segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Natal e os Pais da Igreja

 

Natal e os Pais da Igreja

Leão Magno: “ a bondade divina sempre olhou de vários modos e de muitas maneiras pelo bem do gênero humano, e são muitos os dons da sua providência, que na sua clemência concedeu nos séculos passados. Porém, nos últimos tempos superou os limites da sua habitual generosidade, quando, em Cristo, a própria Misericórdia desceu aos pecadores, a própria Verdade veio aos extraviados, e aos mortos veio a Vida. O Verbo, coeterno e igual ao Pai, assumiu a humildade da nossa natureza humana para nos unir à sua divindade, e Deus nascido de Deus, também nasceu de homem fazendo-se homem”.

 

Inácio de Antioquia: “Os mistérios clamorosos se realizaram no silêncio de Deus: a virgindade de Maria, o seu parto e a morte do Senhor”.

“No firmamento brilhou uma estrela maior do que todas as outras! A sua luz era indescritível. A sua novidade causou estranheza. Mas todos os demais astros, incluindo o Sol e a Lua, fizeram coro à Estrela. Esta, porém, ia arremessando a sua luz por sobre todos os demais. Houve, por isso, agitação. Donde lhes viria tão estranha novidade? Desde então, desfez-se toda a magia; suprimiram-se todas as algemas do mal. Dissipou-se toda a ignorância; o primitivo reino corrompeu-se, quando Deus se manifestou humanamente para a novidade de uma vida eterna”.

 

Efrém, no século IV: “O menino que se encontra na manjedoura … aquele que rompeu o jugo que a todos oprimia”. “Fazendo-se Ele mesmo servo para nos chamar à liberdade”.

 

Santo Agostinho: “mesmo sem dizer nada, deu-nos uma lição, como se irrompesse num forte grito: que aprendamos a tornar-nos ricos nele que se fez pobre por nós; que busquemos nele a liberdade, tendo Ele mesmo assumido por nós a condição de servo; que entremos na posse do céu, tendo Ele por nós surgido da terra”.

                “Alegremo-nos, irmãos, rejubilem e alegrem-se os povos. Este dia tornou-se para nós santo não devido ao astro solar que vemos, mas devido ao seu Criador invisível, quando se tornou visível para nós, quando o deu à luz a Virgem Mãe”.

 

Prudêncio, poeta hispânico do século IV: “Com crescente alegria brilhe o céu/ e dê-se parabéns a si a gozosa terra:/ de novo, passo a passo, sobre o astro/ do dia aos seus caminhos anteriores…/ Oh! Santo berço do teu presépio,/ eterno Rei, para sempre sagrado/ para todos os povos e pelos próprios/ animais sem voz reconhecida”.

Agostinho: “Reconheçamos o verdadeiro dia e tornemo-nos dia! Éramos, na verdade, noite quando vivíamos sem a fé em Cristo. E uma vez que a falta de fé envolvia, como uma noite, o mundo inteiro, aumentando a fé a noite veio a diminuir. Por isso, com o dia de Natal de Jesus nosso Senhor a noite começa a diminuir e o dia cresce. Por isso, irmãos, festejemos solenemente este dia; mas não como os pagãos que o festejam por causa do astro solar; mas festejemo-lo por causa daquele que criou este sol. Aquele que é o Verbo feito carne, para poder viver, em nosso benefício, sob este sol: sob este sol com o corpo, porque o seu poder continua a dominar o universo inteiro do qual criou também o sol. Por outro lado, Cristo com o seu corpo está acima deste sol que é adorado, pelos cegos de inteligência, no lugar de Deus que não conseguem ver o verdadeiro sol de justiça”.

Máximo, bispo de Turim no século IV: “Jesus é o novo sol que atravessa as paredes, invade os infernos, perscruta os corações. Ele é o novo sol que com os seus espíritos faz reviver o que está morto, restaura o que está velho, levanta o que está decadente e purifica ainda, com o seu calor, aquilo que é impuro, aquece o que está frio e consome o que o que não presta”.

“Preparemo-nos pois, irmãos, para acolher o Natal do Senhor, adornemo-nos com vestes puras e elegantes! Falo, claro está, das vestes da alma, não do corpo… Adornemo-nos não com seda, mas com obras boas! Pois as vestes elegantes ornam o corpo, mas não podem adornar a consciência; pois seria muito vergonhoso trazer sob elegantes vestes elegantes, uma consciência contaminada. Procuremos acima de tudo embelezar os nossos afetos íntimos, e poderemos então vestir belas roupas; lavemos as manchas da alma para usarmos dignamente roupas elegantes! Não adianta dar nas vistas pelas vestes se estamos sujos em pecados, porque quanto a consciência está escura, todo o corpo fica nas trevas”.

