quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

124 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilias 36,37)

Resultado de imagem para icone Jesus e o burrinho
124
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilias 36,37)



HOMILIA 36 - Lc 17.20,21, 33.
Sobre o que está escrito: “Aquele que quiser salvar sua alma perdê-la-á” até aquela passagem que diz: “O reino de Deus está entre vós”.

O homem espiritual
“Quem buscar”, diz Jesus, “salvar sua alma, perdê-la-á, e quem a tiver perdido, salvá-la-á.” Os mártires buscam salvar sua alma; perdem-na, para salvá-la.
Mas os que querem salvar sua alma e não a perdem, estes perderão ao mesmo tempo “seu corpo e sua alma na geena”.
Por isso, “não temais”, diz Jesus, “aqueles que podem matar o corpo, mas temei sobretudo aquele que pode perder a alma e o corpo na geena”.
Sobre este assunto, diremos algumas palavras segundo a capacidade de nosso espírito.
O homem animal não acolhe o que vem do espírito” e, portanto, não pode ser salvo.
“Semeia-se um corpo animal, ressuscita um corpo espiritual.”
Enfim, “aquele que se une ao Senhor torna-se com ele apenas um único espírito”.
Se, portanto, “aquele que se une ao Senhor”, como se tratasse de um animal, se encontra transformado por essa união em homem espiritual, e “é um único espírito” com o Senhor, também nós, então, percamos nossa alma, para que, unindo-nos ao Senhor, sejamos transformados em um único espírito com ele.

O reino de Deus e o reino dos pecados
O Salvador, interrogado pelos Fariseus, igualmente sobre o tempo do advento do reino de Deus, respondeu: “O reino de Deus não se deixa observar e não se diria: “ei-lo aqui, ou ei-lo aí. Pois o reino de Deus está entre vós”.
O Salvador não diz a todos: “O reino de Deus está entre vós”, porque os pecadores vivem voltados para o reino do pecado; não há ambiguidade alguma: no nosso coração impera ou o reino de Deus ou o reino do pecado.
Sejamos mais atentos, seja a nossos atos, seja a nossas palavras, seja a nossos pensamentos, e veremos, então, se é o reino de Deus que prevalece em nós ou o reino dos pecados.
Conhecendo essa oposição, o Apóstolo dá a alguns esta advertência: “Que o pecado não reine em vosso corpo mortal”.
Se algum de nós deseja o reino de Deus, já é governado por ele; se alguém é atormentado pelo ardor da avareza, é governado pela avareza.
Aquele que é justo tem como rainha a justiça.
Aquele que é tomado pela ambição da vanglória, reina para ele a popularidade.
A tristeza, o medo, o amor, o desejo, cada uma dessas várias perturbações domina aquele que as experimenta.
Conhecendo todas essas coisas e quão numerosos sejam os tipos de reinos, levantemo-nos e oremos a Deus, para que nos retire do reino do inimigo e possamos viver sob o reino de Deus todo-poderoso, isto é, sob o reino da Sabedoria, da Paz, da Justiça, da Verdade; todas compreendidas no Deus Filho Unigênito: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

HOMILIA 37 - Lc 19.29-40
Sobre a passagem em que é dito que um jumentinho foi desatado pelos discípulos.

Às portas de Betânia
Foi lido no Evangelho segundo [São] Lucas como o Salvador, quando vinha “de Betfagé e de Betânia, perto do monte chamado das Oliveiras, enviou dois de seus discípulos” para desatar “o jumentinho” que estava amarrado, “sobre o qual nenhum homem nunca tinha montado”.
Tudo isso, ao que me parece, tem um sentido mais profundo que a significação da simples narrativa. O asno estava amarrado.
Onde? “Em frente a Betfagé e Betânia”. Betânia significa “casa da obediência”; Betfagé, “casa das mandíbulas”, um lugar reservado aos sacerdotes; pois as mandíbulas eram dadas aos
sacerdotes, como está prescrito na Lei.
O Salvador envia, pois, seus discípulos para lá onde se encontra a obediência, e em um lugar reservado aos sacerdotes, para aí desatar “o jumentinho sobre o qual nenhum homem nunca tinha montado”.

