Hilário
de Poitiers (315-368)
O Tratado da Santíssima Trindade
Livro
Décimo Primeiro (Capítulos 23 - 34)
O livro XI fala da
diferença entre a humanidade e a divindade de Cristo e da glorificação da
humanidade de Cristo e nossa glorificação juntamente com Ele. São 49 capítulos.
Capítulo 23.
1.
Os segredos das celestes disposições
são apresentados pelo Apóstolo, eleito como o mestre dos gentios, não por
homens, nem por meio de um homem, mas por Jesus Cristo (cf. Gl 1,1), na medida
do possível.
2.
Aquele que, arrebatado ao terceiro céu,
ouviu coisas inenarráveis, narrou ao espírito da inteligência humana somente o
que esta podia entender, por não ignorar que algumas coisas não podem ser
entendidas no momento em que são ouvidas, porque devido a nossa fraqueza, a
mente recebe com atraso e custa a elaborar um juízo verdadeiro e claro a
respeito daquilo que é comunicado ao ouvido.
3.
A compreensão depende, mais do que o
ouvido, de uma reflexão demorada, pois a audição se segue à voz, e o entender
vem da razão. É Deus quem revela o
sentido aos que sentem desejo de compreender.
4.
A Timóteo, instruído desde a infância
pela avó e pela mãe, nas letras sagradas, a respeito da gloriosa fé, o Apóstolo
escreveu muitas coisas, e acrescentou: Entende
o que digo, pois Deus te dará a compreensão em todas as coisas (2Tm
2,7).
5.
A exortação a compreender vem da
dificuldade da inteligência. Contudo, o dom da inteligência que vem de Deus é
dado à fé, pela qual a fraqueza da inteligência merece a graça da revelação.
6.
Se Timóteo, homem de Deus segundo o
testemunho apostólico (1Tm 6,11), filho legítimo de Paulo, pela fé, é exortado
a entender, porque o Senhor vai dar-lhe a compreensão de tudo, nós também
devemos lembrar-nos de que fomos advertidos pelo Apóstolo a procurar a
inteligência, sabendo que o Senhor nos dará a compreensão de todas as coisas.
Capítulo 24.
7.
Se, devido à fraqueza própria da
condição humana, estivermos enganados, não recusemos um progresso de nossa
compreensão proporcionado pela graça da revelação.
8.
O fato de não haver entendido uma vez,
em determinado sentido, alguma coisa, não deve levar-nos a nos envergonhar de
mudar nossa opinião para entender melhor. Por isso se deve usar de prudência e
moderação, como o santo Apóstolo escreve aos Filipenses: Todos nós que somos perfeitos, tenhamos este
sentimento, e se, em alguma coisa, pensais de modo diferente, Deus vos
esclarecerá. Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegarmos, conservemos
o rumo (Fl 3,15-16).
9.
Nossa maneira de pensar anterior não
determina a revelação de Deus. Pois o Apóstolo sabe como hão de pensar aqueles
que pensam de maneira perfeita, mas para os que pensam de modo diverso, espera
a revelação de Deus, para que venham a saber o que é perfeito.
10. Se,
portanto, alguns entenderam de modo diverso o profundo desígnio deste mistério
oculto, e se por nós lhes foi apresentado algo reto e provável, não se acanhem
em procurar conhecer de modo perfeito, pela revelação divina, segundo o
ensinamento do Apóstolo.
11. Não
devem preferir desconhecer a verdade a ter de arrepender-se de permanecer na
inverdade. O Apóstolo exorta aqueles que pensam de modo diverso e aos quais
Deus revelou, a perseverarem no que começaram, para que, tendo abandonado o
modo de pensar da ignorância anterior, consigam chegar à perfeita compreensão
da revelação, ingressando no caminho, pelo qual nos apressamos em correr.
12. Se,
talvez, por termos errado o caminho, nos atrasarmos, quando tivermos entrado de
novo, nele, procuremos seguir adiante, sem mudar de direção, pois apressamo-nos
para o Cristo Jesus, Senhor da glória e rei dos séculos eternos, em quem são
restauradas todas as coisas nos céus e na terra, por quem tudo subsiste, no
qual e com o qual permaneceremos sempre.
13. Portanto,
se entramos nesse caminho, conhecemos perfeitamente, e se sabemos algo de outro
modo, Deus nos revelará o que deve ser conhecido perfeitamente. Por
conseguinte, estudemos de novo, de acordo com a fé apostólica, o mistério
destes ditos, do mesmo modo como acima foram tratados por nós todas as coisas.
