sexta-feira, 24 de outubro de 2025

293 SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 10 e 15

 

293

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Regra Monástica - Asketikon

As Regras Extensas (55 regras) 

Questões 10 e 15

Introdução geral para todos os estudos da Regra Monástica:

 

            Basílio Magno (†379), bispo da Cesareia da Capadócia, viveu num tempo em que muitos cristãos buscavam a santidade retirando-se para o deserto, influenciados pelos exemplos de Santo Antão e São Pacômio, no Egito. Mas Basílio percebeu que o isolamento excessivo poderia gerar vaidade espiritual e afastar o monge da caridade. Por isso, reformulou o ideal monástico com um caráter comunitário e eclesial, centrado no amor fraterno, na oração e no serviço. Por isso escreveu a Regra Monástica (Asketikon).

            Estrutura dos mosteiros basilianos: Os mosteiros fundados por Basílio (ou organizados segundo suas Regras) não eram fortificações isoladas, mas comunidades vivas próximas das cidades, integradas à vida da Igreja.

            Características principais dos Mosteiros:

             a) Vida em comunidade: os monges viviam juntos, sob a direção de um superior partilhando tudo em comum — à semelhança da comunidade cristã de Atos 2.42–47. b) Edificações simples: os mosteiros tinham dormitórios coletivos, refeitório, capela para as orações, oficinas de trabalho manual e um espaço para acolher viajantes e pobres. c) Localização: geralmente em lugares tranquilos, mas não totalmente isolados, para permitir o contato com o povo e o serviço aos necessitados. d) Hospitalidade: cada mosteiro tinha uma casa para hóspedes e um pequeno hospital ou enfermaria, pois Basílio considerava o cuidado aos doentes parte da vida evangélica.

 

QUESTÃO 10

SE DEVEM SER RECEBIDOS TODOS QUANTOS SE APRESENTAM. OU QUAIS? DEVEM SER LOGO ADMITIDOS? OU SÓ DEPOIS DE EXPERIMENTADOS? E COMO?

 

Resposta

1.      Nosso Salvador Jesus Cristo, Deus que ama os homens, anuncia e diz: Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei (Mt 11,28). É, portanto, perigoso repelir os que, por meio de nós, se aproximam do Senhor, querendo se submeter a esse jugo suave e ao peso dos mandamentos, que nos eleva até ao céu. Não consintamos, porém, que recebam as santas instruções, senão depois de terem os pés lavados.

2.      Mas, como Nosso Senhor Jesus Cristo interrogou acerca da vida passada o jovem que o procurava e, vendo que procedera bem, deu-lhe preceitos sobre a realização do que ainda carecia para ser perfeito, permitindo, então, que o seguisse, assim também nós indaguemos acerca do passado daqueles que se apresentam.

3.      Aqueles que já praticaram algum bem ensinemos uma doutrina mais perfeita. Quanto aos que se converteram de uma vida má, ou da indiferença passaram para uma vida melhor, no conhecimento de Deus, convém perscrutar quais os seus costumes e se são instáveis e inclinados às críticas.

4.      Esses são suspeitos de inconstância. Nada lucram e ainda prejudicam os outros, acarretando contra nossas obras injúrias, mentiras e blasfêmias.

5.      Mas, como tudo se pode corrigir pela diligência e o temor de Deus vence qualquer vício da alma, não se desanime logo a respeito deles, mas sejam levados a exercícios apropriados.

6.      Com o correr do tempo e por meio de laboriosas práticas, teremos provas de seu propósito, e se virmos que estão firmes, recebamo-los com segurança.

7.      Se não, enquanto estão de fora sejam despedidos, a fim de que a experiencia não prejudique a comunidade dos irmãos.

8.      É preciso verificar se quem anteriormente pecou vence o falso pudor, acusa-se a si mesmo da torpeza oculta e ao mesmo tempo incute rubor a seus companheiros no mal, afastando-se deles, conforme a palavra: Apartai-vos de mim, vós todos que fazeis o mal (SI 6,9); e ainda, se para o futuro se precaverem de recaída nos mesmos vícios. Além disso, há um modo comum de provação, que consiste em ver se alguém está pronto, superando a vergonha, a aceitar qualquer humilhação, tal como exercer os ofícios mais vis, se a razão mostrar a utilidade desse trabalho.

