domingo, 26 de outubro de 2025

294 SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Regra Monástica - Asketikon - As Regras Extensas (55 regras) - Questões 16 a 18

 

294

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Regra Monástica - Asketikon

As Regras Extensas (55 regras) 

Questões 16 a 18

 

Introdução geral para todos os estudos da Regra Monástica:

             Basílio Magno (†379), bispo da Cesareia da Capadócia, viveu num tempo em que muitos cristãos buscavam a santidade retirando-se para o deserto, influenciados pelos exemplos de Santo Antão e São Pacômio, no Egito. Mas Basílio percebeu que o isolamento excessivo poderia gerar vaidade espiritual e afastar o monge da caridade. Por isso, reformulou o ideal monástico com um caráter comunitário e eclesial, centrado no amor fraterno, na oração e no serviço. Por isso escreveu a Regra Monástica (Asketikon).

            Estrutura dos mosteiros basilianos: Os mosteiros fundados por Basílio (ou organizados segundo suas Regras) não eram fortificações isoladas, mas comunidades vivas próximas das cidades, integradas à vida da Igreja.

 

            Características principais dos Mosteiros:

             a) Vida em comunidade: os monges viviam juntos, sob a direção de um superior partilhando tudo em comum — à semelhança da comunidade cristã de Atos 2.42–47. b) Edificações simples: os mosteiros tinham dormitórios coletivos, refeitório, capela para as orações, oficinas de trabalho manual e um espaço para acolher viajantes e pobres. c) Localização: geralmente em lugares tranquilos, mas não totalmente isolados, para permitir o contato com o povo e o serviço aos necessitados. d) Hospitalidade: cada mosteiro tinha uma casa para hóspedes e um pequeno hospital ou enfermaria, pois Basílio considerava o cuidado aos doentes parte da vida evangélica.

 

 

QUESTÃO 16

SE É NECESSÁRIA A TEMPERANÇA PARA OS QUE DESEJAM VIVER PIAMENTE

 

Resposta

1.      É evidente ser necessária a temperança. Em primeiro lugar, porque o Apóstolo enumera a temperança entre os frutos do Espírito (G1 5,23). Segundo porque declara tornar-se por meio dela imaculado nosso ministério, quando diz: Nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, pela castidade (2Cor 6,5). E em outra passagem: ...trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns (2Cor 11,27) . E de novo: Todos os competidores se impõem a si toda a espécie de abstinência (ICor 9,25).

2.      Nada reprime tanto o corpo e o reduz à servidão como a temperança. Contém o ardor da juventude e vence as dificuldades em reprimir-lhe os impulsos, como um freio.

3.      Não convém ao insensato viver entre delícias, diz Salomão (Pv 19,10) . Que há de mais insensato do que a carne bem tratada e a juventude desencaminhada?

4.      Pelo que diz o Apóstolo: Não vos preocupeis com a carne para satisfazer os seus desejos (Rm 13,14). E: Aquela que vive nos prazeres, está morta, embora pareça viva (lTm 5,6).

5.      O exemplo dos deleites do rico demonstra-nos que a temperança nos é  necessidade para não ouvirmos a mesma sentença que ele: Recebeste teus bens em vida (Lc 16,25).

6.      Quão temível é a intemperança, mostra o Apóstolo ao enumerá-la entre as propriedades da defecção: Nos últimos dias haverá um período difícil. Os homens tornar-se-ão egoístas (2Tm 3,1 e 2); e enunciando várias espécies de maldades, acrescenta: caluniadores, intemperantes (ibid. 3).

7.      A intemperança de Esaú foi condenada como sendo o maior de seus males, porque vendeu a primogenitura por uma iguaria  (Gn 25,33).

8.      E a primeira desobediência do homem proveio da intemperança.

9.      Foi testemunhado que todos os santos possuíam a temperança. Todas as vidas dos santos e bem-aventurados e o próprio exemplo do Senhor, em seu advento na carne, são de proveito para nós, neste sentido.

10.  Moisés, por longa perseverança no jejum e na oração, recebeu a lei e ouviu as palavras de Deus: Como um homem fala com o seu amigo (Ex 33,11).

