segunda-feira, 11 de março de 2019

88 - Tertuliano de Cartago (155-220) Apologia (Capítulo 22-23)


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Monte Tabor - Israel

88
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Tertuliano de Cartago (155-220)
Apologia (Capítulo 22-23)


CAPÍTULO XXII Também afirmamos, com certeza, a existência de certos seres espirituais, cujos nomes não vos são desconhecidos. Os filósofos admitem que existem demônios.
O próprio Sócrates esperou pela vontade de um demônio. Por que não? Uma vez que se diz que um espírito mau estava especialmente ao seu lado desde sua juventude - que, sem dúvidas, desviava sua mente do que era bom.
Todos os poetas estão, também, de acordo com a existência dos demônios. Mesmo o povo comum, ignorante, costuma chamá-los quando praguejam. De fato, o povo chama por Satanás, o líder dos demônios, em suas execrações, como se dele tivesse um conhecimento instintivo. Platão admite a existência de anjos.
Os que praticam a magia, se apresentam como testemunhas da existência de ambas as espécies de espíritos. Somos instruídos, ainda, por nossos livros sagrados, de como certos anjos, que se degradaram por sua própria liberdade, originaram uma família de anjos maus, condenados por Deus juntamente com os promotores dessa degradação.
A tal líder, acima já nos referimos. Isso seria suficiente para o momento, contudo, temos alguns relatos de suas obras. A grande tarefa deles é levar à ruína os homens de boa vontade. Assim, por sua própria maldade espiritual procuram nossa destruição. Nesse sentido, infligem males a nossos corpos e outras calamidades mortais, quando com violentos ataques impelem a alma a repentinos e enormes excessos.
Sua prodigiosa sutileza e espiritualidade lhes dão acesso a ambas as partes de nossa natureza. Como espíritos, não podem nos ferir; e porque, invisíveis e intangíveis, não tomamos conhecimento de suas ações exceto por seus efeitos, assim como quando algum desconhecido veneno na brisa arruína as maçãs e os grãos quando ainda em floração, ou os matam no botão, ou os destroem quando alcançam a maturidade, como se fosse por uma atmosfera corrompida por meios desconhecidos, espalhando por toda a parte suas exalações pestilenciais.
De semelhante modo, também, por uma influência igualmente obscura, os demônios sopram dentro das almas e as incitam à corrupções com paixões furiosas e excessos vis, ou com cruéis concupiscências, acompanhadas de vários erros, dos quais o pior é aquele empenho pelos quais tais espíritos se dedicam a enganar e iludir os seres humanos para obterem seu próprio alimento de carne, vapores e sangue que são oferecidos às imagens dos ídolos.
Que alimento mais perverso para o espírito do mal do que afastar as mentes humanas do verdadeiro Deus com as ilusões de sua falsa divindade? Aqui vos exponho como tais ilusões são realizadas. Esses espíritos possuem asas. Essa é uma propriedade comum tanto aos anjos como aos demônios.
Assim, eles estão em todo lugar, a cada momento; o mundo todo é um único lugar para eles. Tudo o que é feito no espaço do mundo, para eles se torna fácil tanto de conhecer como de relatar. Sua sutileza de movimento é tomada como coisa divina, porque sua natureza é desconhecida. Assim eles são tidos, muitas vezes, como autores de coisas que então proclamam. Muitas vezes, não há dúvida, as coisas ruins são de sua autoria, nunca o bem.
Os propósitos de Deus, igualmente, eles souberam pelos pronunciamentos dos profetas, logo que eles os faziam. Eles os espionam ainda através de suas obras, quando os ouvem ler em voz alta. Então, obtendo por essa fonte algumas afirmações sobre o futuro, se posicionam como próprios rivais do Deus verdadeiro, enquanto se apropriam do conhecimento divino.
Vossos Creso e Pirro bem conhecem a habilidade com as quais suas respostas parecem prever os acontecimentos. É assim que explicamos porque Píton estava apto a declarar que eles estavam cozinhando uma tartaruga com a carne de um cordeiro. Num segundo, ele estava na Lídia.
Porque moram nos ares e por causa de sua proximidade das estrelas e suas comunicações com as nuvens, eles têm meios de saber os processos preparatórios que ascendem a essas elevadas regiões e, assim, podem prometer as chuvas, das quais já tinham conhecimento. Muito hábeis, também, não há dúvidas, são com respeito a curar as doenças. Primeiramente, eles vos fazem adoecer. Depois, para demonstrar um milagre, ordenam a aplicação de remédios seja um remédio novo, seja um inabitual, e rapidamente retirando sua influência mal-sã, se tornam conhecidos como realizadores de uma cura.
Que necessidade, então, de falar de seus outros artifícios ou poderes ilusórios que possuem como espíritos, como daquelas aparições de Castor, da água carregada numa peneira, de um navio que ultrapassa uma barreira, da barba irritada por um toque, tudo feito com o propósito de mostrar que os homens deveriam acreditar na divindade de pedras, e não procurar o único Deus verdadeiro? »

