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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
O
Bem da Paciência – 13-14
13. O cristão não se apressa em defender-se, sua
paciência perdure até o último dia
Sei de muitos,
irmãos diletíssimos, que desejam ser depressa defendidos, seja por causa do
peso de injúrias angustiantes, seja por ressentimento contra as coisas que investem
e se assanham contra si.
Eis por que, no fim
de tudo, não se pode deixar de dizer que – colocados nestas tempestades de um
mundo agitado e sujeitos também às perseguições de judeus, gentios e hereges –
devemos esperar pacientemente o dia da retribuição, e não ter pressa da
vindicação dos nossos sofrimentos com impertinente precipitação, pois está
escrito:
“Espera por mim, diz
o Senhor, no dia de minha ressurreição para o testemunho, porque a minha
sentença é para reunir as nações, a fim de pôr de parte os reis e derramar
sobre eles a minha ira”.[ Sf 3,8.]
O Senhor nos manda
esperar o dia da futura vindicação com infatigável paciência, e fala, no
Apocalipse, dizendo: “Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo
já está próximo, a fim de que aqueles que perseveram em fazer o mal o façam, e o
que está nas imundícies ainda se suje; que o justo, porém, faça obras mais
justas, e, semelhantemente, aquele que é santo [faça] obras mais santas.
Eis que venho logo,
e a minha recompensa está comigo, para retribuir a cada qual segundo as suas
obras”.[ Ap 22,10-12.]
Por conseguinte,
também os mártires – que clamam e que, irrompendo a dor, têm pressa da
vindicação – recebem a ordem de ainda esperar e ter paciência, [em consideração]
pelos tempos que se devem consumar e pelos mártires que se devem completar:
“E quando abriu o
quinto selo, vi, debaixo do altar de Deus, as almas dos que tinham sido mortos
por causa da palavra de Deus e do seu testemunho, e clamaram em alta voz
dizendo: ‘Até quando, Senhor, santo e verdadeiro, não julgas e reclamas o nosso
sangue dos que moram na terra?’. E foram dadas a cada um deles vestes brancas,
e foi-lhes dito que descansassem ainda por um pouco de tempo, até que se
completasse o número dos seus conservos e irmãos que seriam depois mortos ao
exemplo deles”.[ Ap
6,9-11.]
Mas o Espírito Santo
dá a conhecer, pelo profeta Malaquias, quando virá a vindicação divina do
sangue justo, dizendo: “Eis que o dia do Senhor vem queimando como um forno; e
todos os soberbos e todos os iníquos serão como palha, e o dia que está para
vir os incendiará, diz o Senhor”.[ Ml 3,19.]
É o que também lemos
nos Salmos, onde se anuncia a vinda de Deus como juiz, a qual deve ser venerada
pela majestade do seu julgamento: “Deus, o nosso Deus, virá manifesto, e não se
calará. Diante dele arderá fogo, e em torno dele uma grande tempestade.
Convocará em cima o céu
e, embaixo, a terra, a fim de separar o seu povo. Reuni para ele os seus
justos, os que firmam aliança com ele nos sacrifícios; e os céus anunciarão a
sua justiça, porque Deus é o Juiz”.[ Sl 50(49),3-6.]
Também Isaías
prenuncia as mesmas coisas, dizendo: “Eis que o Senhor virá como fogo e a sua
carruagem como a borrasca, tomar vingança na ira. Serão, com efeito, julgados
no fogo do Senhor, e feridos com a sua espada!”.[ Is 66,15.]
E novamente: “O
Senhor Deus dos exércitos aparecerá e despedaçará a guerra, provocará um
combate e clamará com força sobre os inimigos: ‘Tenho-me calado, por acaso sempre
me hei de calar?’”.[ Is
42,13-14.]
14. Deus, oculto na humilhação, é juiz e
defensor que virá com poder; tenha-se sempre presente, com esperança, a
paciência de Cristo
Quem, pois, é este
que diz ter-se calado antes, e que não se calará sempre? Sem dúvida é aquele
que, como uma ovelha, foi conduzido à imolação e que, como um cordeiro sem
balido, não abriu a sua boca diante de quem o tosquiava.[ Cf. Is 53,7.]
Sem dúvida é aquele
que não gritou, e cuja voz não foi ouvida nas praças.[ Cf. Is 42,2.] Sem dúvida é aquele que não foi recalcitrante
nem protestou quando expôs as suas costas aos açoites e as suas faces às
bofetadas, e que não desviou o seu rosto da imundície dos escarros.[ Cf. Mc 15,15; 14,65.]
Sem dúvida é aquele
que, enquanto era acusado pelos sacerdotes e anciãos, nada respondia e que, à
admiração de Pilatos, conservou um pacientíssimo silêncio.[ Cf. Mc 14,60-61; Mt 27,12-14.]
É esse que, tendo se
calado na paixão, não se calará mais tarde no castigo. Esse é o nosso Deus,
isto é, não de todos, mas o Deus dos fiéis e dos crentes, que não se calará
quando vier manifesto no segundo advento, pois, tendo antes estado oculto na
humildade, virá manifesto com poder.
Esperemos, irmãos
diletíssimos, por esse nosso juiz e defensor, que juntamente consigo há de
vindicar o povo da sua Igreja e a multidão de todos os justos desde o início do
mundo.
Aquele que
demasiadamente se precipita e se apressa pela própria vindicação considere que
nem ele mesmo, que se vindica, foi vindicado.
No Apocalipse, o
anjo resiste e diz a João que o queria adorar: “Olha, não o faças, pois sou um
conservo teu e de teus irmãos. Adora o Senhor Jesus”.[ Ap 22,9.]
Como é o Senhor
Jesus e quão grande a sua paciência, que, ainda não sendo vindicado na terra, é
adorado nos céus!
Nos nossos sofrimentos
e perseguições, irmãos diletíssimos, pensemos na sua paciência. Prestemos ao
seu advento um obséquio cheio de esperança. Não nos apressemos, com ímpia e
atrevida precipitação, em sermos defendidos, nós servos, antes do Senhor.
Ao contrário, fiquemos
firmes; trabalhemos e observemos os preceitos do Senhor, vigiando de todo o
coração e permanecendo inabaláveis em tudo o que aguentamos; a fim de que não
sejamos castigados com os ímpios e pecadores quando vier aquele dia de ira e de
reivindicação, mas, com os justos e os que temem a Deus, nós o glorifiquemos.
O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?