Divisão do Tratado
O Tratado está dividido em 12
livros.
O livro I começa autobiografia. Refere-se
às heresias e apresenta um plano geral do trabalho.
O livro II é um resumo da
doutrina da Trindade.
O livro III trata do mistério da
distinção e unidade do Pai e do Filho.
No livro IV o autor apresenta a carta de Ário a Alexandre de Alexandria
e demonstra a divindade de Filho a partir de citações tiradas do Antigo
Testamento.
1. Quanto a ti, que reconheceste o Juiz no Senhor e no Senhor,
nele reconhece o consórcio do mesmo nome em Deus e Deus.
2. Jacó, fugindo por medo do irmão, viu em sonhos uma escada
apoiada na terra que atingia o céu. Por ela, anjos de Deus subiam e desciam e o
Senhor, nela apoiado, concedia-lhe todas as bênçãos que dera a Abraão e a Isaac
(Gn 28,13-15). Depois disto foi-lhe dirigida a palavra de Deus: Disse Deus a Jacó: “Levanta-te, sobe a Betel e fixa
ali tua morada. Erguerás um altar a Deus, que te apareceu quando fugias da
presença de teu irmão Esaú (Gn
35,1).
3. Deus pede que dê honra a Deus, e o pede referindo-se a outra
pessoa. Disse: Deus,
que te apareceu quando fugias, para
que não houvesse confusão quanto às pessoas. Portanto, é Deus que fala e é
sobre Deus que se fala. O reconhecimento da honra não discerne, pelo nome da
natureza, aqueles a quem a denominação pessoal distingue.
Capítulo 31.
4. Nesta altura, lembrei-me de algo necessário para fornecer
provas mais completas, mas assim como a ordem das proposições, também a ordem
das respostas deve ser conservada.
5. Por isso, explicaremos aquilo que ainda resta em outro
livro, em seu devido lugar. Até agora, somente se demonstrou sobre Deus que
pede ser dada honra a Deus, que o anjo de Deus que falou com Agar era Deus e
Senhor, visto que, sobre estas coisas, conversou com Abraão, e que o homem
visto por Abraão era também Deus e Senhor.
6. Quanto aos dois anjos, vistos com o Senhor e por Ele
enviados a Ló, nada declarou o Profeta, a não ser serem anjos. Deus se
apresentou a Abraão como homem, e igualmente a Jacó Deus apareceu como homem. E
não só apareceu, mas se mostrou como lutador e, mais ainda, fraco, contra
aquele com quem lutava.
7. Agora, porém, não é próprio nem do tempo, nem do assunto,
tratar do mistério da luta. Certamente é Deus, porque Jacó, contra Deus, foi
mais forte, e Israel viu a Deus.
Capítulo 32.
8. Vejamos, porém, se também em outro lugar, além daquele em
que fala a Agar, este anjo de Deus foi reconhecido como Deus, e conhecido
claramente. E não só como Deus, mas como o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o
Deus de Jacó. Pois o anjo do Senhor apareceu a Moisés na sarça e, da sarça, o
Senhor falou; de quem julgas ser esta voz que escutou, de qual dos dois é: do
que foi visto, ou de algum outro? Aqui não há escapatória.
9. Assim diz a Escritura: Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo, no
meio de uma sarça (Ex 3,2). E
de novo: O
Senhor o chamou do meio da sarça: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Que é?” E
disse o Senhor: “Não te aproximes daqui, tira as sandálias de teus pés, pois o
lugar em que está é terra santa”. E disselhe: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de
Isaac, o Deus de Jacó” (Gn 3,4-6).
10. Quem apareceu na sarça fala na sarça, e o lugar da visão é o
mesmo da voz. O que é ouvido não é diferente do que é visto. O mesmo que, ao
ser visto, é o anjo de Deus, ao ser ouvido, é o Senhor; porém, o que é ouvido,
depois é conhecido como o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó.
11. Quando se diz Anjo de Deus, mostra-se não ser fechado em si mesmo, nem ser solitário,
pois é um anjo de Deus; quando se diz Senhor e Deus, é declarado assim pela honra de sua natureza e pelo nome.
