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História
Eclesiástica de Eusébio de Cesareia
Livro
VII – Capítulos 30 a 32
XXX[1]
XXXI - Da heterodoxa perversão
dos maniqueus, iniciada precisamente então.
XXXII - Dos varões eclesiásticos que se distinguiram em
nosso tempo e quais deles viveram até o ataque às
igrejas.
XXX[2]
1.
Então os pastores ali reunidos com
o mesmo fim escrevem de comum acordo uma só
carta dirigida pessoalmente a Dionísio, bispo de Roma, e a Máximo, da de
Alexandria, e a transmitem a todas as províncias, pondo a claro para todos seu
próprio zelo e a perversa heterodoxia de Paulo, assim como os argumentos e
perguntas que haviam brandido contra ele, e expondo ainda com detalhe toda a
vida e conduta daquele homem. Talvez seja bom citar nesta obra, para fazer
memória, as seguintes palavras suas:
2.
"A Dionísio, a Máximo, a todos
nossos colegas no ministério por todo o mundo
habitado: bispos, presbíteros e diáconos, e a toda a Igreja católica que está sob o céu, Heleno, Himeneo, Teófilo,
Teotecno, Máximo, Proclo, Nicomas,
Eliano, Paulo, Bolano, Protógenes, Hieraco, Eutiquio, Teodoro, Malquion,
Lúcio e todos os demais que conosco habitam as cidades e povoações vizinhas, bispos, presbíteros, diáconos
e as igrejas de Deus: aos amados irmãos, saúde no Senhor".
3.
Pouco depois disto, acrescenta o
seguinte:
"Escrevíamos e ao mesmo tempo exortávamos a
muitos, inclusive a bispos de longe, a
vir e curar este mortífero ensinamento, assim como também aos benditos Dionísio o de Alexandria e Firmiliano de Capadócia. Destes, o primeiro escreveu uma carta a Antioquia, não
considerando o autor do erro digno nem de uma saudação, pelo que não lhe
escreveu pessoalmente, mas a toda a comunidade; desta carta anexamos uma
cópia.
4. Firmiliano,
por outro lado, que inclusive veio duas vezes, condenou certamente as
inovações daquele - como sabemos e atestamos os que estavam presentes e o sabem
também muitos outros -, mas como Paulo prometera mudar, ele, crendo e esperando que o assunto se arranjaria
oportunamente
sem desdouro para a doutrina, o foi deferindo, enganado pelo homem que negava a seu próprio Deus e Senhor e não observava a fé que anteriormente ele mesmo possuía.
sem desdouro para a doutrina, o foi deferindo, enganado pelo homem que negava a seu próprio Deus e Senhor e não observava a fé que anteriormente ele mesmo possuía.
5.
Mas agora
Firmiliano estava já a ponto de chegar a Antioquia e havia chegado concretamente até Tarso, pois havia experimentado a maldade negadora de
Deus daquele homem; mas no intervalo, estando nós outros reunidos chamando-o e
esperando que chegasse, alcançou-o a morte."
6.
E depois de outras coisas,
novamente descrevem a vida e a conduta de Paulo nos seguintes termos:
"Desde o ponto em que se afastou da regra e
passou a ensinamentos falsos e bastardos,
não se devem julgar as ações do que está fora[3];
7.
nem sequer
pelo fato de que, sendo primeiramente pobre e mendigo e não havendo recebido de
seus pais riqueza nenhuma nem havendo-a adquirido mediante um ofício ou
qualquer ocupação, agora chegou a uma excessiva opulência proveniente de suas
ilegalidades, de seus roubos sacrílegos e do que pede e suga dos irmãos, defraudando os que foram vítimas de injustiça
e prometendo ajuda por um salário: em realidade, enganando também estes e tirando proveito sem razão da facilidade com que dão os que estão em apuros apenas para se libertarem do incômodo, já
que ele considera a religião como fonte de lucros[4];
8.
