sábado, 22 de fevereiro de 2025

273 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05)

 



273

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05)

 

I. Prefácio. Apurem-se até as mínimas parcelas da linguagem teológica

Capitulo 1.

1.     Considero muito louvável teu empenho em aprender e tua aplicação ao trabalho. Causa-me extraordinário prazer não deixar tua mente firme e sóbria de ponderar palavra alguma das utilizadas nas exposições sobre Deus, caro amigo (kefalé = cabeça), querido entre todos, meu irmão Anfilóquio. Entendeste bem a exortação do Senhor: “Todo o que pede, recebe; o que busca, acha” (Lc 11,10).

2.     Tendo em vista a justeza de teu pedido, mesmo com o mais hesitante, a meu ver, poderias iniciar uma discussão. Mais admirável, porém, é o fato de não formulares perguntas, como acontece atualmente na maioria dos casos, para armar ciladas, e sim com o propósito de investigar a verdade.

3.     Facilmente aparecem os que nos espreitam e nos interrogam continuamente, mas é dificílimo encontrar uma alma desejosa do saber e que procura a verdade, a fim de curar a própria ignorância.

4.     Ora, como um laço de caçadores e uma emboscada de guerra, são ciladas ocultas, bem planejadas, essas perguntas de muitos, cuja intenção não é tirar proveito para si, mas, ao contrário, quando as respostas não correspondem a seus desejos, conseguir pretexto de ataque aparentemente justo.

 

Capítulo 2.

5.     Se até o estulto, quando interroga, passa por sábio (Pr 17,28), o que não há de merecer o ouvinte inteligente, pelo profeta assimilado ao “conselheiro maravilhoso” (Is 9,5)?

6.     É justo dar-lhe todo apoio, estimulá-lo, partilhar seu zelo, e vir em ajuda daquele que insta a irmos até o fim.

7.     Não ouvir superficialmente os termos teológicos, mas tentar descobrir o sentido oculto de cada palavra, de cada sílaba, não é próprio dos tíbios, e sim daqueles que conhecem a finalidade de nossa vocação, pois nos é proposto assemelharmo-nos a Deus, quanto possível à natureza humana.

8.     Todavia, não há semelhança sem conhecimento (gnosis), e este conhecimento se obtém por meio de ensino.

9.     Ora, o discurso, base de todo ensino, compõe-se de partes: sílabas e termos. Por isso, não é fora de propósito examinar as sílabas. Questões aparentemente insignificantes, mas nem por isso menos merecedoras de atenção.

10. Ao contrário, visto ser difícil ir à caça da verdade, temos de investigá-la em todas as direções. Quer se trate das artes, quer da aquisição da piedade, em que lentamente se progride, nada negligenciem os que são introduzidos no conhecimento (gnosis), pois quem menosprezar os primeiros elementos, como sendo ínfimos, de modo algum atingirá a perfeição da sabedoria.

11. O “sim” e o “não” não passam de duas sílabas. Mas estas pequeninas palavras muitas vezes abrangem tanto o maior dos bens, a verdade, quanto o último limite da maldade, a mentira.

12. Mas, que digo? Basta um aceno com a cabeça, para testemunhar a Cristo, e já se considera cumprido o dever da piedade. Sendo assim, que termo teológico será pequeno demais para se tornar expressivo, ou inexato, inclinando o fiel da balança de um lado ou de outro?

13. E se da Lei não haverá de passar nem um iota, nem um só traço sem se cumprir (Mt 5,18), poderia ser seguro transgredir até mesmo os menores mandamentos?

14. Com efeito, estas partículas, das quais procuras obter de nós um exame atento, apesar de breves, são realmente grandes.

15. Breves pela concisão com que se apresentam, e em consequência disso talvez menosprezáveis; grandes pela força de seu significado, conforme a figura do grão de mostarda, a menor de todas as sementes de hortaliças, mas que devidamente cresce, com o desabrochar de suas forças, quando cercada de convenientes cuidados.

16. Se alguém se rir de nossa loquacidade — para falar como o salmo (Sl 118,85) — em torno de sílabas apenas, fique ciente de que deste riso colherá um fruto imprestável; nós, porém, não haveremos de abandonar a pesquisa, nem nos haveremos de dobrar diante da crítica dos homens, nem de desanimar em vista deste desprezo.