12. Tens, portanto, que o anjo que apareceu na sarça também é o
Senhor Deus.
Capítulo 33.
13. Percorre ainda os testemunhos de Moisés e descobre se
negligenciou alguma ocasião de declarar Deus e Senhor. Tens, por exemplo: Ouve, Israel, o Senhor teu Deus é um só (Dt 6,4).
14. Lembra-te agora dos dizeres do seu cântico divino: Vede, vede, que eu sou o Senhor, e não há Deus além
de mim (Dt 32,39).
15. E como se todo o discurso fosse pronunciado por Deus em
pessoa, até o fim do cântico, diz: Alegrai-vos, ó céus, junto com Ele, e adorem-no todos
os filhos de Deus. Alegrai-vos, nações, com seu povo, e honrem-no todos os
anjos de Deus (Dt 32,43; LXX).
16. Pelos anjos de Deus deve ser honrado Deus, que diz: Porque eu sou o Senhor, e não há Deus além de mim. É, portanto, o Deus Unigênito, e o nome de Unigênito não
admite consorte (assim como não aceita o Inascível um participante, enquanto é
inascível), pois é o Único, nascido do Único.
17. Além do Deus inascível não há outro Deus inascível, e além
do Deus unigênito, não há um outro que também seja Deus unigênito. Cada um
deles é único no atributo que lhe é próprio, isto é, em ser inascível e em ter
no Pai a origem. Assim, um e outro são um só Deus, pois, entre o que é Um e o
que é Um, isto é, o Único nascido do Único, não há uma segunda natureza
diferente da eterna divindade.
18. Seja, portanto, adorado pelos filhos de Deus e honrado pelos
anjos de Deus. Assim se requer a honra e a veneração a Deus pelos filhos de
Deus e pelos anjos.
19. Entende quem deve ser honrado e por quem deve ser honrado:
Deus, pelos anjos e filhos de Deus. E para que não julgues que se pede que seja
honrado um Deus que não o é por natureza, nem penses que, neste lugar, Moisés
tenha querido referir-se à honra prestada a Deus Pai, quando na verdade o Pai é
honrado no Filho, presta atenção à bênção que, no mesmo discurso, é dada a
José: Que a
bênção daquele que apareceu na sarça venha sobre a cabeça e a fronte de José (Dt 33,16).
20. Aquele que deve ser adorado pelos filhos de Deus é Deus, mas
Deus que é também o Filho de Deus. O que deve ser honrado pelos anjos de Deus é
Deus, mas o Deus que é o anjo de Deus é Deus, porque Deus na sarça apareceu
como o anjo de Deus, e o que era de seu agrado a José foi desejado, ao ser este
abençoado.
21. Não deixa de ser Deus porque é anjo de Deus, nem deixa de
ser anjo de Deus por ser Deus; mas, pela indicação das pessoas, e a distinção
entre inascibilidade e natividade e pela manifestação da Economia dos celestes
sacramentos, ensina a não se ter a idéia de um Deus solitário, já que Deus,
como Anjo de Deus e Filho de Deus, deve ser adorado pelos anjos e filhos de
Deus.
Capítulo 34.
22. Seja
esta a nossa resposta a partir dos livros de Moisés, ou melhor, é o próprio
Moisés que responde, já que os hereges, afirmando haver um só Deus, pensam
poder persuadir-nos de que não pode haver um Deus Filho de Deus.
23. Os ímpios, ao confessarem o único Deus, contra o testemunho
daquela autoridade, pretendem ensinar que o Filho de Deus não é Deus. Será,
porém, conveniente apresentar muitas sentenças dos profetas sobre o mesmo.
Capítulo 35.
24. Conheces as palavras: Ouve, Israel, o Senhor teu Deus é um só (Dt 6,4); mas quem dera que as conhecesses de maneira
correta! Pergunto qual pensas ser o sentido da palavra profética, pois diz o
Salmo: Deus, o
teu Deus te ungiu (Sl 45.7).