tampouco
porque tem pensamentos altivos e se orgulha de estar investido com dignidades mundanas, preferindo que o chamem ducenário do que bispo, avançando jactancioso pela praça e lendo e
ditando cartas enquanto passeia em
público, escoltado por guardas muito numerosos, uns precedendo-o e
outros seguindo-o; o resultado é que a própria fé se vê desprezada e odiada por
causa de sua ostentação e do orgulho de seu coração;
9. e tampouco se devem julgar os jogos de prestidigitação
que organizava nas reuniões eclesiásticas aspirando a glória, deslumbrando a
imaginação e ferindo com estas coisas as almas dos mais simplórios. Fez
preparar para si uma tribuna e um trono elevado - não como discípulo de Cristo
-, e igual aos príncipes do mundo, tinha-e
assim o chamava- seu secretum[5]; com
a mão golpeava a coxa e com os pés batia na tribuna. E aos que não o aprovavam nem agitavam os lenços, como nos
teatros, nem lançavam gritos nem se
levantavam de um salto junto com seus sequazes, homens e mulheres que
nesta desordem o ouviam, e, portanto, aos que o escutavam com gravidade e em
boa ordem, como na casa de Deus, a estes desprezava e insultava. E aos intérpretes da doutrina que partiram desta vida ele
insultava em público grosseiramente,
enquanto que de si mesmo falava com grande ênfase, não como um bispo, mas como
um sofista e um charlatão.
10. Fez
também que cessassem os salmos em honra de nosso Senhor Jesus Cristo,
porque dizia que eram modernos e obra de homens bastante modernos; em troca,
preparou umas mulheres para que em sua honra salmodiassem
em meio a igreja no grande dia de Páscoa. É de estremecer-se ouvindo-as! E que
coisas deixava que os bispos e presbíteros tratassem em suas homílias ao povo dos campos e cidades
limítrofes, seus aduladores!
11. Porque ele não quer confessar conosco que o Filho de
Deus desceu do céu (isto para expor de antemão algo do que
escreveremos, e que não o diremos como
simples afirmação, mas que será demonstrado com muitas passagens dos documentos que vos enviamos, e sobretudo aquele em
que se diz que Jesus Cristo é de baixo); mas aqueles,
quando lhe cantam salmos e o louvam ante
o povo, afirmam que seu ímpio mestre desceu como anjo do céu. E ele não só não impede isto, mas até, em sua soberba,
acha-se presente quando o dizem.
12. Quanto às mulheres subintroductas - como as
chamam os antioquenhos -, as dele e as dos presbíteros e
diáconos de seu séquito, aos quais ajuda a ocultar
este e os demais pecados incuráveis, já de plena consciência e com provas
convincentes para tê-los a sua mercê e para que, temendo por si mesmos, não se atrevam a acusá-lo das injustiças
que comete por palavra e por obra -
e mais, inclusive tornou-os ricos, pelo que o querem e admiram os que se perdem
por tais coisas... -, por que haveríamos de escrever isto?
13. Ainda assim, sabemos, queridos, que o bispo e o clero inteiro devem ser para a multidão um exemplo[6]
de toda obra boa[7], e não
ignoramos tampouco quantos caíram
por ter introduzido para si mulheres, enquanto outros tornaram-se suspeitosos, tanto que, mesmo
concedendo-lhe que nada fazia de
indecoroso, não obstante era necessário ao menos precaver-se contra a suspeita que nasce de um tal assunto, para não
escandalizar ninguém e evitar que outros o tentem.
14. Porque, como poderia repreender e advertir outro para que não coabite mais
sob o mesmo teto com uma mulher e se guarde de cair, como está escrito[8],
um que já afastou uma de si, mas que tem consigo duas em plena juventude e de boa aparência, e que, se vai para
outro lugar, para lá as leva consigo, e isto com desperdício de luxo?
15. Por causa disto choram todos e se lamentam dentro de si mesmos, mas é tanto o temor à tirania e poder dele que ninguém
se atreve a uma acusação.
16.Mas, como já dissemos, disto poderíamos corrigir um
homem que tivesse ao menos um pensamento católico e se contasse entre nós, mas
de um que traiu o mistério[9]
e se pavoneia da abominável heresia de Artemas (por que, de fato, não seria necessário manifestar
quem é seu pai?) cremos que não se pode pedir contas de tudo isto."
17. Logo, ao final da carta, acrescentam:
"Por conseguinte, ao seguir opondo-se a Deus e
não ceder, vimo-nos forçados a excomungá-lo
e a estabelecer em seu lugar para a Igreja católica - segundo providência de Deus, estamos convencidos - outro bispo, Domno, o filho do
bem-aventurado Demetriano - este havia presidido antes daquele, de forma notável, esta mesma igreja -, varão
adornado com todas as qualidades que
convém a um bispo. E isto vos manifestamos para que lhe escrevais e recebais dele as cartas de comunhão. Quanto ao
outro, que escreva a Artemas e que
tenham comunhão com ele os que pensem como Artemas[10]."