CAPÍTULO XXIII Ainda mais, se feiticeiras invocam espíritos, e mesmo fazem que apareçam as almas dos mortos, se matam crianças com o propósito de obterem uma resposta dos oráculos, se com suas ilusões de prestidigitação têm a pretensão de fazerem vários milagres, se iludem com sonhos a cabeça do povo pelo poder de demônios, cuja ajuda pediram, por cuja influência, igualmente, cabras e mesas se tornam algo divino - quanto mais não é este poder do mal zeloso em fazer com todas as suas capacidades, a favor de seu próprio propósito, e por seus próprios meios, o que serve aos objetivos de outros!
Ora se anjos e demônios fazem exatamente o que vossos deuses fazem, onde nesse caso está a preeminência da divindade, a quem devemos considerar estar acima de todos em poder?
Não seria, então, mais razoável afirmar que esses espíritos se fazem de deuses, apresentando como apresentam, provas reais que exaltam vossos deuses, do que afirmar que os deuses são iguais aos anjos e demônios?
Fazeis uma distinção de lugares, suponho, olhando como deuses em seus templo aqueles cuja divindade não reconheceis de modo algum. E observe-se a loucura de considerar como diferentes um homem que sai dos templos sagrados e um outro que sai do templo ao lado. E de se considerar sob domínio de um furor diferente aquele que corta seus braços e intimidades e aquele que corta sua garganta.
O resultado da loucura é o mesmo e a forma de instigação também. Mas há tempo estamos argumentando somente com palavras. Agora trataremos de apresentar provas dos fatos, pelas quais mostraremos que sob diferentes nomes tendes uma mesma e real identidade. Leve-se uma pessoa que está inquestionavelmente sob possessão demoníaca, ante vossos tribunais.
O espírito mau ordenado a falar por um seguidor de Cristo prontamente fará a confissão verdadeira de que ele é um demônio, assim como, de outro modo, ele falsamente afirmará que é uma divindade. Ou, se quereis assim, que a pessoa seja possuída por uma divindade, como supondes que seja, a qual aspirando junto ao altar recebeu a divindade pelos vapores, quando estava em ânsias de vômito, em espasmos de respiração.
Vede se a própria Celeste, a prometera de chuva, que Esculápio descobridor de remédios pronto a prolongar a vida de Socórdio, Tanácio e Asclepiódolo, agora no além, se eles não confessariam, perante o sangue derramado do mais indigno seguidor de Cristo, em seu medo de mentir a um cristão, que são demônios.
O que seria mais evidente do que uma tal comprovação? O que mais verdadeiro do que tal prova? A simplicidade da verdade será então comprovada. Sua própria dignidade a sustentará. Não haverá mais lugar para a mínima suspeita. Direis que isso será feito por mágica, ou por algum truque - mas de que sorte?
Não podereis dizer nada disso, se vos permitirdes o uso de vossos ouvidos e olhos. Que argumento podereis levantar contra uma coisa que é exibida aos olhos em sua realidade nua? Se, por outro lado, eles são realmente deuses, porque pretendem ser demônios? É por medo de nós?
Nesse caso, vossa divindade está sob sujeição dos cristãos, e certamente nunca podeis chamar de divindade àquela que está sob a autoridade do homem e de seu próprios inimigos (mesmo levando em conta a desgraça da possessão). Se, por outro lado, eles são demônios ou anjos maus, por que sem provas para isso, ousam se promoverem agindo com as prerrogativas dos deuses?
E como seres que se promovem como divindades, não poderiam nunca de boa vontade se confessarem demônios, se fossem de fato divindades, porque não poderiam abdicar de sua dignidade. Esses que sabeis ser não mais do que demônios, não ousariam agir como deuses, se aqueles de cujos nomes se apropriam, usando-os, fossem realmente divinos.