17. Bem longe de me envergonhar por causa da brevidade destas sílabas, se conseguisse apreender apenas uma pequenina parte de seu valor, alegrar-me-ia como merecedor de grande aplauso, e diria ao irmão que conosco investiga não ser pequeno o lucro que daí retiraríamos.

18. Como verifico ser muito grande a contestação, embora se trate de pequenas palavras, não recuso o labor, na esperança da recompensa, considerando que para mim será frutuosa labuta, e para os ouvintes, de grande utilidade.

19. Por isso, explicarei agora, auxiliado pelo mesmo Espírito, ser lícito dizer: “com” o Espírito Santo. E se te apraz que me ponha a caminho, volto um pouco atrás, ao início da questão.

Capítulo 3.

20. Há pouco, estava orando com o povo. Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo.

21. Alguns dos presentes nos acusaram de empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém, pensando antes no bem deles, ou ao menos, se o mal for inteiramente irremediável, para premunir seus companheiros, pediste um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas.

22. Seremos concisos, na medida do possível, quais pessoas já de acordo no ponto de partida.

 

II. Base da tese dos hereges sobre as partículas

Capítulo 4.

23. Não é tão fácil, como parece, compreender as sutilezas destes hereges sobre sílabas e palavras. Não versam sobre erros insignificantes, mas revelam profundos e obscuros desígnios contra a piedade.

24. Empenham-se por demonstrar não ser semelhante o enunciado dos nomes do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a fim de extrair daí uma fácil demonstração da diferença das naturezas. Adotam um antigo sofisma, formulado por Aécio, o chefe de sua seita, que escreveu em certa passagem de suas cartas: “Os seres dessemelhantes por natureza são denominados de maneira diferente”, e reciprocamente: “Os seres denominados de modo diferente diferem também quanto à natureza”.

25. E Aécio quer apoiar esta opinião no testemunho do Apóstolo: “Existe um só Deus, o Pai, de quem tudo procede, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe” (1Cor 8,6).

26. Assim, segundo sua opinião, as naturezas significadas pelas palavras se relacionam mutuamente como as palavras entre si. Ora, a locução de quem é diferente da locução por quem.

27. Por conseguinte, o Filho não é semelhante ao Pai. Desta afecção, com efeito, provém a loquacidade destes hereges sobre as mencionadas expressões.

28. Daí vem que eles destinam a Deus Pai, como porção de escol, a expressão de quem. Determinam para Deus Filho a expressão por quem; quanto ao Espírito Santo, reservam-lhe a expressão em quem.

29. E afirmam que de forma alguma o emprego destas partículas deve ser alterada, a fim de que, como já disse, a diferença das denominações revele simultaneamente a diversidade das naturezas.

30. Mas, efetivamente, evidencia-se que esta sutil discussão de palavras serve apenas para manifestar a impiedade da doutrina.

31. Pela locução de quem querem assinalar o Artífice; com a expressão por quem indicam um auxiliar ou instrumento; pelos termos em quem determinariam tempo ou lugar.

32.   Com isso, pretendem que se conceba o Artífice do universo apenas como um instrumento e se evidencie que o Espírito Santo nada acrescenta aos seres, a não ser as circunstâncias de espaço e de tempo.

 

III. A tecnologia das partículas se origina da sabedoria profana

Capítulo 5.

33. Efetivamente, estes hereges foram induzidos em erro, devido a uma tese de pensadores “de fora”. Estes atribuem a seres de diferente natureza os termos de quem e por quem. Segundo eles, de quem indicaria a matéria; quanto à locução por quem, representaria um instrumento, ou de modo geral, qualquer auxílio.

34. Ou antes (Que nos impede, depois de ter apreendido o conjunto de seus ensinamentos, rapidamente convencer a estes homens de incoerência perante a verdade e de desacordo em relação àqueles filósofos?), os que empregaram seu tempo em estudar a vã filosofia, expõem de várias formas a natureza das causas, que classificam em várias espécies.