18. Assim pois, caído Paulo do episcopado e da ortodoxia de
sua fé, sucedeu-o Domno, como foi dito, no ministério da igreja de Antioquia.
19. Mesmo assim, como Paulo não quisesse de modo algum sair
do edifício da igreja, o imperador Aureliano, a quem
se solicitou, decidiu muito oportunamente o que deveria ser feito, pois
ordenou que se outorgasse a casa àqueles com
quem estivessem em correspondência epistolar os bispos da doutrina da Itália e da cidade de Roma. Assim é que o homem antes mencionado, para
extrema vergonha sua, foi expulso da igreja pelo poder mundano.
20. Assim era para conosco Aureliano, pelo menos por
então. Mas, já avançado seu império, mudou de pensamento sobre
nós e se deixava excitar por certos conselhos
para que suscitasse uma perseguição contra nós. Eram muitos os rumores sobre este ponto em todos os ambientes.
21. Mas, quando estava a ponto de fazê-lo e, por assim dizer, já assinava os decretos contra nós, a justiça divina o alcançou,
retendo-o no ato como que amarrando-lhe
os braços[11]. Com isto
permitiu a todos ver claramente que nunca
os poderes desta vida teriam facilidade contra as igrejas de Cristo se a
mão que nos protege, por juízo divino e celeste, para nossa instrução e conversão, não permitisse[12]
que isto se levasse a cabo nos tempos que ela julga bons.
22. Assim pois, a Aureliano, que
exerceu o poder durante seis anos, sucede Probo,
e a este, que o deteve mais ou menos os mesmos anos, Caro, junto com
seus filhos Carino e Numeriano. E tendo estes por sua vez durado outros três
anos incompletos, o poder absoluto passa a Diocleciano e aos que foram
introduzidos depois dele por adoção, sob os quais levou-se a
cabo a perseguição de nosso tempo e nela a destruição das igrejas.
cabo a perseguição de nosso tempo e nela a destruição das igrejas.
23. Agora bem, muito pouco tempo antes disto, Félix sucede no ministério ao bispo de Roma Dionísio, que nele havia passado nove anos.
XXXI - Da heterodoxa perversão
dos maniqueus, iniciada precisamente então
1.
Neste tempo, também aquele louco,
epônimo da endemoninhada heresia, armava-se do extravio da razão; o demônio, sim,
o próprio Satanás, adversário de Deus, empurrava aquele homem para ruína de
muitos. Sendo como era bárbaro em sua vida, por sua própria fala e seus
costumes, e demoníaco e demente por natureza, empreendia façanhas em consonância
com isto e tentava fazer o papel de Cristo, ora proclamando-se a si mesmo Paráclito[13]
e Espírito Santo em pessoa[14],
inflado por sua loucura, ora elegendo, como Cristo, doze discípulos
co-partícipes de seu novo sistema.
2.
Em realidade,
impingiu umas falsas e ímpias doutrinas a base de remendos recolhidos das inúmeras e ímpias heresias, já há muito
extintas, e desde a Pérsia as foi transmitindo como veneno mortífero até nossa
própria terra habitada, e desde então o
ímpio nome dos maniqueus pulula até hoje entre muitos. Este foi, pois, o fundamento desta gnose de falso nome, que
brotou nos tempos mencionados.
XXXII - Dos varões eclesiásticos que se distinguiram em
nosso tempo e quais deles viveram até o ataque às
igrejas
1.
Por este tempo, havendo Félix
presidido a igreja de Roma durante cinco anos, sucede-o Eutiquiano. Este, que
não sobreviveu dez meses inteiros, deixou o cargo a Caio, contemporâneo nosso,
e havendo este exercido a presidência uns
quinze anos, institui-se como sucessor Marcelino, a quem também
arrebatará a perseguição.
2.
E por estas
datas regia o episcopado de Antioquia, depois de Domno, Timeu, a quem sucedeu Cirilo, contemporâneo nosso. De seu
tempo conhecemos Doroteu, varão douto e julgado digno do presbiterado de
Antioquia. Este foi um amante das coisas divinas e exercitou-se na língua
hebraica, tanto que até podia ler e compreender as próprias escrituras
hebréias.
3.
Ele não era
alheio aos estudos mais liberais, nem à instrução preliminar dos gregos, e além disto era eunuco por natureza, feito
assim já desde seu próprio nascimento, de
maneira que o imperador honrou-o com a administração da tinturaria de púrpura de Tiro.
