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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Primeiro Livro a Autólico (Capítulo 6 ao 10)
Ó homem, considera, portanto,
as obras de Deus: a variedade das estações segundo os tempos, a mudança dos
ares, o curso bem regrado dos elementos, a marcha também ordenada dos dias e
das noites, dos meses e dos anos; a variada formosura das sementes, das plantas
e dos frutos; a grande diversidade de criações: quadrúpedes e aves, répteis e
peixes, seja de água doce, seja do mar; o instinto dado aos mesmos animais para
gerar e criar, não para sua própria utilidade, mas para que o homem aproveite;
a providência com que Deus prepara o alimento para toda carne, a submissão à
humanidade que ele impôs a todas as coisas; as torrentes das fontes doces e dos
rios perenes, o aparecimento oportuno do orvalho, das chuvas e das tempestades
que acontecem segundo os tempos; o movimento tão variado dos elementos
celestes, o luzeiro da manhã que surge para anunciar a vinda do grande astro, a
conjunção da Plêiade e do Órion, o Arturo e o coro dos outros astros que
circulam na abóbada celeste, aos quais a infinita sabedoria de Deus pôs nomes
próprios.
É unicamente esse Deus que
tirou a luz das trevas, que tira a luz de seus depósitos, que conserva os
depósitos do vento, os reservatórios do abismo, os limites dos mares, os
depósitos das neves e granizos, que junta as águas nos reservatórios do abismo
ejunta as trevas em seus depósitos, tira a luz doce, desejada e grata, de seus
depósitos, faz subir as nuvens da extremidade da terra, multiplica os
relâmpagos para chover, envia o trovão para infundir medo, anuncia de antemão o
seu estrondo por meio do relâmpago, para que a alma não sofra emoção súbita que
a deixaria inanimada, e ainda modera a força do relâmpago que vem dos céus,
para que não abrase a terra. De fato, se o relâmpago desenvolvesse todo o seu
poder, abrasaria a terra e igualmente o trovão transtornaria tudo o que há
nela.
Capítulo VII – Condições intelectuais para o
conhecimento de Deus (cont.)
Esse é o meu Deus, Senhor do
universo, o Único que estendeu os céus e estabeleceu a largura da terra sob o
céu, que perturba a profundeza do mar e faz ressoar suas ondas, que domina a
sua força e acalma a agitação de suas ondas, que alicerçou a terra sobre as
águas e deu seu espírito que a alimenta, cujo sopro tudo vivifica e, se ele o
retivesse, tudo desfaleceria. Esse sopro, ó homem, faz a tua voz; tu respiras o
espírito dele, e tu não o conheces. Isso acontece por causa da cegueira de tua
alma e endurecimento do teu coração. Mas, se quiseres, podes curar-te.
Coloca-te nas mãos do médico e ele operará os olhos de tua alma e do teu
coração. Quem é esse médico? É Deus que cura e vivifica através do Verbo e da
Sabedoria. Deus fez tudo a través do seu Verbo e da sua Sabedoria. Por seu
Verbo foram estabelecidos os céus e por seu Espírito toda a força deles. Sua
Sabedoria é poderosíssima. Por sua Sabedoria, Deus colocou os alicerces da
terra, por sua inteligência dispôs os céus, em sua prudência os abismos se
abriram e as nuvens derramaram o orvalho. Fé e visão Ó homem, se compreenderes
isso, e viveres de maneira pura, piedosa e justa, poderás ver a Deus. Antes de
tudo, porém, entrem em teu coração a fé e o temor de Deus, e então
compreenderás isso. Quando depuseres a mortalidade e te revestires da
incorruptibilidade, verás a Deus de maneira digna. Com efeito, Deus
ressuscitará a tua carne, imortal, juntamente com tua alma. Então, tornado
imortal, verás o imortal, contanto que agora tenhas fé nele. Então reconhecerás
que falaste injustamente contra ele.
