terça-feira, 7 de novembro de 2017

Estudo 33 - Justino Mártir - I Apologia - Capítulos 60 a 67

33
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Justino Mártir (†165)
I Apologia: Capítulos 60-67


 Resultado de imagem para I e II Apologias ; Diálogo com Trifão


60.
1 O que Platão, explicando a criação, diz no Timeu sobre o Filho de Deus: "Deu-lhe a forma de X no universo", ele o tomou igualmente de Moisés.
2 De fato, nos escritos de Moisés conta-se que, no tempo em que os israelitas tinham saído do Egito e se encontravam no deserto, foram atacados por feras venenosas, víboras, áspides e todo tipo de serpentes, que causavam a morte do povo.
3 Então, por inspiração e impulso de Deus, Moisés pegou bronze, fez uma figura de cruz e a colocou sobre o tabernáculo santo, dizendo ao povo: "Se olhardes para esta figura e crerdes, sereis salvos por meio dela."
4 Feito isso, ele conta que as serpentes morreram e que o povo então escapou da morte.
5 Platão deve ter lido isso e, não compreendendo exatamente, nem entendendo que se tratava da figura da cruz, tomou-a pela letra X grega, e disse que o poder que acompanha a Deus estava primeiro estendido pelo universo em forma de X.
6 Ao falar de terceiro princípio, deve-se também ao fato de ter lido, como dissemos, em Moisés que o Espírito de Deus pairava sobre as águas.
7 Com efeito, Platão dá o segundo lugar ao Verbo, que vem de Deus e que ele disse estar espalhado em forma de X no universo; e dá o terceiro lugar ao Espírito que se disse pairar sobre as águas, e assim fala: "E o terceiro sobre o terceiro".
8 Que haverá uma conflagração universal, escutai como o Espírito profético o anunciou de antemão.
9 Ele diz o seguinte: "Descerá um fogo sempre vivo e devorará o abismo até embaixo".
10Portanto, não somos nós que professamos opiniões iguais aos outros, e sim todos, por imitação, repetem as nossas doutrinas.
11Entre nós tudo isso pode-se ouvir e aprender até daqueles que ignoram as formas das letras, pessoas ignorantes e bárbaras de língua, mas sábias e fiéis de inteligência, e até pessoas mutiladas e privadas de visão. De onde se pode entender que isso não acontece pela sabedoria humana, mas se diz que é pela força de Deus.

O batismo: iluminação e regeneração
61. 1Explicaremos agora de que modo, depois de renovados por Jesus Cristo, nos consagramos a Deus, para que não aconteça que, omitindo este ponto, demos a impressão de proceder um pouco maliciosamente em nossa exposição.
2 Todos os que se convencem e acreditam que são verdadeiras essas coisas que nós ensinamos e dizemos, e prometem que poderão viver de acordo com elas, são instruídos em primeiro lugar para que com jejum orem e peçam perdão a Deus por seus pecados anteriormente cometidos, e nós oramos e jejuamos juntamente com eles.
3 Depois os conduzimos a um lugar onde haja água e pelo mesmo banho de regeneração com que também nós fomos regenerados eles são regenerados, pois então tomam na água o banho em nome de Deus, Pai soberano do universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo e do Espírito Santo.
4 É assim que Cristo disse: "Se não nascerdes de novo, não entrareis no Reino dos Céus"
 5 É evidente para todos que, uma vez nascidos, não é possível entrar de novo no seio de nossas mães.
6 Também o profeta Isaías, como citamos anteriormente, disse como fugiriam dos pecados aqueles que antes pecaram e agora se arrependem.
7 Eis o que ele disse: "Lavai-vos, purificai-vos, tirai as maldades de vossas almas e aprendei a fazer o bem, julgai o órfão e fazei justiça à viúva; então vinde e conversemos, diz o Senhora. Se vossos pecados forem como a púrpura, eu os tornarei brancos como a lã; se forem como o escarlate, eu os alvejarei como a neve.
8 Se não me escutardes, a espada vos devorará, porque assim falou a boca do Senhor."
9 A explicação que aprendemos dos apóstolos sobre isso é a seguinte:
10Uma vez que não tivemos consciência de nosso primeiro nascimento, pois fomos gerados por necessidade de um germe úmido, através da união mútua de nossos pais, e nos criamos em costumes maus e em conduta perversa, agora, para que não continuemos sendo filhos da necessidade e da ignorância, mas da liberdade e do conhecimento e, ao mesmo tempo, alcancemos o perdão de nossos pecados anteriores, pronuncia-se na água, sobre aquele que decidiu regenerar-se e se arrepende de seus pecados, o nome de Deus, Pai e soberano do universo; e aquele que conduz ao banho pronuncia este único nome sobre aquele que vai ser lavado.
11Com efeito, ninguém é capaz de dar um nome ao Deus inefável; se alguém se atrevesse a dizer que esse nome existe, sofreria a mais vergonhosa loucura.
12Esse banho chama-se iluminação, para dar a entender que são iluminados os que aprendem estas coisas.
13O iluminado se lava também em nome de Jesus Cristo, que foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e no nome do Espírito Santo, que, por meio dos profetas, nos anunciou previamente tudo o que se refere a Jesus.