4.
A este
escutamos explicar as Escrituras com sapiência na igreja. E depois de Cirilo o episcopado da igreja de Antioquia foi
recebido em sucessão por Tirano, em cujos dias o ataque às igrejas alcançou o cume.
5. Já a igreja de Laodicéia, depois de Sócrates, foi governada por Eusébio,
oriundo da cidade de Alexandria. A causa de sua emigração foi o assunto referente a Paulo. Por causa deste subiu à Síria,
e os que nela se ocupavam das coisas
de Deus impediram-no de voltar a sua casa. Para nossos contemporâneos foi um exemplo amável de religião, como
facilmente se descobre nas expressões de Dionísio anteriormente citadas.
6. Foi instituído como seu sucessor Anatolio, um bom que,
como se diz, sucede a outro bom. Também era alexandrino de origem, e por seus
estudos, por sua educação grega e por sua
filosofia alcançou os primeiros postos entre os mais ilustres de nossos
contemporâneos, já que avançou até o cume da aritmética, da geometria,
da astronomia e de toda especulação teórica, da dialética como da física, assim como da retórica. Por esta causa, como
quer uma tradição, os cidadãos de Alexandria o consideraram digno de organizar ali
a escola da sucessão de Aristóteles.
7. Recordam-se, pois, dele, inúmeras outras façanhas de
quando houve o sítio do Piruquío[15],
já que todas as autoridades o consideravam digno de um privilégio especial; mas eu só vou mencionar, como
demonstração, o seguinte.
8.
Dizem que, faltando o trigo aos sitiados,
a ponto de que a fome lhes era mais
insuportável do que os inimigos de fora, o mencionado Anatolio, que se achava
presente, tomou as seguintes disposições. Como a outra parte da cidade estava aliada ao exército romano e não se
encontrava sitiada, Anatolio enviou
uma mensagem a Eusébio, que se encontrava entre os não sitiados (de fato ainda
estava ali, antes de sua emigração para a Síria) e cuja glória e famoso
nome haviam chegado até o general em chefe dos romanos, e informou-o dos que pereciam de fome ao largo do
assédio.
9.
Este, assim
que o soube, pediu ao general romano, como um enorme favor, que garantisse a segurança aos desertores do campo inimigo. E quando conseguiu sua petição, fê-lo saber a Anatolio.
Este, imediatamente depois de receber
a promessa, reuniu o conselho dos alexandrinos. Começou pedindo a todos
que oferecessem sua destra aos romanos em sinal de amizade, mas assim que viu
que sua promessa os enfurecia, disse: "Mesmo assim, creio que ao menos nisto não me sereis contrários,
se vos aconselhar a pôr para fora das portas pelo menos as pessoas
supérfluas e absolutamente inúteis, anciãs,
crianças e anciãos, e que se vão para onde queiram. Por que vamos tê-los
entre nós inutilmente se não for já para morrer? E para que estamos esgotando pela fome os enfermos e
quebrantados de corpo, já que nos é necessário alimentar apenas aos
homens e aos jovens, e reservar o trigo necessário para os que são capazes de
guardar a cidade?"
10. Com tais arrazoados conseguiu persuadir o conselho, e levantando-se o primeiro, votou um decreto: despedir da cidade
todo aquele que não fosse apto para
o serviço militar, homem ou mulher, já que não havia esperança de salvação para
os que ficassem na cidade e nela passassem o tempo sem utilidade alguma,
pois morreriam de fome.
11. E deste modo, quando todos os demais do conselho emitiram o mesmo voto, faltou muito pouco para que salvassem a
todos os sitiados. Preocupou-se de
que primeiro fugissem os que procediam da igreja, e logo também os demais que estavam na cidade, de qualquer idade
que fossem. E não somente dos que caíam dentro do decreto, mas também, com o
pretexto destes, muitos outros que,
secretamente disfarçados de mulher e por cuidado daquele, saíam à noite das portas e lançava-se ao exército
romano. Ali Eusébio recebia a todos,
e como um pai e médico, com todo tipo de providências e de cuidados, restaurava
os maltratados pelo longo assédio.
12. De tais pastores foi digna a igreja de Laodicéia, onde
os dois se sucederam depois que emigraram para lá desde a
cidade de Alexandria, com a ajuda da providência divina, ao
terminar a mencionada guerra.
