terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

4 - Inácio de Antioquia (35-107) Carta a Esmirna

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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Inácio de Antioquia (35-107)
Carta a Esmirna

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Inácio de Antioquia (†110) foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por Pedro. Conheceu pessoalmente Paulo e João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas às igreja de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.

Carta aos Esmirnenses
Esta carta foi escrita em Trôade, aproximadamente em 107 d.C. e foi destinada aos cristãos de Esmirna.
É o texto mais antigo que se tem notícia que utiliza a expressão “Igreja católica” (Esmirniotas 8:2).
Nesta carta Inácio combate a heresia do docetismo, que negava a realidade carnal de Cristo (Esmirniotas 4;5;6).
Como em todas suas cartas, o tema central é a unidade. Inácio exorta para a obediência e submissão ao bispo, mostrando que aquele que não está em comunhão com a hierarquia legitimamente instituída, não está em comunhão com Deus (Esmirniotas 8;9).

Carta aos Cristãos de Esmirna
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja de Deus Pai e de Jesus Cristo amado, Igreja que encontrou misericórdia em todo dom da graça, repleta de fé e amor, sem que lhe falte dom algum, agradabilíssima a Deus e portadora de santidade, situada em Esmirna, na Ásia. Cordiais saudações em espírito irrepreensível e na pa­lavra de Deus.
I. Glorifico a Jesus Cristo, Deus, que vos fez tão sábios. Cheguei a saber efetivamente que estais aparelhados com fé inabalável, como que pregados de corpo e alma na Cruz do Senhor Jesus Cristo, confirmados na caridade no Sangue de Cristo, cheios de fé em Nosso Senhor, que é de fato da linhagem de Davi, segundo a carne, Filho de Deus porém consoante a vontade e o poder de Deus, de fato nascido de uma Virgem e batizado por João, a fim de que se cumpra n’Ele toda a justiça. Sob Pôncio Pilatos, e o tetrarca Herodes foi também de fato pregado (na Cruz), em carne, por nossa causa – fruto pelo qual temos a vida, pela Sua Paixão bendita em Deus – a fim de que Ele por Sua ressurreição levantasse Seu sinal para os séculos em beneficio de Seus santos fiéis, tanto judeus, como gentios, no único corpo de Sua Igreja.

II. Tudo isso padeceu por nossa causa, para obtermos salvação. Padeceu de fato, como também de fato ressuscitou a Si próprio, não padecendo só aparente­mente, como afirmam alguns infiéis. Eles é que só vivem aparentemente, e, conforme pensam, também lhes sucederá: não terão corpo e se assemelharão aos demônios.

III. Eu porém sei e dou fé que Ele, mesmo depois da ressurreição, permanece em Sua carne. Quando se apresentou também aos companheiros de Pedro, disse-lhes: Tocai em mim, apalpai-me e vede que não sou espírito sem corpo. De pronto n’Ele tocaram e creram, entrando em contato com Seu Corpo e com Seu espírito. Por isso, desprezaram também a morte e a ela se sobrepuseram. Após a ressurreição, comeu e bebeu com eles, como alguém que tem corpo, ainda que es­tivesse unido espiritualmente ao Pai.

IV. Encareço tais verdades junto a vós, caríssimos, embora saiba que também vós assim pensais. Quero prevenir-vos contra os animais ferozes em forma humana. Não só não deveis recebê-los, mas, quanto possível, não vos encontreis com eles. Só haveis de rezar por eles, para que, quem sabe, se convertam, coisa por certo difícil. Sobre eles, no entanto, tem poder Jesus Cristo, nossa verdadeira vida. Pois, se nosso Senhor só realizou as obras na aparência, então também eu estou preso só aparentemente. Por que então me entreguei a mim mesmo, à morte, ao fogo, à espada, às feras? Mas estar perto da espada é estar perto de Deus; encontrar-se em meio às feras é encontrar-se junto a Deus, unicamente, porém, quando em nome de Jesus Cristo. Para padecer junto com Ele, tudo suporto, confortado por Ele, que se tornou perfeito homem.

V. Alguns O negam, por ignorância, ou melhor, foram renegados por Ele, por serem antes advogados da morte do que da verdade. A estes não conseguiram converter as profecias, nem a lei de Moisés, nem mesmo até hoje o Evangelho e as torturas de cada um de nos. Pois sobre nós professam eles a mesma opinião. De que me vale um homem – ainda que me louve – se blasfema contra meu Senhor, não confessando que Ele assumiu carne? Quem não o professa negou-O por completo e carrega consigo seu cadáver. Os nomes deles, uma vez que são infiéis, não me pareceu necessário escrevê-los; preferiria até nem lembrar-me deles, enquanto se não converterem à Paixão, que é a nossa Ressurreição.

VI. Ninguém se iluda: mesmo os poderes celestes e a glória dos anjos, até os arcontes – visíveis e in­visíveis hão de sentir o juízo, caso não crerem no sangue de Cristo. Compreenda-o quem for capaz de o compreender. Ninguém se ufane de sua posição, pois o essencial é a fé e o amor, e nada se lhes prefira. Considerai bem como se opõem ao pensamento de Deus os que se prendem a doutrinas heterodoxas a respeito da graça de Jesus Cristo, vinda a nós. Não lhes importa o dever de caridade, nem fazem caso da viúva e do órfão, nem do oprimido, nem do prisioneiro ou do liberto, nem do que padece fome ou sede.

 VII. Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por­que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou. Os que recusam o dom de Deus, morrem disputando. Ser-lhes-ia bem mais útil praticarem a caridade, para também ressuscitarem. Convém, pois, manter-se longe de tais pessoas, deixar de falar delas em particular e em público, e passar toda a atenção aos Profetas, especialmente ao Evangelho, pelo qual se nos patenteou a Paixão e se consumou a Ressurreição. Fugi das dissensões, fonte de misérias.

VIII. Sigam todos ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai; sigam ao presbitério como aos apóstolos. Acatem os diáconos, como à lei de Deus. Ninguém faça sem o bispo coisa alguma que diga respeito à Igreja. Por legítima seja tida tão-somente a Eucaristia, feita sob a presidência do bispo ou por delegado seu. Onde quer que se apresente o bispo, ali também esteja a comunidade, assim como a presença de Cristo Jesus também nos assegura a presença da Igreja católica. Sem o bispo, não é permitido nem batizar nem celebrar o ágape. Tudo, porém, o que ele aprovar será também agradável a Deus, para que tudo quanto se fizer seja seguro e legítimo.

IX. No mais, é razoável voltarmos ao bom-senso, e convertermo-nos a Deus, enquanto ainda for tempo. Bom é tomarmos conhecimento de Deus e do bispo. Quem honra o bispo será também honrado por Deus; quem faz algo às ocultas do bispo presta culto ao diabo. Que tudo redunde em graça a vosso favor, pois bem o mereceis. Vós me confortastes de toda maneira e Jesus Cristo a vós. As provas de carinho me seguiram, presente estivesse eu ou ausente. Que Deus seja a paga, por cujo amor tudo suportais, pelo que também haveis de chegar a possuí-lo.

X. Fizestes bem em receber, como diáconos de Cristo-Deus, a Fílon e Reos Agátopos – que pela causa de Deus me seguiram. Agradecem eles ao Senhor por vós, porque os confortastes de toda a sorte. Nada disso se perderá para vós. Dou-vos como preço de resgate meu espírito e minhas algemas que vós não desprezastes e de que também não vos envergonhastes. Jesus Cristo também de vós não se envergonhará, Ele que é a fé perfeita.

XI. Vossa oração aproveitou à Igreja de Antioquia na Síria, de onde vim preso com grilhões, tão do agrado de Deus, e donde a todos saúdo, embora não seja digno de ser de lá, eu, o menor dentre eles. Mas, pela vontade de Deus, fui tido por digno, não pelo julgamento de minha consciência, mas sim pela graça de Deus. Desejo que ela me seja concedida em sua perfeição, a fim de que eu, por meio de vossa oração, encontre a Deus. No entanto, para que vossa obra seja per­feita, tanto na terra como no céu, cumpre que a Vossa Igreja, para honra de Deus, escolha um seu legado que vá até a Síria, para se congratular com eles, porque gozam novamente de paz, readquiriram sua grandeza e lhes foi restaurado o corpo. É a meu ver de fato obra digna enviardes um legado de vosso meio, com uma carta, a fim de celebrar com eles a paz que lhes foi con­cedida, consoante a vontade de Deus, pois já chegaram ao porto, graças à vossa oração. Sendo perfeitos, pensai também no que é perfeito, pois se tencionais agir bem, Deus está igualmente disposto a vo-lo conceder.

XII. Saúda-vos a caridade dos irmãos de Trôade, donde vos escrevo por intermédio de Burrus, a quem enviastes juntamente com os efésios, vossos irmãos, para me fazer companhia. Animou-me em todo sentido. Todos deveriam imitá-lo como exemplo no serviço de Deus. A graça o recompensará em todo sentido. Saudações ao bispo, digno de Deus, a vosso presbitério tão agradável a Deus, aos diáconos, meus companheiros de serviço a cada um em particular e a todos em geral, em nome de Jesus Cristo, na Sua carne e no Seu sangue, na Paixão e na Ressurreição, em corpo e alma, na unidade de Deus e na vossa. Para vós a graça, a misericórdia, a paz, e a paciência para todo sempre.

XIII. Saudações às famílias de meus irmãos, com suas esposas e filhos e com as virgens, chamadas viúvas. Passar bem na força do Pai. Saudações da parte de Fílon que está comigo. Meus cumprimentos à família de Tavia, a quem desejo se robusteça na fé e na caridade, tanto corporal como espiritual. Saudações a Alceu, nome tão querido, a Dafnos o incomparável e a Eutecno. Enfim, a todos nominalmente. Passar bem na graça de Deus.



Pergunta ao Grupo:
1.      Qual o versículo você deseja destacar na carta a Esmirna?

2.      Quais contribuições poderemos retirar desta carta para a nossa espiritualidade? 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

3 - Santo Inácio de Antioquia (35-107) - Carta à Policarpo

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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Santo Inácio de Antioquia (35-107)
Carta a Policarpo



Patrologia: Vida do Pai da Igreja
Inácio (35-98 ou 107) foi bispo de Antioquia da Síria entre 68 e 107, discípulo do apóstolo João, e que também conheceu o apóstolo Paulo.
Segundo Eusébio de Cesareia (263-339), em seu livro História Eclesiástica, Inácio foi o terceiro bispo de Antioquia da Síria. Com a perseguição da Igreja, Inácio foi detido pelas autoridades e transportado para Roma, onde foi condenado à morte no Coliseu, e foi martirizado por leões.
As autoridades romanas esperavam fazer dele um exemplo e, assim, desencorajar o cristianismo, porém sua viagem a Roma ofereceu-lhe a oportunidade de conhecer e ensinar os conceitos cristãos, e no seu percurso, Inácio escreveu seis cartas para as igrejas da região e uma para um colega bispo, Policarpo. Ao falar sobre sua execução, Inácio disse a famosa expressão: "Trigo de Cristo, moído nos dentes das feras".
Inácio escreveu sete cartas, as chamadas Epístolas de Inácio:
·         Epístola a Policarpo,
·         Epístola aos Efésios,
·         Epístola aos Esmirniotas,
·         Epístola aos Filadélfos,
·         Epístola aos Magnésios,
·         Epístola aos Romanos
·         Epístola aos Trálios.

Inácio orientou a Igreja sobre vários assuntos doutrinários principalmente sobre o respeito ao Bispo, ao Presbítero e ao Diácono, sobre a Trindade, sobre a Eucaristia e o Culto Cristão.
Sobre o dia de Culto, Inácio declara que os cristãos herdeiros da Nova Aliança não guardam mais o sábado, mas se reúnem no dia do Senhor (o domingo).
            Eusébio diz que Inácio escreveu à igreja de Roma uma carta em que expõe sua súplica para que não intercedam por ele, para não privá-lo do martírio, sua sonhada esperança:
            "Oxalá pudesse eu usufruir das feras que me estão preparadas! Espero encontrá-las bem ligeiras para comigo. Chegarei até a adulá-las para que me devorem rapidamente e não me façam o que fizeram a alguns, que por temor não tocaram, e se fazem de preguiçosas e não querem, eu mesmo as forçarei. Perdoai-me. Eu sei o que me convém. Agora estou começando a ser discí­pulo. Que nenhuma coisa visível ou invisível tenha ciúme de que eu alcance a Jesus Cristo. Fogo, cruz e manadas de feras, dispersão de ossos, destroçamento de membros, trituração do corpo todo e tormentos do diabo venham sobre mim, contanto somente que eu alcance a Jesus Cristo." (História Eclesiástica – Livro II – 26.6-9).

Patrística: Escrito do Pai da Igreja

Carta a Policarpo
Esta carta foi escrita em Trôade, proximadamente em 107 d.C..
Esta carta Inácio destina a Policarpo, discípulo do Apóstolo São João e bispo de Esmirna.
A carta trata de recomendações quanto à direção da Igreja e ao combate aos hereges. Através dela podemos notar que Policarpo era muito mais jovem que Inácio e possui pouca experiência no episcopado.
Como em todas suas cartas, Inácio também recomenda à comunidade a união com a hierarquia da Igreja, para a glória de Deus (Carta a Policarpo 6) e confessa a fé na divindade de Jesus Cristo (Carta a Policarpo 8:3).

A Carta de Inácio de Antioquia a Policarpo
Inácio, também chamado Teóforo, a Policarpo, bispo da Igreja dos Esmirnianos, que, antes, tem por bispo Deus Pai e o Senhor Jesus Cristo, muitas saudações

I 1. Saudando o teu caráter firmado em Deus, como sobre uma pedra irremovível, considero muitíssimo, és digno da tua imagem irrepreensível, em que me agrado em Deus. 2. Exorto-te, na graça em que estás revestido, a cuidar da tua corrida e exortar todos, a fim de que se salvem. Defende o teu lugar com todo cuidado carnal e espiritual. Pensa na união, de que não há nada melhor. Sustenta todos, como também o Senhor a ti. Suporta todos em amor, assim como também fazes. 3. Entrega-te a orações incessantes. Pede mais inteligência do que tens. Mantém desperto o espírito adquirido. Fala aos que são segundo o homem e aos que são segundo o caráter de Deus. Sustenta as doenças de todos, como um atleta perfeito. Onde há muito trabalho, há muito ganho.

II 1. Se amas discípulos bons, não há graça em ti. Antes, submete os mais contaminados em mansidão. Nem todo ferimento é tratado com o mesmo emplastro. Faz cessar as agitações provocadas pelas fomentações. 2. Torna-te prudente como a serpente em tudo e puro para sempre como a pomba. Por isso és carnal e espiritual, para que cultives as coisas reveladas à tua pessoa. Pede para que as coisas invisíveis te sejam reveladas, de modo que nada abandones e superabundes em toda graça. 3. A época te chama – como o piloto, os ventos e o agitado pela tempestade, um porto – para fazer a vontade de Deus. Sê sóbrio, como um atleta de Deus; o prêmio é a incorruptibilidade e a vida eterna, a respeito das quais estás convencido. Em todas as coisas, eu e as minhas cadeias, que tu amas, somos a tua garantia.

