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Cipriano de Cartago (210-258)
A Mortalidade (Parte 4)
Também
nos Salmos a alma que se dedicou a Deus apressa-se para o Senhor na fé
espiritual: “Quanto são amáveis as tuas moradas, Deus dos exércitos. A minha
alma deseja e procura as tuas mansões”.
É
próprio daquele a quem o mundo deleita, a quem o século convida, acariciando e enganando
com os engodos do prazer terreno, querer demorar-se nele por muito tempo. Ainda
mais, se o mundo odeia o cristão, por que amas o que te odeia e não preferes
seguir ao Cristo, que te redimiu e amou?
São
João clama na sua epístola e exorta-nos a não amarmos o mundo, seguindo os
desejos da carne. Diz ele: “Não ameis o mundo, nem o que é do mundo. Se alguém
ama o mundo, não está com ele a caridade do Pai; porque tudo que está no mundo
é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e ambição do século, e não
vem do Pai, mas da concupiscência do próprio mundo. E o mundo passará, e com
ele a sua concupiscência. Aquele, porém, que fizer a vontade de Deus permanece
eternamente, como Deus permanece eternamente”.
Estejamos,
pois, irmãos diletíssimos, prontos para a vontade de Deus, com a mente íntegra,
a fé firme e a virtude sólida, de modo que se afaste de nós o temor da morte e pensemos
unicamente na imortalidade que a seguirá. Mostremos que somos de fato o que
acreditamos ser, de modo que nem lamentemos a morte dos caros, nem hesitemos quando
chegar o dia do nosso chamado, mas aceitemos de bom grado o convite do Senhor.
Posto
que essa deva ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca,
deve ser a atitude constante dos servos de Deus, agora, mais do que nunca, deve
ser assim, pois o mundo já se está desmoronando, assolado pelos turbilhões que
o assaltam; assim nós que percebemos já terem começado as coisas duras e
sabemos estarem iminentes outras ainda mais pesadas, estimemos, como grande
lucro, deixar mais depressa este lugar.
Se
em tua casa as paredes envelhecidas trepidassem, o teto se abalasse e a própria
casa, corroída pelo tempo, já frouxa e sem firmeza, ameaçasse ruir, não te
mudarias com toda presteza?
Se
em viagem uma violenta e tormentosa procela, levantando as vagas mais
impetuosas, prenunciasse o naufrágio, porventura não procurarias imediatamente um
porto?
Eis
que o mundo vacila e desmorona e a sua ruína não é apenas o envelhecimento, mas
o próprio fim; tu, porém, não dás graças a Deus, nem te rejubilas por te
livrares, pela morte prematura, da ruína do naufrágio e das desgraças
iminentes?
Devemos
considerar e refletir, irmãos diletíssimos, que renunciamos ao mundo e que nele
habitamos provisoriamente como hóspedes e peregrinos, sobre tudo isso.
Amemos,
pois, o dia que coloca um de nós na verdadeira pátria, que, libertando-nos dos laços
seculares, restitui-nos ao paraíso e ao reino.
Quem,
estando em terra estranha, não abreviaria o regresso à pátria? Navegando com pressa
para o convívio dos seus, quem não desejaria ardentemente um vento propício, que
mais cedo permitisse abraçar os entes queridos? Para nós, a pátria é o paraíso.
Os
patriarcas já começam a ser os nossos pais. Por que, então, não nos apressamos
e corremos para ver a nossa pátria e abraçar os nossos pais?
Aí
nos espera um grande número de entes queridos, aí nos aguarda com ansiedade uma
multidão de irmãos, pais e filhos, já segura de sua glória e preocupada com a
nossa salvação.
Que
alegria não há de ser para nós e para eles quando chegarmos a sua presença e ao
seu amplexo? Qual não será, então, o prazer, quão grande a felicidade de
possuir, sem temor da morte, a vida eterna e os reinos celestiais?
Aí
estará o glorioso coro dos apóstolos; aí, a falange jubilosa dos profetas, a
multidão inumerável dos mártires coroados pela vitória nas lutas e sofrimentos;
aí estarão ainda as virgens triunfantes, que dominaram, pela virtude da
continência, a concupiscência da carne e do corpo; aí estarão, finalmente, os misericordiosos,
na posse da sua recompensa, isto é, os que fizeram obra de justiça,
distribuindo aos pobres bens e alimentos, e cumpriram os preceitos do Senhor,
dando o seu patrimônio terrestre em troca dos tesouros celestes.
Caminhemos,
pois, irmãos diletíssimos, com ansiedade para eles, desejemos que não demore a
nossa ida para junto do Cristo, para que também mais cedo estejamos com eles.
Que
Deus veja este nosso pensamento, que o Cristo Senhor considere este propósito
do espírito e da fé, para que dê mais abundantemente o prêmio de sua glória àqueles
por quem sabe ser mais desejado.
O
que você destaca no texto?
Como
ele te auxilia em sua espiritualidade?
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