9.      E se depois de todas as provações alguém for considerado pelos que são capazes de julgar sabiamente estas coisas, como um instrumento útil ao seu possuidor, preparado para toda obra boa, seja enfim contado entre os que se entregaram ao Senhor.

10.  Especialmente àquele que, oriundo de um gênero de vida mais ilustre, à semelhança de Nosso Senhor Jesus Cristo, busca a humildade, convém prescrever alguma coisa que aos de fora pareça um opróbrio, e observar se sabe se portar plenamente como um operário de Deus que não tem do que se envergonhar.

 

QUESTÃO 11

OS ESCRAVOS

 

Resposta

11.  Quaisquer escravos, ainda presos ao jugo, que se refugiarem na comunidade dos irmãos, depois de instruídos e melhorados, sejam mandados de volta a seus senhores, à imitação de São Paulo que, tendo gerado pelo Evangelho a Onésimo, reenviou-o a Filêmon (Fm 10.12). Persuadiu a um a que carregasse o jugo da escravidão de modo agradável a Deus, tornando-se assim digno do reino dos céus; ao outro exortou não só a desistir das ameaças, lembrado do verdadeiro Senhor, que disse:

12.  Se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará (Mt 6,14), mas a ter para com ele melhores sentimentos, escrevendo-lhe: Sem dúvida, ele se apartou de ti por algum tempo e para que tu o recobrasses para sempre, mas já não como servo, e sim, em vez de servo, como irmão caríssimo (Fm 15.16).

13.  Se, porém, o senhor for mau, ordenar alguma coisa contra a lei e forçar o escravo a transgredir os mandamentos do verdadeiro dono Nosso Senhor Jesus Cristo, será preciso combater para não ser blasfemado o nome de Deus, se o escravo tiver feito alguma coisa que não agrada a Deus.

14.  Será uma luta, ou do escravo que se há de preparar para sofrer com paciência o que lhe for infligido, obedecendo mais a Deus do que aos homens conforme está escrito (Mt 6,14); ou dos que o receberam, suportando de maneira agradável a Deus as provações que lhes advirão por causa dele.

 

QUESTÃO 12

COMO DEVEM SER RECEBIDOS OS CASADOS

 

Resposta

15.  Aos vinculados em matrimônio e desejosos de abraçar tal gênero de vida, é preciso indagar se o fazem de comum acordo, segundo a ordem do Apóstolo, que diz: Não pode dispor de seu corpo (ICor 7,4), e o recém-vindo seja assim recebido na presença de várias testemunhas.

16.  Nada se prefira à obediência devida a Deus. Se uma das partes não consente e se opõe, por ser menos solícita do que agrada a Deus, lembre-se da palavra do Apóstolo: Deus nos chamou para viver em paz (ibid., 15), e cumpra-se o preceito do Senhor, que disse: Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, etc., não pode ser meu discípulo (Lc 14,26).

17.  Portanto, nada deve ser colocado acima da obediência a Deus. Sabemos que, muitas vezes, a oração fervorosa e o jejum constante ajudaram muitas pessoas a viver de modo puro. Isso acontece porque o Senhor, em Sua sabedoria, leva até mesmo os mais teimosos a reconhecerem o que é justo, às vezes por meio de situações que os fazem mudar de atitude.

 

 

 

 

 

QUESTÃO 13

UTILIDADE DA PRATICA DO SILÊNCIO PARA OS RECÉM-VINDOS

 

Resposta

18.  É bom para os noviços também a prática do silêncio. Se dominam a língua, darão simultaneamente boa prova de temperança. Com o silêncio aprenderão junto dos que sabem usar da palavra, com concisão e firmeza, como convém perguntar e responder a cada um.

19.  Há um tom de voz, uma palavra comedida, um tempo oportuno, uma propriedade no falar, peculiares e adequados aos que praticam a piedade.