III 1. Não te espantem os que parecem dignos de confiança e têm outro ensino. Coloca-te firme como uma bigorna golpeada. Ser castigado e vencer é próprio do grande atleta. Principalmente, é-nos preciso suportar todas as coisas por causa de Deus, a fim de que Ele também nos suporte. 2. Torna-te mais dedicado do que és. Entende os tempos. Aguarda o que está acima do tempo, atemporal, invisível, por nós visível, impalpável, o que nada sofre, por nós sofredor, o que por nós suporta tudo, de todas as maneiras.

IV 1. As viúvas não sejam negligenciadas. Depois do Senhor, sê tu o cuidador delas. Nada seja feito sem o teu conhecimento, nem tu faças algo sem o conhecimento de Deus, como não fazes. Mantém-te firme. 2. As reuniões sejam feitas com freqüência. Busca todos pelo nome. 3. Não trata escravos e escravas com arrogância; mas eles não sejam cheios de orgulho, mas sirvam mais, para a glória de Deus, a fim de que obtenham de Deus maior liberdade. Não amem ser libertados do comum, a fim de que não sejam achados escravos da lascívia.

V 1 Foge das más obras, antes, dá instrução sobre elas. Conversa com minhas irmãs, para amar o Senhor e estar satisfeitas com os maridos, na carne e no espírito. Semelhantemente, ordena também aos meus irmãos amar as esposas como o Senhor, a igreja. 2. Se alguém pode permanecer em castidade para honra da carne do Senhor, permaneça sem se vangloriar. Se se vangloriar, perdeu-se, e se vier a ser mais do que o bispo, está corrompido. Convém aos que casam e às que casam fazer a união com o conhecimento do bispo, a fim de que o casamento seja segundo o Senhor e não segundo a paixão. Todas as coisas se tornem para a honra de Deus.

VI 1. Aproximai-vos do bispo, para que também Deus se aproxime de vós. Eu sou a garantia dos que se submetem ao bispo, presbíteros e diáconos. E com eles a minha parte possa se fazer ter em Deus. Trabalhai uns com os outros, combatei juntos, correi juntos, sofrei juntos, dormi juntos, despertai juntos, como administradores, assistentes e servidores de Deus. 2. Agradai aquele por quem estais combatendo, de quem também recebeis o soldo. Nenhum de vós seja encontrado como desertor. O vosso batismo permaneça como armas, a fé, como elmos, o amor, como lança, a perseverança, como armadura. As vossas obras são o vosso depósito, para que recebais os vossos dignos pagamentos. Portanto, tende longanimidade uns para com os outros em mansidão, como Deus tem convosco. Que eu possa me agradar de vós em tudo.

VII 1. Uma vez que a igreja em Antioquia da Síria vive em paz, como me foi mostrado, por vossa oração, também eu me torno mais alegre na segurança em Deus, contanto que, através do sofrer de Deus, eu alcance o desejado para ser-me encontrado vosso discípulo na ressurreição. 2. Convém, Policarpo mais que bem-aventurado de Deus, conduzir uma assembleia mais conveniente a Deus e eleger alguém, que vós tendes como muito amado e diligente, que poderá ser chamado de corredor de Deus. Decida isso, para que passes para a Síria. 3. O cristão não tem poder dele mesmo, mas descansa em Deus. Essa é a obra de Deus e vossa, quando a cumpres. Confio na graça em que estais dispostos a avançar para fazer a boa obra de Deus. Conhecendo a vossa diligência pela verdade, exorto-vos por poucas letras.

VIII 1. Uma vez que não foi possível escrever a todas as igrejas devido ao meu súbito navegar de Trôade para Neápolis, como a vontade ordena, escreve às igrejas em frente, como conhecimento adquirido de Deus, para também elas fazer o mesmo (os que podem enviar andarilhos, outros, epístolas, através dos enviados por ti, a fim de que estejais decididos pela obra eterna), como sendo digno. 2. Saúdo todos pelo nome e a mulher de Epitropo, junto com toda a casa dela e as crianças. Saúdo Átalo, o meu querido. Saúdo o que está para ser declarado digno de ir para a Síria. A graça estará com ele em tudo e com o que o envia, Policarpo. 3. Oro para vos fortalecer em tudo no nosso Deus Jesus Cristo, em quem permaneceis na unidade de Deus e no bispo. Saúdo Alceu, meu nome querido. Andai no Senhor.

Pergunta ao Grupo:
A Vida de Inácio de Antioquia é um desafio para a nossa espiritualidade? Por quê?
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

2 - Clemente de Roma (†102)

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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Clemente de Roma (†102)

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Patrologia: Vida do Pai da Igreja

Clemente Romano (+100), conhecido pelos Católicos como São Clemente I, assumiu o episcopado de Roma após o falecimento do bispo Anacleto e dirigiu a igreja dos anos 88 até 97.
Clemente nasceu em Roma, nos arredores do Coliseu, de família hebraica, foi um dos primeiros a receber o batismo diretamente de Pedro. Foi o primeiro Pai da Igreja.
Acredita-se que foi discípulo de Pedro e consagrado por este. Ele que iniciou o uso da palavra “Amém” nas cerimônias da igreja.
Em sua carta aos Coríntios, estabeleceu normas precisas referentes à ordem eclesiástica hierárquica (bispos, presbíteros, diáconos).
            Nesta carta escrita no ano 96, Clemente viu que a igreja estava perturbada por agitadores presumidos e invejosos, e a comunidade cristã ameaçava desagregação e ruptura. É uma carta de orientação e pacificação, repassada de energia persuasiva, recomendando humildade, paz e obediência à hierarquia eclesiástica: Bispos, Presbíteros e Diáconos.
Em seu episcopado ocorreu uma segunda perseguição aos cristãos, na época de Domiciano. Com Nerva, os cristãos viveram uma temporada de paz. Mais tarde, Clemente foi preso no reinado de Trajano.
Após ser detido e condenado ao exílio, com trabalhos forçados nas minas de cobre de Galípoli; no ano 97, decidiu que os cristãos não podiam ficar sem um guia espiritual, renunciou o episcopado em favor de Evaristo.
Como converteu muitos presos e por isso, no ano 100, foi atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço, tornando-se num mártir cristão dos princípios da Cristandade.
Seu corpo foi recuperado das águas e sepultado em Quersoneso, na Crimeia, de onde, mais tarde, por ordem de Nicolau I, seu corpo foi levado a Roma.