13. Na verdade não são muitas as obras compostas por
Anatólio, mas chegaram a nós as suficientes para poder
perceber através delas sua eloqüência e sua grande
erudição. Nelas apresenta sobretudo suas opiniões acerca da Páscoa, das quais quiçá seja necessário mencionar na presente obra o seguinte:
Extrato dos Cânones de Anatólio sobre a Páscoa.
14. "Toma pois no primeiro ano o novilúnio do primeiro
mês, que é o começo do período de dezenove anos, o 26 de
Famenoz segundo os egípcios, o 22 de
Distro, segundo os meses dos macedônios e, como diriam os romanos, o undécimo antes das calendas de abril.
15. O sol encontra-se no mencionado dia 26 de Famenoz, não
apenas entrado no primeiro segmento, mas no quarto dia
de sua passagem por ele. Costuma-se
chamar este segmento o primeiro dodecatemórion, equinócio, começo dos meses, cabeça do ciclo e largada do curso dos planetas. O que o precede é o último dos meses, o duodécimo seguinte,
último dodecatemórion e final
do curso dos planetas. Por isso dizemos que erram muito e gravemente os
que situam nele o primeiro mês, e em conseqüência, tomam o décimo quarto dia
como o dia da Páscoa.
16.
Não é esta
nossa doutrina; mas os judeus antigos já a conheciam, inclusive de antes de Cristo, e a guardavam com todo esmero.
Pode-se saber pelo que disseram Fílon, Josefo e Museo, e não
somente estes, mas também os que são mais antigos, os
dois Agatóbulos, conhecidos como os mestres de Aristóbulo, o famoso, que foi
dos Setenta que traduziram para Ptolomeu Filadelfo
e para o pai deste as sagradas e divinas Escrituras[16]
dos hebreus e dedicou aos próprios reis livros de exegese da lei de
Moisés.
17. Estes, ao resolverem os problemas do Êxodo, dizem que todos devem sacrificar a Páscoa por igual, depois do
equinócio de primavera, em meados do primeiro mês, e isto se encontra
quando o sol atravessa o primeiro segmento
da elíptica solar ou - como alguns deles a nomeiam - do zodíaco. Por sua parte, Aristóbulo acrescenta que na festa
da Páscoa não somente o sol, mas
também a lua, deve forçosamente atravessar o segmento equinocial,
18. porque, sendo os dois segmentos equinociais - um da
primavera e outro do outono -, diametralmente opostos entre
si, e dado que o dia da festa pascal é o décimo quarto do mês, à tarde, a lua
tomará a posição diametralmente oposta
com respeito ao sol, como efetivamente se pode ver nos plenilúnios; e então o
sol estará no segmento equinocial da primavera, e a lua, forçosamente, no segmento equinocial do outono.
19. Sei que estes homens disseram também muitas outras
coisas, ora verossímeis, ora avançadas, conforme rigorosas demonstrações, por meio das
quais tentavam estabelecer que a festa da Páscoa e dos ázimos deveria a todo
custo ser celebrada depois do equinócio. Mas eu passo por alto pedir tais materiais de demonstração a aqueles para os quais
o véu que cobria a lei de Moisés foi retirado e adiante já podem
contemplar sempre com o rosto descoberto a
Cristo e os ensinamentos e os sofrimentos de Cristo[17].
Agora bem, que entre os hebreus o
primeiro mês cai em torno do equinócio, dão a entender até os
ensinamentos do livro de Enoque."
20. E ele mesmo deixou também umas Introduções
aritméticas em dez livros inteiros, e outras provas de seu
estudo assíduo e grande experiência das coisas divinas.
21. O bispo de Cesaréia da Palestina, Teotecno, foi o
primeiro que lhe impôs as mãos para o
episcopado, buscando de antemão procurar para sua igreja um sucessor seu para depois da morte. E, efetivamente,
por breve espaço de tempo ambos presidiram a mesma igreja, mas
tendo sido chamado a Antioquia pelo concilio
reunido contra Paulo, ao passar pela cidade de Laodicéia, os irmãos dali
retiveram-no em seu poder, por ter morrido Eusébio.
22. Mas tendo partido desta vida também Anatólio, nomeia-se
Estevão, último bispo daquela igreja antes da
perseguição. Admirado por muitos em razão de
suas doutrinas filosóficas e de toda sua cultura grega, não tinha, porém, as mesmas disposições a respeito da fé divina, como
demonstrou o transcurso da perseguição, que pôs a descoberto o
homem solapado, covarde e pouco viril, mais que o
verdadeiro filósofo.
