e do servo voltou. Foi até à vinha e,
vendo que estava muito bem estaqueada, capinada, o mato extirpado e que as
videiras floresciam, ficou muito satisfeito com o trabalho do escravo. Chamou
então seu filho amado, que era o herdeiro, e seus amigos conselheiros.
Disse-lhes o que ordenara ao escravo e tudo o que ele vira executado. Eles se
alegraram com o escravo, por causa do testemunho que o patrão dera dele. Então
o patrão lhe disse: “Prometi a liberdade a esse escravo, se ele executasse a
ordem que lhe dera. Ele não só executou a ordem, mas fez bom trabalho na vinha,
e isso me agradou muito. Portanto, como recompensa do trabalho que ele
realizou, quero que seja herdeiro junto com meu filho, porque teve uma boa
ideia e, ao invés de descartá-la, a realizou.” O filho do senhor aprovou a
intenção de designar o escravo como seu coerdeiro. Alguns dias mais tarde, o
patrão dava um banquete e enviou muita comida do banquete ao escravo. Este
aceitou a comida que o senhor lhe enviara, reteve o suficiente para si e
distribuiu o resto a seus companheiros de escravidão. Os companheiros o
receberam, se alegraram e começaram a rezar para que ele, que os tratara tão
bem, recebesse ainda mais favores do senhor. “O senhor soube de tudo o que
acontecera e de novo se alegrou muito com a conduta do escravo. Chamou novamente
os amigos e o filho e contou-lhes a respeito da atitude do servo quanto à
comida recebida. E eles concordaram mais ainda que o servo se tornasse herdeiro
juntamente com o filho do senhor.”
CAPÍTULO
56
Eu lhe disse: “Senhor, não compreendo essas parábolas, nem as
poderei entender, se não me explicares.” El respondeu: “Vou te explicar tudo,
e, te esclarecerei tudo que eu falar. Guarda os mandamentos do Senhor, e lhe
serás agradável e contado entre os que observam seus mandamentos. Se fizeres
algo de bom, além do mandamento de Deus, conseguirás glória maior e serás
glorificado junto a Deus, mais do que deverias ser. Portanto, se, observando os
mandamentos de Deus, acrescentares essas boas obras, te alegrarás, se as
observares conforme a minha ordem.” Eu lhe disse: “Senhor, observarei tudo o
que me indicares, pois sei que estás comigo.” Ele me respondeu: “Estarei
contigo, pois tens esse desejo de fazer o bem, e estarei com todos os que têm o
mesmo desejo. Se os mandamentos do Senhor são observados, teu jejum é muito
bom. Eis como observarás o jejum que queres praticar: Antes de tudo, guarda-te
de toda palavra má, de todo desejo mau, e purifica teu coração de todas as
coisas vãs deste mundo. Se observares isso, teu jejum será perfeito. E jejuarás
do seguinte modo: depois de cumprir o que foi escrito, no dia em que jejuares,
não tomarás nada, a não ser pão e água. Calcularás o preço dos alimentos que
poderias comer nesse dia e o porás à parte para dar a uma viúva, a um órfão ou
necessitado e, desse modo, te tornarás humilde. Graças a essa humildade, quem
tiver recebido ficará saciado e rogará ao Senhor por ti. Se jejuares como te
ordenei, teu sacrifício será aceito por Deus, teu jejum será anotado, e o
serviço, assim realizado, será bom, alegre e bem acolhido pelo Senhor.
Observarás isso com teus filhos e toda a tua família. Desse modo, serás feliz,
e todos os que ouvirem esses preceitos e os observarem, serão felizes e
receberão do Senhor as coisas que pedirem.”
CAPÍTULO
57
Eu
lhe pedi insistentemente que me explicasse o sentido simbólico do campo, do
senhor, da vinha, do escravo que estaqueara a vinha, do filho e dos amigos
conselheiros, pois compreendera que tudo isso era uma parábola. Ele me
respondeu: “És muito ousado em tuas perguntas! De modo algum deves perguntar,
pois, se alguma coisa se deve explicar a ti, será explicada.” Eu lhe disse:
“Senhor, tudo o que me mostrares sem explicar, será inútil que eu veja, pois
não compreenderei o que significa. Da mesma forma, se me contas parábolas sem
explicá-las, terei ouvido em vão alguma coisa de ti.” De novo, ele me
respondeu, dizendo: “Todo servo de Deus que tem o Senhor em seu coração, pode
lhe pedir a compreensão e obtê-la. Ele poderá, então, explicar qualquer
parábola e, graças ao Senhor, tudo o que for dito em parábolas será
compreensível para ele. Os indolentes e preguiçosos para a oração, porém,
vacilam em pedir ao Senhor. O Senhor é misericordioso e atende todos os que lhe
pedem sem hesitação. Tu, porém, que foste fortificado pelo anjo glorioso e dele
recebeste essa oração, e não és preguiçoso, por que não pedes a compreensão? Tu
a receberás.” Eu repliquei: “Senhor, tendo a ti comigo, tenho necessidade de te
pedir e perguntar. Com efeito, tu me mostras tudo e falas comigo. Se eu visse
ou ouvisse essas coisas sem ti, pediria ao Senhor que as explicasse a mim”.
