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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Hipólito de
Roma (160 - 235)
Obra: Tradição Apostólica
Parte I (Capítulos 1 a 11).
INTRODUÇÃO
Já tratamos de
forma conveniente sobre os carismas, esses dons que Deus pôs à disposição dos
homens desde o princípio, conforme Sua vontade, atraindo para Si a imagem que
Dele se afastara. Agora, movidos pelo amor que devemos a todos os santos,
atingimos o ponto máximo da tradição: o que diz respeito às igrejas. Todos,
assim, bem instruídos, devem conservar a tradição que perdura até hoje e,
conhecendo-a através de nossas palavras, devem permanecer absolutamente firmes,
já que o ocorrido recentemente (heresia ou erro) foi motivado pela ignorância e
também pelos ignorantes. Que o Espírito Santo conceda a graça perfeita àqueles
que crêem na verdade ortodoxa, para que aqueles que lideram a Igreja possam
saber como ensinar e preservar tudo de forma conveniente.
1. ESCOLHA E CONSAGRAÇÃO DOS BISPOS
Deve ser ordenado bispo aquele
que tenha sido eleito incontestavelmente por todo o povo. Quando for chamado
por seu nome e aceito por todos, reunir-se-ão, no domingo, todo o povo, o
presbitério e os bispos. Então, após o consentimento de todos, os bispos
imporão as mãos sobre ele e o presbitério permanecerá imóvel. Todos
permanecerão em silêncio, orando no coração pela vinda do Espírito Santo. A
seguir, um dos bispos, por consenso geral, imporá as mãos sobre o que está
sendo ordenado e rezará, dizendo: "Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, Pai da misericórdia e Deus de todo consolo, que habitas nas alturas e
baixas o olhar para o humilde; tu, que sabes de todas as coisas antes de
nascerem; tu, que deste as leis da tua Igreja pela palavra da graça, elegendo a
raça dos justos de Abraão, desde o princípio, constituindo-os chefes e
sacerdotes; tu, que não deixaste teu santuário sem administração; tu, que desde
o princípio dos séculos, te agradas em ser glorificado por estes que elegeste,
derrama neste momento a força que sai de ti, o Espírito de liderança que deste
ao teu querido Filho, Jesus Cristo, e que Ele concedeu aos santos apóstolos, de
forma que constituíram a tua Igreja por toda a parte, o teu Templo, para louvor
e glória eterna do teu nome. Pai, que conheces os corações, permita a este teu
servo que escolheste para o episcopado, apascentar o teu rebanho santo,
desempenhando o primado do sacerdócio de forma irrepreensível perante ti,
servindo-te noite e dia. Concede-lhe tornar propícia a tua imagem,
incessantemente, oferecendo os sacrifícios da tua Santa Igreja e, com um
espírito de superior sacerdócio, possuir o dom de perdoar os pecados conforme a
tua ordem, distribuir os cargos [eclesiásticos] segundo o teu preceito, desatar
quaisquer laços conforme o poder que deste aos apóstolos e ser do teu agrado,
pela mansidão e pureza de coração, para que te ofereça um perfume agradável,
por teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder e honra, ao Pai,
ao Filho e com o Espírito Santo na Santa Igreja, agora e pelos séculos dos
séculos. Amém".
2. ORAÇÃO EUCARÍSTICA
Assim que se tenha tornado bispo,
todos ofereçam-lhe o ósculo da paz, saudando-o por tornar-se digno. Os
diáconos, então, oferecer-lhe-ão o sacrifício e ele, após impor suas mãos
[sobre o sacrifício] dará graças, juntamente com todo o presbitério, dizendo:
"O Senhor esteja convosco". Todos responderão: "E com o teu
espírito". [Dirá:] "Corações ao alto". [Responderão:] "Já
os oferecemos ao Senhor". [Dirá:] "Demos graças ao Senhor".