 

Efrém: “só um anjo anunciou a sua concepção, enquanto que para o seu nascimento uma multidão de anjos O anunciaram”.

 

Romano Melode, poeta siríaco do século VI: “Terra e céu rejubilem juntamente, diante do Emanuel que os profetas anunciaram, tornado criança visível, que dorme num presépio”. “A alegria acaba de nascer numa gruta. Hoje os coros dos anjos unem-se a todas as nações para celebrar.... Hoje toda a humanidade, desde Adão, dança. Bendito seja Deus, recém-nascido”.

Leão Magno: “Nasceu hoje, irmãos, o nosso Salvador. Alegremo-nos! Não pode haver tristeza quando nasce a vida; a qual, destruindo o temor da morte, nos enche com a alegria da eternidade prometida. Ninguém está excluído da participação nesta alegria; a causa desta alegria é comum a todos, porque nosso Senhor, aquele que destrói o pecado e a morte, não tendo encontrado ninguém isento de pecado, a todos veio libertar. Exulte o santo porque está próxima a vitória; rejubile o pecador, porque é convidado ao perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida… Por isso é que, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram em alegria ‘glória a Deus nas alturas’ e anunciaram ‘paz na terra aos homens...’. Porque veem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo, obra inexprimível do amor divino, que, se dá tanto gozo aos anjos nas alturas do céu, que alegria não deverá dar aos homens cá na terra?”

 

Agostinho de Hipona: “Hoje nasceu para nós o Salvador. Nasceu, portanto, para todo o mundo o verdadeiro sol. Deus Fez-se homem para que o homem se fizesse Deus. Para que o escravo se tornasse senhor, Deus assumiu a condição de servo. Habitou na terra o morador do céu para que o homem, habitante da terra, pudesse encontrar morada nos céus”.

“Ele está deitado numa manjedoura, mas contém o universo inteiro; mama num seio materno, mas é o pão dos anjos; veio em pobres panos, mas reveste-nos de imortalidade; é amamentado, mas é também adorado; não encontrou lugar na estalagem, mas constrói para si um templo no coração dos seus fiéis. Tudo isto para que a fraqueza se tornasse forte e a prepotência se tornasse fraqueza. Por isso, não só não menosprezamos, mas mais admiramos o seu nascimento corporal e reconhecemos neste acontecimento quanto a sua imensa dignidade se humilhou por nós”.

 “Aquele que estava deitado na manjedoura fez-se frágil, mas não renunciou à sua condição divina; assumiu aquilo que não era, mas permaneceu aquilo que era. Eis que temos diante de nós Cristo menino: cresçamos juntamente com Ele”.

“Chama-se dia do Natal do Senhor a data em que a Sabedoria de Deus se manifestou como criança e a Palavra de Deus, sem palavras, imitou a voz da carne. A divindade oculta foi anunciada aos pastores pela voz dos anjos e indicada aos magos pelo testemunho do firmamento. Com esta festividade anual celebramos, pois, o dia em que se realizou a profecia: A verdade brotou da terra e a justiça desceu do céu (Sl 84.12).

“Neste dia, o Verbo de Deus revestiu-se de carne e nasceu de Maria virgem. Nasceu de modo admirável... Donde veio Maria? De Adão. Donde veio Adão? Da terra. Se Adão veio da terra e Maria de Adão, também Maria é terra. E se Maria é terra, entendemos quando cantamos: a verdade brotou da terra”.

Gregório de Nazianzo: “Esta é a nossa festa. Isto celebramos hoje: a vinda de Deus ao meio dos homens, para que, também nós cheguemos a Deus… celebremos, pois, a festa: não uma festa popular, mas uma festa de Deus, não como o mundo quer, mas como Deus quer; não celebremos as nossas coisas mas as coisas daquele que é nosso Senhor”.

“Não embelezemos as portas das casas, não organizemos festas, nem adornemos as estradas, não demos banquetes em nosso proveito nem concertos para mero agrado dos ouvidos, não exageremos nos adornos nem nas comidas… e tudo isto enquanto outros padecem fome e necessidades, esses que nasceram do mesmo barro que nós”.

 

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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

153 - A Mortalidade - Parte 4 - Cipriano de Cartago

 


153

Cipriano de Cartago (210-258)

A Mortalidade (Parte 4)

 Igualmente, por meio de Salomão, ensina o Espírito Santo serem arrebatados precocemente e mais cedo libertados os que agradam a Deus, a fim de que não venham a ser manchados pelo contato do mundo, por uma permanência mais demorada: “Foi arrebatado para que a malícia não alterasse a sua inteligência. Pois sua alma era agradável a Deus; por isso [o Senhor] apressou-se em tirá-lo do meio da iniquidade”.

