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SÃO
BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA
(330-379)
Regra Monástica - Asketikon
As
Regras Extensas (55 regras)
Questões
10 e 15
Introdução geral para todos os estudos da Regra
Monástica:
Basílio Magno (†379), bispo da
Cesareia da Capadócia, viveu num tempo em que muitos cristãos buscavam a
santidade retirando-se para o deserto, influenciados pelos exemplos de Santo
Antão e São Pacômio, no Egito. Mas Basílio percebeu que o isolamento excessivo
poderia gerar vaidade espiritual e afastar o monge da caridade. Por isso,
reformulou o ideal monástico com um caráter comunitário e eclesial, centrado no
amor fraterno, na oração e no serviço. Por isso escreveu a Regra Monástica
(Asketikon).
Estrutura dos mosteiros basilianos: Os
mosteiros fundados por Basílio (ou organizados segundo suas Regras) não eram
fortificações isoladas, mas comunidades vivas próximas das cidades, integradas
à vida da Igreja.
Características principais dos
Mosteiros:
a) Vida em comunidade: os monges viviam
juntos, sob a direção de um superior partilhando tudo em comum — à semelhança
da comunidade cristã de Atos 2.42–47. b)
Edificações simples: os mosteiros
tinham dormitórios coletivos, refeitório, capela para as orações, oficinas de
trabalho manual e um espaço para acolher viajantes e pobres. c) Localização:
geralmente em lugares tranquilos, mas não totalmente isolados, para permitir o
contato com o povo e o serviço aos necessitados. d) Hospitalidade: cada mosteiro tinha uma casa para hóspedes e um
pequeno hospital ou enfermaria, pois Basílio considerava o cuidado aos doentes
parte da vida evangélica.
QUESTÃO 10
SE DEVEM SER
RECEBIDOS TODOS QUANTOS SE APRESENTAM. OU QUAIS? DEVEM SER LOGO ADMITIDOS? OU
SÓ DEPOIS DE EXPERIMENTADOS? E COMO?
Resposta
1.
Nosso
Salvador Jesus Cristo, Deus que ama os homens, anuncia e diz: Vinde a
mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei (Mt
11,28). É, portanto, perigoso repelir os que, por meio de nós, se aproximam do
Senhor, querendo se submeter a esse jugo suave e ao peso dos mandamentos, que
nos eleva até ao céu. Não consintamos, porém, que recebam as santas instruções,
senão depois de terem os pés lavados.
2.
Mas,
como Nosso Senhor Jesus Cristo interrogou acerca da vida passada o jovem que o
procurava e, vendo que procedera bem, deu-lhe preceitos sobre a realização do
que ainda carecia para ser perfeito, permitindo, então, que o seguisse, assim
também nós indaguemos acerca do passado daqueles que se apresentam.
3.
Aqueles
que já praticaram algum bem ensinemos uma doutrina mais perfeita. Quanto aos
que se converteram de uma vida má, ou da indiferença passaram para uma vida
melhor, no conhecimento de Deus, convém perscrutar quais os seus costumes e se
são instáveis e inclinados às críticas.
4.
Esses
são suspeitos de inconstância. Nada lucram e ainda prejudicam os outros,
acarretando contra nossas obras injúrias, mentiras e blasfêmias.
5.
Mas,
como tudo se pode corrigir pela diligência e o temor de Deus vence qualquer
vício da alma, não se desanime logo a respeito deles, mas sejam levados a
exercícios apropriados.
6.
Com
o correr do tempo e por meio de laboriosas práticas, teremos provas de seu
propósito, e se virmos que estão firmes, recebamo-los com segurança.
7.
Se
não, enquanto estão de fora sejam despedidos, a fim de que a experiencia não
prejudique a comunidade dos irmãos.
8.
É
preciso verificar se quem anteriormente pecou vence o falso pudor, acusa-se a
si mesmo da torpeza oculta e ao mesmo tempo incute rubor a seus companheiros no
mal, afastando-se deles, conforme a palavra: Apartai-vos de mim, vós
todos que fazeis o mal (SI 6,9); e ainda, se para o futuro se precaverem
de recaída nos mesmos vícios. Além disso, há um modo comum de provação, que
consiste em ver se alguém está pronto, superando a vergonha, a aceitar qualquer
humilhação, tal como exercer os ofícios mais vis, se a razão mostrar a
utilidade desse trabalho.
