e o Natal Franciscano
“Uma alegria nunca vivida”
em Greccio, no Natal de 1223.
Francisco prepara
um presépio no dia de Natal.
1. Sua
maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar o
Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço,
dedicação e fervor os "passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento
de sua doutrina".
2. Estava
sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência.
Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão,
que nem queria pensar em outras coisas.
3. Precisamos
recordar com todo respeito e admiração o que fez no dia de Natal, no povoado de
Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte.
4. Havia
nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor, a quem São
Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado em sua
terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito.
5. Uns
quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costumava fazer,
e disse: "Se você quiser que celebremos o Natal em Greccio, é bom começar
a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer.
6. Quero
lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num
presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre
o boi e o burro".
7. Ouvindo
isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar indicado o
que o santo tinha pedido.
8. E
veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram
chamados os irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa, prepararam
como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos
os dias e anos com sua brilhante estrela.
9. Por
fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito.
10. Fizeram
um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Greccio tornou-se uma nova
Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.
11. A
noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os
animais.
12. O
povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda
nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades
cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava.
13. O
santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de alegria. A
missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma consolação
jamais experimentada.
14. O
santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o santo
Evangelho.
15. De
fato, era "uma voz forte, doce, clara e sonora", convidando a todos
às alegrias eternas. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como
o mel sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém.
16. Muitas
vezes, quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito amor de
"menino de Belém", e pronunciava a palavra "Belém" como o
balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce
afeição.
17. Também
estalava a língua quando falava "menino de Belém" ou
"Jesus", saboreando a doçura dessas palavras.
18. Multiplicaram-se
nesse lugar os favores do Todo-Poderoso, e um homem de virtude teve uma visão
admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebê sem vida, que despertou
quando o santo chegou perto.
19. E
essa visão veio muito a propósito, porque o menino Jesus estava de fato
esquecido em muitos corações, nos quais, por sua graça e por intermédio de São
Francisco, ele ressuscitou e deixou a marca de sua lembrança.
20. Quando
terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.
21. O
presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da manjedoura
construíram um altar... e dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham
comido o feno, passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da
alma, com a carne do cordeiro imaculado e incontaminado, Jesus Cristo nosso
Senhor, que se ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e
o Espírito Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém. Aleluia,
Aleluia.
Tomás
de Celano PRIMEIRA VIDA DE SÃO FRANCISCO: L.1, C.30.
O Natal do Menino
de Belém, fazendo-se menino com o Menino.
22. O
santo gostava de morar no eremitério dos frades em Greccio, tanto porque achava
rica a sua pobreza como porque podia entregar-se com maior liberdade aos
exercícios espirituais numa pequena cela construída na ponta de um rochedo.
23. Foi
nesse lugar que recordou pela primeira vez o Natal do Menino de Belém,
fazendo-se menino com o Menino.
Tomás de Celano SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO: L.5, C.7.
Devoção ao Natal
do Senhor. Como quer que atendam a todos nesse dia
24. Celebrava
com incrível alegria, mais que todas as outras solenidades, o Natal do Menino
Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino
pobrezinho, dependeu de peitos humanos.
25. Beijava
como um esfomeado as imagens dessa criança, e a derretida compaixão que tinha
no coração pelo Menino fazia até com que balbuciasse doces palavras como uma
criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel na boca.
26. Certa
vez em que os frades discutiam se podiam comer carne porque era uma
sexta-feira, disse a Frei Morico: "Irmão, cometes um pecado chamando de
sexta-feira o dia em que o Menino nasceu para nós.
27. Quero
que nesse dia até as paredes comam carne. Se não podem, pelo menos sejam
esfregadas com carne!" Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados
fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse uma ração maior e mais feno
para os bois e os burros.
28. Até
disse: "Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse esta
lei geral: que todos que puderem joguem pelas ruas trigo e outros cereais, para
que nesse dia tão solene tenham abundância até os passarinhos, e principalmente
as irmãs cotovias".
29. Não
podia recordar sem chorar toda a penúria de que esteve cercada nesse dia a
pobrezinha da virgem.
30. Num
dia em que estava sentado a almoçar, um dos frades lembrou a pobreza da virgem bem-aventurada
e as privações de Cristo seu Filho. Ele se levantou imediatamente da mesa, soltou
dolorosos soluços e comeu o resto de pão no chão nu, banhado em lágrimas.
Tomás de Celano SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO: L.33, C.4.
Como pretendeu
persuadir o imperador a editar um decreto que no dia de Natal os homens alimentassem
generosamente as aves, o boi, o asno e os pobres
31. Nós
que vivemos com São Francisco e escrevemos estas palavras, somos testemunhas de
que o ouvimos dizer várias vezes: "Se eu pudesse falar com o imperador,
suplicar-lhe-ia que editasse, por amor de Deus, uma lei proibindo se capturarem
ou matarem nossas irmãs cotovias, ou lhes causarem qualquer mal.