Também nos Salmos a alma que se dedicou a Deus apressa-se para o Senhor na fé espiritual: “Quanto são amáveis as tuas moradas, Deus dos exércitos. A minha alma deseja e procura as tuas mansões”.

É próprio daquele a quem o mundo deleita, a quem o século convida, acariciando e enganando com os engodos do prazer terreno, querer demorar-se nele por muito tempo. Ainda mais, se o mundo odeia o cristão, por que amas o que te odeia e não preferes seguir ao Cristo, que te redimiu e amou?

São João clama na sua epístola e exorta-nos a não amarmos o mundo, seguindo os desejos da carne. Diz ele: “Não ameis o mundo, nem o que é do mundo. Se alguém ama o mundo, não está com ele a caridade do Pai; porque tudo que está no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e ambição do século, e não vem do Pai, mas da concupiscência do próprio mundo. E o mundo passará, e com ele a sua concupiscência. Aquele, porém, que fizer a vontade de Deus permanece eternamente, como Deus permanece eternamente”.

Estejamos, pois, irmãos diletíssimos, prontos para a vontade de Deus, com a mente íntegra, a fé firme e a virtude sólida, de modo que se afaste de nós o temor da morte e pensemos unicamente na imortalidade que a seguirá. Mostremos que somos de fato o que acreditamos ser, de modo que nem lamentemos a morte dos caros, nem hesitemos quando chegar o dia do nosso chamado, mas aceitemos de bom grado o convite do Senhor.

Posto que essa deva ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca, deve ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca, deve ser assim, pois o mundo já se está desmoronando, assolado pelos turbilhões que o assaltam; assim nós que percebemos já terem começado as coisas duras e sabemos estarem iminentes outras ainda mais pesadas, estimemos, como grande lucro, deixar mais depressa este lugar.

Se em tua casa as paredes envelhecidas trepidassem, o teto se abalasse e a própria casa, corroída pelo tempo, já frouxa e sem firmeza, ameaçasse ruir, não te mudarias com toda presteza?

Se em viagem uma violenta e tormentosa procela, levantando as vagas mais impetuosas, prenunciasse o naufrágio, porventura não procurarias imediatamente um porto?

Eis que o mundo vacila e desmorona e a sua ruína não é apenas o envelhecimento, mas o próprio fim; tu, porém, não dás graças a Deus, nem te rejubilas por te livrares, pela morte prematura, da ruína do naufrágio e das desgraças iminentes?

Devemos considerar e refletir, irmãos diletíssimos, que renunciamos ao mundo e que nele habitamos provisoriamente como hóspedes e peregrinos, sobre tudo isso.

Amemos, pois, o dia que coloca um de nós na verdadeira pátria, que, libertando-nos dos laços seculares, restitui-nos ao paraíso e ao reino.

Quem, estando em terra estranha, não abreviaria o regresso à pátria? Navegando com pressa para o convívio dos seus, quem não desejaria ardentemente um vento propício, que mais cedo permitisse abraçar os entes queridos? Para nós, a pátria é o paraíso.

Os patriarcas já começam a ser os nossos pais. Por que, então, não nos apressamos e corremos para ver a nossa pátria e abraçar os nossos pais?

Aí nos espera um grande número de entes queridos, aí nos aguarda com ansiedade uma multidão de irmãos, pais e filhos, já segura de sua glória e preocupada com a nossa salvação.

Que alegria não há de ser para nós e para eles quando chegarmos a sua presença e ao seu amplexo? Qual não será, então, o prazer, quão grande a felicidade de possuir, sem temor da morte, a vida eterna e os reinos celestiais?

Aí estará o glorioso coro dos apóstolos; aí, a falange jubilosa dos profetas, a multidão inumerável dos mártires coroados pela vitória nas lutas e sofrimentos; aí estarão ainda as virgens triunfantes, que dominaram, pela virtude da continência, a concupiscência da carne e do corpo; aí estarão, finalmente, os misericordiosos, na posse da sua recompensa, isto é, os que fizeram obra de justiça, distribuindo aos pobres bens e alimentos, e cumpriram os preceitos do Senhor, dando o seu patrimônio terrestre em troca dos tesouros celestes.

Caminhemos, pois, irmãos diletíssimos, com ansiedade para eles, desejemos que não demore a nossa ida para junto do Cristo, para que também mais cedo estejamos com eles.

Que Deus veja este nosso pensamento, que o Cristo Senhor considere este propósito do espírito e da fé, para que dê mais abundantemente o prêmio de sua glória àqueles por quem sabe ser mais desejado.

 

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