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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias
sobre São Lucas (Homilia 18)
HOMILIA
18 - Lc 2.40-49
Sobre o que está
escrito: “O menino crescia e se fortificava” até aquela passagem que diz: “Não
sabeis que eu devo estar na morada de meu pai?”
O
crescimento de Jesus
Nasceu meu
Senhor Jesus, seus pais subiram a Jerusalém, para cumprir as prescrições da Lei
e oferecer para ele um casal de rolas ou dois filhotes de pombas.
Simeão o segurou
em seus braços, como se leu há pouco, e pronunciou a seu respeito as profecias
que a história narra.
E depois que
tudo se cumpriu segundo o costume, os pais voltaram.
Qual era então a
idade de Jesus? Ele era ainda pequenino, porém, “crescia, fortificava-se e
estava cheio de sabedoria e graça”. Ele não tinha ainda cumprido os quarenta
dias de purificação, ele não tinha ainda vindo a Nazaré, e já recebia a sabedoria em plenitude.
A Escritura pôde
dizer: “ele crescia e fortificava-se e recebia o Espírito”. Mas porque “ele
tinha se aniquilado tomando a forma de escravo”, assim
que foi oferecido o sacrifício para sua purificação, recuperou plenamente
aquilo de que se tinha esvaziado; não que ele tenha começado a crescer
repentinamente, mas que demonstrava alguma maior santidade, segundo estas
palavras da Escritura: “o menino crescia, porém, e fortalecia-se, e estava
cheio de sabedoria”.
Procuremos, se
existe, outra passagem da Escritura em que se tenha escrito sobre o menino que
“crescia e se fortalecia”, para que, a partir do cotejo de vários textos, consigamos
compreender o que é dito a mais no caso de Nosso Senhor.
obre João [batista],
lemos: “o menino, porém, crescia e fortificava-se”,
e o texto não acrescenta: “ele estava cheio de sabedoria”, mas “ele se
fortificava em espírito”.
Lucas diz aqui sobre
o Senhor: “ele crescia, fortificava-se, estava cheio de sabedoria e a graça de
Deus estava sobre ele”. Todas essas palavras foram ditas sobre o menino, que
não tinha ainda completado doze anos.
Mas, tendo doze
anos, ele permanece em Jerusalém. Seus pais, sem saber onde estava, procuram-no
com inquietude e não o encontram. Procuram entre seus parentes próximos;
procuram entre a comitiva; procuram entre os conhecidos, e entre todos esses
não o localizam.
Jesus é buscado,
pois, por seus pais, pelo pai, que tinha sido seu pai nutridor e o tinha
acompanhado quando descia para o Egito. Entretanto, eles não o encontram
imediatamente.
De fato, Jesus
não se encontra entre seus parentes e seus próximos segundo a carne; não se
encontra entre os de sua família carnal.
Meu Jesus não
pode ser encontrado entre a comitiva de muitos.
Onde
encontrar Jesus?
Aprende, pois,
onde o encontraram os que o procuravam, para que também tu, que buscas com José
e Maria, o encontres.
E aqueles que
buscavam, diz [o evangelista], “encontraram-no no templo”. Não em qualquer
outro lugar, mas “no templo”, e não simplesmente “no templo”, mas “no meio dos
doutores que ele escutava e que ele interrogava”.
Tu também,
então, procura, pois, Jesus “no templo” de Deus; procura na Igreja; procura
junto aos mestres que estão “no templo” e que dele não saem.
Se assim, pois,
o procurares, encontrá-lo-ás. Além disso, se alguém se diz um mestre e não
possui Jesus, só possui o título de mestre, e por isso não se pode encontrar
Jesus, Verbo de Deus e Sabedoria, junto a tal mestre.
Jesus foi
encontrado, diz [São Lucas], “no meio dos doutores”. Segundo outra passagem da
Escritura a respeito dos profetas, assim compreende o que aqui isto, “no meio
dos doutores”, quer dizer: “Se aquele que está sentado tem uma revelação, diz o
Apóstolo, que o primeiro se cale”.
Eles o encontram
“sentado no meio dos doutores”, e não somente “sentado”, mas “interrogando-os e
ouvindo-os”.
E agora Jesus
está presente: ele nos interroga e escuta-nos falar. “E todos ficavam
admirados”, diz [Lucas]. O que “admiravam”? Não suas perguntas, que, entretanto,
eram admiráveis em si mesmas, mas “suas respostas”.
Interrogar é uma
coisa, responder é outra coisa.
Jesus
questionava os mestres e, porque algumas vezes eles não podiam responder, ele
próprio respondia às suas próprias perguntas.
“Responder” não
quer dizer alternância de turnos em uma conversação, mas significa, na Sagrada
Escritura, um ensinamento.
Possa a Lei
divina te ensinar isso. “Moisés falava e Deus lhe respondia por uma voz”.
Por esse tipo de
resposta, o Senhor ensinava a Moisés o que este ignorava. Algumas vezes Jesus
interroga; algumas vezes responde; e, como dissemos acima, ainda que sejam
admiráveis suas perguntas, suas respostas, porém, são ainda muito mais admiráveis.
Para que
possamos ouvi-lo, e para que nos faça perguntas que ele próprio resolverá,
supliquemos-lhe, empreguemos um esforço intenso e doloroso para procurá-lo, e
então poderemos encontrar aquele a quem procuramos. Não é em vão, pois, que está
escrito: “Eu e teu pai dolorosamente te procurávamos”.
É necessário,
com efeito, que aquele que busca Jesus não o faça com negligência e moleza, de
maneira intermitente, como o fazem alguns e, por isso, não o encontram. Nós,
porém, digamos: “Dolorosamente te procuramos”.
E quando
tivermos dito isso, ele responderá e dirá à nossa alma, que se esforça e
dolorosamente procura: “Não sabeis que eu devo estar na morada de meu pai?”
Onde estão os
hereges, onde estão os ímpios e os insensatos que afirmam que a Lei e os
Profetas não dependem do Pai de Jesus Cristo?
É certo que
Jesus estava no templo, que foi construído por Salomão, e ele confessa que
aquele templo é de seu pai, que ele nos revelou e de quem ele diz ser o Filho.
Que nos respondam: como um é o Deus bom e o outro o Deus justo?
Porque o
Salvador é o filho do Criador, louvemos em comum o Pai e o Filho de quem
dependem a Lei e o templo e “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos
séculos. Amém”.
O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua
espiritualidade?
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