Gleisto, Alexandre e Edson
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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Tertuliano de Cartago (155-220)
Apologia (Capítulo 28
- 31 )
CAPÍTULO XXVIII
Mas sendo evidente a injustiça de compelir
homens livres, contra sua vontade, a oferecer sacrifício - porque mesmo em
outros atos de serviço religioso se requer uma mente de boa vontade - deveria
ser tido por total absurdo um homem obrigar outro a dar honras aos deuses,
quando cada um deve voluntariamente, pelo sentido de sua própria necessidade,
procurar o favor deles, para que, na liberdade que é seu direito, esteja pronto
a dizer: "Não preciso dos favores de Júpiter, a quem orais... Que Jano me
venha com olhares tristes em qualquer uma de suas faces, a que desejar... O que
tendes a ver comigo?"
Vós
sois levados, não há dúvidas, por aqueles mesmos espíritos maus que vos
compelem a oferecer sacrifícios para o bem estar do imperador; e ficais
compelidos à necessidade de usar a força, da mesma forma como estamos sob a
obrigação de enfrentar os perigos disso. Somos conduzidos, agora, à segunda
base da acusação: somos culpados de traição contra a majestade muito augusta,
porque cuidais de dar homenagem com maior temor e a maior reverência ao
Imperador do que a ao próprio Júpiter Olímpico.
Mas
- bem sabeis - procedeis com diferentes fundamentos. É porque não há nenhum
homem melhor do que aquele temível, seja quem for? Mas isso não é feito por vós
senão com base num poder cuja presença vivamente sentis. Assim também nisso
sois culpados de impiedade para com vossos deuses, visto que mostrais uma maior
reverência ao soberano humano do que aos deuses. Daí, entre vós, o povo também
jura falso mais facilmente pelo nome de todos os deuses, do que pelo nome do
supremo Imperador. »
CAPÍTULO XXIX
Esclareçamos,
portanto, antes de mais nada, se aqueles aos quais se oferecem sacrifícios
estão aptos a proteger seja o Imperador seja alguém mais, e assim nos julguem
culpados de traição; se anjos ou demônios, espíritos da pior natureza, podem
realizar o bem, se o perdido pode dar salvação, se o condenado pode dar
liberdade, se o morto (refiro-me a quem bem conheceis) pode defender o vivo...
Porque
certamente a primeira coisa de que cuidariam seria da proteção de suas
estátuas, imagens e templos, e aquilo a que antes de tudo deveriam sua
segurança, ou seja, à vigilância dos guardas do Imperador. Sim, penso, os
próprios materiais de que são feitos provêm das minas do Imperador, e não
haveria um templo que não dependesse da vontade do Imperador.
Sim,
e muitos deuses já sentiram o desagrado do Imperador. Meu argumento é que eles
são também participantes do favor imperial, quando o Imperador lhes confere
algum presente ou privilégio. Como podem eles - que assim estão sob o poder do
Imperador, que pertencem inteiramente ao Imperador - ter a proteção do
Imperador sob sua responsabilidade, do modo que possais imaginá-los aptos a dar
ao Imperador o que eles mais prontamente recebem do Imperador?
Esta
é, pois, a base na qual somos acusados de traição contra a majestade imperial,
a saber, não colocamos os imperadores submissos às suas próprias propriedades;
porque não oferecemos um simples arremedo de culto à crença nessas divindades,
como não acreditando que a segurança dos imperadores permaneça em mãos
metálicas.
Mas
sois ímpios a tal ponto que procurais a divindade onde não está, que a
procurais naqueles que não a possuem, passando por Aquele que a possui
inteiramente em Seu poder. Além disso, perseguis aqueles que sabem onde
procurá-La e que, sabendo onde procurá-La, são capazes de também gozar de Sua
segurança. »
CAPÍTULO XXX
Oferecemos preces pela segurança de nossos
líderes ao Eterno, ao Verdadeiro, ao Deus vivo, cujo beneplácito, acima de
todos os outros, eles próprios desejam. Eles sabem de quem receberam seu poder.
Sabem, já que são homens, de quem receberam a própria vida.