9.
E
se depois de todas as provações alguém for considerado pelos que são capazes de
julgar sabiamente estas coisas, como um instrumento útil ao seu possuidor,
preparado para toda obra boa, seja enfim contado entre os que se entregaram ao
Senhor.
10.
Especialmente
àquele que, oriundo de um gênero de vida mais ilustre, à semelhança de Nosso
Senhor Jesus Cristo, busca a humildade, convém prescrever alguma coisa que aos
de fora pareça um opróbrio, e observar se sabe se portar plenamente como um
operário de Deus que não tem do que se envergonhar.
QUESTÃO 11
OS ESCRAVOS
Resposta
11.
Quaisquer
escravos, ainda presos ao jugo, que se refugiarem na comunidade dos irmãos,
depois de instruídos e melhorados, sejam mandados de volta a seus senhores, à
imitação de São Paulo que, tendo gerado pelo Evangelho a Onésimo, reenviou-o a
Filêmon (Fm 10.12). Persuadiu a um a que carregasse o jugo da escravidão de
modo agradável a Deus, tornando-se assim digno do reino dos céus; ao outro exortou
não só a desistir das ameaças, lembrado do verdadeiro Senhor, que disse:
12.
Se
perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos
perdoará (Mt 6,14), mas a ter para com ele melhores sentimentos,
escrevendo-lhe: Sem dúvida, ele se apartou de ti por algum tempo e para
que tu o recobrasses para sempre, mas já não como servo, e sim, em vez de
servo, como irmão caríssimo (Fm 15.16).
13.
Se,
porém, o senhor for mau, ordenar alguma coisa contra a lei e forçar o escravo a
transgredir os mandamentos do verdadeiro dono Nosso Senhor Jesus Cristo, será
preciso combater para não ser blasfemado o nome de Deus, se o escravo tiver
feito alguma coisa que não agrada a Deus.
14.
Será
uma luta, ou do escravo que se há de preparar para sofrer com paciência o que
lhe for infligido, obedecendo mais a Deus do que aos homens conforme está
escrito (Mt 6,14); ou dos que o receberam, suportando de maneira agradável a
Deus as provações que lhes advirão por causa dele.
QUESTÃO 12
COMO DEVEM SER
RECEBIDOS OS CASADOS
Resposta
15.
Aos
vinculados em matrimônio e desejosos de abraçar tal gênero de vida, é preciso
indagar se o fazem de comum acordo, segundo a ordem do Apóstolo, que diz: Não
pode dispor de seu corpo (ICor 7,4), e o recém-vindo seja assim
recebido na presença de várias testemunhas.
16.
Nada
se prefira à obediência devida a Deus. Se uma das partes não consente e se
opõe, por ser menos solícita do que agrada a Deus, lembre-se da palavra do
Apóstolo: Deus nos chamou para viver em paz (ibid., 15), e cumpra-se
o preceito do Senhor, que disse: Se alguém vem a mim, e não odeia seu
pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, etc., não pode ser meu discípulo (Lc
14,26).
17.
Portanto,
nada deve ser colocado acima da obediência a Deus. Sabemos que, muitas vezes, a
oração fervorosa e o jejum constante ajudaram muitas pessoas a viver de modo
puro. Isso acontece porque o Senhor, em Sua sabedoria, leva até mesmo os mais
teimosos a reconhecerem o que é justo, às vezes por meio de situações que os
fazem mudar de atitude.
QUESTÃO 13
UTILIDADE DA
PRATICA DO SILÊNCIO PARA OS RECÉM-VINDOS
Resposta
18.
É
bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a língua, darão
simultaneamente boa prova de temperança. Com o silêncio aprenderão junto dos
que sabem usar da palavra, com concisão e firmeza, como convém perguntar e
responder a cada um.
19.
Há
um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno, uma propriedade no falar,
peculiares e adequados aos que praticam a piedade.
20.
Não
os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que estiver acostumado. O
silêncio traz consigo o esquecimento da vida anterior, em consequência da
interrupção, e proporciona lazer para o aprendizado do bem.
