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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 11 ao 14)
Capítulo XI – Atitude para com o imperador
Por isso, eu honraria melhor ao
imperador, embora não o adorasse, mas rogasse por ele. Adorar, eu adoro apenas
ao Deus real e verdadeiramente Deus, pois sei que o imperador foi criado por
ele. Então me perguntarás: “Por que não adoras o imperador?” Porque não foi
constituído para ser adorado, mas para que se lhe tribute a legítima honra. Com
efeito, ele não é Deus, mas homem estabelecido por Deus, não para ser adorado,
mas para julgar com justiça. De certo modo, Deus lhe confiou uma administração
e assim como ele próprio não quer que se chame de imperadores os que ele
estabeleceu sob o seu poder, pois o nome “imperador” é particular seu, e a
ninguém é permitido chamar-se dessa forma, da mesma forma a ninguém é lícito
adorar senão a Deus. Portanto, ó homem, estás completamente equivocado em tudo.
Honra ao imperador por tua adesão a ele, submetendo-te a ele, orando por ele.
Fazendo isso, realizarás a vontade de Deus. A lei divina diz: “Meu filho, honra
a Deus e ao rei, e não sejas desobediente a nenhum dos dois, pois eles se
vingarão repentinamente de seus inimigos”.
Capítulo XII – O nome de cristão
Quanto ao fato de zombares de
mim, chamando-me cristão, não sabes o que dizes. Primeiramente, o ungido é
agradável e útil, e não tem nada de ridículo. Com efeito, qual navio pode ser
útil e salvo se antes não for ungido? Que torre ou casa possui bela forma ou é
útil se antes não for ungida? Qual homem, entrando no mundo ou indo ao combate,
não se unge com azeite? Qual obra ou ornato pode ter bela aparência, se não é
ungida e não se torna brilhante? Por fim, todo o ar e toda a terra sob o céu
são de certo modo ungidos pela luz e pelo vento. E tu não queres ser ungido com
o óleo de Deus? Nós nos chamamos cristãos porque nos ungimos com o óleo de
Deus.
Capítulo XIII – Imagens da ressurreição na
natureza
Retornemos à tua negação da
ressurreição dos mortos. Tu dizes: “Mostra-me apenas um morto que tenha
ressuscitado e eu acreditarei.” Em primeiro lugar, o que há de maravilhoso em
creres naquilo que viste acontecer? Por outro lado, crês que Héracles, depois de
queimar-se vivo, ainda vive, e que Asclépio, que foi fulminado, ressuscitou. E
não crês no que Deus te diz? Talvez, se te mostrasse um morto ressuscitado e
vivo, não acreditarias. Ora, Deus te mostra muitos indícios, para que creias
nele. Se queres, considera a morte das estações, dos dias e das noites, como
morrem e ressuscitam. Vê. Não há também uma ressurreição para as sementes e
frutos, e isso para a utilidade dos homens? Assim, por exemplo, um grão de
trigo ou de qualquer outra planta, uma vez jogado na terra, primeiro morre e se
desfaz, depois ressuscita e se transforma em espiga. Do mesmo modo, segundo a
ordenação de Deus, a natureza das árvores e plantas não produz, conforme os
tempos, os seus frutos a partir do oculto e invisível? Ainda mais: às vezes um
pardal ou outro pássaro qualquer engole a semente de uma pereira, de uma
figueira ou de outra árvore, depois voa para um monte pedregoso ou sobre um
túmulo, aí defeca e a semente que fora antes tragada e que passara por tão
grande calor, retorna e se transforma em uma árvore.
A sabedoria de Deus realiza
tudo isso para demonstrar, mesmo por esses exemplos, que ele é Deus poderoso
para realizar a universal ressurreição de todos os homens. Se queres contemplar
um espetáculo mais maravilhoso, que acontece para demonstrar não a ressurreição
de coisas terrenas, mas das celestes, considera a ressurreição da lua, que
acontece a cada mês, como ela se consome, morre e ressuscita novamente. Escuta
ainda: a obra da ressurreição se realiza em ti mesmo, embora tu, ó homem, a
desconheças. Provavelmente alguma vez, ficando doente, perdeste tuas carnes,
tuas forças e aparência; ao recobrar a saúde, por misericórdia de Deus,
recuperaste novamente teu corpo, tua força e tua aparência. E como não sabes
para onde foram tuas carnes ao desvanecer-se, também não sabes como se formaram
e de onde vieram. Tu dirás: “Dos alimentos e dos líquidos transformados em
sangue”. Muito bem! Isso, porém, também é obra de Deus, que assim dispôs, obra
dele e de nenhum outro.
Capítulo XIV – Exemplo pessoal de Teófilo
Portanto, não sejas incrédulo,
mas acredita. Eu também não acreditava que isso existisse, mas agora, depois de
refletir muito, eu creio; ao mesmo tempo, li as Sagradas Escrituras dos santos
profetas, os quais, inspirados pelo Espírtio de Deus, predisseram o passado
como aconteceu, o presente tal como acontece e o futuro tal como se cumprirá.
Por isso, tendo a prova das coisas acontecidas depois de terem sido preditas
não sou incrédulo, mas creio e obedeço a Deus. Eu te peço: submete-te também a
ele, para que, não crendo agora, forçosamente tenhas que crer mais tarde em
tormentos eternos. Exortação final Esses tormentos foram preditos pelos
profetas, e os poetas e filósofos, posteriores a eles, os imitaram a partir das
Sagradas Escrituras, para dar autoridade aos seus ensinamentos. Desse modo,
eles também falaram antecipadamente dos castigos que recairão sobre os ímpios e
incrédulos, para que ficassem testemunhados para todos e ninguém pudesse dizer:
“Não ouvimos falar disso, nem sabemos”. Se queres, lê tu também com interesse
as Escrituras dos profetas e elas te guiarão com mais clareza para escapares
dos castigos eternos e alcançares os bens eternos de Deus. De fato, ele, que
nos deu a boca para falar, que formou o ouvido para ouvir e fez os olhos para
ver, examinará tudo e julgará com justiça, dando a cada um segundo os próprios
méritos. Para aqueles que, segundo suas forças, buscam a incorruptibilidade
através das boas obras, ele dará a vida eterna, a alegria, a paz, o descanso e uma
multidão de bens, que nenhum olho viu, nenhum ouvido e nenhum coração humano
sentiu; mas aos incrédulos, aos zombadores e aos que desobedecem à verdade e
seguem a injustiça, depois de manchar-se com adultérios, fornicações,
pederastias, avarezas e sacrílegas idolatrias, para esses, existirá a ira e a
indignação, a tribulação e a angústia, e, por fim o fogo eterno se apoderará
deles.
Amigo, tu replicaste: “Mostra-me teu Deus”.
Pois bem: esse é o meu Deus, e te aconselho que o temas e creias nele.
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O que desejo destacar no texto?
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Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?
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