14. Esclareceremos
assim, a partir da verdade da mesma fé apostólica, as interpretações motivadas
por uma vontade ímpia, as quais pretendem estar fundamentadas nas palavras
apostólicas.
Capítulo 25.
15. De
acordo com a ordem das questões, são três os ditos a ser questionados: primeiro
o fim, em seguida a entrega do reino, por último, a submissão. Segundo estes
ditos, ou Cristo desaparece no fim, ou deixa de ter o reino, pois o entrega,
ou, porque se submete a Deus, não possui a natureza de Deus.
Capítulo 26.
16. Primeiramente,
deve-se considerar que esta ordem não é a mesma da doutrina apostólica, pois
primeiro vem a entrega do reino, em seguida, a submissão, por último, o fim.
Cada uma destas coisas, segundo sua natureza, está submetida a causas que lhe
dão origem, de forma que, quando algo deixa de existir para transformar-se em
outra, uma causa anterior fica sempre subjacente ao que vem depois.
17. Virá
o fim, mas depois que o reino tiver sido entregue por Ele a Deus. O reino será
entregue, mas depois que tiver sido aniquilado todo principado e todo poder. E
aniquilará todo principado e todo poder, porque é preciso que Ele reine. E
reinará, porém, até que ponha debaixo de seus pés todos os seus inimigos. E
porá os inimigos debaixo de seus pés porque Deus submeteu todas as coisas
debaixo de seus pés. Se Deus lhe submeteu todas as coisas, foi para que a morte
fosse vencida por Ele, como o último inimigo.
18. Em
seguida, tudo lhe estará submetido, com exceção daquele que lhe submeteu todas
as coisas. Ele, então, se submeterá Àquele que lhe submeteu todas as coisas. A
causa da submissão é que Deus seja tudo em todas as coisas (cf. 1Cor 15,24-28).
19. O
fim, portanto, é que Deus seja em tudo em todas as coisas.
Capítulo 27.
20. Agora
deve-se procurar saber se fim significa
desaparecimento, se entrega
significa
perda, se submissão significa
fraqueza; se nestas coisas não estiverem subentendidos seus contrários, então
poderão ser entendidas no seu verdadeiro sentido.
Capítulo 28.
21. O fim da Lei é Cristo (Rm
10,4). Quero saber se Cristo é a abolição da Lei, ou sua perfeição. Se Cristo, que
é o fim da Lei, não a anula, mas leva-a à perfeição, de acordo com o que diz: Não vim suprimir a Lei, mas levá-la à perfeição (Mt
5,17), o fim não será desaparecimento, mas perfeição consumada.
22. Todas
as coisas tendem para seu fim, não para que deixem de existir, mas para que
continuem sendo aquilo para que tendem. Tudo existe por causa do fim, porém o
fim não está referido a outra coisa. Como o fim é tudo, permanece inteiramente
ele mesmo, e como não sai de si e não traz vantagem a nenhuma outra coisa ou
tempo, a não ser a si mesmo, toda a tendência da esperança está sempre voltada
para ele.
23. Por
isso, o Senhor exorta à paciência da fé religiosa que espera até o fim: Bem-aventurado aquele que permanecer até o fim (Mt
10,22). Não quer dizer, na verdade, que a desaparição seja bem-aventurada, que
não existir seja uma vantagem e que a recompensa da fé seja a abolição daquilo
que a constitui, mas, como o fim da desejada felicidade não conhece
interrupção, felizes são aqueles que permanecem até o fim, que é a felicidade
consumada, porque a expectativa da esperança fiel não vai além, visto que o fim
é o estado de permanente imobilidade para o qual se tende.
24. Por
fim, o Apóstolo prediz o fim dos ímpios para fazê-los ter medo da desaparição,
dizendo: O fim deles é a morte, mas
nossa esperança está nos céus (Fl 3,19 e 20). Se o fim dos santos e
dos ímpios é o mesmo e se o fim significa a desaparição, o fim iguala a
religião à impiedade, porque ambas estão destinadas ao mesmo fim, ou seja,
ambas deixarão de existir.
25. Que
acontecerá, então, com a nossa expectativa de um céu, se, no fim, deixarmos de
existir, do mesmo modo que os ímpios? Porém, se dissermos que para os santos há
uma esperança e o fim dos ímpios significa aquilo que lhes é devido, mesmo
assim não se pode crer que o fim seja uma desaparição, porque deixar de existir
impede de receber o castigo merecido pela impiedade, visto que a desaparição do
que deveria sofrer a pena elimina toda possibilidade de padecer se por causa do
desaparecimento do que devia padecer não existe.
