Monte Tabor - Israel
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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Tertuliano de Cartago (155-220)
Apologia (Capítulo
22-23)
CAPÍTULO XXII
Também afirmamos, com certeza, a existência de certos seres espirituais, cujos
nomes não vos são desconhecidos. Os filósofos admitem que existem demônios.
O
próprio Sócrates esperou pela vontade de um demônio. Por que não? Uma vez que
se diz que um espírito mau estava especialmente ao seu lado desde sua juventude
- que, sem dúvidas, desviava sua mente do que era bom.
Todos
os poetas estão, também, de acordo com a existência dos demônios. Mesmo o povo
comum, ignorante, costuma chamá-los quando praguejam. De fato, o povo chama por
Satanás, o líder dos demônios, em suas execrações, como se dele tivesse um
conhecimento instintivo. Platão admite a existência de anjos.
Os
que praticam a magia, se apresentam como testemunhas da existência de ambas as
espécies de espíritos. Somos instruídos, ainda, por nossos livros sagrados, de
como certos anjos, que se degradaram por sua própria liberdade, originaram uma
família de anjos maus, condenados por Deus juntamente com os promotores dessa
degradação.
A
tal líder, acima já nos referimos. Isso seria suficiente para o momento,
contudo, temos alguns relatos de suas obras. A grande tarefa deles é levar à
ruína os homens de boa vontade. Assim, por sua própria maldade espiritual
procuram nossa destruição. Nesse sentido, infligem males a nossos corpos e
outras calamidades mortais, quando com violentos ataques impelem a alma a
repentinos e enormes excessos.
Sua
prodigiosa sutileza e espiritualidade lhes dão acesso a ambas as partes de
nossa natureza. Como espíritos, não podem nos ferir; e porque, invisíveis e
intangíveis, não tomamos conhecimento de suas ações exceto por seus efeitos,
assim como quando algum desconhecido veneno na brisa arruína as maçãs e os
grãos quando ainda em floração, ou os matam no botão, ou os destroem quando
alcançam a maturidade, como se fosse por uma atmosfera corrompida por meios
desconhecidos, espalhando por toda a parte suas exalações pestilenciais.
De
semelhante modo, também, por uma influência igualmente obscura, os demônios
sopram dentro das almas e as incitam à corrupções com paixões furiosas e
excessos vis, ou com cruéis concupiscências, acompanhadas de vários erros, dos
quais o pior é aquele empenho pelos quais tais espíritos se dedicam a enganar e
iludir os seres humanos para obterem seu próprio alimento de carne, vapores e
sangue que são oferecidos às imagens dos ídolos.
Que
alimento mais perverso para o espírito do mal do que afastar as mentes humanas
do verdadeiro Deus com as ilusões de sua falsa divindade? Aqui vos exponho como
tais ilusões são realizadas. Esses espíritos possuem asas. Essa é uma
propriedade comum tanto aos anjos como aos demônios.
Assim,
eles estão em todo lugar, a cada momento; o mundo todo é um único lugar para
eles. Tudo o que é feito no espaço do mundo, para eles se torna fácil tanto de
conhecer como de relatar. Sua sutileza de movimento é tomada como coisa divina,
porque sua natureza é desconhecida. Assim eles são tidos, muitas vezes, como
autores de coisas que então proclamam. Muitas vezes, não há dúvida, as coisas
ruins são de sua autoria, nunca o bem.
Os
propósitos de Deus, igualmente, eles souberam pelos pronunciamentos dos
profetas, logo que eles os faziam. Eles os espionam ainda através de suas
obras, quando os ouvem ler em voz alta. Então, obtendo por essa fonte algumas
afirmações sobre o futuro, se posicionam como próprios rivais do Deus
verdadeiro, enquanto se apropriam do conhecimento divino.
Vossos
Creso e Pirro bem conhecem a habilidade com as quais suas respostas parecem
prever os acontecimentos. É assim que explicamos porque Píton estava apto a
declarar que eles estavam cozinhando uma tartaruga com a carne de um cordeiro.
Num segundo, ele estava na Lídia.
Porque
moram nos ares e por causa de sua proximidade das estrelas e suas comunicações
com as nuvens, eles têm meios de saber os processos preparatórios que ascendem
a essas elevadas regiões e, assim, podem prometer as chuvas, das quais já
tinham conhecimento. Muito hábeis, também, não há dúvidas, são com respeito a
curar as doenças. Primeiramente, eles vos fazem adoecer. Depois, para
demonstrar um milagre, ordenam a aplicação de remédios seja um remédio novo,
seja um inabitual, e rapidamente retirando sua influência mal-sã, se tornam
conhecidos como realizadores de uma cura.