21.
Assim,
a não ser por questão especial atinente ao bem de sua própria alma, ou por
inevitável necessidade de um trabalho em mãos, ou por negócio urgente,
guarde-se silêncio, excetuada, é claro, a salmodia.
QUESTÃO 14
DOS QUE SE
DEDICARAM A DEUS E DEPOIS TENTAM ANULAR SUA PROFISSÃO
Resposta
22.
Se
um dos que foram recebidos entre os irmãos faltar a sua profissão, deve se
considerar que pecou contra Deus, diante de quem e a quem fez a declaração de
seu pacto. Se um homem pecar contra o Senhor, quem intervirá a seu favor?
(lRs 2,25).
23.
Quem
se deu a Deus e depois passa a outro gênero de vida é sacrílego, pois furta-se
a si mesmo e rouba um dom consagrado a Deus. É justo não lhe abrir a porta dos
irmãos, nem mesmo se, de passagem, pedir abrigo. É bem clara a regra do
Apóstolo que ordena fugirmos do desordeiro e não termos comunicação com ele, a
fim de que fique confundido (2Ts 3,14).
QUESTÃO 15
QUAL A IDADE
CONVENIENTE PARA A ENTREGA A DEUS E QUANDO SE TORNA IRREVOGÁVEL A PROFISSÃO
Resposta
24.
Como
diz o Senhor: Deixai vir a mim os pequeninos (Mc 10,14) e o
Apóstolo louva aquele que desde a infância conheceu as Sagradas
Escrituras (2Tm 3,15), e preceitua que se eduquem os filhos na disciplina
e correção (Ef 6,4) do Senhor, julgamos que qualquer tempo, mesmo o da
primeira idade, convém para recebermos os que se apresentam.
25.
Recebamos
espontaneamente os que perderam os pais, a fim de, a exemplo de Jó, sermos pais
para os órfãos (Jó 29,12). Aqueles, porém, que estão sob os cuidados dos pais e
foram trazidos por eles, sejam recebidos diante de muitas testemunhas, para não
se dar uma ocasião aos que procuram um pretexto, mas feche-se a boca dos injustos
que proferem calúnias contra nós.
26.
Recebamo-los,
como foi dito; todavia não sejam logo contados e enumerados como pertencentes
ao corpo dos irmãos, a fim de não suceder que, se eles se afastarem da meta,
recaia a repreensão sobre a vida segundo a piedade. Sejam piamente educados
como filhos da comunidade inteira dos irmãos. Além disso, meninos e meninas
tenham habitação e alimentação separados, para não adquirirem demasiada confiança
ou ousadia desmedida para com os mais velhos.
27.
Encontros
mais espaçados preservarão a reverência devida aos mais velhos, e as penas
impostas aos mais perfeitos por causa de alguma negligência nos deveres (se,
acaso, se afastarem deles), não farão surgir a facilidade de pecar, nem amiúde
nascer sorrateiramente o orgulho, se os meninos virem, por vezes, os mais
velhos falharem naquilo em que eles procedem bem. Em nada difere do menino em
idade, aquele que é de senso pueril.
28.
Não
é de admirar que em ambos se encontrem, muitas vezes, os mesmos vícios. Se
alguma coisa convém aos mais velhos, em vista da idade, nem por isso ousem os
jovens, por conviverem com eles, fazê-la de modo inconveniente e prematuro.
29.
Por
causa desta disposição e da gravidade no mais, sejam distintas a habitação dos
meninos e a dos mais velhos. Com isto, a casa dos ascetas não será perturbada
pelo ruído do aprendizado necessário aos jovens. As orações diárias
determinadas sejam comuns aos meninos e aos velhos.
30.
Os
meninos habituam-se, vendo o zelo dos mais idosos, à compunção e estes são bem
auxiliados na oração pelos meninos. Exercícios e regimes de vida peculiares
sejam destinados de modo adequado aos meninos em relação ao sono, às vigílias e
ao tempo, à medida e à qualidade da alimentação.
31.
