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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Tertuliano de Cartago (155-220)
Apologia (Capítulo 32
- 35)
CAPÍTULO
XXXII
Há também uma
outra e grande necessidade para oferecermos orações em favor dos imperadores, e
não somente para a completa estabilidade do Império e em favor dos interesses
dos Romanos em geral. Pois nós sabemos que o iminente choque de poderes em toda
a terra é apenas retardado pela contínua existência do Império Romano.
Nós não temos
desejo algum de sermos tomados por esses terríveis eventos e em nossas orações,
no desejo de que esses eventos demorem a acontecer, colocamos em destaque nosso
desejo de continuidade do Império Romano.
Além disso, enquanto nos recusamos jurar pelo
gênio de César, nós juramos por sua segurança, a qual é muito mais importante
que todo seu gênio. São vocês ignorantes do fato de que esses gênios são
chamados “Daimones”, e que o diminutivo “Daimonia” é aplicado a eles? Nós
respeitamos na pessoa do imperador a ordem de Deus, que o pôs acima das nações.
Nós sabemos que
há isso neles o qual Deus tem legado; e a quem Deus legou essas coisas nós
desejamos toda segurança, e nós consideramos um juramento pela segurança do
imperador um julgamento muito importante.
Mas para os
demônios, isso é, seus gênios, nós temos o hábito de exorcizálos, não juramos
por eles, evitando dar a eles a divina honra. »
CAPÍTULO XXXIII
Mas por que se
estender a respeito do sagrado respeito e reverência que os cristãos dão ao
imperador, o qual nós apenas podemos reconhece-lo chamado por Deus ao seu
serviço?
Portanto, sob
essas condições devo dizer que César pertence mais a nós do que a vocês, pois
nosso Deus o escolheu.
Portanto, tendo
essa possibilidade, eu faço mais por seu bem-estar, não simplesmente porque eu
peço isso para Aquele que pode dar isso, ou porque eu peço isso como alguém que
merece, mas por que, em se tratando de manter o poder de César em seus devidos
limites e pondo isso sob o Excelso e tornando isso menor que o divino, eu muito
o recomendo a Deidade, a quem eu o faço o único inferior.
Mas eu o coloco
em uma posição inferior a quem eu considero mais glorioso que o imperador.
Nunca irei chamar o imperador de Deus, e isso porque não está em mim ser
culpado de falsidade; ou porque eu não me atrevo a expô-lo ao ridículo; ou
porque ele mesmo não desejará ter esse alto nome a ele aplicado.
Se ele é somente
um homem, é do seu interesse como homem dar a Deus seu alto posto. Deixemos que
ele pense sobre isso o suficiente para suportar o nome de imperador. Chamá-lo
de Deus é usurpar seu título. Se ele não é um homem, então não pode ser um
imperador.
Mesmo quando, em
meio às honras de um triunfo, ele está sentado no seu honroso carro de guerra,
ele se recorda de ser um homem. Uma voz em sua mente permanece suspirando em
seus ouvidos: “Olhe para sua condição, lembre-se de que você é apenas um
homem.”
E isso apenas
acrescenta as suas exaltações o fato de que ele brilha com uma luz que
ultrapassa os requerimentos de sua condição e que ele necessita de uma
reminiscência, para que ele não acredite ser de natureza divina. »
CAPÍTULO XXXIV
Augusto, o
fundador do Império, nunca recebeu o título de Senhor; este é, pois, o nome da
Deidade. Da minha parte, estou disporto a dar ao imperador essa designação, mas
na aceitação comum da palavra e quando sou forçado a chamá-lo assim no caso
dele estar sendo um representante de Deus.
Mas minha
relação com ele é apenas de liberdade, pois tenho um só e verdadeiro Senhor,
Deus onipotente e eterno, o qual é senhor também do imperador. Como pode ele, o
qual é realmente pai de seu país, ser seu senhor?
O nome da
piedade é mais gratificante que o nome do poder; então os chefes das famílias
são chamados pais tanto mais que senhores. Longe de nós o imperador receber o
nome de Deus.
Nós apenas
podemos professar nossa crença de que ele é o que é indignamente, ou mais que
isso, por uma bajulação fatal; isso é como se, tendo um imperador, você
chamasse a outro pelo nome de imperador, em qual caso você ofenderia aquele que
atualmente reina. Dê toda a reverência a Deus, se você deseja que o imperador
seja propiciado por Deus.
Dê toda a
adoração e acredite nEle, pos nenhum outro é divino. Cessem também de atribuir
o nome sagrado àquele que necessita de Deus.
Se essa adulação
mentirosa não é vergonhosa, chamando divino um homem, deixe que ele tenha pavor
pelo menos do mau presságio o qual ele suporta. É a invocação de um praga, para
dar a César o nome de deus antes de sua apoteose. »
CAPÍTULO XXXV
Esta é a razão,
pois, do porquê serem os cristãos considerados inimigos públicos: eles não são
vaidosos, falsos, nem imprudentes com relação à honra do imperador; como homens
que acreditam na verdadeira religião, eles preferem celebrar seus dias de festa
com boa consciência, ao invés de serem libertinos.