Que
necessidade, então, de falar de seus outros artifícios ou poderes ilusórios que
possuem como espíritos, como daquelas aparições de Castor, da água carregada
numa peneira, de um navio que ultrapassa uma barreira, da barba irritada por um
toque, tudo feito com o propósito de mostrar que os homens deveriam acreditar
na divindade de pedras, e não procurar o único Deus verdadeiro? »
CAPÍTULO XXIII
Ainda mais, se feiticeiras invocam espíritos, e mesmo fazem que apareçam as
almas dos mortos, se matam crianças com o propósito de obterem uma resposta dos
oráculos, se com suas ilusões de prestidigitação têm a pretensão de fazerem
vários milagres, se iludem com sonhos a cabeça do povo pelo poder de demônios,
cuja ajuda pediram, por cuja influência, igualmente, cabras e mesas se tornam
algo divino - quanto mais não é este poder do mal zeloso em fazer com todas as
suas capacidades, a favor de seu próprio propósito, e por seus próprios meios,
o que serve aos objetivos de outros!
Ora
se anjos e demônios fazem exatamente o que vossos deuses fazem, onde nesse caso
está a preeminência da divindade, a quem devemos considerar estar acima de
todos em poder?
Não
seria, então, mais razoável afirmar que esses espíritos se fazem de deuses,
apresentando como apresentam, provas reais que exaltam vossos deuses, do que
afirmar que os deuses são iguais aos anjos e demônios?
Fazeis
uma distinção de lugares, suponho, olhando como deuses em seus templo aqueles
cuja divindade não reconheceis de modo algum. E observe-se a loucura de
considerar como diferentes um homem que sai dos templos sagrados e um outro que
sai do templo ao lado. E de se considerar sob domínio de um furor diferente
aquele que corta seus braços e intimidades e aquele que corta sua garganta.
O
resultado da loucura é o mesmo e a forma de instigação também. Mas há tempo
estamos argumentando somente com palavras. Agora trataremos de apresentar
provas dos fatos, pelas quais mostraremos que sob diferentes nomes tendes uma
mesma e real identidade. Leve-se uma pessoa que está inquestionavelmente sob
possessão demoníaca, ante vossos tribunais.
O
espírito mau ordenado a falar por um seguidor de Cristo prontamente fará a
confissão verdadeira de que ele é um demônio, assim como, de outro modo, ele
falsamente afirmará que é uma divindade. Ou, se quereis assim, que a pessoa
seja possuída por uma divindade, como supondes que seja, a qual aspirando junto
ao altar recebeu a divindade pelos vapores, quando estava em ânsias de vômito,
em espasmos de respiração.
Vede
se a própria Celeste, a prometera de chuva, que Esculápio descobridor de
remédios pronto a prolongar a vida de Socórdio, Tanácio e Asclepiódolo, agora
no além, se eles não confessariam, perante o sangue derramado do mais indigno
seguidor de Cristo, em seu medo de mentir a um cristão, que são demônios.
O
que seria mais evidente do que uma tal comprovação? O que mais verdadeiro do
que tal prova? A simplicidade da verdade será então comprovada. Sua própria
dignidade a sustentará. Não haverá mais lugar para a mínima suspeita. Direis
que isso será feito por mágica, ou por algum truque - mas de que sorte?
Não
podereis dizer nada disso, se vos permitirdes o uso de vossos ouvidos e olhos.
Que argumento podereis levantar contra uma coisa que é exibida aos olhos em sua
realidade nua? Se, por outro lado, eles são realmente deuses, porque pretendem
ser demônios? É por medo de nós?
Nesse
caso, vossa divindade está sob sujeição dos cristãos, e certamente nunca podeis
chamar de divindade àquela que está sob a autoridade do homem e de seu próprios
inimigos (mesmo levando em conta a desgraça da possessão). Se, por outro lado,
eles são demônios ou anjos maus, por que sem provas para isso, ousam se
promoverem agindo com as prerrogativas dos deuses?
E
como seres que se promovem como divindades, não poderiam nunca de boa vontade
se confessarem demônios, se fossem de fato divindades, porque não poderiam
abdicar de sua dignidade. Esses que sabeis ser não mais do que demônios, não
ousariam agir como deuses, se aqueles de cujos nomes se apropriam, usando-os,
fossem realmente divinos.