Pois que não ousariam tratar com desrespeito a majestade suprema dos seres divinos, cujo desagrado lhes seria temível. Assim, essas vossas divindades não são divindades, porque se fossem não iriam querer passar por demônios, e não iriam querer ver negada sua divindade.
Mas desde que de ambas as partes há um conhecimento concorrente de que não são deuses, resta concluirmos que não formam senão uma única família, ou seja, a família dos demônios, a raça verdadeira de uns e outros. Procurai, então, doravante, deuses, pois que constatastes serem espíritos do mal aqueles que tínheis imaginado serem deuses.
A verdade é, então, como demonstramos de nosso próprio Deus, porque nem ele mesmo nem nenhum outro reivindica sua divindade. Igualmente, podereis ver, então, de uma vez por todas quem é realmente Deus, e se Ele é Aquele Único a quem nós cristãos servimos.
E, também, se estais dispostos a acreditar n'Ele e a adorá-Lo, como o fazemos em nossa fé e disciplina cristãs. Mas, então, dirão: Quem é este Cristo com suas fábulas? É um homem comum? É um feiticeiro? Foi seu corpo roubado por seus discípulos de seu túmulo?
Está agora nos reinos inferiores? Ou antes não está nos céus, de onde virá de novo, fazendo todo mundo tremer, enchendo a terra com mortais clamores, fazendo todos, exceto os cristãos, se lamentarem - como o Poder de Deus, o Espírito de Deus, a Palavra, a Razão, a Sabedoria, como o Filho de Deus? Zombai como gostais de fazer, mas juntai-vos aos demônios, se assim quereis, em vossas zombarias.
Que eles neguem que Cristo virá para julgar cada alma humana que já existiu desde o início do mundo, revestindo-os dos corpos deixados por ocasião da morte. Que eles declarem isso, digo, ante vosso tribunal, porque este poder tem sido atribuído a Minos e Radamanto, como Platão e os poetas afirmam. Que eles afastem de si pelo menos a marca da ignomínia e da condenação.
Eles discordam de que sejam espíritos impuros. Contudo temos isso como indubitavelmente provado por seu gosto pelo sangue, pelos vapores e carcaças fétidas de animais sacrificados, e mesmo pela linguagem vil de seus ministros.
Que eles neguem isso, porque por sua maldade já condenada, estão livres, de fato, daquele dia do julgamento, com todos os seus adoradores e todas as suas obras. Porque toda a autoridade e poder que temos sobre eles vem do nome de Cristo, nossa denominação, relembrando-lhes as desgraças com as quais Deus os ameaça pelas mãos de Cristo como Juiz, e com as quais os cristãos esperam um dia surpreendê-los.
Temendo Cristo em Deus, e Deus em Cristo, os cristãos se tornam submissos servos de Deus e Cristo. Assim, ao nosso toque e sopro, esmagados pelo pensamento e realização daquele fogo do julgamento, deixarão sob nosso comando seus corpos, contra a vontade e desamparados, diante de vossos próprios olhos expostos à vergonha pública. Acreditais neles quando eles mentem.
Dai crédito a eles quando falam a verdade acerca deles mesmos. Ninguém diz mentira para trazer desgraça sobre sua própria cabeça, mas antes pela salvação da honra. Estais mais prontos a afirmardes algo ao povo, mesmo fazendo confissões contra as divindades, do que a negardes algo em interesse do próprio povo.
Não é coisa rara que esses testemunhos de vossas divindades convertam os homens ao Cristianismo. Pois que acreditando plenamente neles, ficamos livres para acreditar em Cristo. Sim, vossos próprios deuses põem fé em nossas Escrituras, eles fizeram crescer nossa esperança.
Vós também os honrais, como sabemos, com o sangue dos cristãos. Despropositadamente perdem aqueles que lhes são tão úteis e tão temerosos deles, ansiosos mesmo que vos resistam, e a não ser num dia ou outro consigais desbaratá-los - como se sob o poder de um seguidor de Cristo que deseja vos provar a Verdade, lhes fosse possível de algum modo mentirem. »

O que você destaca neste texto?
Como ele serve para a sua espiritualidade?
















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