A Conversão
Francisco não foi um
ouvinte surdo do Evangelho.
2. Deus de fato infundira no coração do jovem
Francisco, juntamente com uma afetuosidade notável, uma generosidade e
compaixão extraordinárias pelos pobres. Este sentimento foi crescendo em seu
coração de filho a tal ponto que ele decidiu dar o que tivesse a quem quer que
lho pedisse por amor de Deus, pois não era um ouvinte surdo do Evangelho.
Boaventura LEGENDA MENOR: C.1.
Francisco resolveu desapegar-se de todas as
suas posses e negociar, segundo o estilo de Deus, as coisas deste mundo com as
do Evangelho.
4. Certo dia, ao orar assim na solidão, apareceu-lhe
Cristo Jesus crucificado e lhe disse: "Quem quiser vir após mim,
renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me" (Mt 16,24). Esse
versículo do Evangelho causou-lhe tão grande impressão, que lhe queimava dentro
da alma como um fogo devorador e como um desejo imenso de sofrer com ele. Pois
diante do Crucificado sua alma se derretia e a lembrança da paixão de Cristo se
gravou no mais íntimo de seu coração, de tal modo que via quase
ininterruptamente dentro de si com os olhos da alma as chagas do Senhor
crucificado e externamente a muito custo conseguia conter as lágrimas e os
suspiros. Abandonara por amor de Cristo Jesus, como bens desprezíveis, sua casa
e toda a fortuna que esta lhe reservara, mas sabia perfeitamente que descobrira
um tesouro escondido e brilhante pérola preciosa. Ávido de possuí-los, resolveu
desapegarse de todas as suas posses e negociar, segundo o estilo de Deus, as
coisas deste mundo com as do Evangelho. Boaventura LEGENDA MENOR: C.1
A Missão
Francisco
teve a graça de aprender o caminho da perfeição mediante o Evangelho.
1. Havendo terminado
sua obra nas três igrejas, Francisco foi viver numa delas dedicada à Santíssima
Virgem. ...foi julgado digno de aprender o caminho da perfeição mediante o
Evangelho cujo espírito e verdade Deus lhe revelou. Certo dia, durante a missa,
lia-se a passagem do Evangelho que relata como o Senhor enviou os discípulos a
pregar e como estabeleceu a forma de vida segundo o Evangelho que deveriam
observar: não ter nem ouro nem prata, nem dinheiro no cinto, nem sacola para o
caminho, nem duas túnicas, nem sapatos, nem bastão (cf. Mt 10,9). Boaventura
LEGENDA MENOR: C.2.
O Estilo de vida
Francisco
tornou-se o arauto do Evangelho.
Chegou a conclusão de
que deveria viver para os outros e não exclusivamente para si. Foi então viver
numa cabana abandonada perto de Assis, onde poderia levar em comum uma vida de
pobreza e rigorosa disciplina religiosa com seus Irmãos e pregar a palavra de
Deus ao povo, sempre que tivesse oportunidade, Tornou-se o arauto do Evangelho,
pregando de cidade em cidade o reino de Deus "não com estudadas palavras
de humana sabedoria, mas pela virtude do Espírito Santo" (1Cor 2,13).
Boaventura LEGENDA MENOR: C.2.
A pobreza Evangélica
Francisco
descobriu o Tesouro do Evangelho.
Por amor à pobreza
abandonou pai e mãe e tudo o que possuía. Ninguém era tão ávido de ouro quanto
ele da pobreza; ninguém jamais guardou um tesouro com tanto cuidado como ele
guardou essa pérola do Evangelho. Boaventura LEGENDA MENOR: C.3.
O Discipulado
Francisco
ensinou seus discípulos a viver segundo a forma do Santo Evangelho.
27. A verdade da
doutrina anunciada com simplicidade e a autenticidade da vida do bem-aventurado
Francisco se tornavam conhecidas de muitos, de modo que, transcorridos dois
anos de sua conversão, certos homens começaram a se animar por seu exemplo e
penitência e, rejeitando todas as coisas, uniram-se a ele, no hábito e na vida.
O primeiro deles foi Frei Bernardo, de santa Memória. Considerando Bernardo a constância
e o fervor do bem-aventurado Francisco no serviço divino, o empenho com que
reformava as igrejas destruídas levando uma vida austera, apesar das
facilidades que tivera no século, propôs em seu coração distribuir aos pobres
tudo o que tinha e unir-se firmemente a ele, no hábito e na vida. Assim, certo
dia, aproximou-se ocultamente do homem de Deus, revelou-lhe seu propósito e
combinou com ele que o procurasse numa determinada noite. O bem-aventurado
Francisco, dando graças a Deus, como até então não tivesse nenhum companheiro,
muito se alegrou, especialmente porque o senhor Bernardo era homem de vida bem
edificante.