Pois
que não ousariam tratar com desrespeito a majestade suprema dos seres divinos,
cujo desagrado lhes seria temível. Assim, essas vossas divindades não são
divindades, porque se fossem não iriam querer passar por demônios, e não iriam
querer ver negada sua divindade.
Mas
desde que de ambas as partes há um conhecimento concorrente de que não são
deuses, resta concluirmos que não formam senão uma única família, ou seja, a
família dos demônios, a raça verdadeira de uns e outros. Procurai, então,
doravante, deuses, pois que constatastes serem espíritos do mal aqueles que
tínheis imaginado serem deuses.
A
verdade é, então, como demonstramos de nosso próprio Deus, porque nem ele mesmo
nem nenhum outro reivindica sua divindade. Igualmente, podereis ver, então, de
uma vez por todas quem é realmente Deus, e se Ele é Aquele Único a quem nós
cristãos servimos.
E,
também, se estais dispostos a acreditar n'Ele e a adorá-Lo, como o fazemos em
nossa fé e disciplina cristãs. Mas, então, dirão: Quem é este Cristo com suas
fábulas? É um homem comum? É um feiticeiro? Foi seu corpo roubado por seus
discípulos de seu túmulo?
Está
agora nos reinos inferiores? Ou antes não está nos céus, de onde virá de novo,
fazendo todo mundo tremer, enchendo a terra com mortais clamores, fazendo
todos, exceto os cristãos, se lamentarem - como o Poder de Deus, o Espírito de
Deus, a Palavra, a Razão, a Sabedoria, como o Filho de Deus? Zombai como
gostais de fazer, mas juntai-vos aos demônios, se assim quereis, em vossas
zombarias.
Que
eles neguem que Cristo virá para julgar cada alma humana que já existiu desde o
início do mundo, revestindo-os dos corpos deixados por ocasião da morte. Que
eles declarem isso, digo, ante vosso tribunal, porque este poder tem sido
atribuído a Minos e Radamanto, como Platão e os poetas afirmam. Que eles
afastem de si pelo menos a marca da ignomínia e da condenação.
Eles
discordam de que sejam espíritos impuros. Contudo temos isso como
indubitavelmente provado por seu gosto pelo sangue, pelos vapores e carcaças
fétidas de animais sacrificados, e mesmo pela linguagem vil de seus ministros.
Que
eles neguem isso, porque por sua maldade já condenada, estão livres, de fato,
daquele dia do julgamento, com todos os seus adoradores e todas as suas obras.
Porque toda a autoridade e poder que temos sobre eles vem do nome de Cristo,
nossa denominação, relembrando-lhes as desgraças com as quais Deus os ameaça
pelas mãos de Cristo como Juiz, e com as quais os cristãos esperam um dia
surpreendê-los.
Temendo
Cristo em Deus, e Deus em Cristo, os cristãos se tornam submissos servos de
Deus e Cristo. Assim, ao nosso toque e sopro, esmagados pelo pensamento e
realização daquele fogo do julgamento, deixarão sob nosso comando seus corpos,
contra a vontade e desamparados, diante de vossos próprios olhos expostos à
vergonha pública. Acreditais neles quando eles mentem.
Dai
crédito a eles quando falam a verdade acerca deles mesmos. Ninguém diz mentira
para trazer desgraça sobre sua própria cabeça, mas antes pela salvação da
honra. Estais mais prontos a afirmardes algo ao povo, mesmo fazendo confissões
contra as divindades, do que a negardes algo em interesse do próprio povo.
Não
é coisa rara que esses testemunhos de vossas divindades convertam os homens ao
Cristianismo. Pois que acreditando plenamente neles, ficamos livres para acreditar
em Cristo. Sim, vossos próprios deuses põem fé em nossas Escrituras, eles
fizeram crescer nossa esperança.
Vós
também os honrais, como sabemos, com o sangue dos cristãos. Despropositadamente
perdem aqueles que lhes são tão úteis e tão temerosos deles, ansiosos mesmo que
vos resistam, e a não ser num dia ou outro consigais desbaratá-los - como se
sob o poder de um seguidor de Cristo que deseja vos provar a Verdade, lhes
fosse possível de algum modo mentirem. »
O
que você destaca neste texto?
Como
ele serve para a sua espiritualidade?
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