Patrística: Escrito do Pai da Igreja

PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS
INTRODUÇÃO
A Igreja de Deus estabelecida transitoriamente em Roma à Igreja de Deus estabelecida transitoriamente em Corinto, aos eleitos santificados na vontade de Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo: que a graça e a paz vos sejam dadas em plenitude da parte de Deus todo-poderoso, por Jesus Cristo. CAPÍTULO I 1 - Por causa das desgraças e calamidades que repentina e continuamente se abateram sobre nós, talvez estejamos a tratar tardiamente dos acontecimentos que se deram entre vós, meus caros, e daquele motim, não conveniente a eleitos de Deus, iniciado por algumas pessoas irrefletidas e audaciosas, de uma forma sórdida e ímpia, surgido de tal ponto de loucura, que o vosso nome, dantes estimado, acatado e celebrado por todos, fosse seriamente denegrido. 2 - Ora, quem é que esteve entre vós e não elogiou vossa fé extraordinária e firme? Quem não admirou vossa piedade consciente e suave em Cristo? Quem não louvou a tradição da vossa hospitalidade generosa? Ou quem não vos felicitou por vossa doutrina perfeita e segura? 3 - Fazíeis tudo sem distinguir as pessoas e andáveis dentro dos preceitos de Deus, sujeitando-vos aos vossos guias e respeitando devidamente os vossos anciãos. Aos jovens, transmitíeis conceitos prudentes e honrosos; às mulheres, recomendáveis para que cumprissem todos os seus deveres com consciência irrepreensível, de forma santa e pura, amando convenientemente seus maridos; e ainda as ensináveis a administrar a vida doméstica dentro das normas de obediência e da mais absoluta discrição. CAPÍTULO II 3 1 - Vós todos ainda possuíeis sentimentos de humildade, isentos de qualquer vaidade, mais dispostos a submeter-vos do que a submeter, dando com mais gosto do que esperando receber. Contentando-vos com o que Cristo vos dava como alimento e meditando sobre suas palavras, vós as guardáveis com tanto cuidado no coração mesmo enquanto tínheis sofrimentos pairando diante dos vossos olhos. 2 - Assim, uma paz profunda e abençoada comunicava-se a todos, e um desejo insaciável de praticar o bem, assim como a plena efusão do Espírito Santo, eram produzidos em todos. 3 - Repletos de uma santa vontade, em bom zelo, levantáveis as vossas mãos piedosamente para o Deus onipotente, suplicando-lhe sua misericórdia quando cometíeis involuntariamente alguma falta. 4 - Dia e noite, travavam-se entre vós uma luta em favor da total fraternidade, para conseguir, pela misericórdia e conscienciosidade, a salvação de todos os seus eleitos. 5 - Autênticos e incorruptos vós éreis, não possuíeis malícia uns para com os outros. 6 - Toda revolta e todo cisma vos causavam horror. Ficáveis entristecidos ao ver as faltas dos outros; o que os outros cometiam, tínheis como vossas próprias faltas. 7 - Não havia por que vos arrepender de qualquer omissão de bondade, já que estáveis dispostos a toda boa ação. 8 - Ornados por uma conduta virtuosa e honrosa, cumpríeis todas as vossas ações em seu temor. Os mandamentos e as justas normas do Senhor estavam escritos sobre as fibras dos vossos corações. CAPÍTULO III 1 - Plena reputação e prosperidade vos foi concedida, cumprindo-se a palavra da Escritura: "O bem amado comeu e bebeu, engordou e encheu-se de comida, e tornou-se desobediente". 2 - Daí nasceram o ciúme e a inveja, a discórdia e a revolta, a perseguição e a desordem, a guerra e o cativeiro. 4 3 - Desta forma, os desonrados levantaram-se contra os honrados, os desrespeitados contra os respeitados, os insensatos contra os sensatos, os jovens contra os anciãos. 4 - Por isso, afastou-se para longe a justiça e a paz no exato momento em que cada um abandonou o temor de Deus e obscureceu o olhar em sua fé, não andando conforme o que prescreve os seus mandamentos, não se conduzindo da maneira digna de Cristo. Ao invés, cada qual anda segundo os desejos de seu coração perverso, admitindo em si um ciúme injusto e ímpio, ciúme este que gerou a morte para o mundo. CAPÍTULO IV 1 - Porque assim está escrito: "E aconteceu, após alguns dias, que Caim oferecesse a Deus um sacrifício com os frutos da terra e também, por sua vez, Abel oferecesse das primícias dos rebanhos e de suas gorduras. 2 - E Deus olhou para Abel e seus dons, não reparando, porém, em Caim e seus sacrifícios. 3 - Então Caim se entristeceu muito e seu rosto se abateu. 4 - Então o Senhor falou a Caim: 'Por que te tornaste sombrio e por que teu rosto anda abatido? Acaso não pecaste? Ora, embora tua oferenda seja correta, tua escolha não o foi. 5 - Acalma-te, pois a oferenda voltará a ti e poderás dispor dela'. 6 - Então Caim falou a Abel, seu irmão: 'Vamos para a planície'. E ocorreu que, enquanto estavam na planície, Caim se levantou contra Abel, seu irmão, e o matou". 7 - Vide, irmãos: foram o ciúme e a inveja que produziram o fratricídio. 8 - Por causa do ciúme, nosso pai Jacó teve que fugir da presença de Esaú, seu irmão. 9 - O ciúme fez com que José fosse perseguido à morte e acabasse preso. 10 - Foi o ciúme que obrigou Moisés a fugir da presença do faraó, rei do Egito, na hora de ouvir um de seus compatriotas: quem é que te constituiu árbitro e juiz sobre nós? Não queres matar-me, da mesma forma como ontem mataste o egípcio? 11 - Por causa do ciúme, Aarão e Maria foram expulsos do acampamento. 5 12 - O ciúme conduziu Datã e Abirão vivos para o Mundo dos Mortos, por se revoltarem contra Moisés, servo de Deus. 13 - Por ciúme, Davi não apenas obteve inveja da parte dos estrangeiros, como também foi perseguido por Saul, rei de Israel. CAPÍTULO V 1 - Agora, para colocarmos fim aos exemplos antigos, passemos aos atletas que nos tocam de perto; verifiquemos os nobres exemplos da nossa geração. 2 - Por ciúme e inveja foram perseguidos e lutaram até à morte as nossas colunas mais elevadas e retas. 3 - Fixemos nossos olhos sobre os valorosos apóstolos: 4 - Pedro, que por ciúme injusto não suportou apenas uma ou duas, mas numerosas provas e, depois de assim render testemunho, chegou ao merecido lugar da glória. 5 - Por ciúme e discórdia, Paulo ostentou o preço da paciência. 6 - Sete vezes acorrentado, exilado, apedrejado, missionário no Oriente e no Ocidente, recebeu a ilustre glória por sua fé. 7 - Ensinou a justiça no mundo todo e chegou até os confins do Ocidente, dando testemunho diante das autoridades. Assim, deixou o mundo e foi buscar o lugar santo, ele, que se tornou o mais ilustre exemplo da paciência. CAPÍTULO VI 1 - A esses homens de conduta santa, ajuntou-se grande multidão de eleitos que, por ciúme, suportaram muitos insultos e torturas, transformando-se no mais belo exemplo entre nós. 2 - Por ciúmes, mulheres foram perseguidas, como Danaídes e Dircês, e sofreram afrontas cruéis e sacrílegas, percorrendo a segura trajetória da fé e obtendo o nobre prêmio, elas, que eram fracas de corpo. 3 - Foi o ciúme que separou esposas e maridos, afrontando a palavra de nosso pai Adão: "Ela é osso dos meus ossos e carne da minha carne". 6 4 - Ciúme e intriga destruíram grandes cidades e eliminaram nações poderosas. CAPÍTULO VII 1 - Caríssimos, ao vos escrever tais coisas, não apenas vos levamos a refletir, mas também advertimos a nós mesmos, já que nos encontramos no mesmo campo de batalha, nos esperando a mesma luta. 2 - Abandonemos, assim, as opiniões vazias e tolas, voltando-nos para a gloriosa e santa regra da tradição. 3 - Vejamos o que é belo, agradável e aceito aos olhos daquele que nos criou. 4 - Fixemos a vista no sangue de Cristo e compreendamos o quanto é precioso aos olhos do Pai pois, derramando-o por nossa salvação, ofereceu-o ao mundo inteiro pela conversão. 5 - Percorramos todas as gerações e aprendamos que de geração em geração o Senhor deu possibilidade de conversão àqueles que a Ele quiseram retornar. 6 - Noé anunciou a conversão e os que a aceitaram se salvaram. 7 - Jonas anunciou a ruína aos ninivitas; os que fizeram penitência de seus pecados, por suas súplicas, reconciliaram-se com Deus e alcançaram a salvação, ainda que fossem estranhos a Deus. CAPÍTULO VIII 1 - Sobre a conversão falaram os ministros da graça de Deus, sob inspiração do Espírito Santo. 2 - Sobre a conversão também falou o próprio Senhor de tudo, ao jurar: "Tão certo como vivo - diz o Senhor - não quero a morte do pecador, mas sua conversão". E acrescentou: 3 - "Convertei-vos de vosso erro, casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: 'ainda que os vossos pecados se amontoassem da terra até o céu, ainda que estes fossem mais vermelhos que a púrpura e mais negros que o saco, se vos voltardes para mim de todo coração e disserdes: 'Pai!', eu vos atenderei como se fosses um povo santo'". 7 4 - Em outra parte, ainda fala: "Lavai e purificai-vos. Afastai dos meus olhos as maldades de vossas almas. Deixai vossas maldades e aprendei a praticar o bem; procurai a justiça, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a viúva, e então vinde para colocarmos as coisas em ordem - diz o Senhor. E se os vossos pecados forem como a púrpura, os tornarei brancos como a neve; se forem escarlate como a lã, os farei alvos. Se vos dispuserdes a me escutar, comereis os bens desta terra; porém, se não quiserdes me ouvir, a espada vos devorará - assim fala a boca do Senhor". 5 - No desejo de levar a todos os seus amados a participarem da conversão, fortaleceu-vos por sua vontade todo-poderosa. CAPÍTULO IX 1 - Por isso, obedeçamos a sua vontade excelsa e gloriosa. Supliquemos, prostrados, pela piedade e bondade. Recorramos à sua misericórdia. Abandonemos a vaidade, a discórdia e o ciúme que conduz à morte. 2 - Fixemos o olhar naqueles que serviram com perfeição a sua magnífica glória. 3 - Tomemos, por exemplo, Henoc, que, encontrado justo em sua submissão, foi arrebatado e não se encontrou indício de sua morte. 4 - Noé, reconhecido fiel, recebeu o encargo de anunciar o renascimento do mundo e o Senhor salvou, por ele, os seres que entraram em harmonia na sua arca. CAPÍTULO X 1 - Abraão, proclamado "o amigo", se revelou fiel em sua submissão à palavra de Deus. 2 - Por obediência, ele saiu de sua terra, deixou seus parentes e a casa do pai, saindo de uma terra pequenina, parentes sem importância, uma casa modesta, para herdar as promessas de Deus. Pois é Ele quem lhe diz: 3 - "Deixa tua terra, teus parentes e a casa de teu pai, para te dirigires à terra que te mostrarei. Farei de ti um povo grande. Abençoar-te-ei e 8 engrandecerei teu nome; serás abençoado. Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Em ti, todas as tribos da terra serão benditas". 4 - Outra vez, ao se separar de Lot, falou-lhe Deus: "Levanta teus olhos e mede o espaço existente entre ti, entre o norte e o sul, leste e mar: pois toda essa terra vos darei e à tua descendência para sempre. 5 - Farei tua descendência como o pó da terra: se alguém conseguir contar o pó da terra então saberá também contar a tua descendência". 6 - E ainda diz: "Conduziu Deus a Abraão para fora e lhe falou: 'Levanta os olhos para o céu e conta os astros, se é que consegues contá-los. Assim será a tua descendência'. Abraão acreditou em Deus e isso lhe foi imputado como justificação". 7 - Por causa da fé e da hospitalidade, foi-lhe dado um filho na velhice e, por obediência, ele o ofereceu como sacrifício a Deus sobre um dos montes que Ele lhe mostrou. CAPÍTULO XI 1 - Por causa da hospitalidade e piedade, Lot salvou-se de Sodoma, quando a terra em redor foi castigada com fogo e enxofre. Desta forma, Deus deixou claro que não abandona aqueles que esperam nele, mas que entrega os ímpios ao castigo e ao suplício. 2 - Sua mulher acompanhava-o na saída, no entanto, não compartilhava sua fé e crença, transformando-se num sinal disso, a ponto de reduzir-se a mera estátua de sal até os dias de hoje, para que todos, assim, possam se inteirar que Deus pune os desconfiados e os de alma dupla para escárnio de todas as gerações. CAPÍTULO XII 1 - Por causa da fé e hospitalidade, Raabe, a prostituta, se salvou. 2 - Pois quando Jesus, filho de Navé, mandou espiões para Jericó, o rei daquela nação ficou sabendo que haviam chegado homens para explorar a 9 terra; então mandou homens para os prenderem e, depois de presos, matarem-nos. 3 - Raabe, a hospitaleira, recebeu-os e os ocultou sob a palha do linho no andar superior. 4 - Quando os emissários do rei se apresentaram e lhe falaram: "Aqui entraram os espiões que vieram reconhecer nosso território. O rei manda que os entregueis", ela respondeu-lhes: "De fato, os homens que procurais entraram em minha casa, porém já se retiraram e continuam seu caminho". E ela apontou-lhes em direção oposta. 5 - Então ela falou aos espiões: "Disto sei e me convenci: o Senhor vos entregou esta terra porque o medo e pânico se apossaram de seus habitantes. Quando a conquistardes, salvai a mim e a casa de meu pai". 6 - Os espiões responderam: "Será como falaste! Quando nos vires aproximar, reúnam-se todos os teus parentes sob o teto da tua morada e todos serão salvos; porém, aqueles que estiverem do lado de fora perecerão". 7 - Como outro sinal, propuseram-lhe ainda que dependurasse algo vermelho na casa, tornando evidente que, pelo sangue do Senhor, viria à redenção para todos aqueles que cressem e esperassem em Deus. 8 - Vede, amados: nesta mulher não houve apenas fé, mas também o dom da profecia. CAPÍTULO XIII 1 - Portanto, tornemo-nos humildes, irmãos, deixando de lado toda a ostentação, o orgulho, o excesso e a ira, e cumpramos o que está escrito. Pois assim diz o Espírito Santo: "Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte em sua força, nem o rico em sua riqueza, mas aquele que se gloriar, glorie no Senhor, procurando-O e praticando o direito e a justiça". Antes de mais nada, recordemos as palavras ditas por Jesus, mestre da equidade e grandiosidade. 