26. O
fim é a definitiva permanência da condição imutável, reservada para os
bem-aventurados e preparada para os ímpios.
Capítulo 29.
27. Não
se pode mais duvidar de que o fim não seja o desaparecimento, mas sim uma condição
que não desaparecerá, embora algumas coisas permaneçam sem explicação na interpretação
dos textos, demonstradas somente estas para fazer ver seu sentido.
28. Vejamos
se a entrega do reino deve ser entendida como a perda do seu reinado, de modo que
o Filho, porque entregou ao Pai o reino, não o possua por entregá-lo.
29. Se
alguém, com a loucura da estulta impiedade, contestar isto, deverá
necessariamente confessar que o Pai, quando entregou tudo ao Filho, perdeu o
que entregou, se entregar significa deixar de ter o que foi entregue. Mas o
Senhor disse: Tudo
me foi entregue por meu Pai (Lc 10,22), e: Todo poder me foi dado no céu e na terra (Mt
28,18).
30. Se,
portanto, entregar significa
deixar de ter, também
o Pai ficou privado do que deu; mas se o Pai não deixou de ter o que entregou, também
não se pode entender que o Filho tenha sido privado daquilo que entregou.
31. Nada
mais resta senão reconhecer, na entrega, o motivo da economia da salvação, pela
qual o Pai não deixa de ter o que entrega, nem o Filho deixa de ter o que dá.
Capítulo 30.
32. Esta
passagem relativa à submissão parece especialmente adequada para que não se alegue,
a partir dela, algo de vergonhoso para o Filho, ainda que muitas outras
passagens auxiliem nossa fé.
33. Primeiro,
interrogo o bom senso, para saber se aqui a submissão deve ser entendida no
mesmo sentido em que se entende a escravidão a um poder ou a submissão da
fraqueza à força e da desonra à honra, como qualidades contrárias.
34. De
acordo com isso, o Filho estaria submetido a Deus Pai pela diversidade de
natureza. No entanto, a prudência da palavra apostólica vem opor-se a esta
errônea opinião humana.
35. Pois,
quando tiver submetido tudo a si, então tudo será submetido Àquele que submeteu
a si todas as coisas. Ao dizer que então se submeterá, o Apóstolo indica o
plano divino realizado no tempo.
36. Pois,
se pensássemos de modo diferente, acreditando que ainda deveria submeter-se,
isso significaria que agora não está submetido e nós julgaríamos ser um
dissidente, desobediente e ímpio, Aquele a quem a força do tempo deverá reduzir
a uma obediência tardia, depois de ter sido quebrado e submetido o seu orgulho
de impiedade despótica.
37. Que
seria das suas palavras: Não
vim fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou (Jo
6,38); Por isso o Pai me ama,
porque faço sempre o que lhe agrada (Jo 10,17); Pai, que se faça tua vontade (Mt
26,40); ou da palavra do Apóstolo: Humilhou-se,
feito obediente até a morte (Fl 2,8)?
38. O
que se humilha não sofre humilhação por sua natureza, e o que se faz obediente
aceita por sua própria vontade a obediência, pois pelo fato de se humilhar se
faz obediente. Por isso, o Deus Unigênito se humilha e obedece ao Pai até a
morte de cruz.
39. Como
se entenderá que deve submeter-se ao Pai quando tudo foi submetido a Ele? Só se
pode compreender porque esta submissão não significa uma nova obediência, mas
sim o mistério da economia da salvação, porque a obediência já existe e a
submissão tem lugar no tempo. A submissão, portanto, significa a revelação do
mistério.
Capítulo 31.
40. Devemos
entender que mistério é este, de acordo com a esperança de nossa fé. Não podemos
ignorar que o Senhor Jesus Cristo, ressuscitado dos mortos, está assentado à direita
de Deus.
41. O
Apóstolo o testemunha, ao dizer: Conforme
a ação do seu poder eficaz, que ele fez operar em Cristo ressuscitando-o de
entre os mortos, e fazendo-o assentar à sua direita nos céus, muito acima de
qualquer Principado e Autoridade e Poder e Soberania e de todo nome que se pode
nomear não só neste século, mas também no vindouro. Tudo Ele pôs debaixo de seus
pés (Ef 1,19-22).
42. A
palavra apostólica se refere a fatos futuros, como já tendo acontecido, como
corresponde ao poder de Deus, pois o que se há de cumprir na plenitude dos
tempos já tem consistência em Cristo, no qual está a plenitude.