20.  Não os aprende quem não tiver abandonado aquilo a que estiver acostumado. O silêncio traz consigo o esquecimento da vida anterior, em consequência da interrupção, e proporciona lazer para o aprendizado do bem.

21.  Assim, a não ser por questão especial atinente ao bem de sua própria alma, ou por inevitável necessidade de um trabalho em mãos, ou por negócio urgente, guarde-se silêncio, excetuada, é claro, a salmodia.

 

QUESTÃO 14

DOS QUE SE DEDICARAM A DEUS E DEPOIS TENTAM ANULAR SUA PROFISSÃO

 

Resposta

22.  Se um dos que foram recebidos entre os irmãos faltar a sua profissão, deve se considerar que pecou contra Deus, diante de quem e a quem fez a declaração de seu pacto. Se um homem pecar contra o Senhor, quem intervirá a seu favor? (lRs 2,25).

23.  Quem se deu a Deus e depois passa a outro gênero de vida é sacrílego, pois furta-se a si mesmo e rouba um dom consagrado a Deus. É justo não lhe abrir a porta dos irmãos, nem mesmo se, de passagem, pedir abrigo. É bem clara a regra do Apóstolo que ordena fugirmos do desordeiro e não termos comunicação com ele, a fim de que fique confundido (2Ts 3,14).

 

QUESTÃO 15

QUAL A IDADE CONVENIENTE PARA A ENTREGA A DEUS E QUANDO SE TORNA IRREVOGÁVEL A PROFISSÃO

 

Resposta

24.  Como diz o Senhor: Deixai vir a mim os pequeninos (Mc 10,14) e o Apóstolo louva aquele que desde a infância conheceu as Sagradas Escrituras (2Tm 3,15), e preceitua que se eduquem os filhos na disciplina e correção (Ef 6,4) do Senhor, julgamos que qualquer tempo, mesmo o da primeira idade, convém para recebermos os que se apresentam.

25.  Recebamos espontaneamente os que perderam os pais, a fim de, a exemplo de Jó, sermos pais para os órfãos (Jó 29,12). Aqueles, porém, que estão sob os cuidados dos pais e foram trazidos por eles, sejam recebidos diante de muitas testemunhas, para não se dar uma ocasião aos que procuram um pretexto, mas feche-se a boca dos injustos que proferem calúnias contra nós.

26.  Recebamo-los, como foi dito; todavia não sejam logo contados e enumerados como pertencentes ao corpo dos irmãos, a fim de não suceder que, se eles se afastarem da meta, recaia a repreensão sobre a vida segundo a piedade. Sejam piamente educados como filhos da comunidade inteira dos irmãos. Além disso, meninos e meninas tenham habitação e alimentação separados, para não adquirirem demasiada confiança ou ousadia desmedida para com os mais velhos.

27.  Encontros mais espaçados preservarão a reverência devida aos mais velhos, e as penas impostas aos mais perfeitos por causa de alguma negligência nos deveres (se, acaso, se afastarem deles), não farão surgir a facilidade de pecar, nem amiúde nascer sorrateiramente o orgulho, se os meninos virem, por vezes, os mais velhos falharem naquilo em que eles procedem bem. Em nada difere do menino em idade, aquele que é de senso pueril.

28.  Não é de admirar que em ambos se encontrem, muitas vezes, os mesmos vícios. Se alguma coisa convém aos mais velhos, em vista da idade, nem por isso ousem os jovens, por conviverem com eles, fazê-la de modo inconveniente e prematuro.

29.  Por causa desta disposição e da gravidade no mais, sejam distintas a habitação dos meninos e a dos mais velhos. Com isto, a casa dos ascetas não será perturbada pelo ruído do aprendizado necessário aos jovens. As orações diárias determinadas sejam comuns aos meninos e aos velhos.

30.  Os meninos habituam-se, vendo o zelo dos mais idosos, à compunção e estes são bem auxiliados na oração pelos meninos. Exercícios e regimes de vida peculiares sejam destinados de modo adequado aos meninos em relação ao sono, às vigílias e ao tempo, à medida e à qualidade da alimentação.