2 - Pois foi ele que disse isto: "Sede misericordiosos para obterdes misericórdia. Perdoai para que sejais perdoados. Assim como fizerdes, assim vos será feito. Da forma como derdes, assim vos será dado. Do modo como julgardes, assim sereis julgados. Como fizerdes o bem, assim vos será feito. 10 Com a medida que medirdes, também vos será medido em troca". 3 - Com este mandamento e estes preceitos, fortaleçamo-nos, para que possamos andar humildes e submissos às suas santas palavras. Pois a sagrada palavra assim reza: 4 - "Para quem hei de olhar senão para o manso e pacífico e para aquele que respeita os meus oráculos?". CAPÍTULO XIV 1 - É justo e santo, irmãos, tornarmo-nos submissos a Deus do que seguirmos aqueles que se deixam guiar pela arrogância e orgulho, aos promotores do ciúme. 2 - Estaremos nos expondo não a um prejuízo qualquer, mas a um grande perigo, se nos entregarmos aos caprichos dos homens, que buscam a discórdia e a revolta para nos separar da boa conduta. 3 - Sejamos bondosos uns para com os outros, seguindo a misericórdia e doçura do nosso Criador. 4 - Pois assim está escrito: "Os mansos habitarão a terra, os inocentes serão deixados sobre ela enquanto os pecadores serão exterminados dela". 5 - E em outro ponto: "Vi o ímpio gabar-se orgulhoso como os cedros do Líbano; passei e ele não mais existia; então procurei seu lugar e não encontrei. Guarda a inocência e observa a justiça pois se consagra a memória do homem que guarda a paz". CAPÍTULO XV 1 - Unamo-nos, pois, àqueles que mantêm a paz na santidade e não aos que defendem a paz por pura hipocrisia. 2 - Pois é dito em algum lugar: "Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim". 3 - E novamente: "Abençoavam com a boca, mas amaldiçoavam com o coração". 4 - E novamente: "Amavam-no com os lábios, mas mentiam-lhe com a 11 língua; o coração não era sincero para com Ele, nem se mantinham fiéis à sua aliança. 5 - Por isso, tornem-se mudos os lábios ímpios que proferem maldades contra os justos". E ainda: "Que o Senhor extermine todos os lábios ímpios, a língua arrogante e todos os que dizem: 'Engrandecemos a nossa língua, em nossos lábios estão o poder! Quem é o nosso Senhor?'. 6 - Por causa da miséria dos pobres e dos gemidos dos desamparados, levantar-me-ei agora - diz o Senhor - e os colocarei a salvo. 7 - Julgarei seu caso com isenção". CAPÍTULO XVI 1 - Porque Cristo pertence aos humildes e não aos se elevam acima da comunidade. 2 - O cetro da majestade de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, não veio com ares de arrogância e orgulho, muito embora assim pudesse ter feito, mas com humildade, como, sobre ele, o Espírito Santo anunciou. Pois disse: 3 - "Senhor, quem deu crédito à nossa palavra? A quem se revelou o braço do Senhor? Nós anunciamos na presença Dele: Ele é como o escravo, como a raiz numa terra sedenta! Não possui beleza, nem brilho. Nós o vimos: não tinha beleza, nem aparência agradável. Ao invés, sua beleza era desprezível e perdia para a beleza dos homens. Um homem açoitado, trabalhado e acostumado a sofrer fraquezas; menosprezado, afastou o rosto e não contou para nada. 4 - Ele carrega nossos pecados e sofre por nós. Vimos nele um homem atormentado, açoitado e humilhado. 5 - Foi coberto de chagas por causa de nossos pecados; tornou-se debilitado por causa de nossos crimes; o castigo que nos educa para a paz caiu sobre ele e nós fomos curados, graças às suas chagas. 6 - Todos, como ovelhas, andávamos desviados; o homem havia se desviado de sua rota. 7 - O Senhor o entregou em resgate por nossos pecados e ele não abriu a boca diante dos maus tratos. Como cordeiro, foi conduzido ao matadouro e, como ovelha, na frente do tosquiador permaneceu calado, sem abrir a 12 boca. Na humilhação foi levantada sua condenação. 8 - Quem pregava sua geração já que sua vida será tirada da terra? 9 - Por causa das iniqüidades do meu povo, ele será levado à morte. 10 - E Eu entregarei os ímpios como reféns de sua sepultura e os ricos em troca da sua morte, pois não cometeu mal algum, nem culpa foi encontrada em sua boca. Mas o Senhor quer purificá-lo de suas feridas. 11 - Se oferecerdes um sacrifício por vosso pecado, vossa alma verá descendência pela longa vida. 12 - O Senhor quer arrancar o tormento de sua alma, mostrar-lhe a luz e formá-lo na consciência, justificando o justo que bem serviu a muitos; ele próprio tomará sobre si os pecados deles. 13 - Por isso terá multidões como herança e distribuirá os troféus dos poderosos pelo fato de sua alma ser entregue à morte e ele ter sido contado entre os ímpios. 14 - E ele próprio suportou os pecados de muitos e se entregou pelos pecados deles". 15 - Ele próprio ainda diz: "Eu, porém, não sou mais que um verme, não sou homem, mas último entre os homens e escória do povo. 16 - Todos os que me viram, zombaram de mim, murmuraram com os lábios e moveram a cabeça em sinal de negação. Confiou no Senhor, que o livre; se o quiser bem, que o salve". 17 - Vede, amados, que exemplo nos foi dado! Se o Senhor assim se humilhou, o que faremos nós que chegamos, por Ele, ao jugo de sua graça? CAPÍTULO XVII 1 - Tornemo-nos imitadores daqueles que em peles de carneiros e ovelhas percorriam a terra, anunciando a chegada de Cristo: pensemos em Elias e Eliseu, também em Ezequiel, nos profetas e, além destes, naqueles que receberam testemunho favorável. 2 - Abraão recebeu magnífico testemunho, sendo proclamado 'amigo de Deus'. Mesmo assim, contemplando a glória de Deus, confessou em sua humildade: "Eu, por mim, sou terra e cinza". 3 - Também sobre Jó se escreveu desta forma: "Jó, porém, era justo e 13 irrepreensível; verdadeiro, temente a Deus e afastado de todo o mal". 4 - Apesar disso, ele próprio se acusa, dizendo: "Ninguém é isento de impureza, mesmo que sua vida se resumisse a um só dia". 5 - Moisés foi chamado de 'fiel servidor em toda a casa de Deus' e através de seu ministério, Deus castigou o Egito com pragas e sofrimentos. Contudo, mesmo sendo tão magnificamente exaltado, não se excedeu em palavras grandiloquentes, mas, ao revelar-lhe o oráculo da sarça, falou apenas: "Quem sou eu para me enviares? Tenho a voz fraca e dificuldade para falar". 6 - E novamente assim fala: "Não passo de vapor que sai da panela quente". CAPÍTULO XVIII 1 - O que dizer de Davi e seu testemunho? A ele, Deus falou: "Descobri um homem segundo o meu coração: Davi, filho de Jessé. Em eterna misericórdia eu o ungi". 2 - Mas também ele falou para Deus: "Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a tua grande piedade e, segundo a tua grande misericórdia, apaga o meu pecado. 3 - Lava-me sempre mais de minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado, pois reconheço a minha injustiça e o meu pecado está sempre diante de mim. 4 - Pequei somente contra ti e pratiquei o que é mau perante os Vossos olhos; para que estejas justificado em tuas palavras e venças, se te julgarem. 5 - Eis que fui concebido na iniqüidade e no pecado minha mãe me carregou em seu seio. 6 - Eis que amaste a verdade e me revelaste os obscuros mistérios da tua sabedoria. 7 - Hás de me aspergir com hissopo e serei purificado; hás de me lavar e tornar-me-ei mais branco do que a neve. 8 - Hás de fazer-me ouvir o som da alegria e da festa e os ossos humilhados se rejubilarão. 9 - Afasta o rosto de meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades. 10 - Cria um coração puro em mim, ó Deus, e forma um espírito firme em meu peito. 14 11 - Não me afastes de tua presença e não retires de mim teu santo espírito. 12 - Restitui-me a alegria da tua salvação e confirma-me com um espírito magnâmico. 13 - Ensinarei teu caminho aos pecadores e os ímpios hão de converter-se para ti. 14 - Livra-me de ações sanguinárias, ó Deus, Deus de minha salvação. 15 - Minha língua exaltará a tua justiça. Senhor, hás de me abrir a boca e meus lábios proclamarão o teu louvor. 16 - Se tivesses desejado um sacrifício, te-lo-ia oferecido, porém, não te agradas com holocaustos. 17 - Para Deus, sacrifício é o espírito arrependido. Deus não desprezará um coração contrito e humilhado". CAPÍTULO XIX 1 - A humildade e a modéstia de homens tão grandes e santos foram aprovados pela sua obediência. Os que receberam as palavras Dele em temor e verdade não só nos tornaram melhores como também as gerações que nos precederam. 2 - Assim, após participarmos de muitas grandes e gloriosas ações, corramos para a meta de paz que nos foi proposta desde o início. Fixemos o nosso olhar sobre o Pai e Criador de todo o mundo e agarremo-nos aos seus magníficos e excelsos dons de paz e benefícios. 3 - Olhemos para Ele em espírito e consideremos com os olhos da alma sua generosa vontade. Reconheçamos o quanto é indulgente para com toda a sua criação. CAPÍTULO XX 1 - Os céus movem-se por Sua disposição e lhe submetem na paz. 2 - O dia e a noite percorrem o caminho por Ele demarcado, sem jamais se impedirem mutuamente. 3 - Sol, lua e demais astros giram conforme Sua determinação, em harmonia 15 e sem desvio algum pelas órbitas prescritas a cada um deles. 4 - A terra, submissa à Sua vontade, fecunda nas estações próprias e provém sustento aos homens, animais e todos os seres vivos, sem se rebelar nem se afastar da ordem por Ele desejada. 5 - As profundezas insondáveis dos abismos e os subterrâneos inexplorados se mantêm conforme as Suas leis. 6 - O mar imenso, encerrado dentro da bacia que o contém, não ultrapassa os limites a ele imposto mas, assim como lhe foi ordenado, o obedece. 7 - Pois foi Ele quem disse: "Até aqui chegarás e tuas ondas se quebrarão em ti mesmo". 8 - O oceano, intransponível aos homens, bem como os mundos atrás dele, ordenam-se pelas mesmas leis do Senhor. 9 - As estações da primavera, verão, outono e inverno se sucedem umas às outras em paz. 10 - A força dos ventos cumpre, por sua vez, o serviço dele sem se desfalecer; as fontes perenes, criadas para gozo e saúde, oferecem os peitos - sem interrupção - para dar vida aos homens. Até os animais mais pequeninos fazem suas reuniões dentro da paz e harmonia. 11 - O grande Criador e Senhor de tudo ordenou todas essas coisas para que existissem em paz e concórdia, já que deseja o bem de todas as criaturas, mostrando-se generoso demais em relação a nós que nos refugiamos em sua misericórdia por nosso Senhor Jesus Cristo. 12 - A Ele glória e majestade pelos séculos dos séculos. Amém. CAPÍTULO XXI 1 - Amados, cuidai para que vossos benefícios tão numerosos não se transformem em condenação para nós, o que acontecerá se não formos dignos Dele e não realizarmos em concórdia o que é bom e agradável a Seus olhos, 2 - pois está dito em alguma parte: "O Espírito do Senhor é uma lanterna que penetra até o fundo do coração". 3 - Consideremos o quanto está próximo, de forma que nada do que pensamos, nada do que calculamos permanece-Lhe oculto. 16 4 - Assim, é justo que não nos afastemos da Sua vontade. 5 - Devemos preferir chocar homens tolos e insensatos, exaltados e cheios da arrogância de seus discursos, do que a Deus. 6 - Reverenciemos o Senhor Jesus, cujo sangue foi derramado por nós. Respeitemos nossos chefes. Honremos os anciãos. Eduquemos os jovens a temerem a Deus. Guiemos nossas mulheres para o bem. 7 - Que elas manifestem o desejo da pureza, a pura intenção na suavidade. Que, pelo silêncio, demonstrem a moderação de sua linguagem. Que o amor não fique dependente das inclinações, mas que seja praticado de modo santo e igual entre todos aqueles que temem a Deus. 8 - Que nossos filhos participem da educação em Cristo, aprendendo o quanto pode a humildade perante Deus, o quanto o amor consegue perante Deus, o quanto o temor Dele é bom e excelso, salvando a todos os que nele vivem santamente em pura intenção. 9 - É Ele que investiga nossos pensamentos e desejos. É o sopro Dele que está presente em nós e que pode ser retirado por Ele quando quiser. CAPÍTULO XXII 1 - A fé em Cristo garante todas essas coisas, pois é Ele mesmo que assim nos convida, pelo Espírito Santo: "Filhos, vinde e escutai-me: hei de ensinar-vos a temer a Deus. 2 - Quem é o homem que quer vida e aprecia ver dias bons? 3 - Guarda tua língua do mal e teus lábios da traição. 4 - Afasta-te do mal e faze o bem. 5 - Procura e persegue a paz. 6 - Os olhos do Senhor estão voltados para os justos e seus ouvidos para as suas súplicas. Mas a face do Senhor se volta contra os que praticam o mal, destruindo a memória deles sobre a terra. 7 - O justo clama e o Senhor o atende, livrando-o de todas as tribulações. 8 - Muitos são os flagelos do pecador, já a misericórdia cerca os que esperam no Senhor. 17 CAPÍTULO XXIII 1 - O Pai todo-poderoso e misericordioso tem entranhas para os que O temem e, assim, distribui de forma bondosa e amorosa Suas graças àqueles que se aproximam Dele com o coração simples. 2 - Não hesitemos por causa disso, nem se orgulhe nossa alma por causa dos Seus dons ricos e magníficos. 3 - Que nunca se aplique a nós a passagem da Escritura que diz: "Infelizes os que hesitam no coração e desconfiam na alma; aqueles que dizem: 'Tais promessas já escutamos na época de nossos pais e eis que envelhecemos e nada disso aconteceu'. 4 - Ó insensatos, comparai-vos à uma árvore; reparai na videira que, primeiro perde as folhas e então brota, a seguir vêm a folha, então a flor e, depois disso, a uva verde é seguida da uva madura". Considerai como, em pouco tempo, o fruto da árvore se torna maduro. 5 - É bem assim que a vontade de Deus se cumpre, em ritmo veloz e inesperado, como a própria Escritura nos atesta: "Virá logo e não tardará. Subitamente o Senhor entrará no seu santuário, o Santo a quem esperais". CAPÍTULO XXIV 1 - Amados, observemos como o Senhor não cessa de dar-nos provas de que, no futuro, a ressurreição se concretizará. Deu-nos prova dela primeiramente ressuscitando Jesus Cristo dos mortos. 2 - Amados, vejamos como se dá a ressurreição há seu tempo. 