43. Tudo
o que ainda deve acontecer será menos uma novidade do que a realização
progressiva do desígnio salvífico. Deus tudo submeteu debaixo de seus pés,
embora todas as coisas ainda lhe devam ser submetidas. Enquanto já estão
submetidas, manifesta-se o poder imutável de Cristo; enquanto ainda hão de ser
submetidas, na plenitude dos tempos, indica-se o caminho das idades sucessivas
da fé.
Capítulo 32.
44. Não
é difícil entender que todas as potências contrárias, o príncipe dos ares e o
poder da maldade espiritual devem ser entregues à destruição, conforme foi
dito: Afastai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, que o meu Pai preparou para o diabo e seus anjos (Mt
25,41).
45. Eliminação, portanto, não é o mesmo que submissão. Pois eliminar as potências adversas é
tirar-lhes o direito ao poder, para que não possam subsistir; é abolir, pela
eliminação do seu poder, o domínio do reino. Deu testemunho disto o Senhor, ao dizer:
O meu reino não é deste
mundo (Jo 18,38).
46. Antes
já declarara que aquele que tem o poder deste reino é o mesmo príncipe deste
reino, cujo poder desaparecerá, uma vez eliminado o poder do seu domínio (cf.
Jo 12,31).
47. Já
a submissão própria da obediência e da fé é a demonstração de uma entrega livre
ou de uma mudança.
Capítulo 33.
48. Uma
vez eliminados os principados, seus inimigos lhe serão submetidos, de tal maneira
que Ele mesmo os submeterá a si. Mas submeterá de forma que Deus lhos submeta.
Acaso ignorava o Apóstolo a força da palavra evangélica que diz: Ninguém vem a mim, se o Pai que me enviou não o atrair
(Jo
6,44)? Também está escrito: Ninguém
vai ao Pai a não ser por mim (Jo 14,61).
49. Agora
Ele mesmo submete a si os inimigos, e, no entanto, é Deus que os submete,
testemunhando, assim, que tudo isso é obra de Deus nele. E, como não se vai ao
Pai, a não ser por Ele, ninguém vai a Ele, a não ser que o Pai o atraia, pois,
quando é reconhecido como Filho de Deus, a realidade da natureza paterna se
revela nele.
50. Quando
Ele é reconhecido como Filho, o Pai nos atrai, e quando acreditamos no Filho, o
Pai nos recebe, porque recebemos a revelação e o conhecimento do Pai no Filho
pela revelação nele de Deus Pai, que nos torna perfeitos na adoração do Filho
pela adoração do Pai.
51. O
Pai nos conduz ao Filho quando acreditamos no Pai. No entanto, ninguém vai ao
Pai a não ser pelo Filho, porque, quando não acreditamos no Filho, o Pai não
pode ser conhecido por nós. Não podemos adorar o Pai se, primeiro, não
aceitarmos adorar o Filho.
52. Por
isso, conhecido o Filho, o Pai nos conduz à vida eterna e nos acolhe. Ambas as
coisas acontecem por intermédio do Filho, porque seu ensinamento sobre o Pai
nos conduz a Ele, e Ele mesmo nos conduz ao Pai.
53. Para
uma compreensão mais completa desta palavra, foi necessário recordar este
mistério: o Pai nos conduz e nos recebe pela mediação do Filho. Assim podemos
entender que Ele submete a Deus tudo o que submete a si mesmo, porque a
natureza de Deus está nele. Ele age de tal maneira que Deus age nele e, não
obstante, Ele faz o mesmo que Deus faz, porém de tal maneira que, quando Ele
age, deve-se entender que o Filho de Deus age, e quando Deus age, deve-se saber
que, nele, como Filho, está aquilo que é próprio da natureza do Pai.
Capítulo 34.
54. Uma
vez eliminados os principados e as potestades, seus inimigos lhe serão submetidos,
debaixo de seus pés. De que inimigos se trata, o mesmo Apóstolo nos ensina, ao
dizer: Quanto ao Evangelho, eles
são inimigos por vossa causa, mas quanto à Eleição, eles são amados por causa
de seus pais (Rm 11,28).
