Uma “mãe em Cristo”, Madre Basilea, que fundou a Irmandade Evangélica de Maria após a Segunda Guerra Mundial na Alemanha, faleceu no dia 21 de março, com a idade de 96 anos.
Depois de uma vida longa e frutífera, marcada pelo sofrimento, mas também por uma paixão imensa por Jesus, e por um discipulado de total comprometimento com Deus, Basilea Schlink partiu para a glória, deixando um exemplo duradouro de confiança implícita no Pai celestial e de obediência à direção do Espírito Santo.
Filha de um professor de matemática, Klara Schlink foi criada em Braunschweig, na Alemanha, e tornou-se cristã fervorosa com a idade de 17 anos. Formou-se como professora de pré-escola e líder de juventude, completou estudos num instituto bíblico, e em 1934, tirou seu doutorado em psicologia na Universidade de Hamburg.
Schlink e sua colega luterana, Erika Madauss, tomaram uma corajosa posição cristã, durante o regime de Hitler. Quando era a presidente nacional do “Movimento Cristão das Estudantes Alemãs” (1933-35), Schlink recusou-se a compactuar com a política nazista, que impedia aos judeus cristãos de participarem de encontros e reuniões.
Durante a II Guerra Mundial ela arriscou a vida e a carreira, falando publicamente sobre o destino singular de Israel, o povo de Deus. Convocada duas vezes a comparecer perante a polícia nazista (a Gestapo) pelo fato de proclamar o senhorio de Jesus Cristo, permitiram-lhe que saísse ilesa, a despeito de sua firme postura. Madauss mantinha estudos da Bíblia para jovens e também ensinava-lhes o Antigo Testamento, que era proibido durante o regime de Hitler.
Em 11 de setembro de 1944, depois da cidade de Darmstadt ser praticamente destruída por bombardeios, causando mais de 12 mil mortos, algo tremendo aconteceu. Durante anos, Schlink e Madauss haviam orado por avivamento entre as moças dos seus grupos de estudo bíblico. Agora suas orações foram respondidas de modo bem diferente do que esperavam. Naquela noite as moças encontraram com Deus em sua santidade como Juiz e Senhor da vida e da morte. Nada podia ser escondido, nenhum cristianismo morno podia permanecer na sua santa presença.
Depois daquela noite de terror, houve um mover entre estas moças para trazer o pecado à luz e receber perdão. O momento havia chegado. Das cinzas surgiu nova vida.
Foi somente em março de 1947 que Schlink e Madauss finalmente puderam realizar sua visão de estabelecer a Irmandade. A cerimônia inaugural foi realizada no lar dos pais de Schlink em Darmstadt, na Casa Steinberg, que permanecera quase intacta apesar dos bombardeios de 1944.
Schlink assumiu o nome religioso de Madre Basilea, enquanto Madauss tornou-se Madre Martyria. As duas trabalharam juntas até a morte da Madre Martyria em 1999.
Schlink assumiu o nome religioso de Madre Basilea, enquanto Madauss tornou-se Madre Martyria. As duas trabalharam juntas até a morte da Madre Martyria em 1999.
O co-fundador, Paul Riedinger, um pastor da Igreja Metodista, deu à Irmandade o nome de Maria, a mãe de Jesus, que exemplificava a fé e a dedicação à vontade de Deus, seguindo Jesus até à cruz. As primeiras Irmãs eram na maioria da igreja luterana, mas atualmente a Irmandade conta com membros de muitas denominações evangélicas, procedentes de 18 nacionalidades.
Dois anos depois da sua fundação, quando a Casa Steinberg não estava mais cabendo a Irmandade, e com apenas 30 marcos alemães em caixa, a comunidade começou a construir um novo centro que seria chamado de Canaã, aproveitando tijolos resgatados dos escombros da cidade.
Até hoje os visitantes neste centro da Irmandade são recebidos por uma faixa proclamando: “Edificado somente com a ajuda do Senhor, que fez os céus e a terra—pela fé em Jesus Cristo”.
Na época, foi levantada uma tenda ao lado do local da construção, para que a casa de Deus fosse apoiada em oração, além de serviço braçal. As pessoas se revezavam na tenda numa corrente de oração, a fim de apresentar a Deus todas as suas necessidades. E Deus supria todos os materiais, mesmo na dificuldade daquela Alemanha pós-guerra.
Qualquer problema, acidente ou revés durante a construção, levava toda a equipe de irmãs para a tenda para saber por que o Senhor estava retendo sua bênção. À medida que tensões ocultas e irritações eram trazidas à luz, elas pediam perdão umas das outras, e do Senhor. E as coisas voltavam a engrenar. Por longo tempo depois da construção terminada, quando a tenda já não existia mais, as lições de orações respondidas, de como andar na luz, e viver pela fé permaneciam firmes nas vidas dos participantes. Hoje as comunidades da Irmandade, em todos os países onde estão, dependem de Deus não só para ampliação ou estruturação, mas para seu sustento diário. Totalmente dependentes da bondade e fidelidade do Pai celestial, seja em missões de apenas duas pessoas, seja em centros maiores, onde se cozinha para mais de duzentas pessoas, existem abundantes testemunhos de como o Senhor supriu, às vezes de maneiras bem originais.