11.  Elias foi considerado digno da visão de Deus, quando também ela empregou de igual modo a temperança (lRs 19,8).

12.  E Daniel, como foi que viu maravilhas? Não foi depois dos vinte dias de jejum? (Dn 10,3).

13.  Como extinguiram os três jovens a violência do fogo? Não foi pela abstinência? (Dn 1,8).

14.  Igualmente João iniciou seu estado de vida pela abstinência (Mt 3,4; Lc 1,15).

15.  Com ela o próprio Senhor começou sua manifestação (Mt 4,2).

16.  Chamamos temperança não uma total abstenção de alimentos (seria violenta destruição da vida), mas a privação dos deleites para a destruição do senso carnal e obtenção do escopo da piedade.

17.  Em resumo, nós que seguimos o ritmo da piedade, precisamos da abstinência daqueles prazeres, apetecíveis aos que vivem segundo as paixões.

18.  Não somente na moderação do prazer do paladar se pratica a temperança, mas se estende à privação de tudo o que possa servir de obstáculo.

19.  O verdadeiro temperante não domina apenas o ventre, e deixa-se superar pela glória humana; não supera os desejos vergonhosos sem vencer igualmente as riquezas, ou qualquer outro sentimento ignóbil, como a ira, a tristeza ou os demais vícios que costumam escravizar as almas grosseiras.

20.  Dá-se em relação à temperança quase o mesmo que verificamos nos mandamentos; de tal modo são conexos que é impossível cumprir um sem os outros.

21.  O temperante, quanto à glória, é também humilde. Cumpre a medida evangélica da pobreza quem é temperante diante das riquezas.

22.  Não se ira quem contém a indignação e a cólera.

23.  A temperança perfeita torna a língua comedida, os olhos recatados, os ouvidos não curiosos.

24.  Quem assim não se mantém, é intemperante e licencioso. Vês como ao redor deste único mandamento se reúnem os outros em coro?

 

QUESTÃO 17

IMPORTA TAMBÉM CONTER O RISO

 

Resposta

25.  Digno da atenção cuidadosa dos ascetas é aquilo que muitos negligenciam. Ser dominado por um riso imoderado e imódico é sinal de intemperança, de movimentos de intranquilidade e de que a razão severa não reprime o relaxamento do espírito.

26.  Não é inconveniente mostrar expansão da alma com um sorriso sereno, apenas para indicar o que foi escrito: O coração contente alegra o semblante (Pr 15,13).

27.  Mas, rir-se alto e sacudir-se involuntariamente não é próprio de quem possui espírito tranquilo, probo e senhor de si.

28.  O Eclesiastes, reprovando essa espécie de riso, porque prejudica a firmeza do espírito, declara: Do riso eu disse: Loucura! (Ecl 2,2). E: Como o crepitar dos espinhos, tal é o riso do insensato (ibid. 7,7).

29.  O próprio Senhor sujeitou-se a quanto afeta forçosamente a carne e serve de testemunho de virtude, tal o cansaço e a comiseração pelos aflitos; nunca, porém, se riu, ao menos quanto consta da história dos evangelhos. Antes chama infelizes os que se riem (Lc 6,25).

30.  Não nos engane a ambiguidade da palavra riso. É comum que a Escritura denomine riso a alegria da alma e um sentimento alegre, proveniente de um bem, como disse Sara: Deus deu um motivo de riso (Gn 21,6). E: Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis (Lc 6,21).

31.  Encontra-se em Jó: A boca verdadeira se encherá de riso (Jó 8,21). Tais termos são usados em lugar de hilaridade, que provém da alegria da alma.

32.  Eis por que é perfeito temperante aquele que está acima de qualquer paixão e não sofre o estímulo da volúpia, nem o manifesta, mas permanece continente e forte contra todo deleite nocivo.

33.  Este, evidentemente, está livre de qualquer pecado.

34.  Algumas vezes temos a obrigação de nos abster mesmo de coisas permitidas e necessárias à vida.

35.  Isto sucede quando, para o bem de nossos irmãos, a abstinência está prescrita. Assim, o Apóstolo: Se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão, jamais comerei carne (ICor 8,13). E tendo o direito de viver do evangelho, não usou deste direito: para não pôr algum obstáculo ao evangelho de Cristo (ibid. 9,12).