55. Sabemos
que se trata dos inimigos da cruz de Cristo (cf. Fl 3,18), porém, porque são
amados por causa dos Pais, sabemos que estão reservados para a submissão,
segundo o que foi dito: Não
quero que ignoreis, irmãos, este mistério, para que não vos tenhais na conta de
sábios: o endurecimento atingiu uma parte de Israel até que
chegue a plenitude dos gentios; e assim todo Israel será salvo, conforme está
escrito. De Sião virá o libertador, e afastará a impiedade de Jacó, e esta será
minha aliança com eles, quando eu tirar seus pecados (Rm 11,25-27; cf. Is 59,20-21). Os inimigos,
portanto, serão submetidos sob seus pés.
O que você destaca no
texto? Como ele serve para sua espiritualidade?
Algumas
coisas não podem ser entendidas no momento em que são ouvidas, porque devido a
nossa fraqueza, a mente recebe com atraso e custa a elaborar um juízo
verdadeiro e claro a respeito daquilo que é comunicado ao ouvido. A compreensão
depende, mais do que o ouvido, de uma reflexão demorada, pois a audição se
segue à voz, e o entender vem da razão.
É Deus quem revela o sentido aos que sentem desejo de compreender. Hilário de Poitiers
(315-368). O Tratado da Santíssima
Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 23)
Revelação e fraqueza humana.
A exortação
a compreender vem da dificuldade da inteligência. Contudo, o dom da
inteligência que vem de Deus é dado à fé, pela qual a fraqueza da inteligência
merece a graça da revelação. Hilário de Poitiers (315-368). O
Tratado da Santíssima Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 23)
Conhecimento - Mudar de opinião
O fato de
não haver entendido uma vez, em determinado sentido, alguma coisa, não deve
levar-nos a nos envergonhar de mudar nossa opinião para entender melhor. Hilário de Poitiers
(315-368). O Tratado da Santíssima
Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 24)
Revelação de Deus: nossa maneira de Pensar.
Nossa
maneira de pensar anterior não determina a revelação de Deus. Pois o Apóstolo
sabe como hão de pensar aqueles que pensam de maneira perfeita, mas para os que
pensam de modo diverso, espera a revelação de Deus, para que venham a saber o
que é perfeito. Se, portanto, alguns entenderam de modo diverso o profundo
desígnio deste mistério oculto, e se por nós lhes foi apresentado algo reto e
provável, não se acanhem em procurar conhecer de modo perfeito, pela revelação
divina, segundo o ensinamento do Apóstolo. Não devem preferir desconhecer a
verdade a ter de arrepender-se de permanecer na inverdade. O Apóstolo exorta
aqueles que pensam de modo diverso e aos quais Deus revelou, a perseverarem no
que começaram, para que, tendo abandonado o modo de pensar da ignorância
anterior, consigam chegar à perfeita compreensão da revelação, ingressando no
caminho, pelo qual nos apressamos em correr. Hilário de Poitiers (315-368). O Tratado da Santíssima Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 24)
Humildade: e Obediência.
O que se humilha não sofre
humilhação por sua natureza, e o que se faz obediente aceita por sua própria vontade
a obediência, pois pelo fato de se humilhar se faz obediente. Por isso, o Deus
Unigênito se humilha e obedece ao Pai até a morte de cruz. Hilário de Poitiers
(315-368). O Tratado da Santíssima
Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 30)
O Filho e o Pai: na revelação
Quando Ele é reconhecido como
Filho, o Pai nos atrai, e quando acreditamos no Filho, o Pai nos recebe, porque
recebemos a revelação e o conhecimento do Pai no Filho pela revelação nele de
Deus Pai, que nos torna perfeitos na adoração do Filho pela adoração do Pai. O Pai nos conduz ao Filho quando acreditamos
no Pai. No entanto, ninguém vai ao Pai a não ser pelo Filho, porque, quando não
acreditamos no Filho, o Pai não pode ser conhecido por nós. Não podemos adorar
o Pai se, primeiro, não aceitarmos adorar o Filho. Hilário de Poitiers (315-368). O
Tratado da Santíssima Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 33)
Para uma compreensão mais
completa desta palavra, foi necessário recordar este mistério: o Pai nos conduz
e nos recebe pela mediação do Filho. Assim podemos entender que Ele submete a
Deus tudo o que submete a si mesmo, porque a natureza de Deus está nele. Ele
age de tal maneira que Deus age nele e, não obstante, Ele faz o mesmo que Deus faz,
porém de tal maneira que, quando Ele age, deve-se entender que o Filho de Deus age,
e quando Deus age, deve-se saber que, nele, como Filho, está aquilo que é
próprio da natureza do Pai. Hilário de Poitiers (315-368). O
Tratado da Santíssima Trindade. Livro Décimo Primeiro (Capítulo 33)
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