O arremedo diabólico do batismo
62. 1 Os demônios também ouviram que esse banho tinha sido anunciado pelo profeta, e então também se fizeram aspergir aqueles que entram em seus templos e vão aproximar-se deles para lhes-oferecer libações e gorduras, e chegam até a obrigar a um banho completo, antes de entrar nos templos, onde eles se assentam.
2 Também o fato de que os sacerdotes mandem que se descalcem aqueles que entram nos templos e cultuam os demônios, estes conceberam e imitaram daquilo que aconteceu a Moisés, o profeta de que antes falamos.
3 De fato, deve-se saber que, no tempo em que se mandou Moisés desceu ao Egito para daí tirar o povo de Israel, quando ele estava apascentando as ovelhas do seu tio materno na terra da Arábia, nosso Cristo falou com ele de dentro de uma sarça em forma de fogo, e lhe disse: "Desata as sandálias de teus pés, aproxima-te e ouve.
4Ele, descalço, aproximou-se e ouviu que o mandavam descer ao Egito e daí tirar o povo de Israel. Foi aí que recebeu uma força tão grande do mesmo Cristo que lhe falara em forma de fogo. E, de fato, desceu ao Egito e tirou o povo, depois de realizar grandes prodígios que, se desejardes, podeis conhecer fielmente através dos livros do próprio Moisés.

O Verbo na sarça e Moisés
63. 1 Todos os judeus, porém, ainda hoje, ensinam que foi o Deus inominado que falou a Moisés.
2 Por isso, o já mencionado profeta Isaías, repreendendo-os no texto anteriormente citado, disse: "O boi conheceu o seu dono e o asno a manjedoura de seu senhor, mas Israel não me conheceu e meu povo não me compreendeu"
3 E o próprio Jesus Cristo, repreendendo os judeus por não saberem distinguir o que era o Pai e o que era o Filho, também disse: "Ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho; ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai e aqueles aos quais o Filho o revelar"
4 O Verbo de Deus é seu Filho, como dissemos antes.
5 E também se chama mensageiro e embaixador, porque ele anuncia o que se deve conhecer e é enviado para nos manifestar tudo o que o Pai nos comunica. O próprio nosso Senhor o deu a entender, quando disse: "Quem ouve a mim, ouve aquele que me enviou. "
6 O mesmo aparece claramente pelos escritos de Moisés.
7 Com efeito, nestes se diz assim: "O anjo do Senhor falou com Moisés da chama de fogo na sarça e lhe disse: Eu sou Aquele que é, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, o Deus de teus pais.
8 Desce ao Egito e tira dali o meu povo"
9 O que segue podereis, se quiserdes, sabê-lo através dos próprios escritos, pois não é possível transcrever tudo aqui.
10As palavras citadas são suficientes para demonstrar que Jesus Cristo é Filho e embaixador de Deus, e antes era Verbo, que apareceu algumas vezes em forma de fogo, outras em imagem incorpórea e agora, feito homem por vontade de Deus, por causa do gênero humano submeteu-se a sofrer tudo o que os demônios quiseram que os insensatos judeus fizessem com ele.
11Estes, tendo expressamente dito nos escritos de Moisés: “E o anjo de Deus falou a Moisés em fogo de chama desde a sarça e lhe disse: Eu sou Aquele que sou; o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó", insistem que foi o Pai e Artífice do universo quem disse essas palavras.
12Então, repreendendo-os, o Espírito profético disse: "Mas Israel não me conheceu, nem meu povo me compreendeu."
13Por sua vez, Jesus, como já indicamos, estando entre eles, disse: "Ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho; ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai e aqueles aos quais o Filho o revelar".
14Portanto, os judeus que pensam ter sido sempre o Pai do universo quem falou a Moisés, quando na realidade falou-lhe o Filho de Deus, que se chama também mensageiro e embaixador dele, com razão são repreendidos pelo Espírito profético e pelo próprio Cristo, por não terem conhecido nem o Pai, nem o Filho.
15Porque os que dizem que o Filho é o Pai dão prova de que não sabem nem quem é o Pai, nem tomaram conhecimento de que o Pai do universo tenha um Filho que, sendo Verbo e primogênito de Deus, também é Deus.
16Foi este que primeiramente apareceu a Moisés e aos outros profetas em forma de fogo ou por imagem incorpórea e aquele que agora, nos tempos de vosso império, como já dissemos, nasceu homem de uma virgem, conforme o desígnio do Pai. E pela salvação dos que nele creem, quis ser desprezado e sofrer para, com sua morte e ressurreição, vencer a própria morte.
17O que da sarça foi dito a Moisés: "Eu sou Aquele que é, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó", significa que, mesmo depois de mortos, aqueles homens continuavam sendo de Cristo, assim como foram os primeiros de todos os homens que se ocuparam na busca de Deus, pois Abraão foi pai de Isaac, e este pai de Jacó, como o próprio Moisés deixou escrito. Não conhecemos outro texto além de Ex 3,1-6, que mencione este fato. Jetro, sacerdote de Madiã, era sogro de Moisés. Que fosse também seu tio materno, não temos noticia. Contudo, há duas versões que não se conciliam sobre o nome do sogro de Moisés. Em Ex 3,1; 4,18; 18,1 ele se chama Jetro. Em Ex 2,18, Reuel (Nm 10.29).