CAPÍTULO
58
Ele continuou: “Já te disse, e não faz muito, que és esperto e
ousado para pedir explicação das parábolas. Como és tão perseverante, vou te
explicar o sentido simbólico do campo e de tudo o mais que o acompanha, para
que possas explicá-lo a todos. Escuta, portanto, e compreende. O campo é este
mundo, e o dono do campo é aquele que criou todas as coisas, que as organizou e
lhes deu força. O filho é o Espírito Santo, e o escravo é o Filho de Deus. As
videiras são o povo, que ele mesmo plantou. As estacas são os santos anjos do
Senhor, que protegem o seu povo. O mato arrancado da vinha são as iniquidades
dos servos de Deus. A comida do banquete que ele enviou ao escravo são os
mandamentos que ele deu por meio de seu filho. Os amigos e conselheiros, são os
primeiros santos anjos criados. A viagem do senhor é o tempo que resta para a
sua parusia.” Eu lhe perguntei: “Senhor, tudo isso é grande, admirável e
glorioso. Como poderei, Senhor, compreender essas coisas por mim mesmo? Nenhum
outro homem, ainda que fosse muito inteligente, poderia compreendê-las.
Explica-me ainda, Senhor, o que vou perguntar.” Ele disse: “Se desejas alguma
explicação, podes pedi-la.” Eu perguntei: “Senhor, por que o Filho de Deus aparece
na parábola sob forma de escravo?”
CAPÍTULO
59
Ele respondeu: “Escuta. O Filho de Deus não aparece sob a forma de
escravo,
mas
com grande poder e soberania.” Eu disse: “Como, senhor? Não compreendo.” Ele
continuou: “Porque Deus plantou a vinha, isto é, criou o seu povo e o entregou
a seu Filho, e o Filho estabeleceu os anjos sobre eles para guardá-los
individualmente. Ele próprio purificou os pecados deles, trabalhando muito e
suportando muitas fadigas, pois ninguém pode capinar uma vinha sem trabalho e
fadiga. Ele, portanto, tendo purificado os pecados do povo, ensinou os caminhos
da vida, dando-lhes a lei, que recebera de seu Pai. Observa que ele é o senhor
do povo, porque recebeu todo o poder do seu Pai. Escuta por que o Senhor nomeou
seu Filho conselheiro e os anjos gloriosos para decidir a herança que deveria
ser dada ao escravo. Deus fez habitar na carne que ele havia escolhido o
Espírito Santo preexistente, que criou todas as coisas. Essa carne, em que o
Espírito Santo habitou, serviu muito bem ao Espírito, andando no caminho da
santidade e pureza, sem macular em nada o Espírito. Ela se portou digna e
santamente, participou dos trabalhos do Espírito e colaborou com ele em todas
as coisas. Comportou-se com firmeza e coragem e, por isso, Deus a escolheu como
companheira do Espírito Santo. Com efeito, a conduta dessa carne agradou a
Deus, pois ela não se maculou na terra, enquanto possuía o Espírito Santo. Ele
tomou então o Filho e os anjos gloriosos por conselheiros, para que essa carne,
que tinha servido ao Espírito irrepreensivelmente, obtivesse um lugar de
repouso e não parecesse ter perdido a recompensa pelo seu serviço. Toda carne
em que o Espírito Santo habitou e que for encontrada pura e sem mancha,
receberá sua recompensa. Aí tens a explicação dessa parábola.”
CAPÍTULO
60
Eu disse: “Senhor, fiquei contente em ouvir a explicação.” Ele
disse: “Escuta agora. Guarda tua carne pura e sem mancha; para que o espírito,
que nela habita, dê testemunho em favor dela e assim seja justificada. Cuida
para que nunca entre em teu coração a ideia de que tua carne é perecível. E
cuidado para não abusar dela com alguma impureza. Se manchas tua carne,
mancharás também o Espírito Santo. Portanto, se manchas tua carne, não
viverás.” Eu perguntei: “Senhor, se tiver havido alguma ignorância antes que
essas palavras tivessem sido ouvidas, como se pode salvar o homem que manchou a
sua carne?” Ele respondeu: “Quanto às ignorâncias anteriores, somente Deus pode
conceder a cura, pois ele tem todo o poder. Agora, porém, estejas atento, e o
Senhor, em sua grande misericórdia, as curará, se doravante não manchares nem
tua carne, nem teu espírito, pois os dois vão juntos e não podem manchar-se um
sem o outro. Portanto, conserva os dois puros, e viverás em Deus.”
ü Comente
a Parábola lida.
Em que estas parábolas serviram para a sua
espiritualidade?