Uma visita da Madre Basilea ao Monte Sinai em 1963 resultou nos “Preceitos de Canaã”, uma aplicação prática dos Dez Mandamentos e do Sermão da Montanha. Amar, perdoar, compartilhar, dar a outra face, confiar em Deus em todas as situações — estas são as leis que Deus deu para o reino do céu. Elas funcionam. Quando todo um grupo as segue, em amorosa obediência, ele faz ali a sua morada, conforme prometeu (João 14.23).
Entre os preceitos de Canaã estão estes dois fundamentos:
• Arrependa-se diariamente—e você terá cada dia um gostinho do Reino dos Céus. E quanto maior for o seu arrependimento, tanto mais amplamente abrir-se-lhe-ão os portais para o Reino dos Céus. Salmo 51.7,8.
• Dirija-se àquele contra quem você tenha algo em seu coração — ou ele contra você — e reconcilie-se, e a oração alcançará os céus e terá poder. Mateus 5.23,24.
Além de formar irmandades, que fossem lugares onde o mundo pudesse encontrar o reino de amor que só Deus pode gerar, a vida e obra de Basilea Schlink produziu outros frutos importantes.
Depois da Segunda Guerra Mundial, ela procurou identificar-se com a culpa do seu país, visitando os lugares das atrocidades nazistas nos países vizinhos, e buscando reconciliação com os tchecos, os poloneses e outros, especialmente, os judeus. Em vários lugares, placas de reconciliação foram colocadas, expressando tristeza por esses crimes.
Ela cria fortemente que havia uma ligação entre o Holocausto e a divisão do país da Alemanha. Considerava a divisão da nação um castigo pelas atrocidades cometidas pelos alemães contra os judeus. Falava da “maldição da falta de arrependimento pela culpa para com Israel”.
Como cidadã do seu país, ansiava por corrigir os pecados daquele passado, no espírito de Daniel 9, e por encontrar maneiras práticas de expressar o amor pelo povo escolhido de Deus. Isto a levou, em 1961, a inaugurar uma pequena casa para hóspedes, em Jerusalém, para sobreviventes do Holocausto, que continua sob a liderança da Irmandade. O objetivo ali é compartilhar a dor daqueles que talvez jamais consigam se esquecer dos traumas que sofreram, e orar com eles para que se sintam como se estivessem repousando no seio de Abraão, e para que experimentem a paz do Todo-Poderoso. Passagens das Escrituras são lidas, mostrando que Deus jamais se esqueceu do seu povo em todos seus sofrimentos, e que jamais se esquecerá da sua aliança, que é eterna.
Outro aspecto da sua obra foi iniciada durante as décadas de 1950 e 1960, que era a construção de “pontes” entre cristãos de diferentes denominações, principalmente católicos, ortodoxos e coptas, segundo o último pedido de Jesus em João 17. Por cima das barreiras denominacio- nais e nacionais, laços de comunhão foram estabelecidos, porque, como ela dizia: “Quanto mais perto estivermos do coração amoroso de Deus, tanto mais perto estaremos uns dos outros.”
Finalmente, procurando expressar o amor por Jesus, e de Jesus para o mundo, que é o cerne de todo verdadeiro ministério, Madre Basilea transmitiu esta mensagem de todas as maneiras possíveis ao seu alcance. Livros e panfletos de Canaã foram traduzidos e distribuídos em mais de 60 idiomas. Há aproximadamente 300 transmissões radiofônicas, semanalmente, em 12 línguas. Uma variedade de programas de vídeo em 23 línguas já foi transmitida em todos os cinco continentes, por centenas de estações.
Dos Bálcãs, dilacerados pela guerra, até os campos mortíferos de Ruanda, essa literatura tem alcançado áreas consideradas inacessíveis. No auge da Guerra Fria, os livros da Madre Basilea eram secretamente copiados a mão e passados entre as pessoas na antiga União Soviética e nos satélites da Europa Oriental. Desde que a Cortina de Ferro se abriu, livros, folhetos e textos curtos aos milhões encontraram seu caminho nesses países. Cartas vindas do mundo todo contam de detentos nas prisões aceitando a Jesus; casamentos refeitos; viciados em drogas sendo libertados do vício, e jovens sendo libertados de práticas de bruxarias e de ocultismo.
Em Cuba, famílias inteiras reúnem-se com seus vizinhos em torno de um rádio para sintonizar estes programas. Cristãos na China baseiam-se nas transmissões de rádio de Canaã para os seus ensinos. Na Austrália e nos EUA, os vídeos de Canaã são, freqüentemente, um aspecto popular da televisão durante o Natal e a Páscoa.
Entre suas obras literárias maiores está o livro “Para Ele Todo o Meu Ser”, de onde foi extraído um devocional na edição nº 11 da revista Impacto, e que expressa em maiores detalhes a mensagem da sua vida.
Uma de suas passagens favoritas da Bíblia era: “Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21). Como boa semente que era pela graça de Deus, sua vida continuará a frutificar e trazer glória a Jesus através das pessoas que foram marcadas, e das literaturas que foram e que ainda serão publicadas.
Para maiores informações e contatos diretos com a Irmandade Evangélica de Maria, verifique o website internacional: www.kanaan.org, ou o endereço da Irmandade no Brasil: Caixa Postal 440; 80011-970 Curitiba, PR; e-mail: canaan @bsi.com.br
Fonte: https://www.revistaimpacto.com.br/biblioteca/uma-vida-de-impacto-m-basilea-schlink/
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