25. Distingue, para a compreensão do leitor, o ungido e o que
unge; distingue te de teu, demonstra para quem e a respeito de quem é a palavra, pois o
sentido da declaração depende do que foi dito acima: Teu trono, ó Deus, pelos séculos dos séculos; o cetro
de teu poder é o cetro de teu reino; amaste a justiça e odiaste a iniqüidade (Sl 45.6 / Hb 1.8).
26. Agora acrescenta: Por isso Deus, o teu Deus, te ungiu. Portanto, o Deus do reino eterno, pelo mérito de amar a
justiça e odiar a iniqüidade, é ungido por seu Deus. Acaso certa diferença
entre os nomes confundirá nossa inteligência? Pois, entre te e teu, somente
existe a distinção das pessoas sem que haja, de modo algum, a confissão da
distinção da natureza.
27. Teu diz
respeito ao que é origem, te indica aquele que recebe dele a existência e que é Deus, que
procede de Deus, pela afirmação feita neste mesmo lugar pelo Profeta: Ungiu-te, Deus, o teu Deus.
28. Não há, antes do Deus inascível, qualquer Deus, Ele mesmo
afirma: Sede
minhas testemunhas, também Eu testemunho, diz o Senhor Deus, e o meu servo a
quem escolhi, para que saibais e creiais e compreendais que eu sou. Não há
outro Deus antes de mim, e depois de mim não haverá (Is 43,10; LXX).
29. Por conseguinte, está demonstrada a dignidade daquele que é
sem início e conservada a honra daquele que vem do inascível: Ungiu-te, Deus, o teu Deus. Por ter dito teu, faz
referência à natividade, sem que desapareça a igualdade de natureza.
30. É o seu Deus, porque, sendo nascido dele, está em Deus.
Contudo, porque o Pai é Deus, o Filho não deixa de ser Deus. Ungiu-te, Deus, o teu Deus: designa o que gerou e o que é nascido dele; por uma e a
mesma palavra estabelece-se a designação da mesma natureza e a dignidade de
ambos.
Capítulo 36.
31. Esta questão deve ser estudada, para que as palavras: Eu sou. Não há outro Deus antes de mim e não haverá
depois de mim (Is 43,10) não dêem
motivo a uma ímpia afirmação, como se o Filho não fosse Deus, porque não há
nenhum Deus depois daquele antes do qual não há Deus, nem haverá depois, em
momento algum.
32. O próprio Deus é testemunha de sua palavra; mas também seu servo eleito é testemunha, juntamente com Ele. Antes dele não houve Deus,
nem haverá depois. Basta, na verdade, que Ele próprio seja testemunha de si;
ajuntou, porém, ao seu testemunho o de seu servo, que escolheu.
33. É um só o testemunho dos dois: não houve antes outro Deus,
pois provém dele tudo o que existe e depois dele não haverá Deus. Mas, não
afirmam não existir o que provém dele, pois já era o próprio servo que falava,
em testemunho do Pai, ele o servo na tribo em que iria nascer o eleito.
34. É o que Ele mesmo demonstra nos Evangelhos: Eis o meu Servo a quem escolhi, o meu dileto, em quem
minha alma se compraz (Mt 12,18). Não há outro Deus antes de mim e não haverá depois
de mim. Ao dizer isto, mostra
a infinidade do eterno e imutável poder, visto que não há outro Deus, nem antes
nem depois dele, tendo unido seu servo ao seu testemunho e ao seu nome.
Capítulo 37.
35. É fácil saber isso, dito por Ele, pois assim diz ao profeta
Oséias: Não
mais terei piedade da casa de Israel para perdoar-lhe, mas lhe serei contrário;
contudo terei piedade dos filhos de Judá, e os salvarei pelo Senhor Deus deles (Os 1,6-7).
36. O Pai claramente chama de Deus o Filho, no qual também nos
escolheu antes de todos os tempos (Ef 1,4). Deles, diz, porque o Deus inascível não provém de ninguém, mas
nós fomos dados ao Filho em herança, por Deus Pai.