3 - O dia e a noite nos manifestam a ressurreição: dorme a noite, ressuscita o dia; o dia se retira, chega a noite. 4 - Exemplifiquemos com os frutos da terra: como e de que modo faz-se a semeadura? 5 - O semeador sai e espalha, semente por semente, pela terra lavrada, que caem secas e nuas sobre a terra e aí se desfazem; desta decomposição, a grandiosa providência do Senhor as ressuscita, de forma que, de uma, aumentam para muitas e produzem fruto. 18 CAPÍTULO XXV 1 - Consideremos o sinal prodigioso que ocorre na região oriental, isto é, nas terras próximas da Arábia. 2 - Aí existe um pássaro chamado fênix, único na espécie e que vive quinhentos anos. Quando está para morrer, ergue seu próprio sepulcro usando incenso, mirra e outras plantas aromáticas e, ao completar seu tempo, aí se introduz e morre. 3 - De sua carne em decomposição nasce uma larva que se alimenta da matéria putrefata do animal morto e cria asas; quando se torna forte, levanta o sepulcro onde se encontram os restos de seu ancestral e carrega-o, voando da terra da Arábia até a cidade do Egito chamada Heliópolis. 4 - E, em plena luz do dia, aos olhos de todos, transporta e depõe aqueles restos sobre o altar do sol; a seguir, retoma o vôo de volta. 6 - Então os sacerdotes examinam os calendários e percebem que ele chegou ao se completarem quinhentos anos. CAPÍTULO XXVI 1 - Devemos, então, considerar grandioso e estranho o fato de o Criador operar a ressurreição de todos aqueles que lhe serviram santamente na confiança de uma boa fé, se ele ilustra até por um pássaro a grandeza de sua promessa? 2 - Lê-se em alguma parte: "Hás de me ressuscitar e eu te louvarei". E: "Deitei-me e adormeci; levantei-me porque tu estás comigo". 3 - E Jó adverte novamente: "Ressuscitarás minha carne que suportou todo esse sofrimento". CAPÍTULO XXVII 1 - Que nossas almas se apeguem por uma esperança assim Àquele que é fiel 19 em Suas promessas e justo em Seus juízos. 2 - Aquele que proibiu a mentira, tampouco haverá de mentir, pois nada junto a Deus é impossível, exceto a mentira. 3 - Portanto, que se acenda novamente dentro de nós a fé Nele e reconheçamos que todas as coisas estão próximas Dele. 4 - Com apenas uma palavra de sua grandeza, estabeleceu tudo e, com uma só palavra, pode destruir tudo. 5 - Quem diria a Ele: "O que fizeste?", e quem resistiria à força do seu poder? Fará tudo quando e como quiser. Nada das coisas que ordenou haverá de passar. 6 - Tudo está diante de Seus olhos, nada escapa de Sua determinação. 7 - Os céus anunciam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos. O dia comunica a façanha ao dia, a noite transmite seu conhecimento à noite. Não há palavras nem discursos em que suas vozes não são ouvidas. CAPÍTULO XXVIII 1 - Já que vê tudo e ouve tudo, temamos a Ele e abandonemos os maus desejos das ações desonestas, para nos pouparmos por Sua piedade dos futuros juízos. 2 - Para onde poderia algum de nós fugir de Sua mão forte? Qual mundo receberia alguém que desertou Dele? Pois, em algum lugar, diz a Escritura: 3 - Para onde fugirei e onde me esconderei de Tua face? Se subir ao céu, lá estás. Se me retiro para as extremidades da terra, lá está a tua direita. Se me atiro nos abismos, lá está o Teu Espírito. 4 - Portanto, para onde poderia alguém ir para escapar Daquele que tudo envolve?. CAPÍTULO XXIX 1 - Logo, aproximemo-nos Dele com alma santa, levantando mãos puras e imaculadas para Ele, amando nosso Pai bondoso e misericordioso, que nos 20 admitiu como herdeiros. 2 - Porque assim está escrito: "Quando o Altíssimo distribuiu a herança aos povos, na hora de disseminar os filhos de Adão, definiu territórios para os povos conforme a multidão dos anjos de Deus. Tornou-se herança do Senhor o povo de Jacó e sua partilha foi Israel". 3 - E em outra parte se diz: "Eis que o Senhor toma para si um povo no meio dos povos, assim como um homem toma as primícias de sua eira, e deste povo há de proceder ao Santo dos santos". CAPÍTULO XXX 1 - Uma vez que formamos a porção santa, façamos tudo o que leva à santificação. Fujamos da maledicência, abraços impuros e impudicos, bebedeiras, modismos temporários, cobiças abomináveis, adultério detestável e soberba hedionda. 2 - Pois Deus, como se lê, resiste aos soberbos, porém, concede graça aos humildes. 3 - Portanto, unamo-nos àqueles a quem Deus concede a graça. Revistamonos de concórdia, sejamos continentes humildes, mantendo-nos afastados de toda murmuração e calúnia, justificando-nos mais pelas obras do que pelas palavras. 4 - Pois assim se diz: "Quem muito fala, terá resposta. Qual homem eloqüente imaginaria que isso fosse justo?" 5 - Bem-aventurado o homem, nascido de mulher, que vive pouco. Não te tornes pródigo em palavras. 6 - Venha nosso louvor de Deus e não de nós. Deus odeia aquele que louva a si próprio. 7 - O testemunho de nossas boas ações seja dado pelos outros, como assim também aconteceu com nossos pais, que foram justos. 8 - A arrogância, a presunção e a audácia se assentam sobre aqueles que foram malditos por Deus. A discrição, a humildade e a mansidão habitam junto daqueles que foram abençoados por Deus. 21 CAPÍTULO XXXI 1 - Dessa forma, desejemos a bênção Dele e vejamos quais são os caminhos que levam à bênção. Voltemos aos acontecimentos desde o princípio. 2 - Por que nosso pai Abraão foi abençoado? Não seria porque ele praticou a justiça e a verdade pela fé? 3 - Isaac, conhecendo o porvir e cheio de confiança, deixou-se levar alegremente ao sacrifício. 4 - Jacó, humildemente, abandonou a terra por causa de seu irmão e foi para junto de Labão, vivendo ali como seu servo, recebendo os doze cetros de Israel. CAPÍTULO XXXII 1 - Se alguém refletir com sinceridade sobre cada uma dessas coisas, reconhecerá a magnificência dos dons de Deus a Jacó. 2 - É dele que procederão todos os sacerdotes e levitas que servirão ao altar de Deus. Dele [procede] o Senhor Jesus, segundo a carne. Dele [procede], através de Judas, os reis, príncipes e chefes. Por sua vez, os outros cetros de Jacó também gozarão de não pouca honra, uma vez que Deus anunciou: "Tua descendência será numerosa como as estrelas do céu". 3 - Assim, todos atingiram à glória e à grandeza, não por si mesmos, nem por suas obras ou pela justiça praticada, mas por vontade Dele. 4 - Também igualmente entre nós, que fomos chamados por Sua vontade em Cristo Jesus, já que não nos justificamos a nós mesmos, nem por nossa sabedoria ou inteligência, ou pela piedade ou obras que tenhamos praticado na santidade do coração, mas através da fé, pela qual o Deus todo-poderoso justificou a todos desde sempre: a Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém. CAPÍTULO XXXIII 1 - Então, o que faremos, irmãos? Deveríamos renunciar à prática do bem e 22 desertar de Seu amor? Jamais permita o Senhor que isso aconteça conosco. Ao contrário, devemos nos esforçar para cumprir toda a obra boa com disponibilidade entusiástica, 2 - já que o próprio Criador e Senhor de tudo se regozija de suas obras. 3 - Foi Ele que firmou os céus com poder soberano e os ornamentou com inesgotável sabedoria. Separou, também, a terra da água que a cerca, assentando-a sobre a firmeza de Sua própria vontade. Aos animais que povoam [a terra], chamou-os à existência por sua ordem. Ele fez o mar e os seres que nele habitam, encerrando-os aí com seu poder. 4 - Além disso tudo, com Suas mãos santas e puras, Ele modelou a mais excelente, a maior de Suas obras: o homem. E imprimiu nele os traços de Sua própria imagem, 5 - pois assim falou Deus: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. E Deus criou o homem; varão e mulher os criou". 6 - E, enfim, quando terminou todas essas obras, achou-as boas, abençoou-as e lhes disse: "Crescei e multiplicai-vos". 7 - Reparemos que todos os justos ornamentaram-se de boas obras e também o próprio Senhor teve prazer em ornar-se com boas obras. 8 - Já que temos tal exemplo, submetemo-nos sem demora à sua vontade e, com todas as forças, pratiquemos as obras da justiça. CAPÍTULO XXXIV 1 - O bom trabalhador aceita, desinibidamente, o pão que ganhou com seu trabalho. Já o preguiçoso e negligente foge do olhar de seu senhor. 2 - Portanto, é necessário que estejamos dispostos a executar as boas obras, já que elas derivam Dele. 3 - E foi assim que nos preveniu: "Eis o Senhor! Sua recompensa está diante Dele, para retribuir a cada um conforme suas obras". 4 - Assim nos exorta a confiarmos Nele de todo o coração, para que não sejamos preguiçosos nem indolentes para nenhuma boa obra. 5 - Nossa glória e segurança estão Nele! Submetamo-nos à sua vontade! Pensemos no grande número de anjos que estão prontos para servirem à Sua vontade. 23 6 - Assim diz a Escritura: "Milhares e milhares estavam diante dele e centenas de milhares o serviam e clamavam: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos. Toda a criação está cheia de sua glória'". 7 - Também nós, reunidos harmoniosamente com a mesma finalidade, conscientes de nosso dever, clamamos a ele sem nos cansarmos, numa só voz, para nos tornarmos participantes das Suas grandiosas e magníficas promessas, 8 - pois é Ele quem diz: "Nenhum olho viu, nenhum ouvido escutou e nenhum coração humano penetrou o que Deus de grande preparou para os que Nele confiam." CAPÍTULO XXXV 1 - Meus amados, como são ricos e admiráveis os presentes de Deus! 2 - Vida em imortalidade, esplendor em justiça, verdade em liberdade, fé em confiança, continência em santidade... e tudo isso chegou ao nosso conhecimento. 3 - Então, o que não há de estar preparado para os que nele aguardam? O Criador e Pai dos séculos, o próprio Santíssimo conhece a grandeza e a beleza de seus dons. 4 - Lutemos, assim, para sermos contados no número dos que Nele esperam, para nos tornarmos participantes de Seus dons prometidos. 5 - Porém, como dar-se-á isso, amados? Fixando nossa mente com confiança em Deus, procurando o que Lhe é agradável e aceito, cumprindo o que convém à Sua santa vontade, seguindo o caminho da verdade, afastando de nós toda injustiça, maldade, ambição, dissensões, malignidade, dolos, murmurações, difamações, recusas de Deus, soberba, jactância, vaidade e falta de hospitalidade. 6 - Os praticantes de tais obras são réus do ódio de Deus, [mas] não apenas os que as praticam, como também quem as aprovam. 7 - Assim diz a Escritura: "Porém Deus disse ao pecador: 'Para que explicas os meus mandamentos e pronuncias sobre a minha aliança? 8 - Detestaste a disciplina e abandonaste minhas palavras. Quando vias um ladrão, corrias com ele; combináveis com os adúlteros. Tua boca estava 24 cheia de malícia e tua língua provocava enganos. Tranqüilamente difamavas teu irmão e entregavas ao escândalo o filho de tua mãe. 9 - Era o que fazias enquanto Eu me calava. Impiamente supunhas que Sou semelhante a ti. 10 - Hei de confundir e obrigar-te a ver-te de frente. 11 - Compreendei, afinal, estas coisas, vós que esqueceis de Deus, para que não vos arrebate como um leão e já não se encontre quem vos liberte. 12 - Um sacrifício de louvor há de Me glorificar e aí está o caminho no qual lhe mostrarei a salvação de Deus'". CAPÍTULO XXXVI 1 - Amados irmãos, este é o caminho no qual encontramos a nossa salvação: Jesus Cristo, o sumo-sacerdote de nossas oferendas, o protetor e auxílio em nossa fraqueza. 2 - Por ele, olhamos para o alto dos céus. Através dele, descobrimos a face imaculada e soberana de Deus. Através dele, abriram-se os olhos do nosso coração. Através dele, nossa inteligência obtusa e obscura se abre ao encontro da luz. Através dele, o Senhor quis que saboreássemos do conhecimento imortal. Sendo Ele o esplendor de Sua grandeza, é tanto maior que os anjos, tendo recebido em herança um nome superior ao deles. 3 - Pois assim está escrito: "Aquele que fez os ventos serem seus anjos e as chamas do fogo serem seus servos". 4 - Assim falou o Senhor a respeito de seu Filho: "Meu Filho és tu. Hoje Eu te gerei: pede-Me e Eu te darei as nações como herança e os confins da terra como possessão". 5 - E outra vez Lhe diz: "Senta-te à minha direita, até que ponha teus inimigos como escabelo de teus pés". 6 - Quem seriam estes inimigos? [Certamente,] os maus e os que se opõem à Sua vontade. CAPÍTULO XXXVII 25 1 - Irmãos, militemos com todo entusiasmo sob Suas ordens indiscutíveis. 2 - Observemos nos soldados que servem sob as bandeiras dos nossos imperadores, como cumprem as ordens com disciplina, prontidão e submissão. 3 - Nem todos são comandantes, nem todos são chefes de mil, nem chefes de cem, nem chefes de cinqüenta e assim por diante, mas cada qual cumpre, em seu próprio posto, as ordens emanadas pelo chefe supremo e demais autoridades. 4 - Os grandes nada podem sem os pequenos e os pequenos nada podem sem os grandes. Em tudo existe alguma mistura e aí está a vantagem. 5 - Exemplifiquemos com o nosso corpo: a cabeça sem os pés nada é; nem, tampouco, os pés sem a cabeça. Até os menores membros do corpo são úteis e necessários ao resto do corpo. Todos convivem e atuam em submissão unânime para salvarem todo o corpo. CAPÍTULO XXXVIII 1 - Que se conserve, portanto, por inteiro o corpo que formamos em Jesus Cristo e cada um se submeta a seu próximo, conforme o carisma que lhe foi dado. 2 - O forte cuide do fraco e o fraco, por sua vez, respeite o forte. O rico preste serviço ao pobre e o pobre, por sua vez, renda graças a Deus, que lhe deu o suficiente para suprir sua falta. O sábio manifeste sua sabedoria não por palavras, mas por obras. O humilde não dê testemunho de si mesmo, mas permita que o outro o dê a seu favor. O casto em sua carne não se envaideça pois sabe que é Outro quem lhe dá a continência. 3 - Afinal, irmãos, analisemos de que matéria fomos feitos, como e quem fomos ao entrarmos no mundo, de que sepulcro e escuridão nosso oleiro e criador nos tirou para nos introduzir em Seu mundo, Ele que preparou para nós todos os Seus dons antes mesmo que nascêssemos. 