terça-feira, 10 de setembro de 2019

110 - Orígenes de Alexandria (185-253) As Homilias sobre São Lucas (Homilia 21)


Resultado de imagem para ícone João Batista pregando no deserto
110
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Orígenes de Alexandria (185-253)
As Homilias sobre São Lucas (Homilia 21)


HOMILIA 21 - Lc 3.1-4
Sobre o que está escrito: “No décimo quinto ano do reino de Tibério César”, até aquela passagem que diz: “Aplanai suas veredas”.

O Evangelho se dirige a todos
Quando as profecias eram dirigidas apenas aos judeus, somente os reis de Judá eram mencionados em seu título; por exemplo: “Visão que teve Isaías, filho de Amós, contra a Judeia e contra Jerusalém, nos reinados de Ozias, Joatão, Acaz e Ezequias”.
E, excetuados os reis da Judeia, não vejo ninguém mais mencionado no tempo de Isaías.
Em alguns profetas, lemos também os nomes dos reis de Israel, como nessa passagem: “E nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel”.
Mas quando o mistério do Evangelho devia ser publicado e devia ser espalhada sobre toda a terra a boa nova, da qual João, no deserto, foi o primeiro mensageiro, e que o Império de Tibério governava o orbe terrestre, então, descreve a Escritura, “no décimo quinto ano de seu reinado, a palavra do Senhor foi dirigida a João”.
E se a salvação devesse ser anunciada unicamente àqueles que, entre os gentios, haveriam de abraçar a fé, e se Israel devesse ser totalmente excluído, teria bastado dizer: “no décimo quinto ano de Tibério César, sendo governador da Judeia Pôncio Pilatos”.
Mas porque da Judeia e da Galileia muitos haveriam de abraçar a fé, também esses reinos são mencionados no título e é dito: “Herodes sendo tetrarca da Galileia, Filipe, seu irmão, sendo tetrarca da Itureia e da região da Traconítide, Lisânias sendo tetrarca de Abilene, sob os príncipes dos sacerdotes Anás e Caifás, a palavra do Senhor foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto”.
Outrora, “a palavra de Deus tinha-se feito ouvir por Jeremias, filho de Helcias, membro da família sacerdotal” no tempo de tal ou de tal rei de Judá; agora é “a João, filho de Zacarias, que se dirige a palavra de Deus”.
Ora, nunca ela tinha sido dirigida aos profetas “no deserto”. Mas “os filhos da mulher abandonada” iam abraçar a fé em maior número “que os daquela que tem marido”.
E é por isso que a “palavra de Deus foi dirigida a João, filho de Zacarias, no deserto”.

A pregação de João no deserto
Considera, ao mesmo tempo, que a significação é mais rica, se se entende “deserto” no sentido espiritual e não segundo o sentido literal puro e simples.
Pois quem prega “no deserto” aí vocifera inutilmente, visto que não há ninguém para ouvi-lo falar.
O precursor do Cristo, “a voz que clama no deserto”, prega no deserto da alma que não tem paz.
Não só então, mas também no presente, “uma lâmpada ardente e brilhante” veio e “prega o batismo de penitência para a remissão dos pecados”.
“A luz verdadeira” vem em seguida, quando a própria lâmpada diz: “é preciso que ele cresça e que eu diminua”.
A palavra de Deus é proferida “no deserto” e “estende-se a toda região circundante do Jordão”.
Quais outros lugares o Batista teve de percorrer, senão os arredores do Jordão, para que qualquer um que quisesse fazer penitência recorresse logo à ablução da água?