[Responderão:] "Pois é digno e justo". Em seguida, prosseguirá:
"Nós te damos graças, ó Deus, por teu Filho querido, Jesus Cristo, que nos
enviaste nos últimos tempos, [Ele que é nosso] Salvador e Redentor, porta-voz
da tua vontade, teu Verbo inseparável, por meio de quem fizeste todas as coisas
e, por ser do teu agrado, enviaste do céu ao seio de uma Virgem; aí presente,
cresceu e revelou-se teu Filho, nascido do Espírito Santo e da Virgem.
Cumprindo a tua vontade, obtendo para ti um povo santo, ergueu as mãos enquanto
sofria para salvar do sofrimento todos aqueles que em ti confiaram. Se entregou
voluntariamente à Paixão para destruir a morte, quebrar as cadeias do demônio,
esmagar o poder do mal, iluminar os justos, estabelecer a Lei e trazer à luz a
ressurreição. [Ele] tomou o pão e deu graças a ti, dizendo: 'Tomai e comei:
isto é o meu Corpo que será destruído por vossa causa'. [Depois,] tomou
igualmente o cálice e disse: 'isto é o meu sangue, que será derramado por vossa
causa. Quando fizerdes isto, fá-lo-eis em minha memória'. Por isso, lembramos
de sua morte e ressurreição e oferecemos-te o pão e o cálice, dando-te graças
por nos considerardes dignos de estarmos na tua presença e de te servir. E
pedimos: envie o teu Espírito Santo ao sacrifício da Santa Igreja, reunindo
todos os fiéis que receberem a eucaristia num só rebanho, na plenitude do
Espírito Santo, para fortalecer nossa fé na verdade. Concede que te louvemos e
glorifiquemos, por teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual te damos glória, poder e
honra, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na tua Santa Igreja, agora e
pelos séculos dos séculos. Amém".
3. BENÇÃO DO AZEITE, QUEIJO E AZEITONAS
Se alguém oferecer azeite,
consagre-o como se consagrou o pão e o vinho, não com as mesmas palavras, mas
com o mesmo Espírito. Dê graças, dizendo: "Assim como por este óleo
santificado ungiste reis, sacerdotes e profetas, concede também, ó Deus, a
santidade àqueles que com ele são ungidos e aos que o recebem, proporcionando consolo
aos que o experimentam e saúde aos que dele necessitam". Do mesmo modo, se
alguém oferecer queijo e azeitonas, diga: "Abençoa este leite coalhado,
unindo-nos à tua caridade. Concede, ainda, que este fruto da oliveira não se
afaste da tua doçura por ser um exemplo da abundância que tiraste da árvore
para a vida dos que em ti esperam". E, a cada bênção, diga: "Gloria a
ti, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na Santa Igreja, agora e pelos
séculos dos séculos. Amém".
4.ORDENAÇÃO
DOS PRESBÍTEROS
Ao se ordenar um presbítero, o
bispo (e os demais presbíteros) impõe-lhe as mãos sobre sua cabeça e, como
citamos acima, rezará dizendo: "Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo:
baixa o olhar sobre este teu servo e transmite a ele o Espírito da graça e do conselho
do presbitério, para que ele possa ajudar e governar o teu povo com o coração
puro, da mesma forma como baixaste o olhar sobre o teu povo escolhido e
ordenaste a Moisés que selecionasse anciãos, nos quais derramaste o Espírito
que tinhas dado ao teu servo. E agora, Senhor, dissipando-nos o Espírito da tua
graça, conserva-o eternamente em nós e torna-nos dignos de te servir com
simplicidade de coração e de te louvar por teu Filho, Jesus Cristo, pelo qual
te damos glória, poder e honra, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na
Santa Igreja, agora e pelos séculos dos séculos. Amém".
