terça-feira, 1 de dezembro de 2020

153 - A Mortalidade - Parte 4 - Cipriano de Cartago

 


153

Cipriano de Cartago (210-258)

A Mortalidade (Parte 4)

 Igualmente, por meio de Salomão, ensina o Espírito Santo serem arrebatados precocemente e mais cedo libertados os que agradam a Deus, a fim de que não venham a ser manchados pelo contato do mundo, por uma permanência mais demorada: “Foi arrebatado para que a malícia não alterasse a sua inteligência. Pois sua alma era agradável a Deus; por isso [o Senhor] apressou-se em tirá-lo do meio da iniquidade”.

Também nos Salmos a alma que se dedicou a Deus apressa-se para o Senhor na fé espiritual: “Quanto são amáveis as tuas moradas, Deus dos exércitos. A minha alma deseja e procura as tuas mansões”.

É próprio daquele a quem o mundo deleita, a quem o século convida, acariciando e enganando com os engodos do prazer terreno, querer demorar-se nele por muito tempo. Ainda mais, se o mundo odeia o cristão, por que amas o que te odeia e não preferes seguir ao Cristo, que te redimiu e amou?

São João clama na sua epístola e exorta-nos a não amarmos o mundo, seguindo os desejos da carne. Diz ele: “Não ameis o mundo, nem o que é do mundo. Se alguém ama o mundo, não está com ele a caridade do Pai; porque tudo que está no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e ambição do século, e não vem do Pai, mas da concupiscência do próprio mundo. E o mundo passará, e com ele a sua concupiscência. Aquele, porém, que fizer a vontade de Deus permanece eternamente, como Deus permanece eternamente”.

Estejamos, pois, irmãos diletíssimos, prontos para a vontade de Deus, com a mente íntegra, a fé firme e a virtude sólida, de modo que se afaste de nós o temor da morte e pensemos unicamente na imortalidade que a seguirá. Mostremos que somos de fato o que acreditamos ser, de modo que nem lamentemos a morte dos caros, nem hesitemos quando chegar o dia do nosso chamado, mas aceitemos de bom grado o convite do Senhor.

Posto que essa deva ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca, deve ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca, deve ser assim, pois o mundo já se está desmoronando, assolado pelos turbilhões que o assaltam; assim nós que percebemos já terem começado as coisas duras e sabemos estarem iminentes outras ainda mais pesadas, estimemos, como grande lucro, deixar mais depressa este lugar.

Se em tua casa as paredes envelhecidas trepidassem, o teto se abalasse e a própria casa, corroída pelo tempo, já frouxa e sem firmeza, ameaçasse ruir, não te mudarias com toda presteza?

Se em viagem uma violenta e tormentosa procela, levantando as vagas mais impetuosas, prenunciasse o naufrágio, porventura não procurarias imediatamente um porto?

Eis que o mundo vacila e desmorona e a sua ruína não é apenas o envelhecimento, mas o próprio fim; tu, porém, não dás graças a Deus, nem te rejubilas por te livrares, pela morte prematura, da ruína do naufrágio e das desgraças iminentes?

Devemos considerar e refletir, irmãos diletíssimos, que renunciamos ao mundo e que nele habitamos provisoriamente como hóspedes e peregrinos, sobre tudo isso.

Amemos, pois, o dia que coloca um de nós na verdadeira pátria, que, libertando-nos dos laços seculares, restitui-nos ao paraíso e ao reino.

Quem, estando em terra estranha, não abreviaria o regresso à pátria? Navegando com pressa para o convívio dos seus, quem não desejaria ardentemente um vento propício, que mais cedo permitisse abraçar os entes queridos? Para nós, a pátria é o paraíso.

Os patriarcas já começam a ser os nossos pais. Por que, então, não nos apressamos e corremos para ver a nossa pátria e abraçar os nossos pais?

Aí nos espera um grande número de entes queridos, aí nos aguarda com ansiedade uma multidão de irmãos, pais e filhos, já segura de sua glória e preocupada com a nossa salvação.

Que alegria não há de ser para nós e para eles quando chegarmos a sua presença e ao seu amplexo? Qual não será, então, o prazer, quão grande a felicidade de possuir, sem temor da morte, a vida eterna e os reinos celestiais?

Aí estará o glorioso coro dos apóstolos; aí, a falange jubilosa dos profetas, a multidão inumerável dos mártires coroados pela vitória nas lutas e sofrimentos; aí estarão ainda as virgens triunfantes, que dominaram, pela virtude da continência, a concupiscência da carne e do corpo; aí estarão, finalmente, os misericordiosos, na posse da sua recompensa, isto é, os que fizeram obra de justiça, distribuindo aos pobres bens e alimentos, e cumpriram os preceitos do Senhor, dando o seu patrimônio terrestre em troca dos tesouros celestes.

Caminhemos, pois, irmãos diletíssimos, com ansiedade para eles, desejemos que não demore a nossa ida para junto do Cristo, para que também mais cedo estejamos com eles.

Que Deus veja este nosso pensamento, que o Cristo Senhor considere este propósito do espírito e da fé, para que dê mais abundantemente o prêmio de sua glória àqueles por quem sabe ser mais desejado.

 

O que você destaca no texto?

Como ele te auxilia em sua espiritualidade?

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