terça-feira, 13 de agosto de 2019

107 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 18)


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107
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 18)


HOMILIA 18 - Lc 2.40-49
Sobre o que está escrito: “O menino crescia e se fortificava” até aquela passagem que diz: “Não sabeis que eu devo estar na morada de meu pai?”

O crescimento de Jesus
Nasceu meu Senhor Jesus, seus pais subiram a Jerusalém, para cumprir as prescrições da Lei e oferecer para ele um casal de rolas ou dois filhotes de pombas.
Simeão o segurou em seus braços, como se leu há pouco, e pronunciou a seu respeito as profecias que a história narra.
E depois que tudo se cumpriu segundo o costume, os pais voltaram.
Qual era então a idade de Jesus? Ele era ainda pequenino, porém, “crescia, fortificava-se e estava cheio de sabedoria e graça”. Ele não tinha ainda cumprido os quarenta dias de purificação, ele não tinha ainda vindo a Nazaré, e já recebia a sabedoria em plenitude.
A Escritura pôde dizer: “ele crescia e fortificava-se e recebia o Espírito”. Mas porque “ele tinha se aniquilado tomando a forma de escravo”, assim que foi oferecido o sacrifício para sua purificação, recuperou plenamente aquilo de que se tinha esvaziado; não que ele tenha começado a crescer repentinamente, mas que demonstrava alguma maior santidade, segundo estas palavras da Escritura: “o menino crescia, porém, e fortalecia-se, e estava cheio de sabedoria”.
Procuremos, se existe, outra passagem da Escritura em que se tenha escrito sobre o menino que “crescia e se fortalecia”, para que, a partir do cotejo de vários textos, consigamos compreender o que é dito a mais no caso de Nosso Senhor.
obre João [batista], lemos: “o menino, porém, crescia e fortificava-se”, e o texto não acrescenta: “ele estava cheio de sabedoria”, mas “ele se fortificava em espírito”.
Lucas diz aqui sobre o Senhor: “ele crescia, fortificava-se, estava cheio de sabedoria e a graça de Deus estava sobre ele”. Todas essas palavras foram ditas sobre o menino, que não tinha ainda completado doze anos.
Mas, tendo doze anos, ele permanece em Jerusalém. Seus pais, sem saber onde estava, procuram-no com inquietude e não o encontram. Procuram entre seus parentes próximos; procuram entre a comitiva; procuram entre os conhecidos, e entre todos esses não o localizam.
Jesus é buscado, pois, por seus pais, pelo pai, que tinha sido seu pai nutridor e o tinha acompanhado quando descia para o Egito. Entretanto, eles não o encontram imediatamente.
De fato, Jesus não se encontra entre seus parentes e seus próximos segundo a carne; não se encontra entre os de sua família carnal.
Meu Jesus não pode ser encontrado entre a comitiva de muitos.

Onde encontrar Jesus?
Aprende, pois, onde o encontraram os que o procuravam, para que também tu, que buscas com José e Maria, o encontres.
E aqueles que buscavam, diz [o evangelista], “encontraram-no no templo”. Não em qualquer outro lugar, mas “no templo”, e não simplesmente “no templo”, mas “no meio dos doutores que ele escutava e que ele interrogava”.
Tu também, então, procura, pois, Jesus “no templo” de Deus; procura na Igreja; procura junto aos mestres que estão “no templo” e que dele não saem.
Se assim, pois, o procurares, encontrá-lo-ás. Além disso, se alguém se diz um mestre e não possui Jesus, só possui o título de mestre, e por isso não se pode encontrar Jesus, Verbo de Deus e Sabedoria, junto a tal mestre.
Jesus foi encontrado, diz [São Lucas], “no meio dos doutores”. Segundo outra passagem da Escritura a respeito dos profetas, assim compreende o que aqui isto, “no meio dos doutores”, quer dizer: “Se aquele que está sentado tem uma revelação, diz o Apóstolo, que o primeiro se cale”.
Eles o encontram “sentado no meio dos doutores”, e não somente “sentado”, mas “interrogando-os e ouvindo-os”.
E agora Jesus está presente: ele nos interroga e escuta-nos falar. “E todos ficavam admirados”, diz [Lucas]. O que “admiravam”? Não suas perguntas, que, entretanto, eram admiráveis em si mesmas, mas “suas respostas”.
Interrogar é uma coisa, responder é outra coisa.
Jesus questionava os mestres e, porque algumas vezes eles não podiam responder, ele próprio respondia às suas próprias perguntas.
“Responder” não quer dizer alternância de turnos em uma conversação, mas significa, na Sagrada Escritura, um ensinamento.
Possa a Lei divina te ensinar isso. “Moisés falava e Deus lhe respondia por uma voz”.
Por esse tipo de resposta, o Senhor ensinava a Moisés o que este ignorava. Algumas vezes Jesus interroga; algumas vezes responde; e, como dissemos acima, ainda que sejam admiráveis suas perguntas, suas respostas, porém, são ainda muito mais admiráveis.
Para que possamos ouvi-lo, e para que nos faça perguntas que ele próprio resolverá, supliquemos-lhe, empreguemos um esforço intenso e doloroso para procurá-lo, e então poderemos encontrar aquele a quem procuramos. Não é em vão, pois, que está escrito: “Eu e teu pai dolorosamente te procurávamos”.
É necessário, com efeito, que aquele que busca Jesus não o faça com negligência e moleza, de maneira intermitente, como o fazem alguns e, por isso, não o encontram. Nós, porém, digamos: “Dolorosamente te procuramos”.
E quando tivermos dito isso, ele responderá e dirá à nossa alma, que se esforça e dolorosamente procura: “Não sabeis que eu devo estar na morada de meu pai?”
Onde estão os hereges, onde estão os ímpios e os insensatos que afirmam que a Lei e os Profetas não dependem do Pai de Jesus Cristo?
É certo que Jesus estava no templo, que foi construído por Salomão, e ele confessa que aquele templo é de seu pai, que ele nos revelou e de quem ele diz ser o Filho. Que nos respondam: como um é o Deus bom e o outro o Deus justo?
Porque o Salvador é o filho do Criador, louvemos em comum o Pai e o Filho de quem dependem a Lei e o templo e “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?


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