5. ORDENAÇÃO DOS DIÁCONOS
Seja o diácono eleito conforme
acima referido e ordenado impondo-lhe as mãos apenas do bispo, como
prescrevemos. Somente o bispo impõe-lhe as mãos porque o diácono não está sendo
ordenado para o sacerdócio, mas apenas para se por à serviço do bispo, para
executar o que este lhe ordenar. Ele não participa do conselho clerical, mas
cuida da administração, informando ao bispo tudo o que for necessário. Não
recebe o Espírito comum do presbitério, do qual participam os presbíteros, mas
o que lhe é confiado pelo poder do bispo, razão pela qual somente o bispo
ordena o diácono. Porém, na ordenação do presbítero, também os presbíteros
imponham as mãos, em virtude do Espírito comum e semelhante do seu cargo:
estes, por terem apenas o poder de receber, mas não o de comunicar o Espírito,
não ordenam os clérigos mas, na ordenação do presbítero, imponham as mãos
enquanto o bispo ordenar. Sobre o diácono, diga [o bispo]: "Ó Deus, que
criaste todas as coisas e as ordenaste pelo Verbo, Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que enviaste para cumprir a tua vontade e para nos revelar o teu
desejo, concede a este servo, que escolheste para servir a tua Igreja, o
Espírito Santo da graça, do cuidado e do trabalho, para apresentar em
santidade, no teu Santuário, o que te for oferecido pelo herdeiro do sumo
sacerdote, para a glória do teu nome, e também para que, exercendo de forma
irrepreensível e de coração puro o seu ministério, alcance um grau superior
para te louvar e glorificar por teu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor, pelo qual
te damos glória, poder e honra, ao Pai, ao Filho e com o Espírito Santo na
Santa Igreja, agora e pelos séculos dos séculos. Amém".
6. OS CONFESSORES
Não se deve impor as mãos sobre
um confessor candidato ao diaconato ou presbiterato se este já tiver sido preso
por causa do nome do Senhor. Na realidade, a dignidade de presbítero é igual à
honra da sua confissão. Porém, ser-lhe-ão impostas as mãos se for ordenado
bispo. Contudo, se o confessor não tiver sido levado à frente do magistrado,
nem posto a ferros, nem aprisionado, nem condenado a uma outra pena, mas apenas
desprezado por causa do nome do Senhor e castigado de forma branda, deve-se
impor as mãos sobre ele para qualquer função que lhe seja digno. Que o bispo dê
graças, tal como mencionamos. Porém, não é necessário que, dando graças, se
utilize das mesmas palavras que mencionamos, como se o fizesse de memória; pelo
contrário, reze cada um segundo suas possibilidades. Se alguém tiver capacidade
de rezar uma oração mais longa ou mais solene, melhor; contudo, se outro
proferir uma oração mais simples, deixai-o pois o correto é rezar de acordo com
a ortodoxia.
7. AS VIÚVAS
Uma viúva, ao ser instituída, não
é ordenada, mas eleita pela simples inscrição do nome. Se o seu marido já
morreu há muito tempo, seja instituída; contudo, se o seu marido não morreu há
muito tempo, não se confie nela; mas se for velha, seja experimentada por algum
tempo porque, muitas vezes, as paixões envelhecem com o que as abriga no seu
seio. Seja, portanto, a viúva instituída pela palavra e que se junte às demais.
Não serão impostas as mãos sobre ela pois não oferece o sacrifício, nem exerce
a liturgia. A ordenação é para o clero, por causa da liturgia; a viúva é
instituída para a oração, que pertence a todos.
8. OS LEITORES
O leitor é instituído no momento
em que o bispo lhe entrega o Livro. Sobre ele também não são impostas as mãos.
9. AS VIRGENS
Não serão impostas as mãos sobre
a virgem, pois bastará sua decisão para fazer dela uma virgem.
10. OS SUBDIÁCONOS
Também não serão impostas as mãos
sobre o subdiácono. Ele será nomeado para seguir o diácono.
11. O DOM DA CURA
Se alguém disser que recebeu o dom da cura por revelação,
não serão impostas as mãos sobre ele: os fatos demonstrarão se está dizendo a
verdade.
O que você deseja destacar
no texto?
Como o texto serviu para
sua espiritualidade?
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