23. Mas
não por isso iria a igreja arruinar-se; antes o próprio Deus e salvador de
todos a restabeleceu, fazendo que imediatamente se proclamasse bispo daquela igreja a Teodoto, um homem que com suas
próprias obras tornava realidade o que seu nome e o de bispo significam[18].
Efetivamente, em primeiro lugar
destacava-se na ciência que cura os corpos; mas na terapêutica
das almas não teve igual, por seu amor aos homens, sua nobreza, sua compaixão e seu zelo em ser útil aos que necessitavam dele. Também havia se exercitado muito no que tange aos ensinamentos divinos.
das almas não teve igual, por seu amor aos homens, sua nobreza, sua compaixão e seu zelo em ser útil aos que necessitavam dele. Também havia se exercitado muito no que tange aos ensinamentos divinos.
Assim era Teodoto.
24. Em Cesaréia da Palestina, Teotecno, que havia exercido
com toda solicitude seu episcopado, é sucedido por Agapio, de quem sabemos que
lutou muito, despendendo a mais generosa providência na proteção do
povo e cuidando de todos com mão abundante, especialmente dos pobres.
25. Em seu tempo conhecemos a Panfilo, homem muito distinto, verdadeiro
filósofo por sua própria vida e considerado digno do presbiterado da comunidade local. Não seria um tema pequeno
mostrar quem era e de onde procedia, mas cada aspecto de sua vida e da escola
que ele constituiu, assim como seus combates em diferentes confissões
quando da perseguição e a coroa do martírio
que se cingiu ao fim de tudo, explicamos com pormenores em obra especial
sobre ele[19].
26. Pois bem, este foi o mais admirável de todos os daqui.
Mesmo assim, entre os mais próximos a nosso tempo sabemos
de homens de mui rara qualidade: Pierio,
um presbítero de Alexandria, e Melicio, bispo das igrejas do Ponto.
27. O primeiro se fez notar por uma vida inteiramente pobre e por seus
conhecimentos filosóficos, tendo-se exercitado extraordinariamente em especulações e comentários acerca das coisas
divinas e em homílias públicas na igreja. E Melicio (o mel de Ática
chamavam-no as pessoas instruídas) era como
alguém o descreveu: o mais perfeito por sua doutrina. É impossível admirar-se como merece o vigor de sua retórica,
mas podia-se dizer que ele o tinha
por natureza. E quanto à perícia no restante e à vasta erudição, quem poderia
superar sua excelência?
28. Antes que o provasses uma só vez, dirias que era o homem mais hábil e mais firme em todas as ciências da razão. Além
disso, sua vida virtuosa estava também à altura. Nós o observamos
durante sete anos completos quando, por
ocasião da perseguição, andou fugitivo de uma lado para outro pelas
regiões da Palestina.
29.
Na igreja de
Jerusalém, depois de Himeneo - o bispo mencionado pouco acima -, recebe o ministério Zabdas. Morto este não muito depois, recebe
em sucessão o trono apostólico, ali conservado ainda até hoje, Hermon, último
bispo até a perseguição de nossos tempos.
30. E em Alexandria é Teonas que sucede a Máximo, que
exerceu o episcopado depois da morte de Dionísio por dezoito anos. Em seu tempo
era célebre em Alexandria Aquilas,
considerado digno do presbiterado junto com Pierio. Estava encarregado da escola da fé sagrada[20]
e deu provas de uma obra filosófica
de mui rara qualidade, não inferior à de ninguém, e de uma conduta genuinamente
evangélica.
31. E depois de Teonas, que serviu durante dezenove anos,
recebe em sucessão o episcopado dos alexandrinos Pedro, que também se distinguiu
muito especialmente durante doze anos inteiros. Tendo empregado os três primeiros
anos anteriores à perseguição, não completos, em governar a igreja, pelo resto de sua vida entregou-se a uma ascese muito
mais vigorosa, e sem ocultar-se, velava pelo proveito comum das igrejas, e assim
foi como no nono ano da perseguição foi decapitado e adornou-se com a coroa do
martírio.
32. Depois de haver descrito nestes livros o tema das
sucessões, desde o nascimento de nosso Salvador até a destruição dos oratórios, o que
abarca uns trezentos e cinco anos, em
continuação vamos deixar por escrito, para que o saibam aqueles que vierem depois de nós, quantos e de que índole foram
os combates dos que em nossos dias portaram-se virilmente na defesa da
religião.
O que te chamou mais atenção neste texto?
O que serviu para sua espiritualidade?
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