A preparação para o batismo
Ora, Jordão significa “que desce”. O rio de Deus “que desce”, porém, com o poder de uma grande correnteza, é nosso Salvador e Senhor, em quem somos batizados na água verdadeira, a água da salvação.
É “para a remissão dos pecados” que João prega o batismo: vinde, catecúmenos, fazei penitência, a fim de receberdes o batismo “para a
remissão dos pecados”.
Recebe o batismo “para a remissão dos pecados” aquele que cessa de pecar.
Se alguém vem ao lavacro (banho) do batismo endurecido no pecado, para ele não se faz a remissão dos pecados.
Por isso vos conjuro a que não vos aproximeis do batismo sem precaução nem reflexão atenta, mas que mostreis primeiramente “frutos dignos da conversão”!
Durante algum tempo, tende uma boa conduta, guardai-vos puros de todas as impurezas e de todos os vícios: a remissão de vossos pecados vos será dada, quando vós mesmos tiverdes começado a desprezar vossos próprios pecados. “Deixai vossos pecados, e eles vos deixarão.”

Aplainar as veredas
Porém esta passagem que agora é citada do Antigo Testamento, a lemos escrita em Isaías. Aí, com efeito, está dito: “Voz daquele que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas”.
O Senhor quer encontrar em vós um caminho para poder entrar em vossas almas e fazer seu itinerário; preparai-lhe a vereda, da qual é dito: “Endireitai suas veredas”. “Voz daquele que clama no deserto.”
Uma voz clama: “Preparai o caminho”. A voz, com efeito, é a primeira a chegar aos ouvidos; em seguida, depois da voz, ou melhor, ao mesmo tempo que ela, a palavra penetra o ouvido.
É nesse sentido que o Cristo é anunciado por João. Examinemos, portanto, o que a voz anuncia a respeito da Palavra. “Preparai”, diz a voz, “um caminho para o Senhor”.
Que caminho prepararíamos para o Senhor?
Porventura um caminho material? A palavra do Senhor pode tomar tal caminho? Ou deve-se preparar um caminho interior para o Senhor, e dispor, em nosso coração, veredas endireitadas e planas?
Esse é o caminho através do qual entrou a Palavra de Deus, que consiste na capacidade de acolhida do coração humano.

Imensidão do coração humano
Grande é o coração do homem, imenso e capaz de acolher a Palavra, desde que seja puro! Queres conhecer sua grandeza e sua largueza?
Vê a extensão dos conhecimentos divinos que ele compreende. Ele próprio diz: “Ele me deu um conhecimento verdadeiro das coisas que há: ele me fez conhecer a estrutura do mundo, as propriedades dos elementos, o começo, o fim e o meio dos tempos, as mudanças das estações, a sucessão dos meses, os ciclos dos anos, a posição dos astros, a natureza dos animais e o furor dos animais selvagens, as violências dos espíritos e os pensamentos dos homens, as variedades de árvores e as virtudes das raízes”.
Tu vês que não é pequeno o coração do homem que pode abarcar tantas coisas.
Entende sua grandeza não de dimensões físicas, mas o poder de seu pensamento, que pode abarcar tamanho conhecimento da verdade.
Porém, para levar todas as pessoas simples a crer quão grande pode ser o coração do homem, a partir de exemplos quotidianos, continuemos.
Quaisquer que sejam as cidades que atravessamos, guardamos em nossa mente suas características: a localização das praças, das muralhas e dos edifícios mora em nosso coração; conservamos desenhada e inscrita em nossa memória uma rua em que entramos.
Abraçamos em nosso pensamento silencioso o mar que navegamos. Não é pequeno, como eu disse, o coração do homem, que pode abarcar tantas coisas.
Se, porém, não é pequeno abarcando tantas coisas, consequentemente, nele o caminho do Senhor é preparado e a vereda é aplainada, para que ande nela o Verbo e a Sabedoria de Deus.
Prepara um caminho para o Senhor por uma boa conduta; e, com obras honrosas, alisa a vereda para que, sem qualquer obstáculo, ande em ti o Verbo de Deus e te dê de presente o conhecimento dos mistérios e da vinda daquele “a quem pertencem a glória e o poder nos séculos dos séculos. Amém”.

O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?


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