32. E
ordenando ainda que todos os prefeitos das cidades e todos os senhores de
burgos e aldeias fossem compelidos todos os anos, no dia de Natal, a obrigarem
o povo a lançar trigo e outros grãos pelos caminhos, fora das vilas e dos
burgos para que nossas irmãs cotovias tivessem o que comer, como também as
outras aves, em tão grande dia de festa".
33. E
por respeito para com o Filho de Deus a quem nesta noite a Santíssima Virgem
deu à luz numa manjedoura entre o boi e o asno, que quem quer que possuísse um
destes animais deveria alimentá-lo generosamente nesta mesma noite.
34. Do
mesmo modo, neste dia os pobres deveriam ser abundantemente providos pelos
ricos. E porque tinha um grande respeito pela Natividade de Nosso Senhor, como
pelas outras solenidades, costumava dizer: "Depois que o Senhor nasceu por
nós, urgia que fôssemos salvos".
35. Era,
pois, seu desejo que neste dia todos os cristãos se alegrassem no Senhor e, por
amor daquele que se deu a si mesmo por nós, todos demonstrassem grande
liberalidade, não somente com os pobres, mas também com os animais e as aves.
ESPELHO DE PERFEIÇÃO: L.11, C.3.
Natal de Clara
36. Como
ela se lembrava de seu Cristo na doença, Cristo também a visitou em seus
sofrimentos.
37. Na
hora do Natal, em que o mundo se alegra com os anjos diante do Menino
recém-nascido, todas as senhoras foram à capela para as Matinas, deixando a
madre sozinha, oprimida pela doença.
38. Ela
começou a meditar sobre o pequenino Jesus e, sofrendo muito por não poder
assistir seus louvores, suspirou: "Senhor Deus, deixaram-me aqui sozinha
para Vós".
39. E
eis que de repente começou a ressoar em seus ouvidos o maravilhoso concerto que
se desenrolava na igreja de São Francisco. Escutava o júbilo dos irmãos
salmodiando, ouvia a harmonia dos cantores, percebia até o som dos
instrumentos.
40. O
lugar não era tão próximo que pudesse chegar a isso humanamente: ou a
solenidade tinha sido amplificada até ela pelo poder divino, ou seu ouvido
tinha sido reforçado de modo sobre-humano.
41. Mas
o que superou todo esse prodígio foi que mereceu ver o próprio presépio do
Senhor.
42. Quando
as filhas vieram, de manhã, disse a bem-aventurada Clara: "Bendito seja o
Senhor Jesus Cristo, que não me deixou quando vocês me abandonaram. Escutei,
por graça de Cristo, toda a solenidade celebrada esta noite na igreja de São
Francisco".
Tomás de Celano. A LEGENDA DA VIRGEM SANTA CLARA: L.1, C.18.
Como, estando
enferma, Clara foi miraculosamente transportada, na noite de Natal, à igreja de
São Francisco e aí assistiu ao ofício
43. Estando
uma vez S. Clara gravemente enferma, tanto que não podia ir dizer o oficio na
igreja com as outras freiras, chegando a solenidade da Natividade de Cristo,
todas as outras foram a Matinas; e ela ficou sozinha no leito, malcontente por
não poder juntamente com as outras ir- e ter aquela consolação espiritual.
44. Mas
Jesus Cristo, seu esposo, não querendo deixá-la assim desconsolada, fê-la
miraculosamente transportar à igreja de S. Francisco e assistir a todo o ofício
e à missa da meia-noite; e além disto, receber a santa comunhão e depois ser
trazida ao leito.
45. Voltando
as freiras para junto de S. Clara, acabado o oficio em S. Damião, disseram-lhe:
"Ó nossa mãe, Soror Clara, que grande consolação tivemos nesta noite de
santa Natividade! Prouvesse a Deus que houvésseis estado conosco!"
46. E S.
Clara responde: "Graças e louvores rendo ao meu Senhor Cristo bendito,
irmãs minhas e filhas caríssimas; porque a todas as solenidades desta
santíssima noite e maiores do que as que assististes, assisti eu com muita
consolação de minha alma; porque, por procuração do meu Pai S. Francisco e pela
graça de meu Senhor Jesus Cristo, estive presente na igreja do meu Pai S.
Francisco; e com as minhas orelhas corporais e mentais ouvi o canto e o som dos
órgãos que aí tocaram; e lá mesmo recebi a santa comunhão.
47. E
por tanta graça a mim concedida rejubilai-vos e agradecei a Nosso Senhor Jesus
Cristo". Amém.
OS FIORETTI DE S. FRANCISCO DE ASSIS: C.35.
O que você destaca no texto?
Como ele serve para a
espiritualidade do nosso Natal?
Destaca a fala do seu irmão.
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