35. Umas são denominadas causas “principiadoras”, outras chamam-se “causas de manutenção” ou “cooperadoras”, outras ainda, “necessárias”.

36. De cada qual, porém, delimita-se a peculiaridade e a expressão. Assim, de um modo se assinala o artífice e de outro, o instrumento.

37. Ao artífice, julgam eles, convém a locução por quem. Diz-se, com razão, de um banco, que foi feito por marceneiro. Ao instrumento convêm os termos por meio de quem, pois, dizem eles, o objeto foi feito por meio do machado, da verruma etc.

38. De modo semelhante, eles atribuem os termos de quem à matéria. O objeto manufaturado é de madeira. Os termos segundo o qual referem-no ao projeto, o modelo proposto ao artífice. Ora, ou ele previamente esboçou na mente o objeto, e depois fê-lo passar da imaginação à obra concreta; ou considera o modelo que tem sob os olhos, e trabalha de acordo com a aparência deste modelo.

39. A expressão para quem, referem-na ao fim. O banco foi feito para a utilidade dos homens. Os termos em que assinala o tempo ou o espaço.

40. Quando foi feito? Naquele tempo. E onde foi feito? Naquele lugar. Embora essas circunstâncias nada acrescentem aos fatos, sem elas nada é possível. Tempo e lugar são indispensáveis para qualquer ação.

41. Tendo aprendido e admirado tais opiniões, observações vãs e ilusões fúteis, eles querem introduzi-las na doutrina simples e sem artifícios sobre o Espírito, visando a depreciar o Verbo de Deus e rejeitar o Espírito Santo.

42.   Os vocábulos que os sábios “de fora” aplicam aos instrumentos inanimados, ou os termos com que assinalam um serviço subalterno e em extremo humilhante, isto é, por quem, eles não hesitam empregá-los relativamente ao Senhor do universo, e não se envergonham esses cristãos de atribuir ao Artífice da criação uma expressão usada para a serra ou o martelo.

 

 

O que você destaca neste texto?

Como serve para a sua espiritualidade?


Hereges

Facilmente aparecem os que nos espreitam e nos interrogam continuamente, mas é dificílimo encontrar uma alma desejosa do saber e que procura a verdade, a fim de curar a própria ignorância. SÃO BASÍLIO MAGNO - (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05).

 

Hereges

Daí vem que eles destinam a Deus Pai, como porção de escol, a expressão de quem. Determinam para Deus Filho a expressão por quem; quanto ao Espírito Santo, reservam-lhe a expressão em quem. E afirmam que de forma alguma o emprego destas partículas deve ser alterada, a fim de que, como já disse, a diferença das denominações revele simultaneamente a diversidade das naturezas.  SÃO BASÍLIO MAGNO - (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05).

 

 

Ensino – Importância do

É justo dar-lhe todo apoio, estimulá-lo, partilhar seu zelo, e vir em ajuda daquele que insta a irmos até o fim. Não ouvir superficialmente os termos teológicos, mas tentar descobrir o sentido oculto de cada palavra, de cada sílaba, não é próprio dos tíbios, e sim daqueles que conhecem a finalidade de nossa vocação, pois nos é proposto assemelharmo-nos a Deus, quanto possível à natureza humana. Todavia, não há semelhança sem conhecimento (gnosis), e este conhecimento se obtém por meio de ensino. SÃO BASÍLIO MAGNO - (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05).

 

Ensino – Importância do

Mas, que digo? Basta um aceno com a cabeça, para testemunhar a Cristo, e já se considera cumprido o dever da piedade. Sendo assim, que termo teológico será pequeno demais para se tornar expressivo, ou inexato, inclinando o fiel da balança de um lado ou de outro? SÃO BASÍLIO MAGNO - (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05).

 

Ensino – não abandonar a pesquisa

Se alguém se rir de nossa loquacidade — para falar como o salmo (Sl 118,85) — em torno de sílabas apenas, fique ciente de que deste riso colherá um fruto imprestável; nós, porém, não haveremos de abandonar a pesquisa, nem nos haveremos de dobrar diante da crítica dos homens, nem de desanimar em vista deste desprezo. SÃO BASÍLIO MAGNO - (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 01 ao 05).

 

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