terça-feira, 3 de setembro de 2019

109 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 20)


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109
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 20)


HOMILIA 20 - Lc 2.49-51
Sobre o que está escrito: “Por que me procuráveis?” até aquela passagem que diz: “Maria conservava todas essas palavras em seu coração”.

Jesus reencontrado
Maria e José procuravam Jesus “entre os parentes” e não o encontravam, procuravam “entre os companheiros de viagem” e não puderam encontrá-lo.
Fizeram uma busca “no templo” e não simplesmente “no templo”, mas “junto dos mestres”; de fato, é “no meio dos mestres” que eles o encontram.
Onde quer que os mestres estiverem, aí, “no meio dos mestres”, Jesus é encontrado, a menos que o mestre se assente “no templo” e nunca saia dele.
Jesus prestou serviço a seus mestres, e ensinou aqueles que ele parecia interrogar, falando “no meio deles” e, de certo modo, os estimulava a buscar o que eles ignoravam e a descobrir o que, até essa passagem, eram incapazes de saber se conheciam ou se ignoravam.
Jesus é, pois, encontrado “no meio dos mestres” e, uma vez encontrado, ele diz àqueles que o procuravam: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar na casa de meu Pai?”.
Atendo-nos primeiramente ao sentido mais simples, armemo-nos contra os ímpios hereges que afirmam que nem o Criador, nem o Deus da Lei e dos profetas é o Pai do Cristo.
Eis que é uma asserção que o Pai de Cristo é o Deus do templo. Que se envergonhem de confusão os valentinianos ouvindo Jesus, que diz: “eu devo estar na casa de meu Pai”.
Que se envergonhem todos os hereges que admitem o Evangelho segundo Lucas e desprezam o que nele se acha escrito. Que estas palavras sejam compreendidas do modo mais simples, como eu disse.

A casa do Pai
Mas, visto que o texto traz: “Eles não entenderam, porém, o discurso”, escrutemos com mais cuidado o sentido da Escritura. Eles eram desprovidos de inteligência e sabedoria a ponto de não saber o que Jesus queria dizer – porque estas palavras, “devo estar na casa de meu Pai”, significavam “estar no templo”?
Ou então essas palavras têm um sentido mais profundo e que edificaria mais os ouvintes?
Cada um de nós, se é bom e perfeito, pertence a Deus Pai. E assim, de modo geral e a respeito de todos os homens, o Salvador nos ensinou que ele não deve estar em outra parte senão entre aqueles que pertencem ao Pai.
Se algum de vós pertence a Deus Pai, possui Jesus em seu meio. Tenhamos, pois, fé na palavra de Jesus: “Eu devo estar na casa de meu Pai”. Eu imagino que há este templo de Deus mais espiritual, mais vivo e mais verdadeiro que o templo construído a título de símbolo, pela mão dos homens.
Assim, como naquele templo Jesus esteve presente simbolicamente, sua saída também foi simbólica. “Ele saiu do templo” terrestre dizendo: “Eis vossa casa abandonada e deserta”, e, deixando aquela casa, ele se foi para o domínio de Deus Pai, as igrejas dispersas sobre toda a superfície da terra, e diz: “Eu devo estar na casa de meu Pai”.
Portanto, “não entenderam a palavra que lhes foi dirigida”.
Prestai atenção, ao mesmo tempo, [também] nisto: enquanto esteve no domínio de seu Pai, ele estava nas alturas.
E porque José e Maria ainda não tinham uma fé inteira, por esta razão não podiam permanecer com ele nas alturas, mas é dito que “ele desceu com eles”.
Frequentemente Jesus desce com seus discípulos, e não vive sempre na montanha e não ocupa indefinidamente os cumes.
Na montanha, está com Pedro, com Tiago e com João, e novamente em outro lugar com outros discípulos. E como aqueles que sofriam de várias enfermidades não tinham a força de subir a montanha, por esta razão “ele desceu e veio” até eles, que moravam embaixo.
Agora também está escrito: “Ele desceu com eles, veio a Nazaré e lhes era submisso”.

A submissão de Jesus
Aprendamos, filhos, a ser sujeitos a nossos pais: o maior se submete ao menor, que, porque via que José tinha idade maior que a dele, o honrou, por isso, com o respeito de pai, dando a todos os filhos o exemplo para que se submetessem aos pais e, se não houvesse pais, se submetessem àqueles que têm a honra de pais.
Por que falar de pais e filhos? Se Jesus, Filho de Deus, se submete a José e a Maria, eu não me submeteria ao bispo, que foi constituído pai para mim por Deus? Não me submeteria ao presbítero, que para mim foi preposto pela eleição do Senhor?
Penso que José compreendia que Jesus lhe era superior sendo-lhe submisso e, conhecendo a superioridade de seu inferior, José lhe ordenava com receio e medida.
Que cada um, então, reflita sobre isto: frequentemente um homem de menor valor é colocado acima de pessoas melhores que ele, e acontece algumas vezes que o inferior tem mais valor que aquele que parece lhe ser preposto.
Quando o mais elevado em dignidade tiver compreendido isso, ele não se inchará de soberba, por ser superior, mas saberá, assim, que o submisso pode ser melhor que ele, como Jesus também foi sujeito a José.

Os progressos de Jesus
Novamente, o texto prossegue: “Maria, porém, conservava todas essas palavras em seu coração”.
Ela suspeitava de que havia aí algo além do meramente humano.
Assim também “conservava em seu coração todas as palavras de Jesus”, não como de um menino que tivesse doze anos, mas daquele que fora concebido do Espírito Santo, daquele que ela via “progredir em sabedoria e em graça aos olhos de Deus e dos homens”.
Jesus “progredia em sabedoria” e, de idade em idade, ele parecia mais sábio.
Então ele não era sábio, para progredir em sabedoria? Ou então “porque ele se aniquilara, tomando a forma de escravo”, retomava o que havia perdido e se enchia de virtudes que parecera abandonar anteriormente, tendo assumido um corpo humano?
“Ele progredia”, pois, não somente em “sabedoria”, mas “em idade”. Pois existe também um progresso em idade.
A Escritura nos fala de duas espécies de idade, uma do corpo, que não depende de nós, mas de uma lei da natureza; outra da alma, que propriamente está em nosso poder e segundo a qual, se quisermos, crescemos quotidianamente.
Crescemos até chegarmos à perfeição, “ao ponto de não sermos mais pequeninos e flutuantes, rodando em círculo a todo vento de doutrina”.
Cessando de ser “pequeninos”, comecemos a ser homens adultos e possamos dizer: “quando me tornei um homem, fiz desaparecer as coisas que eram de criança”.
O progresso dessa idade, que redunda em crescimento da alma, está em nosso alcance. Se esse primeiro testemunho não basta, tomemos outro exemplo de [São] Paulo, que diz: “Até que tenhamos todos chegado ao estado de homem perfeito, na força da idade que realiza a plenitude do corpo de Cristo”.
Está, portanto, em nosso poder que cheguemos à medida do corpo de Cristo.
E, se está em nosso poder, esforcemo-nos com todo afinco em despojar a criança e destruí-la e ter acesso às demais idades, para que possamos, nós também, ouvir: “Tu irás em paz, junto a teus pais, tendo vivido uma feliz velhice”, velhice espiritual certamente, que verdadeiramente é a boa velhice, encanecendo e chegando até o fim em Cristo Jesus: “a quem pertencem o poder e a glória nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?


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