Estão
convencidos de que Ele é o único Deus, de cujo único poder são inteiramente
dependentes, de quem são segundos, depois de Quem ocupam os mais altos cargos,
antes e acima de todas as divindades. Por que não são superiores à morte, já
que estão acima de todos os seres humanos, e vivendo como vivem? Eles meditam
sobre a extensão de seu poder e assim vêm a compreender o Altíssimo.
Reconhecem
que possuem todo seu poder recebido d'Ele contra o qual seu poder é nada. Que o
imperador faça guerra ao céu, que leve o céu cativo em seu triunfo, que ponha
guardas no céu, que imponha taxas ao céu! Ele não pode! Exatamente porque ele é
menor do que o céu, ele é grande. Pois ele mesmo é d'Aquele ao qual o céu e
todas as criaturas pertencem.
Ele
obteve seu cetro quando lhe foi concedida sua humanidade. Seu poder, quando
recebeu o sopro da vida. Para lá elevamos nossos olhos, com as mãos abertas,
porque livres do pecado, com a cabeça descoberta, porque não temos nada de que
nos envergonharmos, finalmente, sem um monitor porque é de nosso coração que
partem nossas preces.
Sem
cessar, oferecemos preces por todos os nossos líderes. Pedimos por uma vida
longa, pela segurança do Império, para a proteção da casa imperial, para os
bravos exércitos, por um senado fiel, por um povo virtuoso, e, enfim, por todo
o mundo, seja quem for, homem ou Imperador, como um imperador desejaria.
Essas coisas eu não posso pedir senão a Deus,
de quem sei que as obterei, seja porque somente Ele as concede, seja porque Lhe
peço sua dádiva, como sendo um servo Dele, rendendo homenagem somente a Ele,
perseguido por Sua doutrina, oferecendo a Ele, por Seu própria recomendação,
aquele custoso e nobre sacrifício de prece feito por um corpo casto, uma alma
pura, um espírito santificado, e não por alguns poucos grãos de incenso que
nada valem - extraído da árvore arábica - nem alguns pingos de vinho, nem o
sangue de alguma boi indigno para o qual a morte é um destaque, e, em adição a
outras ofensivas coisas, uma consciência poluída, de tal modo que alguém se
admira quando vossas vítimas são examinadas por aqueles sacerdotes vis.
Por
que o exame é menor sobre o que sacrificam do que sobre os que são
sacrificados? Com nossas mãos assim abertas e levantadas para Deus, nos
entregamos a vossas claves de ferro, somos suspensos em cruzes, lançados às
chamas, temos decepadas nossas cabeças pela espada, somos entregues aos animais
selvagens: a verdadeira atitude de prece de um cristão é uma preparação para
todos os castigos.
Que
esses bons administradores façam seu trabalho, arranquem-nos a alma, implorando
a Deus pelo bem estar do Imperador. Acima da verdade de Deus e da devoção a Seu
nome, ponde o estigma do crime.
CAPÍTULO XXXI
Mas
nós simplesmente, vocês dizem, lisonjeamos o imperador e fingimos essas nossas
orações para escaparmos da perseguição. Obrigado por vosso engano, dando a nós
a oportunidade de provar nossas alegações. Aquele de vós que pensa que não nos
importamos com o bem-estar de César, investigue as revelações de Deus, examine
nossos livros sagrados, os quais nós não escondemos e que por muitas maneiras
acabam parando nas mãos daqueles que não são dos nossos.
Aprenda
através deles que uma grande benevolência está sobre nós a ponto de suplicarmos
a Deus por nossos inimigos e desejarmos bênçãos a nossos perseguidores. Quem,
portanto, são os maiores perseguidores dos cristãos, senão as muitas festas com
traições as quais somos carregados.
Além disso, muitas vezes e claramente a
Escritura diz: “Reze pelos reis, juízes e poderes, então tudo estará em paz com
você”. Pois quando há distúrbios no Império, se o tumulto é sentido por seus
outros membros, certamente nós também o sentimos, já que nós não somos dados à
desordem.
O
que você destaca no texto?
Como
ele serviu para sua espiritualidade?
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