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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 1 a 4)
Conforme
explicamos anteriormente, Teófilo de Antioquia (?-186), Teólogo, escritor
cristão, apologista e Padre da Igreja escreveu três cartas em defesa aos
cristãos que continuavam a ser perseguidos no Império Romano. Elas foram
endereçadas a um sujeito chamado Autólico, uma espécie
de pseudônimo que encarna e personaliza um tipo de pessoa pagã que
não devia ser rara nos finais do século II: pessoa culta, conhecedora de outras
pessoas igualmente cultas e até de alguns cristãos a quem repudiava por achar
as suas doutrinas demasiado simplistas. Nesta obra Teófilo continua a escrever
sempre com enorme elegância e clareza de linguagem, as críticas feitas ao
cristianismo e convida o seu leitor a ousar aprofundar os seus conhecimentos
acerca da fé cristã, defendendo, ainda, de modo acérrimo a moral exemplar dos
cristãos.
Capítulo I – Introdução
Excelente
Autólico, há dias tivemos uma conversa, na qual tu me perguntaste qual era o
meu Deus. Expus brevemente minha religião e tu prestaste atenção ao meu
discurso. Despedindo-nos, fomos para casa na melhor amizade, embora no começo
me tenhas tratado com dureza. Sabes e lembras que consideravas loucura o nosso
discurso. Depois disso tu me convidas… Mesmo sendo novato na arte de falar,
quero também agora, através deste escrito, demonstrar-te de modo mais completo
a inutilidade do teu afã e a inanidade da religião que te retém; esclarecerei a
verdade através de algumas histórias do teu próprio grupo, as quais lês, mas
que talvez ainda não tenhas entendido.
Capítulo II – Os ilogismos do
paganismo: Idolatria
Com
efeito, parece-me ridículo que cortadores de pedra, oleiros, pintores e
fundidores modelem, pintem, esculpam, fundam e fabriquem deuses, os quais,
enquanto estão nas mãos dos artífices, não são de maneira alguma apreciados;
contudo, quando alguém os compra e os expõe no que chamam de templo ou em
alguma casa, então são adorados não somente por aqueles que os compraram, mas
aqueles mesmos que os fabricaram e venderam acorrem com grande fervor, com
aparato de sacrifícios e libações para adorá-los, considerando-os deuses, sem
levar em conta que continuam sendo as mesmas coisas por eles fabricadas: pedra,
bronze, madeira, cor ou qualquer outro material. Algo parecido acontece
convosco ao ler as histórias e genealogias dos chamados deuses. Enquanto ledes
seus nascimentos, os considerais como homens; mas depois lhes dais nomes de
deuses e lhes prestais culto, sem perceber nem compreender que tais como lestes
que nasceram, tais de fato existiam.
Capítulo III – Os ilogismos do
paganismo: Antropomorfismo
Ao
menos os deuses antigos, se é certo que nasceram, podia-se ver que tinham uma
longa descendência. Agora, porém, como se pode mostrar a descendência dos
deuses? Com efeito, se antes geravam e nasciam, é evidente que agora também
teriam que nascer deuses gerados. Do contrário, ter-se-á que considerá-los bem
fracos, seja porque se tornaram velhos e por isso não geram, seja porque
morreram e não permanece nenhum rastro deles. De fato, se os deuses antes
geravam, teriam que gerar também agora, como vemos que os homens geram. Além
disso, os deuses teriam que ser mais numerosos do que os homens, como diz a
Sibila: “Se os deuses geram e continuam imortais, os deuses nascidos seriam em
maior número que os homens, e já não haveria lugar para os mortais ficarem”.
Com
efeito, se os filhos gerados pelos homens, que são mortais e de vida curta, existem
até o presente e não cessam de nascer outros homens, e por isso as cidades e
aldeias se multiplicam e até os campos são habitados, quanto mais os deuses
que, segundo os poetas, não morrem, não deveriam gerar e nascer, de acordo com
o que dizeis a respeito do nascimento ou geração dos deuses?
Ainda
mais: Como é que o monte chamado Olimpo era antes habitado por deuses e agora
se encontra deserto? Por que antes Zeus morava no monte Ida, e se sabia que ele
morava ali através de Homero e outros poetas, e agora não se sabe onde anda?
Como é que não estava em toda parte, mas se encontrava em um ponto determinado
da terra? Ou ele não se interessava pelo resto, ou não era capaz de estar em
toda parte e prover tudo. Se ele estava, por exemplo, no Oriente, não estava no
Ocidente. No entanto, é próprio do Deus altíssimo e onipotente e verdadeiro
Deus não só estar em toda parte, mas também ver e ouvir tudo e não ser contido
por nenhum lugar. Do contrário, o lugar que o contivesse seria maior do que
ele, pois o continente é sempre maior do que o contido. De fato, Deus não é
contido, mas é o lugar de todas as coisas. Por que Zeus abandonou o Ida? Morreu
ou não gostava mais desse monte? Então para onde foi? Para os céus? De jeito
nenhum. Dir-me-ás que foi para Creta? Sim, ali se mostra até hoje o seu
sepulcro. Também podes dizer que partiu para Pisa, onde até hoje é enaltecido
pelas mãos de Fídias. Passemos, porém, aos escritos dos filósofos e poetas.
Capítulo IV – As contradições dos
escritores profanos
Alguns
do Pórtico, ou estóicos, chegam a negar totalmente que Deus existe ou, se
existe, afirmam que Deus não se preocupa com ninguém, mas consigo mesmo. E
nisso se manifesta totalmente a insensatez de Epicuro e Crisipo. Outros dizem
que todo o universo se rege pelo acaso, que o mundo é incriado e a natureza é
eterna, e até se atreveram a dizer que não existe absolutamente providência de
Deus, mas que o único Deus é a consciência de cada dia. Outros estabelecem como
dogma que Deus é o espírito que penetra tudo. Quanto a Platão e sua escola,
certamente confessam que Deus é incriado e Pai e Criador do universo; em
seguida, porém, supõem que a matéria é incriada como Deus e que ela tem a mesma
idade de Deus. Mas se, conforme os platônicos, Deus é incriado e a matéria
também o é, o Criador de todas as coisas já não é Deus, nem, seguindo-os, se
percebe a monarquia ou unicidade de Deus. Além disso, como Deus é imutável por
ser incriado, se também a matéria fosse incriada seria pelo mesmo motivo
imutável e parelha de Deus. Com efeito, o criado é variável e mutável; o
incriado é invariável e imutável. E o que de maravilhoso haveria se Deus
tivesse feito o mundo de matéria preexistente? Também um artífice humano,
tomando uma matéria qualquer, faz dela o que quer. Mas o poder de Deus se
manifesta em fazer o que quer do que não existe, de modo que ninguém, a não ser
Deus, pode dar alma e movimento. Um homem fabrica uma estátua, mas não pode
infundir razão, alento ou sentido ao que foi feito por ele. Deus, porém, tem
sobre o homem a vantagem de fazer um ser racional, com alento e sentido. Sendo
Deus mais poderoso que o homem nessas coisas, assim também o é em fazer do nada
e ser criador de tudo o que existe, quando ele quiser e como quiser.
·
O que desejo destacar no texto?
·
Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?
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