4 - Já que temos tudo isso Dele, devemos render-Lhe graças por tudo. A Ele, a glória pelos séculos. Amém. 26 CAPÍTULO XXXIX 1 - Ignorantes e insensatos, loucos e incultos zombam e escarnecem de nós, querendo dar importância às suas idéias. 2 - O quanto pode um mortal, qual a força de alguém que nasceu da terra? 3 - Está escrito: "Não havia forma aos meus olhos, mas percebi um hálito e uma voz que dizia: 4 - Como haveria de ser puro um mortal diante do Senhor ou irrepreensível um homem por causa de suas obras? Se nem Deus pode confiar em seus servos e se junto a seus anjos encontrou algo de errado?' 5 - Nem o céu é puro diante Dele, como, então, poderiam ser [puros] os hóspedes dos ranchos de barro, aos quais pertencemos, sendo nós do mesmo barro? Esmagou-os como vermes e entre a manhã e a noite deixaram de existir. Pereceram porque não podem se ajudar por si próprios. 6 - Soprou sobre eles e morreram por não terem sabedoria. 7 - Grita! Talvez alguém te escute ou vejas algum dos santos anjos. Realmente a cólera consome o tolo e o ciúme mata aquele que se desviou. 8 - Tenho visto alguns tolos deitando raízes, mas logo são consumidos como alimento. 9 - Que seus filhos sejam mantidos longe da salvação, que sejam desprezados ao baterem à porta dos humildes e não se encontre quem os liberte. Aquilo que para eles estava preparado seja alimento dos justos, não encontrando eles saídas para seus males". CAPÍTULO XL 1 - Sendo óbvias todas essas coisas e tendo nós sondado as profundezas do conhecimento de Deus, devemos fazer com ordem tudo aquilo que o Senhor nos mandou cumprir nos tempos determinados: 2 - Mandou-nos oferecer os sacrifícios e celebrar o culto, não ao acaso ou desordenadamente, mas com tempos e horas marcadas. 3 - Foi Ele quem fixou, por sua decisão altíssima, onde e quais ministros 27 deverão fazê-los, para que tudo fosse feito de forma santa, sendo aceito por sua vontade. 4 - Aqueles que fazem suas oferendas dentro dos tempos determinados, sãoLhe agradáveis e abençoados, já que seguem as determinações do Senhor e não pecam. 5 - Pois ao sumo-sacerdote foram confiadas tarefas particulares, aos sacerdotes um lugar próprio, aos levitas certos serviços e o leigo liga-se pelas ordenações exclusivas dos leigos. CAPÍTULO XLI 1 - Irmãos, cada qual de nós agrade o Senhor em sua função, vivendo em boa consciência, não transgredindo as regras de seu ofício e exercendo-o com toda a dignidade. 2 - Irmãos, nem por toda parte são oferecidos sacrifícios perpétuos ou votivos, de expiação e remissão, mas apenas em Jerusalém. E lá mesmo não se oferece em qualquer parte, mas apenas na frente do santuário, sobre o altar, e só depois que o sumo-sacerdote e os seus auxiliares, acima mencionados, examinarem atenciosamente a oferenda. 3 - Aqueles que praticam algo contra aquilo que agrada Sua vontade recebem a morte como castigo. 4Irmãos, vede que, quanto maior o conhecimento com que somos distinguidos, maior o perigo a que nos expomos. CAPÍTULO XLII 1 - Os apóstolos receberam em nosso favor a boa-nova da parte do Senhor Jesus Cristo. E Jesus Cristo foi enviado por Deus. 2 - Portanto, Cristo vem de Deus e os apóstolos [vêm] de Cristo. Esta dupla missão realizou-se em perfeita ordem por vontade de Deus. 3 - Munidos de instruções e plenamente assegurados pela ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiantes na Palavra de Deus, saíram a evangelizar a próxima vinda do Reino de Deus na plenitude do Espírito 28 Santo. 4 - Assim, proclamando a palavra nos campos e nas cidades, estabeleceram suas primícias, como bispos e diáconos, dos futuros fiéis, após prová-los pelo Espírito. 5 - E não se trata de inovação... há séculos que as Escrituras falam de bispos e diáconos, pois assim se lê em algum lugar: "Quero estabelecer os bispos deles na justiça e os seus diáconos na fé". CAPÍTULO XLIII 1 - Por que estranhar que os apóstolos, a quem Cristo confiou, da parte de Deus, tal obra, tenham instituído os acima mencionados? Ora, até o bemaventurado e servo fiel em toda casa, Moisés, assinalou tudo o que lhe fora ordenado nos santos livros. Seguiram-no os demais profetas, juntando os seus testemunhos às leis por ele instituídas. 2 - No momento de irromper o ciúme a respeito do sacerdócio e de se disputarem as tribos, isto é, qual delas deveria ostentar esse título glorioso, ordenou ele aos doze chefes de tribo que lhe trouxessem bastões com o nome de cada tribo gravado. Tomando tais bastões, amarrou-os, assinalouos com os anéis dos chefes e os depositou sobre a mesa de Deus na tenda do testemunho. 3 - Então fechou a tenda, selando as chaves da mesma forma que os bastões. 4 - Disse-lhes, então: "Irmãos, a tribo cujo bastão brotar será a escolhida por Deus para exercer o sacerdócio e ministrar seu culto". 5 - Ao amanhecer, reuniu todo Israel, os seiscentos mil homens, mostrou os selos aos chefes, abriu a tenda do testemunho e retirou os bastões. E ocorreu que o bastão de Aarão não só germinara como também produzira fruto. 8 - Então, o que lhes parece, irmãos? Acaso Moisés não sabia, previamente, que era isso o que ocorreria? Sem dúvida sabia-o. Mas, para que não irrompesse uma revolta em Israel, agiu dessa maneira, para que fosse glorificado o nome do verdadeiro e único Deus. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém. 29 CAPÍTULO XLIV 1 - Também os apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. 2 - Por tal motivo e como tivessem pleno conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles, outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. 3 - Os que assim foram instituídos por eles ou, mais tarde, por outros eminentes homens com a aprovação de toda a Igreja, servindo de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo, com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo o testemunho favorável por longo tempo e da parte de todos, não é justo, em nossa opinião, serem depostos de seus ministérios. 4 - E não será pequena a nossa falta se depusermos do episcopado aqueles que ofereceram, de maneira santa e irrepreensível, os sacrifícios. 5 - Bem-aventurados os presbíteros que nos precederam na caminhada e terminaram sua jornada carregados de frutos e perfeição. Não têm a temer que alguém os remova do lugar para eles preparado. 6 - Vemos que vós afastastes a alguns de boa índole de um ministério que eles honraram de forma digna. CAPÍTULO XLV 1 - Irmãos, cheios de zelo, disputai pelas coisas que levam à salvação. 2 - Vós vos aprofundastes nas verdadeiras Escrituras Sagradas, que nos vêm do Espírito Santo. 3 - Sabeis que elas não são injustas, nem contêm falsificação. Lá não encontrareis que homens justos foram depostos por homens santos. 4 - Ao contrário, os justos foram perseguidos por pecadores, foram encarcerados por ímpios, foram apedrejados por transgressores da lei, foram assassinados por homens cheios de ciúmes abomináveis e criminosos. 5 - Tais sofrimentos eles suportam com glória. 6 - O que diríamos então, irmãos? Acaso Daniel foi lançado à cova por 30 homens tementes a Deus? 7 - E quanto a Ananias, Azarias e Misael: foram eles lançados à fornalha ardente por homens que praticavam o culto excelso e glorioso do Altíssimo? De modo algum! Então, quem praticou tais coisas? Foram indivíduos odiosos, cheios de maldade e que nutriam tal fúria que mandavam à tortura todos aqueles que serviam a Deus com santa e irrepreensível intenção, esquecendo-se que o Altíssimo é defensor e escudo daqueles que servem a seu Santíssimo Nome com consciência pura. A Ele, a glória pelos séculos dos séculos. Amém. 8 - Os que perseveraram na paciência, receberam glória e honra como herança, foram exaltados e inscritos no livro da memória de Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém. CAPÍTULO XLVI 1 - Irmãos, temos que nos apegar a tais exemplos, 2 - pois está escrito: "Apegai-vos aos santos porque os que a eles se apegam serão santificados". 3 - E, de novo, em outra parte, se diz: "Junto ao homem puro serás puro. Junto ao eleito serás eleito. Junto ao perverso serás perverso". 4 - Apeguemo-nos, pois, aos puros e justos porque são esses os eleitos de Deus. 5 - Por que entre vós existem disputas, ódios, contendas, cismas e guerras? 6 - Acaso não temos um só Deus, um só Cristo e um só Espírito da graça derramado sobre nós e uma só vocação em Cristo? 7 - Por que insistimos em separar e despedaçar os membros de Cristo, nos revoltando contra o próprio corpo, chegando a uma loucura tal que nos esquecemos que somos membros uns dos outros? Lembrai-vos das palavras de Nosso Senhor Jesus, 8 - porque foi Ele quem disse: "Ai daquele homem! Melhor seria que não tivesse nascido do que escandalizar um dos meus eleitos. Mais lhe valeria amarrar uma pedra em seu pescoço e afundar no mar do que perverter um dos meus eleitos". 31 9 - Vosso cisma perverteu a muitos, atirou muitos no desânimo, colocou muitos na dúvida, entristeceu-nos a todos. E vossa revolta se prolonga... CAPÍTULO XLVII 1 - Tornai a ler a epístola do bem-aventurado apóstolo Paulo. 2 - O que vos escreveu primeiro, no início do evangelho? 3 - Na verdade, estava ele inspirado pelo Espírito quando vos comunicou normas sobre si próprio, sobre Cefas e Apolo, pois já então formáveis partidos. 4 - Mas o partidarismo daquele tempo importou num pecado muito menor para vós já que vos agrupáveis em torno dos apóstolos e de um homem aprovado por eles. 5 - Refleti, porém: quem são os que vos pervertem neste momento e como enfraqueceram o renome da vossa caridade tão celebrada por todos. 6 - Uma vergonha, meus caros, uma vergonha muito grande e indigna de uma conduta em Cristo ouvir-se que a Igreja dos coríntios, tão inabalável e antiga, se rebele contra os presbíteros por causa de uma ou duas pessoas. 7 - E tal rumor não chegou apenas até nós, mas atingiu também a outros que possuem as mesmas convicções que nós, a ponto de se proferirem blasfêmias ao nome do Senhor por causa da vossa insensatez, por armar perigo para vós próprios. CAPÍTULO XLVIII 1 - Arranquemos esse mal o mais rápido possível. Lancemo-nos aos pés do Senhor e peçamos-lhe, entre lágrimas, que se compadeça de nós, reconciliando-se conosco, trazendo-nos de volta a uma prática santa e pura de nossa fraternidade. 2 - Porque é esta a porta da justiça aberta para a vida, conforme está escrito: "Abri-me as portas da justiça: por elas quero entrar e louvar o Senhor. 3 - É esta a porta do Senhor: por ela entrarão os justos". 4 - Entre as muitas portas abertas, a porta da justiça é a porta de Cristo. 32 Bem-aventurados todos aqueles que entram por ela e guiam seus passos na santidade e justiça, cumprindo todas as coisas impertubavelmente. 5 - Que alguém tenha fé, que seja capaz de expor o conhecimento, que seja sábio em discernir os discursos, que seja santo em suas ações. 6 - Quanto maior parecer, mais se deve ser humilde, procurando o proveito de todos e não o próprio. CAPÍTULO XLIX 1 - Quem possui a caridade em Cristo, cumpra os mandamentos de Cristo. 2 - Quem poderia descrever o vínculo da caridade de Deus? 3 - Quem seria capaz de exprimir a magnificência de sua beleza? 4 - É indescritível a altura a que nos leva o amor. 5 - O amor nos une a Deus, o amor cobre os pecados, o amor suporta tudo, o amor é grandioso em tudo. Nada há de mesquinho e soberbo na caridade. A caridade não conhece cisma, a caridade não se revolta, a caridade realiza tudo com harmonia, na caridade todos os eleitos de Deus atingiram a perfeição. Sem caridade, não há nada que agrade a Deus. 6 - Na caridade o Senhor nos acolheu. Pela caridade que teve conosco, Nosso Senhor Jesus Cristo deu Seu sangue por nós, segundo a vontade de Deus; sua carne por nossa carne, sua alma por nossas almas. CAPÍTULO L 1 - Amigos, vede como a caridade é grande e admirável e como não há como descrevê-la de forma perfeita. 2 - Quem seria capaz de chegar até ela a não ser aqueles a quem Deus os torna dignos. Peçamos e supliquemos por Sua misericórdia, para vivermos irrepreensíveis na caridade sem a parcialidade humana. 3Desde Adão, passaram todas as gerações até o dia de hoje. Mas os que foram perfeitos no amor segundo a graça de Deus tomaram posse da terra dos santos e hão de manifestar-se quando o Reino de Cristo estiver à vista. 4 - Pois está escrito: "Entrai nos aposentos por um instante, até que passe 33 minha ira e meu furor. Então me lembrarei do dia favorável e hei de ressuscitar-vos de vossos túmulos". 5 - Amigos, somos felizes quando cumprimos os mandamentos de Deus na harmonia da caridade, para que nossos pecados sejam perdoados pela caridade. 6 - Porque a Escritura diz: "Bem-aventurados aqueles que tiveram perdoadas suas iniqüidades e encobertos seus pecados. Bem-aventurado o homem a quem Deus não imputa pecado e em cuja boca não se encontra a fraude". 7 - Estas bem-aventuranças dizem respeito aos que foram escolhidos por Deus, através de Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem se dê a glória pelos séculos dos séculos. Amém CAPÍTULO LI 1 - Peçamos perdão de nossas quedas e faltas ocorridas pela sugestão do inimigo. Mas também devem considerar nossa comum esperança aqueles que se tornaram os líderes dessa revolta e cisão. 2 - Pois os que vivem no temor e na caridade preferem ver-se a si mesmos atormentados do que os seus irmãos. Preferem ser censurados a ver censurada a concórdia que nos foi transmitida por tão bela e santa tradição. 3 - Mais vale ao homem confessar publicamente suas faltas do que endurecer o coração, da mesma forma como endureceu o coração daqueles que se revoltaram contra Moisés, servo de Deus, e que foram castigados mais tarde, 4 - pois desceram vivos para o inferno, onde a morte os apascentará. 