terça-feira, 27 de agosto de 2019

108 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 19)


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108
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 19)


HOMILIA 19 - Lc 2.40-46
Novamente sobre o que está escrito: “O menino crescia e fortalecia-se” até aquela passagem em que ele interroga os anciãos no templo.

A divindade de Jesus
Porque alguns, que parecem crer na Santa Escritura, negam a divindade do Salvador com relação, dizem esses alguns, à glória do Deus onipotente, parece-me justo que recebam, pela autoridade das próprias Escrituras, o ensinamento de que algo divino veio para um corpo humano; e não somente para um corpo humano, mas para uma alma também humana.
Aliás, se consideramos com cuidado o sentido das Escrituras, aquela alma teve algo a mais que as outras almas dos homens, pois toda alma humana, antes de chegar à virtude, encontra-se manchada pelos vícios.
Ora, a alma de Jesus nunca foi maculada pela impureza do pecado.
Porquanto, antes que tenha chegado ao décimo segundo ano de idade, o Espírito Santo escreve sobre ele no Evangelho de [São] Lucas: “O menino crescia, porém, e fortificava-se e estava cheio de sabedoria”.
A natureza dos homens não recebe isto, que antes dos doze anos esteja repleto de sabedoria.
Uma coisa é ter uma parte de sabedoria, outra coisa é estar repleto de sabedoria.
Logo, não duvidemos de que algo divino tenha aparecido na carne de Jesus que ultrapassava não somente o homem, mas também toda criatura racional.
“Ele crescia”, diz [o Evangelho]. “Ele tinha se humilhado, com efeito, tomando a forma do escravo” e, pela mesma virtude, com a qual “tinha se humilhado”, cresce.
Ele tinha aparecido fraco, porque tinha tomado um corpo fraco e, por isso, recobrava a força. O Filho de Deus “tinha se aniquilado” e, por isso, ele está de novo repleto de sabedoria.
“E a graça de Deus estava sobre ele.” Não estava sobre [só] quando chegou à adolescência, não [só] quando ensinava publicamente; mas já desde que era ainda pequenino tinha a graça de Deus; e, como todas as coisas nele tinham sido admiráveis, sua infância foi também admirável, a tal ponto que possuía em plenitude a sabedoria de Deus.

Jesus fica no templo
“Seus pais iam, portanto, segundo o costume, a Jerusalém para a solenidade do dia da Páscoa. Quando o menino completou doze anos.”
Observa bem que, antes do seu décimo segundo ano, ele já possuía em plenitude a sabedoria de Deus e os outros dons que lhe são atribuídos na Escritura.
Portanto, conforme dissemos, como fosse o seu décimo segundo ano e, segundo o costume, os dias da solenidade tivessem expirado e os pais voltassem, “o menino ficou em Jerusalém, sem que seus pais soubessem”.
Há aí, compreende-o, algo mais sublime do que a natureza humana é capaz de apreender.
Não basta, pois, simplesmente dizer “ele ficou” e seus pais ignoravam onde estava.
Mas conforme está escrito no Evangelho de [São] João, quando escapou do meio deles e não apareceu, no momento em que os judeus lhe punham em armadilha, também agora acredito que o menino ficou em Jerusalém assim e que seus pais ignoravam onde ele tinha ficado.
Não nos admiremos que tenham sido chamados pais os que mereceram o título de pai e mãe, um por sua maternidade e outro pelos serviços prestados.

A procura de Jesus
O texto continua: “Nós te procurávamos dolorosamente”.
Não penso que eles se condoíam por acreditar que o menino vagasse sem rumo ou tivesse morrido.
E não podia suceder que Maria temesse que seu filho se perdesse vagando sem rumo, ela que sabia que concebera pelo Espírito Santo, que ouvira o anjo lhe falar, e os pastores correndo e Simeão profetizando.
Afasta absolutamente essa interpretação também a respeito de José, que recebera do anjo o preceito de tomar o menino e se encaminhar para o Egito, que ouvira estas palavras: “Não temas em tomar Maria por esposa, pois o que nela nasceu é o fruto do Espírito Santo”.
Nunca poderia acontecer que ele temesse que a criança, que ele sabia ser divina, estivesse perdida.
O sofrimento dos pais e as perguntas que se fazem nos sugerem um sentido diferente daquele que o leitor comum concebe.
[Esse sofrimento é] como quando tu, se lês às vezes as Escrituras, buscas nelas um sentido com certa dor e tormento, não porque consideres que as Escrituras tenham se enganado ou contenham asserções falsas, mas porque elas contêm intrinsecamente a linguagem e a razão da verdade, cujo sentido tu não podes descobrir, mas que, entretanto, é o verdadeiro.
Assim Maria e José buscavam a Jesus, temendo que por acaso tivesse se apartado deles, temendo que, deixando-os, tivesse transmigrado a outros lugares e – o que mais creio – que retornasse aos céus para novamente de lá descer quando lhe aprouvesse.
“Dolorosamente”, portanto, buscavam o Filho de Deus. E como buscavam, não o encontraram “entre os parentes”.
E não podia o parentesco humano reter o Filho de Deus. Não o encontraram entre os conhecidos, porque a virtude divina era maior que o conhecimento e a ciência mortal.
Onde, então, o encontram? No templo; aí é encontrado, de fato, o Filho de Deus. Se um dia também tu buscares o Filho de Deus, busca primeiramente o templo, para lá apressa-te; aí encontrarás o Cristo, a Palavra e a Sabedoria, isto é, o Filho de Deus.

Sabedoria de Jesus
Porque ele era um pequenino, é encontrado “no meio dos mestres”, santificando-os e instruindo-os.
Porque era um pequenino, é encontrado “no meio deles”; não lhes ensinava, mas “os interrogava”.
E nisso, segundo as obrigações de sua idade, ele nos ensinava o que convém às crianças: ainda que sejam sábios e instruídos, que escutem seus mestres antes de desejarem ensinar, e não se jactem por uma vã ostentação.
Ele interrogava, digo, os mestres, não para que aprendesse algo, mas para que instruísse, interrogando.
Interrogar e responder com sabedoria emanam de uma só e mesma fonte de doutrina; e é a marca de uma mesma ciência saber o que interrogas ou o que respondes.
Foi necessário que primeiramente o Salvador se tornasse mestre da interrogação instruída, para que posteriormente respondesse às interrogações, segundo a razão e a Palavra de Deus, “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?


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