É,
verdadeiramente, uma notável homenagem lançar fogos e camas ante o público,
banqueteando de rua em rua, tornando a cidade uma grande taverna, fazendo lama
com vinho, realizando atos violentos, vergonhosos e luxuriantes!
Será honesto alegrar-se
abertamente da desgraça pública? Fazer coisas diferentes sendo outras vezes
conveniente os dias festivos dos príncipes? Aqueles que observam as regras das
virtudes em reverência a César, por causa dele se afastariam delas? Deve a
piedade ser uma licença para ações imorais, e deve a religião ser usada para
fornecer a ocasião para todo tipo de extravagâncias?
Pobres de nós,
dignos de condenação! Pois por que nós mantemos os dias votivos e de alta
alegria em honra de César com castidade, sobriedade e virtude? Por que, nos
dias de felicidade, nós nem cobrimos as vigas de nossas portas com loureiros
nem iniciamos o dia com lâmpadas?
É algo correto,
nas ocasiões de festividade pública, vestir nossa casa elegantemente como um
novo bordel? Entretanto, na importância desta homenagem a uma majestade menor,
em referência a nós sermos acusados de um pequeno sacrilégio, pois nós não
celebramos com vocês os feriados de César de uma maneira proibida pela
modéstia, decência e pureza - de fato, eles têm sido estabelecidos como que
fornecendo oportunidades para dissoluções mais do que qualquer outro motivo;
nesta importância estou ansioso para ressaltar quão fiéis e verdadeiros são
vocês, para não acontecer que estes que não nos tem como romanos, mas como
inimigos dos chefes de Roma, sejam considerados piores que nós, cristãos!
Apelo aos
próprios habitantes de Roma, à população das sete colinas: por acaso os
habitantes de Roma já dispensaram algum César? O Tibre e as feras selvagens
testemunham.
Diga agora se a
natureza cobriu nossos corações com uma substância transparente através da qual
a luz pode passar, os quais, todos cortados, não podem deletar a cena de outro
e outro César presidindo a distribuição de um dom?
E muitas vezes
eles estão gritando: “Talvez Júpiter pegue anos de nós e com eles alongue os de
vocês” - palavras tão estranhas aos lábios de um cristão quanto está fora de
questão seu desejo de uma mudança de imperador.
Mas isto é o
povinho, vocês dizem; mas, mesmo sendo a ralé, eles ainda são romanos, e nada
mais frequente do que eles pedirem a morte dos cristãos. É claro que as outras
classes, como convém a suas altas posições, são muito religiosas.
Nem um único
sinal de traição há no Senado, nas ordens eqüestres, nos campos, no palácio. De
que lugar, então, veio um Cássio, um Negro, um Albino?
De que lugar,
eles que acossaram o César entre os dois loureiros? De onde, eles que
praticaram luta livre, na qual adquiriram a habilidade necessária para
estrangulá-lo? Eles, que entraram no palácio, cheios de armas, mais audaciosos
que todos os seus Tigerii e Parthenii. Se não estou enganado, eles eram
romanos; isto é, eles não eram cristãos.
Ainda todos
eles, na véspera de suas traições, ofereceram sacrifícios pela vida do
imperador, e juraram por ele, uma coisa em profissão e outra em seus corações;
e eles tinham o hábito de denominar os cristãos de inimigos do Estado.
Sim, e pessoas
que agora são trazidas diariamente à luz como confederados ou aprovadores
desses crimes e traições, as junções ainda restantes depois de uma colheita de
traidores, com loureiros novos e verdes eles enfeitaram suas portas; com nobres
e brilhantes lâmpadas, eles revestiram seus pórticos; com os mais requintados e
chamativos sofás eles dividiram o Fórum entre eles; não que eles devam celebrar
festas públicas, mas eles devem pegar uma amostra de suas seções votivas em
participação das festividades de outro, e inaugurar o modelo e imagem de suas
esperanças, mudando em suas mentes o nome do imperador.
A mesma
homenagem é prestada, também respeitosamente, por aqueles que consultam
astrólogos e magos, sobre a vida de César - artes que, sendo feitas por anjos
caídos e proibidas por Deus, os cristãos não podem usá-las.
Mas quem tem
qualquer ocasião para perguntar sobre a vida do imperador, se ele não tem algum
desejo contra ela ou alguma esperança e expectativas para depois dela?
Pois consultas a
astrólogos não têm o mesmo motivo no caso de amigos como no caso dos soberanos.
A ansiedade de uma parenta é algo muito diferente da de um súdito.
O que você
destaca no texto?
Como ele serve
para sua espiritualidade?
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