Outras lembranças pagãs
64. 1 Do que foi dito até aqui, podeis entender que também foram os demônios que introduziram o uso de instalar a imagem da chamada Coré sobre as fontes das águas, dizendo que ela era filha de Zeus, querendo assim imitar o que disse Moisés.
2 Este, com efeito, como citamos antes, disse: "No princípio Deus criou o céu e a terra.
3 A terra era invisível e informe, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas"
4 À imitação desse Espírito de Deus que se dizia pairar sobre as águas, disseram eles que Coré era filha de Zeus.
5 Com igual malícia, disseram também que Atena era filha de Zeus, mas não nascida de união carnal; de fato, ao tomarem conhecimento de que Deus, depois de pensar, criou o mundo por meio de seu Verbo, disseram que Atenas era como que o primeiro pensamento; coisa que consideramos absolutamente ridícula, apresentar uma mulher como imagem do pensamento.
6 De modo semelhante, suas ações argüem os outros chamados filhos de Zeus.

Fraternidade e eucaristia
65. 1 De nossa parte, depois que assim foi lavado aquele que creu e aderiu a nós, nós o levamos aos que se chamam irmãos, no lugar em que estão reunidos, a fim de elevar fervorosamente orações em comum por nós mesmos, por aquele que acaba de ser iluminado e por todos os outros espalhados pelo mundo inteiro, suplicando que se nos conceda, já que conhecemos a verdade, ser encontrados por nossas obras como homens de boa conduta e observantes do que nos mandaram, e assim consigamos a salvação eterna.
2 Terminadas as orações, nos damos mutuamente o ósculo da paz.
3 Depois àquele que preside aos irmãos é oferecido pão e uma vasilha com água e vinho; pegando-os, ele louva e glorifica ao Pai do universo através do nome de seu Filho e do Espírito Santo, e pronuncia uma longa ação de graças, por ter-nos concedido esses dons que dele provêm. Quando o presidente termina as orações e a ação de graças, todo o povo presente aclama, dizendo: "Amém."
4 Amém, em hebraico, significa "assim seja".
5 Depois que o presidente deu ação de graças e todo o povo aclamou, os que entre nós se chamam ministros ou diáconos dão a cada um dos presentes parte do pão, do vinho e da água sobre os quais se pronunciou a ação de graças e os levam aos ausentes.