5 - O faraó, seu exército, todos os chefes do Egito, os carros e os que neles estavam não foram lançados ao Mar Vermelho por outro motivo. Aí pereceram porque endureceram seus corações insensatos, após os sinais e milagres realizados por Moisés, servo de Deus, no Egito. CAPÍTULO LII 1 - Irmãos, o Senhor não necessita de absolutamente nada. Não precisa de 34 nada de ninguém, exceto que o confessem. 2 - Pois assim diz Davi, Seu eleito: "Hei de exaltar o Senhor e isso Lhe agradará mais do que um novilho que possua chifres e patas. Que O vejam os pobres e se rejubilem". 3 - E novamente: "Oferece a Deus um sacrifício de louvor. Cumpre teus votos ao Altíssimo. 'Invoca-Me no dia da tua tribulação: Eu te livrarei e me renderás glórias'. 4 - Porque, para Deus, sacrifício é o espírito humilhado." CAPÍTULO LIII 1 - Caríssimos, conheceis - e como conheceis bem - as Sagradas Escrituras: vos aprofundastes nos oráculos de Deus. Escrevemos isto para simplesmente vos recordar das coisas. 2 - Quando Moisés subiu a montanha e aí passou, humildemente, quarenta dias e quarenta noites fazendo jejum, Deus lhe falou: "Desce depressa porque teu povo pecou. Aqueles que conduziste para fora da terra do Egito pecaram e afastaram-se do caminho que prescreveste pois fizeram para si ídolos de metal". 3 - E o Senhor ainda acrescentou: "'Eu já te disse e volto a repetir: vi este povo e quão dura é sua cabeça. Deixa-me exterminá-lo, apagarei seu nome sob os céus e farei de ti uma nação grandiosa e admirável, muito mais numerosa do que esta'. 4 - Mas Moisés respondeu-lhe: 'Senhor, não faças isso! Perdoa o pecado deste povo ou tira de mim o livro dos vivos'". 5 - Ó grande caridade! Ó perfeição insuperável! O servo fala com liberdade com o seu Senhor: exige perdão para o povo ou implora que seja destruído junto com ele. CAPÍTULO LIV 1 - Quem, dentre vós, for nobre, compassivo e cheio de caridade, 2 - diga: "se é por minha causa que há revolta, discórdia e cisma, eu me 35 retiro, parto para onde quiserdes e faço o que for pedido pela comunidade, desde que apenas o rebanho de Cristo viva em paz com os presbíteros constituídos". 3 - Quem agir dessa maneira obterá grande glória em Cristo e será recebido em toda a parte, "pois do Senhor é a terra e sua plenitude". 4 - É isso o que fizeram e ainda fazem os que trilham, sem remorsos, o caminho de Deus. CAPÍTULO LV 1 - Porém, tomemos também exemplos dentre os gentios: quando surge uma peste, muitos reis e príncipes se entregam à morte por inspiração de algum oráculo, para salvar o sangue de seus cidadãos. Muitos outros se retiram de suas cidades, para que a revolta não se estenda. 2 - Conhecemos muitos dentre os nossos que se entregaram à prisão para resgatarem outros. Muitos se entregaram à escravidão para sustentar os demais com o dinheiro pago. 3 - Muitas mulheres, fortalecidas pela graça de Deus, realizaram difíceis tarefas. 4 - A bem-aventurada Judite, durante o cerco da cidade, pediu aos presbíteros a permissão para se ausentar do acampamento dos estrangeiros. 5 - Expondo-se ao perigo, saiu por amor à pátria e ao povo em cerco. E o Senhor entregou Holofernes na mão de uma mulher. 6 - Perfeita na fé, Ester expôs a si mesma num perigo não menor, para salvar da proximidade da morte as doze tribos de Israel. Pelo jejum e humilhação, suplicou ao Senhor que tudo vê, o Deus dos séculos. E este, vendo a humildade de sua alma, salvou o povo em favor daquela que se expusera ao perigo. CAPÍTULO LVI 1 - Supliquemos também nós pelos que vivem no pecado, para que recebam doçura e humildade, para não cederem a nós, mas à vontade de Deus. Assim 36 se tornará frutífera e perfeita a lembrança misericordiosa que deles tivemos diante de Deus e dos santos. 2 - Aceitemos a correção fraterna, a qual, amados, ninguém deve julgar mal. A exortação que damos uns aos outros é boa e muito útil, pois nos une à vontade de Deus. 3 - É isso que testemunha a santa Escritura: "Castigou e tornou a me castigar o Senhor, mas não me entregou à morte. 4 - A quem o Senhor ama, castiga e açoita como a seu filho." 5 - O texto continua: "Há de me castigar, como justo em misericórdia, e há de me corrigir. E enquanto isso, que nenhum óleo dos pecadores ungia a minha cabeça." 6 - E novamente diz: "Bem-aventurado o homem que o Senhor corrigiu. Não recuses a repreensão do todo-poderoso, pois Ele faz sofrer e novamente restabelece. 7 - Bateu e suas mãos curaram. 8 - Seis vezes arrancar-te-á as dificuldades; na sétima, o mal não te atingirá. 9 - Na fome, preservar-te-á da morte. Na guerra, [preservar-te-á] do fio da espada. 10 - Proteger-te-á do açoite da língua, não temerás males vindouros. 11 - Rirás dos injustos e maus, e não temerás os animais selvagens. 12 - Até os animais selvagens viverão em paz contigo. 13 - Verás que tua casa gozará de paz e não faltará comida na tua tenda. 14 - Verás que tua descendência será grande e os teus filhos como a erva miúda do campo. 15 - Descerás ao túmulo como o trigo amadurecido, colhido no tempo certo, ou como feixe da eira, recolhido na hora exata" 16 - Caríssimos, vede quão grande é a proteção para aqueles que aceitam a correção do Senhor, pois Ele nos corrige como bom Pai, para encontrarmos misericórdia por sua santa correção. CAPÍTULO LVII 1 - Portanto, vós que originastes a revolta, submetei-vos aos presbíteros e deixai-vos corrigir até vos converterdes, dobrando os joelhos de vossos 37 corações. 2 - Aprendei a submeter-vos, depondo a arrogante e orgulhosa jactância da vossa língua, pois é muito melhor para vós encontrar-vos no rebanho de Cristo, como pequenos e escolhidos, do que serdes superestimados, mas excluídos da Sua esperança, 3 - pois é assim que se exprime a santíssima sabedoria: "Eis que anunciarvos-ei a palavra do meu Espírito. Dar-vos-ei a conhecer o meu discurso. 4 - Já que chamei e não escutastes, me estendi e não destes atenção, ao contrário, negligenciastes os meus conselhos e fizestes pouco caso das minhas advertências, por isso também rirei da vossa perda, zombarei na hora em que chegar a tua ruína e quando o tumulto se abater sobre vós, catástrofe repentina como uma tempestade, ou quando vos visitar a tribulação e a angústia. 5 - Então me invocarás, porém, não vos escutarei. Pecadores me procurarão, mas não me encontrarão, pois detestaram a sabedoria e não estimaram, acima de tudo, o temor do Senhor, não deram atenção aos meus conselhos, zombaram das minhas advertências. 6 - Por isso, comerão os frutos dos seus erros e saciar-se-ão da sua própria impiedade. 7 - Serão mortos em troca do mal que provocaram aos humildes e o julgamento aniquilará os ímpios. Porém, aquele que Me escuta, habitará sua tenda e, confiando na esperança, viverá em paz sem temer qualquer mal." CAPÍTULO LVIII 1 - Assim, obedeçamos a seu Nome, todo santo e glorioso. Fujamos das ameaças que a sabedoria incute contra os insubmissos, para que possamos fixar nossa tenda confiantes no Nome santíssimo de Sua Majestade. 2 - Acatai ao nosso conselho e não vos arrependereis, pois Deus é vivo, assim como vivo também são Jesus Cristo e o Espírito Santo, e vivas também são a fé e a esperança dos eleitos no sentido daqueles que praticam os mandamentos e preceitos de Deus com humildade, mansidão perseverante e sem hesitação, para serem relacionados e se enfileirarem no número dos que 38 serão salvos por Jesus Cristo, pelo qual rendemos glória pelos séculos dos séculos. Amém. CAPÍTULO LIX 1 - Se, porém, alguns não obedecerem ao que foi dito por nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno. 2 - Contudo, nós seremos inocentes deste pecado e pediremos em súplica e oração constante para que o Criador de tudo conserve intacto o número dos que foram contados entre Seus escolhidos em todo o mundo, por seu Filho mui amado, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual nos chamou das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento da glória de seu nome. 3 - Ele nos ensinou a esperar em Teu Nome, princípio de toda criatura. Tu que nos abriste os olhos do coração para Te conhecermos, ao único Altíssimo nas alturas, Santo que repousa entre os santos: Tu que rebaixas o orgulho dos soberbos, que desfazes as estratégias das nações, que exaltas os humildes e humilhas os que se exaltam, que distribuis a riqueza e a pobreza, que fazes morrer e levas à vida, que és o único benfeitor dos espíritos e Deus de toda carne, que vigias os abismos e controlas as obras dos homens, que és socorro nos perigos e Salvador no desespero, Criador e Bispo de todo espírito, tu que multiplicas as raças sobre a terra e, dentre todas, escolhes os que te amam, por Jesus Cristo, teu Filho amado, pelo qual nos ensinaste, santificaste e glorificaste. 4 - Mestre, nós te pedimos: torna-te nosso socorro e nosso protetor; salva os oprimidos entre nós; levanta os caídos; mostra-te aos que oram; cura os fracos; leva ao bom caminho aqueles do teu povo que erram; sacia os que têm fome; liberta nossos presos; consola os fracos; conheçam-Te todos os povos, porque Tu és o Deus único, e Jesus Cristo é Teu Filho, e nós o Teu povo e ovelhas do Teu rebanho. CAPÍTULO LX 1 - Pois Tu fizeste aparecer a harmonia eterna do universo através das forças 39 que nele operam. Tu, Senhor, criaste a terra habitada. Tu te manténs fiel por todas as gerações, justo nos julgamentos, admirável no poder e na majestade, sábio ao criar e providente ao sustentar a criação, bom nos dons visíveis, benigno para com os que em Ti confiam. Misericordioso e compassivo, perdoas nossas iniqüidades, pecados, faltas e negligências. 2 - Não leves em conta todo pecado de teus servos e servas, purifica-nos, ao invés, com a purificação da tua verdade. Dirige nossos passos para andarmos na santidade do coração e para realizarmos o que é bom e agradável aos Teus olhos e aos olhos dos que nos governam. 3 - Sim, Mestre, mostra-nos a tua face para o bem na paz, para nos protegeres com Tua mão forte e nos preservares de todo pecado por teu braço excelso e nos livrares de todos quanto nos odeiam sem motivo 4 - Concede-nos harmonia e paz, a nós e a todos os habitantes da terra, assim como as concedestes a nossos pais quando Te invocaram santamente na fé e na verdade. Torna-nos submissos a Teu Nome todo-poderoso e todo santo, e aos que nos governam e dirigem sobre a terra. CAPÍTULO LXI 1 - Tu, Senhor, lhes deste o poder da autoridade por tua força magnífica e inefável, para que soubéssemos que por Ti lhes foi dada a glória e a honra, e a ele nos submetêssemos em nada contrariando a Tua vontade. Dai-lhes, portanto, Senhor, saúde, paz, concórdia e estabilidade a fim de que possam exercer sem obstáculos a soberania que lhes confiaste. 2 - Pois Tu, Senhor dos céus, Rei dos séculos, dás aos filhos do homem honra, glória e poder sobre o que existe na terra. Tu, Senhor, dirige sua vontade no sentido do que é bom e agradável a Teus olhos, em Tua presença, a fim de que exerçam a autoridade que lhes deste na paz e mansidão, e obtenham Tua graça! 3 - Só Tu podes realizar esses bens e outros maiores ainda entre nós. A Ti exaltamos pelo Sumo-Sacerdote e protetor de nossas almas, Jesus Cristo. Por Ele Te seja dada glória e magnificência, agora e de geração em geração, pelos séculos dos séculos. Amém. 40 CAPÍTULO LXII 1 - Amados irmãos, escrevemo-vos o suficiente a respeito das decisões mais acertadas para nossa religião, como também a respeito da atitude mais favorável para as pessoas que querem levar uma vida santa na piedade e justiça. 2 - Citamos todos os aspectos que dizem respeito à fé, penitência, verdadeira caridade, continência, prudência e paciência, recordando que vos é necessário agradar santamente ao Deus poderoso em justiça, verdade e generosidade, mantendo a concórdia pelo esquecimento da injúria, no amor e na paz, com constante modéstia, como também nossos pais que, como mencionamos, Lhe agradaram, mantendo-se humildes na conduta para com o Pai, Deus e Criador, e para com todos os homens. 3 - Tivemos tanto mais gosto em recordá-lo quanto mais sabíamos estar escrevendo a homens de fé e consideração, que se aprofundaram nas máximas do ensinamento de Deus. CAPÍTULO LXIII 1 - É certo, assim, nos orientarmos por tais e tão grandes exemplos. Curvemos nossa cabeça e ocupemos o lugar da obediência, para acalmarmos a vã revolta e atingirmos com lisura a meta proposta dentro da verdade. 2 - Haveis de nos proporcionar alegria e prazer se vos submeterdes ao que escrevemos pelo Espírito Santo, cortando pela raiz a ira nascida do ciúme, conforme o pedido de paz e concórdia que vos fazemos por esta carta. 3 - Enviamo-vos homens de confiança e prudentes que, desde a juventude até a idade mais avançada, tiveram uma conduta irrepreensível entre nós, e que servirão de testemunhas entre vós e nós. 4 - Assim fizemos para que saibais que toda a nossa preocupação ia e continua indo ao sentido de que se restabeleça imediatamente a paz entre vós. 41 CAPÍTULO LXIV 1 - No restante, que Deus, que tudo enxerga, Senhor dos espíritos, Dono de toda carne e que escolheu o Senhor Jesus Cristo e a nós por Ele, conceda a toda alma que tiver invocado o Seu Nome magnífico e santo, fé, temor, paz, paciência, generosidade, continência, pureza e prudência para agradar ao Seu Nome pelo Sumo-Sacerdote e nosso chefe, Jesus Cristo, pelo qual Lhe seja rendida glória, majestade, poder e honra, agora e por todos os séculos dos séculos. Amém. CAPÍTULO LXV 1 - Aos nossos enviados, Cláudio Efebo e Valério Bito, junto com Fortunato, enviai-os rapidamente de volta na paz e com alegria, para que logo nos tragam notícias sobre a harmonia e paz, pela qual tanto rezamos e suplicamos e assim, mais depressa, nos alegremos da boa ordem entre vós. 2 - A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja convosco e com todos os eleitos de Deus, através Dele por toda a parte. Por Jesus, seja dada a Deus glória, honra, poder e majestade, o trono eterno, desde todos os séculos e para todos os séculos dos séculos. Amém.  

SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
I. Devemos ter boa consideração por Cristo Irmãos: deveríamos pensar em Jesus Cristo como Deus e Juiz dos vivos e dos mortos. Não deveríamos, ao contrário, pensar em coisas medíocres sobre a salvação pois, quando pensamos em coisas medíocres, esperamos também receber coisas medíocres. Os que escutam que estas coisas são medíocres fazem mal; e nós também fazemos mal não sabendo de onde e por quem e para onde somos chamados, e quantas coisas tem sofrido Jesus Cristo por nossa causa. Que recompensa, pois, Lhe daremos? Ou qual fruto de Seu dom poderá nos ser dado? E quanta misericórdia Lhe devemos! Eis que Ele nos concedeu a luz; nos chamou como um pai chama seus filhos; nos salvou quando estávamos morrendo... Que louvor Lhe rendemos? Ou o que foi pago de recompensa pelas coisas que temos recebido, já que éramos cegos em nosso entendimento; rendíamos culto a paus e pedras, a ouro, prata e bronze, obras humanas; e toda a nossa vida não era outra coisa que a própria morte? Assim, pois, quando estávamos envolvidos nas trevas e oprimidos em nossa visão por esse espesso nevoeiro, recobramos a vista e pusemos de lado, por Sua vontade, a nuvem que nos encobria. Ele teve misericórdia de nós! Em sua compaixão nos salvou, pois nos vira mergulhados no erro e na perdição, quando não tínhamos esperança de salvação, exceto a que vinha d'Ele! Ele nos chamou quando ainda não éramos; e do nosso não ser, quis Ele que fôssemos. II. A Igreja: anteriormente estéril, é agora fértil "Regozija-te, ó estéril. Prorrompe em cânticos e gritos de júbilo aquela que nunca pôde parir; porque superiores são os filhos da desamparada do que os daquela que tem marido". Aqui Ele diz: "Regozija-te, ó esteril, a que não dava à luz"; fala de nós, pois nossa Igreja era estéril antes de que lhe fossem dados filhos. Então Ele diz: "Prorrompe em cânticos e gritos de júbilo 43 aquela que nunca pôde parir", significando que, assim como a mulher que está de parto, não devemos nos cansar de oferecer as nossas orações com simplicidade a Deus. Depois, quando diz: "Porque superiores são os filhos da desamparada do que os daquela que tem marido", diz isto porque o nosso povo parecia desamparado e abandonado por Deus, mas agora, tendo crido, passamos a ser mais do que aqueles que pareciam ter Deus. Também outro texto diz: "Não vim para chamar os justos, mas os pecadores". Isto significa que é justo salvar os que perecem, pois é verdadeiramente uma grande e maravilhosa obra confirmar e corroborar não os que estão de pé, mas aqueles que caem. Assim também Cristo quer salvar os que perecem; e salvou a muitos, vindo e chamando-nos quando ja estávamos perecendo. CONFESSAR A CRISTO E TEMER A DEUS III. A obrigação de confessar a Cristo Vemos, pois, que Ele nos dedicou uma grande misericórdia; primeiramente, porque nós que aqui vivemos não sacrificamos aos deuses mortos, nem lhes rendemos culto, mas por meio d'Ele, chegamos a conhecer o Pai da Verdade. Que outra coisa é este conhecimento que Ele nos deu, senão o de não negar Aquele por meio de quem O reconhecemos? Sim, Ele mesmo disse: "Aquele que me confessar, Eu também o confessarei diante de meu Pai". Esta é, portanto, a nossa recompensa, se verdadeiramente confessarmos Aquele por meio de quem alcançamos a salvação. Porém, quando O confessamos? Quando fazemos o que Ele disse e não desobedecemos aos seus mandamentos, e não apenas O honramos com os nossos lábios, mas também com todo o nosso coração e toda a nossa mente. Pois bem, Ele também diz em Isaías: "Esse povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de Mim". IV. A verdadeira confissão de Cristo Portanto, não adianta chamá-Lo apenas de "Senhor", pois isso não nos 44 salvará; eis que Ele disse: "Nem todo que me chama 'Senhor, Senhor' será salvo, mas aquele que opera a justiça". Assim pois, irmãs, devemos confessá- Lo em nossas obras, amando-nos uns aos outros, não cometendo adultério, não falando mal dos outros, não tendo ciúmes, mas sendo moderados, misericordiosos e bondosos. Com estas obras, e não com outras, podemos confessá-Lo. Não precisamos temer aos homens, mas a Deus. Por isso, se fizerdes estas coisas, o Senhor dirá: "Ainda que estejais junto de meu próprio seio, se não cumprirdes os meus mandamentos, Eu os arremessarei para longe e direi: 'Apartai-vos de mim, operários da iniqüidade, estejam onde estiverem'." DESPREZO TOTAL AO MUNDO V. Este mundo deve ser desprezado Portanto, irmãos, renunciemos nossa estadia neste mundo e façamos a vontade d'Aquele que nos chamou; não tenhamos medo de nos apartar deste mundo, pois o Senhor disse: "Sereis como cordeiros no meio de lobos". Porém, Pedro O contestou e disse: "O que ocorre, então, se os lobos devorarem os cordeiros?" E Jesus respondeu a Pedro: "Os cordeiros não precisam ter medo dos lobos depois de mortos. Vós também não deveis temer os que vos matam e nada mais podem fazer. Temei antes Aquele que, depois de tiverdes morrido, tem poder sobre a vossa alma e vosso corpo, para atirá-los na geena de fogo". Vós sabeis, irmãos, que a estadia desta carne neste mundo é depreciável e dura pouco; porém, a promessa de Cristo é grande e maravilhosa, a saber: o repouso do reino que vem e a vida eterna. O que podemos fazer, então, para obtê-los, senão andar em santidade e justiça, e considerar que estas coisas do mundo são estranhas para nós e não desejá-las? Pois quando desejamos estas coisas, nos desviamos do reto caminho. VI. O mundo presente e o mundo futuro são inimigos um do outro Porém o Senhor disse: "Ninguém pode servir a dois senhores". Se desejamos 45 servir ao mesmo tempo a Deus e a Mamon, não teremos qualquer benefício, pois "o que ganhará um homem se obtém para si o mundo e perde a sua alma?". Pois bem: esta época e a futura são inimigas. Uma fala de adultério, contaminação, avareza e mentira; a outra se afasta destas coisas. Portanto, não podemos ser amigos das duas; temos que dizer adeus a uma e ter amizade com a outra. Consideremos que é melhor aborrecer as coisas que estão aqui, pois são depreciáveis, perecíveis, pouco duráveis e amar as coisas de lá, que são boas e imperecíveis; pois se fazemos a vontade de Cristo, teremos descanso, mas se não a fizermos, nada nos livrará do castigo eterno, por desobedecermos os seus mandamentos. E a Escritura diz também em Ezequiel: "Ainda que Noé, Jó e Daniel se levantem, não livrarão seus filhos" do cativeiro. Logo, se nem homens tão justos quanto estes podem, com seus atos de justiça, livrar seus filhos, com que confiança nós entraremos no reino de Deus se não mantivermos o nosso batismo puro e sem mancha? Ou - a menos que existam em nós obras santas e justas - quem será nosso advogado? VII. Devemos aspirar chegar à coroa Assim pois, irmãos, lutemos seriamente, sabendo que a luta está mui próxima, e que, ainda que muitos venham a lutar, nem todos receberão o prêmio, mas apenas os que se esforçarem em alto grau e lutado com valentia. Lutemos de modo que todos possamos receber o prêmio. Assim, corramos em linha reta, em direção à competição incorruptível. Marchemos em direção a ela em grande número e esforcemo-nos para que possamos receber também o prêmio. E se nem todos puderem receber a coroa, pelo menos tentemos nos aproximar dela o máximo possível. Lembremos que aqueles que batalham nas lides corruptíveis, quando descobertos de que lutam de forma ilegítima, primeiro são açoitados e depois eliminados e afastados da competição. Que pensais disto? Que terá sucesso aquele que luta de forma corruptível na competição da incorrupção? Eis que, com relação àqueles que não têm guardado o selo, Ele diz: "Seus vermes não morrerão e seu fogo não se apagará, e serão um exemplo para toda carne". VIII. A necessidade do arrependimento enquanto vivermos neste mundo 46 Nós que estamos na terra, portanto, devemos nos arrepender, porque somos argila na mão do artesão. O oleiro modela uma vasilha e a deforma ou rompe com suas mãos, dando-lhe uma nova forma; uma vez, porém, que a tenha posto no forno aceso, não mais poderá repará-la. Assim também ocorre conosco, enquanto estamos neste mundo: arrependendo-nos de todo coração das coisas más que fizemos na carne, poderemos ser salvos pelo Senhor, em razão da oportunidade para o arrependimento. Mas, quando tivermos partido deste mundo, não poderemos mais confessar, muito menos arrepender-se. Portanto, irmãos, se fazemos a vontade do Pai, se mantemos pura a carne, se guardamos os mandamentos do Senhor, receberemos a vida eterna. Eis o que o Senhor diz no Evangelho: "Se não guardastes o que era pequeno, quem vos dará o que é grande? Pois eu vos digo: o que é fiel no pouco, é fiel também no muito". Na verdade, o que Ele quer dizer é: mantenham a carne pura e o selo sem mácula, para que possam receber a vida. IX. Seremos julgados na carne Que ninguém entre vós diga que esta carne não será julgada, nem que não se levantará novamente. Entendei isto: Em que fostes salvos? Em que recobrastes a vista se não nesta carne? Portanto, temos que guardar a carne como templo de Deus, pois da mesma forma que fostes chamados na carne, sereis também julgados na carne. Se Cristo, o Senhor que nos salvou, sendo primeiramente espírito, se fez carne e nela nos chamou, da mesma maneira receberemos nossa recompensa nesta carne. Assim, amemo-nos uns aos outros, para que possamos entrar no reino de Deus. Enquanto tivermos tempo para ser curados, coloquemo-nos nas mãos de Deus, o médico, dirigindo-lhe um tributo. De que tipo? Arrependimento procedente de um coração sincero, porque Ele conhece todas as coisas com antecedência e sabe o que existe no nosso coração. Portanto, dediquemos a Ele um eterno louvor, não só com os lábios mas também com o nosso coração, para que Ele possa nos acolher como filhos. Eis que o Senhor também disse: "Estes são os meus irmãos: aqueles que fazem a vontade do meu Pai". 47 X. O vício deve ser abandonado e a virtude seguida Desta forma, meus irmãos, façamos a vontade do Pai que nos chamou, para que possamos viver; e continuemos na virtude, abandonando o vício como precursor dos nossos pecados, e nos afastemos da impiedade para não não nos sobrevenham males. Pois se somos diligentes em fazer o bem, a paz virá a todos nós. Por esta causa é impossível ao homem alcançar a felicidade: ele é influenciado pelo temor de outros homens, preferindo o gôzo deste mundo à promessa da vida vindoura. Na verdade, não sabem quão grande tormento acarreta o gôzo deste [mundo] e o deleite que proporciona a promessa do [mundo] vindouro. Se fizessem essas coisas com respeito a eles mesmos, ainda seria tolerável; contudo, o que fazer é ensinar o mal a almas inocentes, não sabendo que farão jus a uma condenação em dobro: a sua e a dos que os ouviram. CONFIAR EM DEUS XI. Devemos seguir a Deus e confiar nas Suas promessas Portanto, sirvamos a Deus com o coração puro, para sermos justos; porém, se não o Servirmos, porque não cremos na promessa de Deus, seremos desgraçados, pois a palavra da profecia diz também: "Desgraçados os indecisos, que duvidam em seu coração e dizem: 'Essas coisas temos ouvido, inclusive nos dias de nossos pais; entretanto, temos aguardado dia após dia e nada temos visto. Estúpidos! Comparem-se a árvores; a uma vinha, por exemplo: primeiro, desprendem-se as folhas, logo sai um broto, depois vem o agraz e, por fim, as uvas maduras. Do mesmo modo meu povo passou por problemas e aflições; porém, depois receberá as coisas boas". Assim, meus irmãos, não sejamos indecisos, mas soframos com paciência na esperança, para que possamos obter também a nossa recompensa. "Porque fiel é Aquele que prometeu" pagar a cada um a recompensa por suas obras. Se temos feito justiça, portanto, aos olhos de Deus, entraremos em seu reino e receberemos as promessas que nenhum "ouvido ouviu, nem nenhum olho viu, nem ainda acessou o coração do homem". 48 XII. Devemos olhar constantemente para o Reino de Deus Deste modo, esperemos o reino de Deus, hora após hora, com amor e justiça, já que não sabemos qual será o dia da aparição de Deus. Eis que o mesmo Senhor, quando certa pessoa lhe perguntou quando viria o seu reino, respondeu: "Quando os dois forem um, quando o que estiver fora for como o que estiver dentro, e o varão for como a mulher, não havendo nem varão, nem mulher". Pois bem: os dois são um quando dizemos a verdade entre nós e entre dois corpos haverá apenas uma alma, sem divisão. E, ao dizer que o exterior será como o interior, quer dizer isto: o interior é a alma e o exterior é o corpo; portanto, da mesma maneira que aparece o corpo, se manifesta a alma em suas boas obras. E, ao dizer o varão como a mulher, nem varão, nem mulher, significa isto: que um irmão ao ver uma irmã não deveria pensar nela como sendo sua mulher e que uma irmã ao ver um irmão não deveria pensar nele como sendo seu homem. Se fizerdes estas coisas - diz Ele - logo vira o reino de Meu Pai. DEUS E A IGREJA ESPIRITUAL XIII. O nome de Deus não deve ser blasfemado Assim, irmãos, arrependamo-nos imediatamente. Sejamos sóbrios para o que é bom, pois estamos cheios de loucura e maldade. Apaguemos os nossos pecados anteriores e arrependamo-nos com toda a alma, para que sejamos salvos. E não agrademos os homens, nem desejemos agradar uns aos outros somente, mas também aos que estão fora, com a nossa justiça, para que o Nome não seja blasfemado por causa de nós. Porque o Senhor disse: "Meu nome é blasfemado de todas as formas entre os gentios". E também: "Ai daquele em razão de quem seja blasfemado o meu nome!" No que é blasfemado? Quando não fazeis as coisas que desejo, pois os gentios, quando ouvem da nossa boca as palavras de Deus, se maravilham de sua formosura e grandeza; porém, quando descobrem que as nossas obras não são dignas das palavras que pregamos, imediatamente começam a blasfemar, afirmando 49 que é um conto mentiroso e um engodo. Porque, quando ouvem que lhe falamos que Deus diz: "Qual é o vosso merecimento, se amais os que vos amam? Será vosso merecimento se amardes os vossos inimigos e aqueles que vos aborrecem", quando ouvem estas coisas, repito, ficam maravilhados de Sua soberana bondade; porém, quando percebem que não apenas não amamos quem nos aborrece, como também não amamos nem aos que nos amam, passam a nos gozar e a nos depreciar, e o Nome é blasfemado. XIV. A Igreja espiritual Portanto, irmãos, se fazemos a vontade de Deus, nosso Pai, pertenceremos à primeira Igreja, que é espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; porém, se não fazemos a vontade do Senhor, seremos como a Escritura, que diz: "Minha casa se transformou em covil de ladrões". Logo, prefiramos ser a Igreja da vida, para que sejamos salvos. E não creio que ignoreis que a Igreja viva "é o corpo de Cristo", porque a Escritura diz: "Deus fez o homem, varão e mulher". O varão é Cristo; a mulher é a Igreja. E os livros e os apóstolos declaram de modo inequívoco que a Igreja não apenas existe agora, pela primeira vez, como assim desde o princípio, porque era espiritual, como nosso Jesus também era espiritual; porém, foi manifestada nos últimos dias para que Ele possa nos salvar. Pois bem: sendo a Igreja espiritual, foi manifestada na carne de Cristo, com o qual nos mostrou que, se alguns de nós a guarda na carne e não a contamina, a receberá novamente no Espírito Santo, pois esta carne é a contrapartida e a cópia do espírito. Nenhum homem que tenha contaminado a cópia, pois, receberá o original como porção suja. Isto é, portanto, o que Ele quer dizer, irmãos: Guardai a carne para que possais participar do espírito. Porém, se dizemos que a carne é a Igreja e o espírito é Cristo, então o que trabalhou de forma corruptível com a carne também trabalhou de forma corruptível com a Igreja. Logo, este não participará do espírito, que é Cristo. Tão excelente é a vida e a imortalidade que esta carne pode receber como sua porção o Espírito Santo que vai unido a ela. Ninguém pode declarar ou dizer "as coisas que Senhor preparou" para os seus eleitos. 50 JUSTIFICAÇÃO E JUÍZO FINAL XV. Quem salva e quem é salvo Pois bem: não creio que haja dado nenhum conselho depreciado a respeito da continência; não me arrependo do que escrevi, pois quis salvar a outro e a mim, seu conselheiro. Porque é uma grande recompensa aconselhar uma alma extraviada, próxima do perecimento, para que possa ser salva. Esta é a recompensa que podemos dar a Deus, que nos criou, se o que fala e escuta, por sua vez, fala e escuta com fé e amor. Portanto, permaneçamos nas coisas que cremos, na justiça e santidade, para que possamos, com confiaça, pedir a Deus que diz: "Quando ainda estás falando, eis que estou aqui contigo", porque estas palavras são a garantia de uma grande promessa, pois o Senhor diz de si mesmo que está mais disposto a dar do que pedir. Percebendo, pois, que somos participantes de uma bondade tão grande, não andemos remissos em obter tantas coisas boas, porque, assim como é grande o prazer que proporcionam estas palavras aos que as escutam, assim será também a condenação que acarretam sobre si mesmos aqueles que as desobedecem. XVI. Preparação para o dia do julgamento Portanto, irmãos, sendo assim que a oportunidade que temos para o arrependimento não tem sido pequena, já que tivemos tempo para ela, voltemo-nos para Deus, que nos chamou, enquanto temos Alguém para nos receber. Porque, se nos desprendermos destes gôzos e vencer a nossa alma, recusando as concupiscências, seremos partícipes da misericórdia de Jesus. Sabeis que o dia do juízo vem chegando, "como um forno aceso, os poderes dos céus se dissolveram", e toda a terra se derreterá como o chumbo levado ao fogo, e então se descobrirá os segredos das obras ocultas dos homens. A esmola é coisa boa para se arrepender do pecado; o jejum é melhor que a oração, mas a esmola é melhor que estes dois. O amor cobrirá uma multidão de pecados, porém a oração feita em boa consciência livrará da morte. Bem- 51 aventurado o homem que tiver abundância destas coisas, porque a esmola quitará o peso do pecado. XVII. [continuação] Arrependamo-nos, pois, de todo coração, para que nenhum de nós pereça durante o caminho, pois se recebemos um mandamento de que devemos também nos ocupar disto, afastando os homens de seus ídolos e instruí-los, como é péssimo que uma alma que conhece a Deus venha a perecer! Assim, ajudemo-nos uns aos outros, de modo que possamos guir o débil até o alto, abraçando o que for bom, a fim de que todos possam ser salvos; e convertamo-nos e admoestamo-nos uns aos outros. E não pensemos em atentar e crer somente agora, quando estamos sendo admoestados pelos presbíteros, mas também quando partirmos para as nossas casas, recordemos os mandamentos do Senhor e não permitamos ser arrastados para outro caminho por nossos desejos mundanos. Assim mesmo, venhamos aqui com mais freqüência e esforcemo-nos em progredir nos mandamentos do Senhor, para que, unânimes, possamos ser reunidos para a vida, pois o Senhor disse: "Venho para reunir todas as nações, tribos e línguas". Ao dizer isto, fala do dia da sua aparição, quando vier nos redimir, a cada segundo as suas obras. E os não crentes verão a Sua glória e o Seu poder, e cairão assombrados ao ver o reino do mundo ser entregue a Jesus; então dirão: "Ai de nós, porque Tu eras e nós não te conhecíamos e não críamos em Ti; e não obedecemos aos presbíteros quando nos falaram da nossa salvação". E "os vermes não morrerão e seu fogo não se apagará, e servirão de exemplo para toda a carne". Está dito do dia do juízo, que os homens verão aqueles que, entre vós, viveram vidas ímpias e tiveram obras falsas quanto aos mandamentos de Jesus Cristo. Porém, os justos, tendo boas obras e sofrido tormentos, bem como aborrecido os prazeres da alma, quando contemplarem aos que têm obras más e negaram a Jesus com suas palavras e atos, sendo castigados com penosos tormentos e um fogo inextingüível, darão glória a Deus, dizendo: "Há esperança para Aquele que serviu a Deus de todo coração". 52 XVIII. O autor, ainda pecador, busca a salvação Assim, sejamos contados entre os que rendem graças, entre os que serviram a Deus e não entre os ímpios que serão julgados. Porque eu também, sendo um grande pecador e ainda não livre da tentação, em meio às ciladas do diabo, procuro com diligência seguir a justiça, para poder, pelo menos, chegar próximo, já que temo o juízo vindouro. EXORTAÇÕES FINAIS XIX. Recompensa dos justos, ainda que possam sofrer Portanto, irmãos e irmãs, após ouvir o Deus da verdade, leio-vos uma exortação a fim de que possais prestar atenção às coisas que estão escritas, para que possais salvar-vos a vós mesmos e aos que vivem no meio de vós. Peço-vos como que uma recompensa: arrependei-vos de todo coração e procureis a salvação e a Vida. Fazendo isto, estabeleceremos um objetivo para todos os jovens que desejam esforçar-se na perseguição da piedade e da bondade de Deus. E não nos desanimemos ou aflijamos, como os estúpidos, quando alguém nos aconselhar para que deixemos a injustiça e busquemos a justiça, porque às vezes, quando temos obras más, não nos damos conta disto por causa da indecisão e incredulidade que bate nos nossos peitos, e nosso entendimento é encoberto pelas nossas vãs concupiscências. Portanto, ponhamos em prática a justiça, para que possamos ser salvos até o fim. Bem-aventurados aqueles que obedecem estes mandamentos; ainda que precisem sofrer aflição por um breve momento no mundo, reconhecerão o fruto imortal da ressurreição. Assim, que não se aflija o que é piedoso, ainda que desgraçado nos presentes dias, pois o espera tempos de boa-aventurança. Voltará a viver no céu com os padres e se regozijará durante toda a eternidade, sem quaisquer penas. 53 XX. As verdadeiras riquezas Não permitas tampouco que isto pertube a tua mente: ver os ímpios possuírem riquezas e os servos de Deus sofrerem apertos. Tenhamos fé, irmãos e irmãs! Estamos lutando nas fileiras de um Deus vivo; recebemos treinamento na vida presente para que possamos ser coroados na [vida] futura. Nenhum justo recolheu o fruto rapidamente, mas espera que este chegue. Porque se Deus desse imediatamente a recompensa aos justos, então nosso treinamento seria pago de forma comercial, e não conforme a piedade, porque não seríamos justos em razão da piedade, mas por causa da ganância. E por isso o juízo divino alcança o espírito daquele que não é justo, e o acorrenta. - Ao único Deus invisível, Pai da verdade, que nos enviou o Salvador e Príncipe da imortalidade, por meio do qual Deus também nos manifestou a verdade e a vida celestial: a Ele seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém

Fonte: https://sumateologica.files.wordpress.com
https://sumateologica.files.wordpress.com/2010/02/clemente_romano_cartas_aos_corintios.pdf

Pergunta ao Grupo:
1.      A Vida de Clemente Romano é um desafio para a nossa espiritualidade? Por quê?
2.      Qual o versículo você deseja destacar nas cartas aos Coríntios?
3.      Quais contribuições poderemos retirar de suas cartas para a nossa espiritualidade?