quarta-feira, 27 de maio de 2015

Livro IV - Capítulos 12 a 14

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História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia
Livro IV - Capítulos 12 a 14

Texto Bíblico: Tito 3.10-11.

XII - Da Apologia de Justino dirigida a Antonino
XIII - Uma carta de Antonino ao concilio da Ásia sobre a nossa doutrina
XIV - O que se recorda sobre Policarpo, discípulo dos apóstolos


XII - Da Apologia de Justino dirigida a Antonino
1. "Ao imperador Tito Elio Adriano Antonino Pio César Augusto, e a Veríssi­mo[1], seu filho, filósofo, e a Lúcio, filho por natureza do césar, filósofo, e de Pio por adoção, amante do saber, e ao sagrado senado e a todo o povo romano, em favor dos homens de toda raça injustamente odiados e calu­niados: Eu, Justino, filho de Prisco, que o era por sua vez de Bacquio, oriundo de Flavia Neápolis, da Síria, Palestina, e um deles, compus este discurso e esta súplica."
O próprio imperador foi solicitado também por outros irmãos da Ásia, importunados com toda sorte de insolência pela população local, e julgou bom enviar ao concilio da Ásia o seguinte transcrito:

XIII - Uma carta de Antonino ao concilio da Ásia sobre a nossa doutrina
1.            "O imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Armênio, pontífice máximo, tribuno da plebe pela décima quinta vez, cônsul por três vezes, ao concilio da Ásia, saudações[2];
2.            Eu sei que também os deuses se ocupam de que estes não permaneçam ocultos. Efetivamente, eles castigariam muito mais do que vós aos que não queiram adorá-los.
3.     "A estes estais empurrando para a agitação, uma vez que os confirmais na doutrina que professam acusando-os de ateus. Para eles seria preferível, assim acusados, parecer que morreram por seu próprio Deus a seguir vivendo. Por isso inclusive estão vencendo, porque entregam suas próprias vidas em vez de obedecer ao que vós pretendeis que façam.
4.     Quanto aos terremotos passados e atuais, não será demais recordar-vos que vos sentis acovardados quando chegam, e comparais nossa situação à sua.
5.     Eles, efetivamente, têm muito maior confiança em Deus, enquanto que vós, em todo o tempo pareceis estar em completa ignorância, descuidais dos outros deuses e do culto ao imortal. Os cristãos o adoram, e vós os maltratais e perseguis até a morte.
6.     Em favor destes já escreveram a nosso diviníssimo pai[3] muitos governa­dores das províncias, aos quais respondeu que em nada fossem aqueles molestados, a não ser que fosse evidente que empreendiam algo contra o poder público de Roma. Também a mim muitos me falaram sobre eles, e também respondi seguindo o parecer de meu pai.
7.      Mas se alguém persistir em levar algum deles ao tribunal apenas por ser deles, fique o acusado livre de encargos, ainda que seja evidente que é cristão; por outro lado, o acusador ficará sujeito a castigo. "Publicado em Éfeso, no concilio da Ásia."
8.             Que assim sucederam as coisas é atestado pelo bispo da igreja de Sardes, Meliton, célebre naquela época, pelo que se percebe na Apologia que dirigiu ao imperador Vero em favor de nossa doutrina.

XIV - O que se recorda sobre Policarpo, discípulo dos apóstolos
1.            Nos tempos aludidos e estando Aniceto à cabeça da igreja de Roma, conta Irineu que Policarpo ainda vivia e que veio a Roma para conversar com Aniceto por causa de certa questão acerca do dia da Páscoa.
2.            O mesmo escritor nos transmite outro relato acerca de Policarpo, que é necessário acrescentar ao que dele se disse. É o que segue:
Tomado do Livro III dos de Irineu contra as heresias.
3.     "E também Policarpo. Não somente foi instruído pelos apóstolos e conviveu com muitos que haviam visto o Senhor, mas também foi instituído bispo da Ásia pelos apóstolos, na igreja de Esmirna. Nós inclusive o vimos em nossa idade juvenil.
4.     Já que viveu muitos anos e morreu muito velho, depois de dar glorioso e esplêndido testemunho. Sempre ensinou o que havia aprendido dos após­tolos, que é também o que a Igreja transmite e o único que é verdade.
5.            Disto dão testemunho todas as igrejas da Ásia e os que até hoje sucede­ram a Policarpo, que é um testemunho da verdade muito mais digno de fé e muito mais seguro que Valentim, que Márcion e que o resto, de juízo corrompido. E estando de passagem por Roma nos tempos de Aniceto, reconduziu muitos dos hereges acima mencionados à igreja de Deus, pregando-lhes que única e exclusivamente havia recebido dos apóstolos esta verdade: o que transmite a Igreja.
6.            E há quem o tenham ouvido dizer que João, o discípulo do Senhor, indo banhar-se em Éfeso e tendo visto Cerinto nos banhos, saltou para fora das termas sem ter-se banhado e disse: "Fujamos, não ocorra que também as termas venham abaixo por estar dentro Cerinto, o inimigo da verdade[4]."
7.             E o mesmo Policarpo, quando uma vez Márcion fez-se encontrar e lhe disse: "Reconhece-nos", respondeu-lhe: "Reconheço-te. Reconheço o primogênito de Satanás." Era tal a cautela que tinham os apóstolos e seus discípulos para não comunicar-se sequer por palavra com nenhum falsificador da ver­dade, que o próprio Paulo disse: Ao herege, depois de primeira e segunda advertência, rechaça-o, pois sabes que este está perdido e peca, condenando a si mesmo[5]."
8.             "Há também uma carta de Policarpo, escrita aos filipenses, importantíssima, pela qual podem conhecer a índole de sua fé e sua mensagem da verdade aqueles que o queiram e que se preocupam com sua própria salvação."
9.      Isto disse Irineu. Quanto a Policarpo, na mencionada carta sua aos filipenses, conservada até o presente, faz uso de alguns testemunhos tomados da primeira carta de Pedro.
10.  A Antonino, o chamado Pio, depois de cumpridos seus vinte e dois anos de governo, sucedeu seu filho Marco Aurélio Vero, também chamado Antonino, junto com seu irmão Lúcio.

1.                  O que mais te chamou a atenção neste texto?
2.                  O que o texto contribui para a sua espiritualidade?

Desenho da Capa: Policarpo de Esmirna (69-155) foi um bispo cristão de Esmirna do século II. De acordo com a obra "Martírio de Policarpo", ele foi apunhalado quando estava amarrado numa estaca para ser queimado-vivo e as chamas milagrosamente não o tocavam. Foi discípulo do Apóstolo João conforme Irineu de Lyon.



[1] O futuro imperador Marco Aurélio.
[2] Eusébio não chega a se entender com os nomes nem com os títulos dos imperadores, pois anuncia uma carta de Antonino mas o cabeçalho é de Marco Aurélio, e ainda assim com falhas.
[3] Se a carta é de Marco Aurélio, como indica o cabeçalho, refere-se a Antonino, mas se o autor é Antonino, alude a Adriano.
[4] Vide III:XXVIII:6.
[5] Tt 3:10-11.

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