31.  Quem deve dirigi-los seja de idade provecta, mais experiente que os demais, e tenha dado provas de longanimidade; visceralmente paterno, corrija com palavras cheias de sabedoria os pecados dos jovens e proporcione remédios convenientes a cada delito de tal modo que, ao repreender por causa do pecado, a correção se transforme em exercício para a aquisição da imperturbabilidade da alma. Se, por exemplo, alguém se irritou contra o companheiro, seja forçado a honrar e prestar serviço à proporção de sua ousadia.

32.  O hábito da humildade corta a cólera, ao passo que o orgulho com frequência leva à ira. Alguém tomou alimento fora de hora? Jejue quase o dia todo. Foi surpreendido comendo, de maneira desmedida e sem polidez? À hora da refeição seja privado de alimento e obrigado a observar como os outros comem com boas maneiras, a fim de ser castigado com a abstinência e aprender a boa educação. Proferiu alguém uma palavra ociosa, uma ofensa ao próximo, uma mentira ou outra coisa proibida? Aprenda a moderação pelo estômago vazio e pelo silêncio.

33.  O estudo das letras seja adequado ao fim. Usem-se, até mesmo, nomes tirados das Escrituras; em vez de mitos, contem histórias de feitos admiráveis. Aprendam as sentenças dos Provérbios. Sejam-lhes prometidos prêmios se aprenderem de cor nomes e fatos, de modo que atinjam a meta com gosto e até distração, sem aborrecimentos e obstáculos.

34.  Assim, bem educados, facilmente obterão a atenção de espírito e o costume de não divagar, se os mestres perguntarem assiduamente onde têm o pensamento e o que revolvem na mente.

35.  Pois, aquela idade simples e sem dolo, incapaz de mentir, manifestará com facilidade os segredos da alma. Além disso, para não serem surpreendidos constantemente a pensar no que é proibido, fugirão dos pensamentos absurdos e continuamente, abandonando os despropósitos, cairão em si, receosos da vergonha das repreensões.

36.  Sendo ainda o espírito do menino fácil de plasmar e delicado, como em cera amolecida, sem dificuldade, nele se gravam as formas que lhe são propostas; deve pois, logo de início, ser conduzido ao exercício do bem.

37.  Chegando ao uso da razão e já possuindo o hábito de discernir, estabeleça-se uma linha de conduta feita dos elementos básicos e das formas tradicionais da piedade, porque, enquanto a razão sugere o que é útil, o hábito dá a facilidade de agir bem.

38.  Pode, então, ser admitido à profissão da virgindade, que já será irrevogável, porque feita com o devido conhecimento e julgamento, com pleno uso da razão. Desde então, as recompensas ou os castigos dos que pecarem ou dos que agirem bem, serão concedidos pelo justo juiz, segundo o mérito das obras.

39.  Sirvam de testemunhas desse propósito os propósitos eclesiásticos. Assim, por intermédio deles, até a santidade do corpo será considerada como uma coisa sagrada dedicada a Deus e a ação será ratificada por meio do testemunho, porque pela boca de duas ou três testemunhas se decida toda a questão (Mt 18,16).

40.  Desta forma, o zelo dos irmãos não será caluniado e aos que fizerem profissão na presença de Deus e depois tentam anulá-la, não se deixará ocasião de um ato vergonhoso.

41.  Quem, contudo, não quiser a vida virginal, por não ter solicitude pelas coisas que são do Senhor, diante das mesmas testemunhas, seja demitido. Quem professar, porém, após grande deliberação e exame (que lhe seja lícito fazer sozinho e por muito tempo para não parecer uma espécie de rapto), seja recebido e contado na comunidade dos irmãos, e participe da mesma habitação e idêntico regime dos mais velhos.

42.  Mas, esquecemo-nos de dizer, e seria oportuno acrescentar aqui, que certos ofícios sejam aprendidos pelo menino e quando alguns dos meninos já se mostrarem capazes de aprendê-los, não é proibido que fiquem junto dos mestres desses mesmos ofícios. Ã noite, contudo, voltem para junto dos companheiros, com os quais igualmente devem tomar o alimento.

 

O que você destaca no texto?

Como serve para sua espiritualidade?

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