36.  A temperança, pois, apaga os pecados, expulsa as paixões, mortifica o corpo e até as paixões e os desejos naturais; é início da vida espiritual, penhor dos bens eternos, extinguindo a volúpia em si mesma.

37.  Esta é sempre a grande sedução do mal que a nós homens inclina fortemente ao pecado. É uma espécie de anzol, que arrasta a alma à morte.

38.  Portanto, quem não se torna efeminado, nem se deixa dobrar por ela, evita todos os pecados por meio da temperança.

39.  Se alguém evita a maior parte deles, mas se deixa vencer por um só, já não é mais continente, como quem sofre de uma só doença corporal já não está são.

40.  Quem se sujeita ao domínio de um só, seja de quem for, já não é mais livre.

41.  As demais virtudes praticadas às ocultas raramente chamam a atenção dos homens; a temperança, porém, já no primeiro encontro revela quem a possui.

42.  Como a corpulência e a boa cor caracterizam o atleta, assim a magreza e a palidez proveniente da continência denotam que o cristão é, de fato, atleta dos mandamentos de Cristo.

43.  Na fraqueza do corpo vence o inimigo e evidencia sua força nos combates da piedade, segundo a palavra: Quando me vejo em fraqueza, então é que sou forte (2Cor 12,10).

44.  Só em ver o continente tira-se grande proveito. Mal toca, e com parcimônia, nas coisas necessárias, como que cumprindo um ministério oneroso, devido à natureza, e lastima o tempo nisto gasto, levantando-se da mesa com prontidão para praticar as boas obras.

45.   Julgo que não há palavra que abale tanto o intemperante na comida e o leve à mudança como ver um homem temperante.

46.  E isto é, ao que parece, comer e beber para a glória de Deus, de modo que até à mesa brilhem nossas boas obras para a glorificação de nosso Pai que está nos céus.

 

QUESTÃO 18

SE CONVEM PROVAR DE TUDO QUE PÕEM DIANTE DE NÓS

 

Resposta

47.  Para reprimir o corpo é necessário que se estabeleça, aos que combatem pela piedade, que a temperança lhes é indispensável, pois todos os competidores a si impõem toda espécie de abstinência (ICor 9,25).

48.  Para não cairmos, contudo, como os inimigos de Deus, que têm cauterizada a própria consciência e por isso se abstêm dos alimentos que Deus criou para serem tomados com ações de graças pelos fiéis, convém provar de cada um, se houver ocasião, de sorte a mostrar aos que vêm que tudo é puro para os que são puros (Tt 1,15), que toda criatura de Deus é boa e que nada deve ser rejeitado do que se toma com ação de graças, pois isso se torna santificado pela palavra de Deus e pela oração (lTm 4,4.5).

49.  Assim seja guardada a temperança: Usem-se os alimentos mais simples e indispensáveis à vida, à medida que for necessário, e evite-se o mal da saciedade, abstendo-se inteiramente de todos os manjares deliciosos.

50.  Deste modo eliminaremos o vício do amor às delícias, e curaremos, à medida que depender de nós, aqueles que têm cauterizada a consciência; em ambos os casos, livrar-nos-emos de suspeitas. Por que razão seria regulada a minha liberdade pela consciência alheia? (ICor 10,29).

51.  A temperança indica aquele que morreu com Cristo e mortificou seus membros terrestres.

52.  Sabemos que ela é a mãe da castidade, protetora da saúde, e que elimina perfeitamente os obstáculos às obras fecundas em Cristo; porque, segundo a palavra do Senhor, os cuidados do mundo, os prazeres da vida e as demais concupiscências sufocam a palavra e a tornam infrutuosa (Mt 13,22).

53.  Dela fogem os demônios, como nos ensinou o Senhor: Quanto a esta espécie de demônios, só se pode expulsar à força de oração e de jejum (Mt 17,20).

 

 

O que você destaca no texto?

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O que ensina para nossa Igreja atual?

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