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História Eclesiástica de Eusébio de
Cesaréia
Livro IV
- Capítulos 12 a 14
Texto Bíblico: Tito 3.10-11.
XII - Da Apologia de Justino dirigida a Antonino
XIII - Uma carta de Antonino ao concilio da Ásia sobre a
nossa doutrina
XIV - O que se recorda sobre Policarpo, discípulo dos
apóstolos
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XII - Da Apologia de Justino
dirigida a Antonino
1. "Ao imperador Tito Elio Adriano Antonino Pio César Augusto, e a
Veríssimo[1], seu filho,
filósofo, e a Lúcio, filho por natureza do césar, filósofo, e de Pio por adoção,
amante do saber, e ao sagrado senado e a todo o povo romano, em favor dos
homens de toda raça injustamente odiados e caluniados: Eu, Justino, filho de
Prisco, que o era por sua vez de Bacquio, oriundo de Flavia Neápolis, da Síria,
Palestina, e um deles, compus este discurso e esta súplica."
O
próprio imperador foi solicitado também por outros irmãos da Ásia, importunados
com toda sorte de insolência pela população local, e julgou bom enviar ao
concilio da Ásia o seguinte transcrito:
XIII - Uma
carta de Antonino ao concilio da Ásia sobre a nossa doutrina
1.
"O imperador César Marco
Aurélio Antonino Augusto Armênio, pontífice máximo, tribuno da
plebe pela décima quinta vez, cônsul por três vezes, ao concilio da Ásia,
saudações[2];
2.
Eu sei que também os deuses se ocupam de que estes não
permaneçam ocultos. Efetivamente, eles
castigariam muito mais do que vós aos que não queiram adorá-los.
3. "A estes estais empurrando para a agitação, uma vez que os confirmais
na doutrina
que professam acusando-os de ateus. Para eles seria preferível, assim acusados, parecer que morreram por seu
próprio Deus a seguir vivendo. Por
isso inclusive estão vencendo, porque entregam suas próprias vidas em vez
de obedecer ao que vós pretendeis que façam.
4. Quanto aos terremotos passados e atuais, não será demais recordar-vos que vos sentis acovardados quando chegam, e comparais nossa situação à sua.
5. Eles, efetivamente, têm muito maior confiança em Deus, enquanto que vós, em todo o tempo
pareceis estar em completa ignorância, descuidais dos outros deuses e do culto ao imortal. Os cristãos o adoram, e vós os
maltratais e perseguis até a morte.
6.
Em favor destes já escreveram a
nosso diviníssimo pai[3] muitos governadores das
províncias, aos quais respondeu que em nada fossem aqueles molestados, a não
ser que fosse evidente que empreendiam algo contra o poder público de Roma. Também a mim muitos me falaram sobre eles, e também
respondi seguindo o parecer de meu pai.
7.
Mas se alguém persistir em levar algum deles ao tribunal
apenas por ser deles, fique o acusado livre de encargos, ainda que seja
evidente que é cristão; por outro lado, o acusador ficará sujeito a castigo.
"Publicado em Éfeso, no concilio da Ásia."
8.
Que assim sucederam as coisas é
atestado pelo bispo da igreja de Sardes, Meliton, célebre
naquela época, pelo que se percebe na Apologia que dirigiu ao imperador Vero
em favor de nossa doutrina.
XIV - O que se recorda sobre
Policarpo, discípulo dos apóstolos
1.
Nos tempos aludidos e estando
Aniceto à cabeça da igreja de Roma, conta Irineu que Policarpo ainda vivia e que
veio a Roma para conversar com Aniceto por causa de certa questão acerca do dia
da Páscoa.
2.
O mesmo escritor nos transmite outro relato acerca de
Policarpo, que é necessário acrescentar ao que dele se disse. É o que segue:
Tomado do Livro III dos de Irineu contra as
heresias.
3. "E também Policarpo. Não somente foi instruído pelos apóstolos e
conviveu com muitos que haviam visto o Senhor, mas também foi
instituído bispo da Ásia pelos apóstolos, na igreja de Esmirna. Nós inclusive o
vimos em nossa idade juvenil.
4. Já que viveu
muitos anos e morreu muito velho, depois de dar glorioso e esplêndido testemunho. Sempre ensinou o que havia
aprendido dos apóstolos, que é também o que a Igreja transmite e o
único que é verdade.
5.
Disto dão testemunho todas as igrejas da Ásia e os que até
hoje sucederam a Policarpo, que é um testemunho da verdade muito mais digno de
fé e muito mais seguro que Valentim, que Márcion e que o resto, de juízo
corrompido. E estando de passagem por Roma nos tempos de Aniceto, reconduziu
muitos dos hereges acima mencionados à igreja de Deus, pregando-lhes que única
e exclusivamente havia recebido dos apóstolos esta verdade: o que transmite a
Igreja.
6.
E há quem o tenham ouvido dizer que João, o discípulo do Senhor,
indo banhar-se em Éfeso e tendo visto Cerinto nos banhos, saltou para fora das
termas sem ter-se banhado e disse: "Fujamos, não ocorra que também as
termas venham abaixo por estar dentro Cerinto, o inimigo da verdade[4]."
7.
E o mesmo Policarpo, quando uma vez
Márcion fez-se encontrar e lhe disse: "Reconhece-nos", respondeu-lhe: "Reconheço-te. Reconheço o primogênito de Satanás."
Era tal a cautela que tinham os apóstolos e seus discípulos para não
comunicar-se sequer por palavra com nenhum falsificador da verdade, que o próprio Paulo disse: Ao herege,
depois de primeira e segunda advertência,
rechaça-o, pois sabes que este está perdido e peca, condenando a si
mesmo[5]."
8.
"Há também uma carta de
Policarpo, escrita aos filipenses, importantíssima, pela qual podem
conhecer a índole de sua fé e sua mensagem da verdade aqueles que o queiram e
que se preocupam com sua própria salvação."
9. Isto disse Irineu. Quanto a Policarpo, na mencionada carta sua aos
filipenses, conservada até o presente, faz uso de alguns testemunhos tomados da
primeira carta de Pedro.
10. A Antonino, o chamado Pio, depois de cumpridos seus vinte e dois anos de governo, sucedeu seu filho Marco Aurélio Vero, também chamado Antonino, junto com seu
irmão Lúcio.
1.
O
que mais te chamou a atenção neste texto?
2.
O
que o texto contribui para a sua espiritualidade?
Desenho da
Capa: Policarpo de Esmirna (69-155) foi um bispo
cristão de Esmirna do século II. De acordo com a obra "Martírio de
Policarpo", ele foi apunhalado quando estava amarrado numa estaca para ser
queimado-vivo e as chamas milagrosamente não o tocavam. Foi discípulo do
Apóstolo João conforme Irineu de Lyon.
[2] Eusébio
não chega a se entender com os nomes nem com os títulos dos imperadores, pois
anuncia uma carta de Antonino mas o cabeçalho é de Marco Aurélio, e ainda assim
com falhas.
[3] Se a
carta é de Marco Aurélio, como indica o cabeçalho, refere-se a Antonino, mas se
o autor é Antonino, alude a Adriano.
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