Teologia da eucaristia
66. 1 Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual ninguém pode participar, a não ser que creia serem verdadeiros nossos ensinamentos e se lavou no banho que traz a remissão dos pecados e a regeneração e vive conforme o que Cristo nos ensinou.
2 De fato, não tomamos essas coisas como pão comum ou bebida ordinária, mas da maneira como Jesus Cristo, nosso Salvador, feito carne por força do Verbo de Deus, teve carne e sangue por nossa salvação, assim nos ensinou que, por virtude da oração ao Verbo que procede de Deus, o alimento sobre o qual foi dita a ação de graças - alimento com o qual, por transformação, se nutrem nosso sangue e nossa carne - é a carne e o sangue daquele mesmo Jesus encarnado.
3 Foi isso que os Apóstolos nas Memórias por eles escritas, que se chamam Evangelhos, nos transmitiram que assim foi mandado a eles, quando Jesus, tomando o pão e dando graças, disse: "Fazei isto em memória de mim, este é o meu corpo"iiii. E igualmente, tomando o cálice e dando graças, disse: "Este é o meu sangue", e só participou isso a eles.
4 E certo que isso também, por arremedo, foi ensinado pelos demônios perversos para ser feito nos mistérios de Mitra; com efeito, nos ritos de um novo iniciado, apresenta-se pão e uma vasilha de água com certas orações, como sabeis ou podeis informar-vos.
Liturgia dominical
67. 1 Depois dessa primeira iniciação, recordamos constantemente entre nós essas coisas e aqueles de nós que possuem alguma coisa socorrem todos os necessitados e sempre nos ajudamos mutuamente.
2 Por tudo o que comemos, bendizemos sempre ao Criador de todas as coisas, por meio de seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo.
3 No dia que se chama do sol, celebra-se uma reunião de todos os que moram nas cidades ou nos campos, e aí se leem, enquanto o tempo o permite, as Memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas.
4 Quando o leitor termina, o presidente faz uma exortação e convite para imitarmos esses belos exemplos.
5 Em seguida, levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo: "Amém". Vem depois a distribuição e participação feita a cada um dos alimentos consagrados pela ação de graças e seu envio aos ausentes pelos diáconos.
6 Os que possuem alguma coisa e queiram, cada um conforme sua livre vontade, dá o que bem lhe parece, e o que foi recolhido se entrega ao presidente. Ele o distribui a órfãos e viúvas, aos que por necessidade ou outra causa estão necessitados, aos que estão nas prisões, aos forasteiros de passagem, numa palavra, ele se torna o provedor de todos os que se encontram em necessidade.
7 Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.

Petição final
68. 1 Portanto, se vos parece que tais doutrinas provêm da razão e da verdade, respeitai-as; mas se as considerais como charlatanice ou coisa de charlatães, desprezai-as. Não decreteis, porém, pena de morte, como contra inimigos, contra aqueles que nenhum crime cometem.
2 De fato, vos avisamos de antemão, que, se vos obstinais em vossa iniquidade, não escapareis do futuro julgamento de Deus. De nossa parte, exclamaremos: "Aconteça o que Deus quiser".
3 Poderíamos também exigir que mandeis celebrar os julgamentos dos cristãos conforme nossa petição, apoiando-nos na carta do máximo e gloriosíssimo César Adriano, vosso pai. Todavia, não vos fizemos nossa súplica, nem dirigimos nossa exposição, porque Adriano o julgasse assim, mas porque estamos persuadidos da justiça de nossas petições.
4 Contudo, anexamos para vós uma cópia da carta de Adriano, para que vejais, segundo o seu teor, que dizemos a verdade.
5 A cópia é a seguinte: "A Mimício Fundano.
6 Recebi uma carta que me foi escrita por Serênio Graniano, homem distinto, a quem sucedeste.
7 Não me parece que o assunto deva ficar sem esclarecimento, a fim de que os homens não se perturbem, nem se facilitem as malfeitorias dos delatores.
8 Dessa forma, se os provincianos são capazes de sustentar abertamente a sua demanda contra os cristãos, de modo que respondam a ela diante do tribunal, deverão ater-se a esse procedimento e não a meras petições e gritarias.
9 Com efeito, é muito mais conveniente que, se alguém pretende fazer uma acusação, examines tu o assunto.
10Em conclusão, se alguém acusa os cristãos e demonstra que realizam alguma coisa contra as leis, determina a pena, conforme a gravidade do delito. Mas, por Hércules, se a acusação é caluniosa, castiga-o com maior severidade e cuida para que não fique impune."


Quais versículos você gostaria de destacar?
Em que este texto serviu para sua espiritualidade?



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