Capítulo VIII – Crer na ressurreição é
razoável
Tu, porém, não crês que os
mortos ressuscitam. Quando isso acontecer, então crerás, queiras ou não. E essa
crença será considerada incredulidade, se não creres desde agora. Mas, por que
não crês? Não sabes que a fé vai à frente de todas as coisas? De fato, qual
lavrador pode colher, se antes não confia a semente à terra? Ou quem pode
atravessar ornar, se antes não se confia à embarcação e ao piloto? Qual doente
pode curar-se, se antes não se confia ao médico? Qual arte ou ciência pode
alguém aprender, se antes não se entrega e se confia ao mestre? Portanto, se o
lavrador crê na terra, o viajante no navio, o doente no médico, por que tu não
queres confiar-te a Deus, do qual recebeste tantos dons? O primeiro dom é te
haver tirado do nada para o ser. Se houve momento em que nem teu pai, nem tua
mãe existiam, muito menos existias tu. Ele te plasmou de uma substância úmida e
pequena e de uma pequenina gota, que também não existia antes, e finalmente te
introduziu neste mundo. Além disso, crês que as imagens fabricadas por homens
são deuses e que operam prodígios, e não crês que Deus, que te fez, possa
novamente tornar a fazer-te?
Capítulo XIX – Vós credes em outros deuses
Os nomes dos deuses, aos quais
dizes cultuar, são nomes de homens mortos. Quem eram esses e que valiam? Não se
diz que Cronos era comedor de crianças e que devorava seus próprios filhos? Se
falas de Zeus, filho dele, conheças bem sua vida e prodígios. Primeiramente,
foi alimentado no Ida por uma cabra; depois, matando-a e esfolando-a, da pele
fez para si, conforme as fábulas, uma vestimenta. Seus outros feitos, como, por
exemplo, seu casamento com sua irmã, seus adultérios e corrupções de rapazes,
Homero e os outros poetas os cantam melhor do que eu. Além disso, para que
fazer a lista de seus filhos, um Héracles que se queima vivo; um Dioniso
embriagado e louco; um ApoIo que tem medo de Aquiles e dele foge, e depois se
enamora de Dafne e não fica sabendo da morte de Jacinto; uma Afrodite ferida;
um Ares que é perdição dos mortais e, finalmente, o sangue que escorre de todos
esses pretensos deuses? E isso tudo ainda é moderado, quando vemos um deus
esquartejado que chamam de Osíris, do qual a cada ano se celebram mistérios,
como se se perdesse e se encontrasse e fosse procurado membro por membro. Não
se sabe se foi perdido, nem se mostra se foi achado! Por que devo falar de Átis
mutilado, ou de Adônis, que anda errante pela selva, que caça e é ferido por um
javali, ou de Asclépio fulminado, ou de Serápis, que vai fugitivo de Sínope
para Alexandria, ou da frígia Artemis, tonta, fugitiva, assassina, caçadora e
enamorada de Eudimião? Não somos nós que dizemos tudo isso, mas os vossos
escritores e poetas que os apregoam.
Capítulo X – Vós credes em outros deuses
(cont.)
Para que também fazer o
catálogo da multidão de animais que os egípcios cultuam? Répteis e bestas, feras
e aves, peixes das águas, e até os banhos dos pés e os ruídos vergonhosos. Se
me falas dos gregos e das outras nações, elas cultuam pedras, madeiras e outras
matérias, como dissemos antes, que são representações de homens mortos. Com
efeito, sabemos que Fídias fez em Pisa o Zeus Olímpico para os éleos e a Atena
da Acrópole para os atenienses. E agora, eu pergunto também a ti, homem:
Quantos Zeus existem? Em primeiro lugar, chama-se Zeus o olímpico; depois, há
um Zeus latino, um Zeus cássio, um Zeus fulminador, um Zeus Propator, um Zeus
noturno, um Zeus defensor da cidade, um Zeus capitolino. E ainda o Zeus, filho
de Cronos, que foi rei dos cretenses e tem sua sepultura em Creta. Quanto aos
outros, não foram sequer considerados dignos de sepultura. Falar-me-ás da mãe
dos pretensos deuses? Deus me livre nomear com minha boca suas ações, pois não
nos é lícito sequer nomear tais coisas, ou as ações com que seus servidores lhe
prestam culto e as contribuições e tributos que eles e seus filhos pagam ao
imperador. Não são deuses, mas ídolos, como anteriormente dissemos, obras das
mãos dos homens e demônios impuros. Que aqueles que os fabricam se tornem como
eles e aqueles que neles põem a sua confiança.
·
O que desejo destacar no texto?
·
Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?
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