Quem
deve dirigi-los seja de idade provecta, mais experiente que os demais, e tenha
dado provas de longanimidade; visceralmente paterno, corrija com palavras
cheias de sabedoria os pecados dos jovens e proporcione remédios convenientes a
cada delito de tal modo que, ao repreender por causa do pecado, a correção se
transforme em exercício para a aquisição da imperturbabilidade da alma. Se, por
exemplo, alguém se irritou contra o companheiro, seja forçado a honrar e
prestar serviço à proporção de sua ousadia.
32.
O
hábito da humildade corta a cólera, ao passo que o orgulho com frequência leva
à ira. Alguém tomou alimento fora de hora? Jejue quase o dia todo. Foi
surpreendido comendo, de maneira desmedida e sem polidez? À hora da refeição
seja privado de alimento e obrigado a observar como os outros comem com boas
maneiras, a fim de ser castigado com a abstinência e aprender a boa educação.
Proferiu alguém uma palavra ociosa, uma ofensa ao próximo, uma mentira ou outra
coisa proibida? Aprenda a moderação pelo estômago vazio e pelo silêncio.
33.
O
estudo das letras seja adequado ao fim. Usem-se, até mesmo, nomes tirados das
Escrituras; em vez de mitos, contem histórias de feitos admiráveis. Aprendam as
sentenças dos Provérbios. Sejam-lhes prometidos prêmios se aprenderem de cor
nomes e fatos, de modo que atinjam a meta com gosto e até distração, sem
aborrecimentos e obstáculos.
34.
Assim,
bem educados, facilmente obterão a atenção de espírito e o costume de não
divagar, se os mestres perguntarem assiduamente onde têm o pensamento e o que
revolvem na mente.
35.
Pois,
aquela idade simples e sem dolo, incapaz de mentir, manifestará com facilidade
os segredos da alma. Além disso, para não serem surpreendidos constantemente a
pensar no que é proibido, fugirão dos pensamentos absurdos e continuamente,
abandonando os despropósitos, cairão em si, receosos da vergonha das
repreensões.
36.
Sendo
ainda o espírito do menino fácil de plasmar e delicado, como em cera amolecida,
sem dificuldade, nele se gravam as formas que lhe são propostas; deve pois,
logo de início, ser conduzido ao exercício do bem.
37.
Chegando
ao uso da razão e já possuindo o hábito de discernir, estabeleça-se uma linha
de conduta feita dos elementos básicos e das formas tradicionais da piedade,
porque, enquanto a razão sugere o que é útil, o hábito dá a facilidade de agir
bem.
38.
Pode,
então, ser admitido à profissão da virgindade, que já será irrevogável, porque
feita com o devido conhecimento e julgamento, com pleno uso da razão. Desde
então, as recompensas ou os castigos dos que pecarem ou dos que agirem bem, serão
concedidos pelo justo juiz, segundo o mérito das obras.
39.
Sirvam
de testemunhas desse propósito os propósitos eclesiásticos. Assim, por
intermédio deles, até a santidade do corpo será considerada como uma coisa
sagrada dedicada a Deus e a ação será ratificada por meio do testemunho, porque
pela boca de duas ou três testemunhas se decida toda a questão (Mt
18,16).
40.
Desta
forma, o zelo dos irmãos não será caluniado e aos que fizerem profissão na
presença de Deus e depois tentam anulá-la, não se deixará ocasião de um ato
vergonhoso.
41.
Quem,
contudo, não quiser a vida virginal, por não ter solicitude pelas coisas que
são do Senhor, diante das mesmas testemunhas, seja demitido. Quem professar,
porém, após grande deliberação e exame (que lhe seja lícito fazer sozinho e por
muito tempo para não parecer uma espécie de rapto), seja recebido e contado na comunidade
dos irmãos, e participe da mesma habitação e idêntico regime dos mais velhos.
42.
Mas,
esquecemo-nos de dizer, e seria oportuno acrescentar aqui, que certos ofícios
sejam aprendidos pelo menino e quando alguns dos meninos já se mostrarem
capazes de aprendê-los, não é proibido que fiquem junto dos mestres desses
mesmos ofícios. Ã noite, contudo, voltem para junto dos companheiros, com os quais
igualmente devem tomar o alimento.
O
que você destaca no texto?
Como
serve para sua espiritualidade?
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