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131
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Oração do
Senhor (8-9)
8. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores.
Depois disso, pedimos pelos nossos
pecados, dizendo: “perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores”.
Depois do socorro do alimento, pedimos
o perdão do pecado, a fim de que aquele que é alimentado por Deus viva em Deus;
cuide não somente da vida presente e temporal, mas da eterna, à qual se pode chegar
quando os pecados são perdoados; pecados que o Senhor chama de dívida: “Perdoei-te
toda a tua dívida, porque me pediste”.
Mas, quão necessária, quão salutar e
previdentemente se nos adverte que somos pecadores e que devemos rogar pelos
nossos pecados, para que, ao pedirmos a misericórdia de Deus, tomemos consciência
de nós mesmos.
Para que ninguém se contente de si
mesmo, presumindo-se inocente, nem avance mais para a morte, exaltando-se, ao
recebermos a ordem de orar cada dia pelos nossos pecados, somos ensinados e
instruídos que pecamos diariamente.
Por isso, assim adverte João, na sua
epístola, dizendo: “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós
mesmos e a verdade não está em nós. Se, porém, confessarmos os nossos pecados, fiel
e justo é o Senhor para perdoá-los (I Jo 1.8).
Em sua epístola, [João] compreendeu
tanto que devemos rogar pelos nossos pecados quanto que conseguiremos a
indulgência (misericórdia) quando rogarmos.
Por isso, disse que o Senhor é fiel
no cumprimento da fé de sua promessa de perdoar os pecados.
Pois aquele que nos ensinou a orar
pelos [próprios] pecados e dívidas prometeu a misericórdia paterna e o perdão
que a esta se seguiria.
E acrescentou claramente, ao
adicionar como condição segura e como garantia do nosso pedido, o modo [de
fazê-lo]: que peçamos que nos sejam perdoadas as dívidas na medida em que
perdoamos aos nossos devedores.
Assim sabemos que não podemos
conseguir o que pedimos para os nossos pecados, se não fizermos o mesmo em relação
aos nossos devedores.
Pois, diz o Senhor, em outro lugar:
“Na medida com que medirdes, sereis medidos” (Mt 7.2).
Assim, aquele servo que, depois de
receber do Senhor o perdão de toda a sua dívida, não quis fazer o mesmo para o
seu companheiro, foi confinado no cárcere (Mt 18.31-34).
Porque não quis ser indulgente com o
companheiro, perdeu a indulgência que recebera do Senhor. Ainda outra vez, mais
fortemente e com sua advertência mais enérgica, o Cristo propõe com vitalidade
este entre os seus preceitos: “Quando fordes orar, perdoai se tendes alguma
coisa contra alguém, para que o vosso Pai celeste vos perdoe os pecados. Se,
porém, não perdoardes, nem o vosso Pai do céu perdoará os vossos pecados” (Mc
11.25).
Não te restará, pois, escusa alguma
no dia do juízo, quando fores julgado conforme a tua sentença: como fizeste,
assim te será feito.
Deus, então, preceituou que sejamos
pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Ele quer que perseveremos tal como
nos fez pelo renascimento da segunda natividade, a fim de que nós que começamos
a ser filhos de Deus permaneçamos na sua paz e nós que temos um só Espírito
tenhamos uma só alma e um só sentir (I Co 1.10).
Assim, Deus não aceita o sacrifício
do dissidente, mas manda que volte do altar e reconcilie antes com o irmão, para
que também Deus possa ser benigno com as preces pacíficas (Mt 5.24).
O maior sacrifício a Deus é a nossa
paz, a concórdia fraterna e a união do povo na unidade que vem do Pai, do Filho
e do Espírito Santo.
Por isso, tampouco nos sacrifícios
que Caim e Abel, como os primeiros, ofereceram a Deus, ele não olhou para as
dádivas, mas para os corações (Hb 11.4).
Agradou-lhe pela dádiva o que
agradava-o pelo coração. Abel, pacífico e justo, oferecendo o seu sacrifício com
inocência, ensinou os outros que viessem ao altar trazer a sua oferenda a vir,
assim, com temor de Deus, com simplicidade de coração, com a lei da justiça,
com a concórdia da paz.
Com razão, portanto, tendo sido
assim no sacrifício a Deus, tornou-se ele próprio um sacrifício a Deus, para
que ele, que possuía a justiça e a paz do Senhor, iniciasse, pela manifestação
do primeiro martírio na glória do seu sangue, a paixão do Cristo.
Tais serão coroados pelo Senhor,
tais serão julgados com o Senhor no dia do juízo.
Os outros, os discordantes e
dissidentes, os que não estão em paz com os irmãos, segundo o testemunho do
apóstolo e da escritura santa, ainda que morram pelo nome [do Cristo], não
poderão apagar seu crime de discórdia fraterna.
Porque está escrito: “Quem odeia o
seu irmão é homicida, e o homicida nem chega ao Reino, nem vive com Deus” (I Jo
3.15).
Não pode estar com Cristo quem é
imitador de Judas, em vez de Cristo.
Quão grande é essa falta, que nem o
batismo de sangue pode apagar! Quão grande é esse crime, que nem o martírio
pode expiar!
9. E não nos deixes cair em tentação
O Senhor também instrui que é
necessário que digamos na oração: “E não nos deixes cair em tentação”.
Isso mostra que o adversário nada
pode contra nós sem que Deus o permita, a fim de que se volte para Deus todo o
nosso temor, zelo e devoção; pois nada é possível ao mal no sentido de
tentar-nos sem que lhe seja dado o poder.
Prova-o a Escritura, que diz: “Veio
Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e atacou-a; o Senhor entregou-a em
suas mãos” (Ed 5.12).
Mas o poder contra nós é dado ao mal
segundo os nossos pecados, conforme está escrito: “Quem entregou Jacó ao massacre
e Israel aos espoliadores? Não foi Deus, contra quem pecaram, cujas vias não quiseram
seguir e cuja lei não quiseram ouvir que converteu para eles a ira do seu ânimo”?
(Is 42.24).
E novamente, [está escrito] a
respeito de Salomão, quando este pecou e se afastou dos preceitos e dos
caminhos do Senhor: “O Senhor excitou Satanás contra Salomão”.
De duas maneiras é dado poder contra
nós: para castigo, quando pecamos; para glória, quando somos provados.
Vemos, por clara manifestação de
Deus, que assim aconteceu com Jó. Diz Deus: “Eis que tudo o que é dele coloco
em teu poder: atento, porém, a não tocares nele” (Jó 1.12).
E o Senhor, no seu evangelho, no
tempo da paixão, diz: “Nenhum poder terias contra mim, se te não fosse dado do
alto” (Jo 19.11).
Ao rogar para não cairmos em
tentação, somos lembrados da nossa fraqueza e miséria; e rogamos assim para que
ninguém se exalte insolentemente, nem tome orgulhosa e arrogantemente algo como
seu, nem ainda considere como sua a glória da confissão ou do martírio.
Pois, ensinando-nos a humildade, diz
o Senhor: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto,
mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
Antepõe, assim, uma confissão
humilde e submissa ao pedido, atribui tudo a dádiva divina, a fim de que se
obtenha da sua misericórdia aquilo que se pede com temor e reverência.
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