28. Na noite combinada,
foi o bem-aventurado Francisco ter à casa de Bernardo, com grande alegria no
coração, e permaneceu com ele toda aquela noite. Entre outras coisas o Senhor
Bernardo disse-lhe: "Se alguém recebesse de seu patrão muito ou pouco, e
conservasse esses bens por muitos anos e não quisesse mais retê-los, o que de
melhor poderia fazer com eles?" O bem-aventurado Francisco respondeu que
deveria devolvê-los ao patrão de quem os recebera. E o Senhor Bernardo disse: "Portanto,
meu irmão, todos os meus bens temporais quero distribuir, por amor do meu
Senhor, de quem os recebi, conforme te parecerá mais convenientes. O santo
disse: "Amanhã, bem cedinho, iremos à igreja, e pelos Evangelhos saberemos
como o Senhor ensinou a seus discípulos". No dia seguinte, muito cedo,
levantaram-se, e juntos com outro que se chamava Pedro, e também queria ser
irmão, foram à igreja de São Nicolau, na praça da cidade de Assis. Entrando
para orarem, como eram simples e não sabiam achar a passagem do Evangelho a
respeito da renúncia dos bens materiais, devotamente rogavam ao Senhor que se
dignasse mostrar-lhes a sua vontade na primeira vez que abrissem o livro.
29. Terminada a oração,
o bem-aventurado Francisco, tomando o livro fechado, e de joelhos diante do
altar, ao abrir a primeira vez, encontrou este conselho do Senhor: "Se
queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um
tesouro no céu" (Mt 19.21). O bem-aventurado Francisco ficou muito
contente e deu graças a Deus. Mas como era um verdadeiro adorador da Santíssima
Trindade, quis que isto fosse confirmado com um tríplice testemunho. E abriu o
livro pela segunda e pela terceira vez. Ao abri-lo a segunda vez, encontrou o
seguinte: "Não leveis nada no caminho... (Lc 9.3)" E na terceira, por
fim: "Quem quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo" (Lc 9.23). O
bem-aventurado Francisco deu graças a Deus as três vezes que se abriu o livro e
se manifestava a vontade divina, confirmando seu propósito e desejo
anteriormente concebidos. E disse aos já mencionados irmãos Bernardo e Pedro:
"Irmãos, esta é nossa vida e nossa regra e de todos que quiserem unir-se à
nossa sociedade. Ide, pois, e fazei como ouvistes". Partiu, pois, o Senhor
Bernardo, que era muito rico, vendeu tudo o que possuía, e ajuntando muito
dinheiro, distribuiu-o todo aos pobres da cidade. Pedro também, conforme suas
posses, cumpriu o conselho divino. Despojando-se de tudo, ambos tomaram o
hábito, tal qual usava o santo, após ter deixado o de eremita. Desde então, viveram
juntamente com ele, segundo a forma do santo Evangelho, que o Senhor lhes havia
manifestado. Foi por isso que São Francisco disse em seu Testamento: "O
próprio Senhor revelou-me que deveria viver segundo a forma do santo
Evangelho". LEGENDA DOS TRÊS COMPANHEIROS: C.9.
Cronologia de Francisco de Assis
1181/82: Nasce em Assis. Batizado com o nome de Giovanni di Pietro
(pai) di Bernardone (avô).
1202: Guerra entre Perúsia e Assis. Assis vencida em Collestrada.
Francisco, com 20 anos, passa um ano preso em Perúsia. Resgatado pelo pai,
devido à doença. Nesse tempo parece que a família de Clara está refugiada em
Perúsia; ela com 8/9 anos de idade.
1204/05: Parte para a guerra da Apúlia, no sul. Volta após visão e
mensagem de Espoleto. Começo da conversão gradual. Em junho de 1205: Mensagem do crucifixo de São Damião. Conflito com o
pai.
1206: Janeiro-fevereiro: questão perante o bispo Dom Guido II.
Março-junho: em Gúbio, perto de Assis, cuida dos leprosos.
1208: 24 de fevereiro: ouve o Evangelho da missa de São
Matias, na Porciúncula, sobre a missão apostólica. Muda as vestes de eremita e
passa a usar as de pregador ambulante, descalço. Início da pregação apostólica.
Aqui propriamente começa o estilo de vida franciscana, apostólica, de presença.
16 de abril: recebe em sua companhia os irmãos Bernardo de Quintavalle e Pedro
Cattani.
1209: março-junho: Francisco escreve breve Regra e vai a
Roma com onze discípulos. Obtém a aprovação do Papa Inocêncio III, só
oralmente.
1212: Março: na noite do domingo de Ramos, Clara di
Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula.
24/25 de dezembro: na noite de Natal, Francisco celebra a
festa em Greccio, junto a um presépio.
15 de agosto a 29 de setembro: Francisco, com Frei Leão e
Frei Rufino, passa no Alverne, preparando-se com uma quaresma de oração e
jejum. Em setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.
1226: 3 de outubro, à tarde: Francisco cantando ‘mortem
suscepit’ (morreu cantando). No domingo seguinte, 4 de outubro, é sepultado na
igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre passa antes pelo
mosteiro de São Damião, para a despedida de Clara.
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