O jumentinho desatado
Que outro pode montar sobre um asno senão um homem? Quero tomar um breve exemplo para que possa ser compreendido o que vou dizer. Está escrito em Isaías: “A visão dos quadrúpedes na tribulação e na angústia”, e a sequência, até a passagem: “As riquezas das serpentes não lhes serão úteis”.
Cada um de nós deve examinar quantos bens das áspides, quantas riquezas dos asnos tenha carregado anteriormente.
Veremos como nem o homem espiritual nem a palavra de Moisés, nem a de Isaías nem a de Jeremias, ou de nenhum outro profeta montou sobre nosso asno.
Veremos que a Palavra de Deus e o Verbo repousaram sobre nós quando o Senhor veio dizer para desatar o jumentinho que havia sido amarrado, para que avançasse livremente.
Desatado, assim, o jumentinho é conduzido a Jesus, que havia dito, ao enviar seus
discípulos para desatá-lo: “Se alguém vos perguntar por que desatais o jumentinho, dizei-lhe: porque o Senhor precisa dele”.
Muitos eram os donos desse jumentinho, antes que o Senhor precisasse dele; mas, depois que o Senhor se tornou seu dono, deixaram de ser vários os seus senhores; pois “ninguém pode servir a Deus e à Riqueza”.
Quando somos escravos da maldade, estamos sujeitos às paixões e aos vícios.
O jumentinho é, pois, desatado “porque o Senhor precisa dele”. Ainda agora o Senhor precisa do jumentinho. Vós sois o jumentinho.
Em que o Filho de Deus precisa de vós? Que espera ele de vós? Ele precisa de vossa salvação, ele quer vos desatar dos laços dos pecados.

O jumentinho carrega Jesus
Os discípulos em seguida lançam “suas vestes sobre o asno” e fazem o Salvador assentar-se nele.
Eles tomam a Palavra de Deus e a impõem sobre as almas dos ouvintes; se despem de suas vestes e “estendem-nas sobre o caminho”.
As vestes dos Apóstolos estão sobre nós, suas boas obras são nossos ornamentos; os Apóstolos querem que andemos sobre seus vestuários. E a bem da verdade, o asno desatado pelos discípulos, e que carrega Jesus, avança sobre as vestimentas dos apóstolos, quando sua doutrina e sua vida são imitadas.
Quem de nós tem a felicidade de ser a montaria de Jesus, que, enquanto esteve na montanha, morava apenas com os apóstolos, mas,
quando se aproximou [o tempo] de sua descida, então acorreu a ele a turba popular?
Se Jesus não tivesse realizado sua descida, não teria podido a multidão acorrer a ele. Ele desceu e montou sobre o jumentinho, e todo o povo louvava a Deus com uma voz unânime.

Proclamar a glória de Deus
Vendo isso, os fariseus diziam ao Senhor: “Repreende-os”. A estes ele respondeu: “Se eles se calarem, as pedras gritarão”.
Quando nós falamos, as pedras silenciam;
quando nos calamos, as pedras gritam; “pois o Senhor pode destas pedras suscitar filhos para Abraão”.
Quando nos calaremos? Quando “a caridade de muitos tiver se resfriado”, quando aquilo que foi predito pelo Salvador tiver se cumprido: “Pensas tu que, quando o Filho do homem tiver vindo, encontrará fé sobre a terra?”.
Imploremos, pois, a misericórdia do Senhor, a fim de que, ao nosso calar, as pedras não cessem de gritar; mas falemos e louvemos a Deus no Pai, e no Filho, e no Espírito Santo: “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como o texto serve para sua espiritualidade?

Nenhum comentário:

Postar um comentário