37. Lemos: Pede-me,
e eu te darei os povos por tua herança (Sl 2,8). Assim para Deus, do qual tudo provém, não há Deus, porque é
sem início e eterno. Para o Filho, no entanto, o Pai é Deus, pois dele nasceu.
Para nós, o Pai é Deus e o Filho é Deus, pois o Pai afirma, a respeito do
Filho, que é nosso Deus, e o Filho, ensinando, a respeito do Pai, diz que é
Deus para nós; contudo, segundo Oséias, o Filho é chamado Deus,
pelo Pai, com o nome de seu inascível poder.
Capítulo 38.
38. Em Isaías aparece claramente a afirmação de Deus Pai sobre
nosso Senhor, quando diz: Porque
assim diz o Senhor Deus, o santo de Israel, que fez aquilo que há de vir.
Interrogai-me a respeito de vossos filhos e filhas, quereis dar-me ordens a
respeito da obra de minhas mãos. Eu fiz a terra, e o homem sobre ela, eu dei
ordens a todos os astros, eu suscitei um rei com justiça, e todos os seus
caminhos são retos. Ele edificará minha cidade e destruirá o cativeiro de meu
povo, não com dinheiro nem com dádivas, diz o Senhor dos exércitos. O Egito
trabalhará, virão a ti o comércio dos etíopes e de Sabá e homens de grande
estatura e passarão para o teu domínio, serão teus servos, irão atrás de ti,
presos em cadeias, e te adorarão, e te suplicarão, porque em ti Deus está, e
não há Deus além de ti. Tu és Deus e o não sabíamos, Deus de Israel, salvador.
Hão de enrubescer e envergonhar-se todos os que o combatem, e sairão cheios de
confusão (Is 45,11-16).
39. Haverá ainda algum lugar para a presunção ou ensejo para a
ignorância, sem que com isso se manifeste a impiedade? Deus, de quem tudo
procede e que, com uma simples ordem, tudo fez, assumindo para si as obras já
feitas, pois, na verdade, as que ainda não estavam feitas não existiriam se não
ordenasse que fossem feitas, dá testemunho do rei justo, por Ele suscitado para
edificar a cidade para Deus, destruindo o cativeiro do povo, não por dinheiro
nem por dádivas, pois de graça somos salvos todos.
40. Diz em seguida que, depois dos trabalhos do Egito, isto é,
as calamidades do mundo e as negociações dos Etíopes e de Sabá, homens de
grande estatura virão a Ele. E por que dá tanto valor ao Egito, e aos negócios
dos etíopes e de Sabá? Recordemos que os Magos do Oriente foram adorar o Senhor
e trazer-lhe presentes. Pensemos no trabalho que representou virem até Belém de
Judéia. Como foi grande esse trabalho! Pelo esforço dos Reis, se indica o
trabalho do Egito. Aos Magos, iludidos pela falsa aparência das coisas
relacionadas às operações do poder divino, era prestada, pelo mundo, a grande
honra de uma ímpia religião.
41. Aos mesmos Magos, que traziam como dons ouro, incenso e
mirra, negociados pelos sabeus e etíopes, anunciava outro profeta ao dizer: Diante dele se prostrarão os etíopes, e seus inimigos
porão a boca no pó; os Reis de Társis oferecerão dons, os Reis da Arábia e de
Sabá trarão presentes, e serlhe-á dado o ouro da Arábia (Sl 72.9-10).
42. Nos Magos e nos dons estão representados os trabalhos do
Egito e a negociação dos etíopes e de Sabá. Nos Magos que adoram se mostra o
erro do mundo e se mostram também os dons preciosos das gentes, oferecidos ao
Senhor por eles adorado.
Capítulo 39.
43. Quanto aos homens de grande estatura, que irão a Ele e o
seguirão como vencidos, não é muito difícil descobrir quem serão eles. Olha
para o Evangelho: Pedro, para seguir seu Senhor, se cinge (cf. Jo 21,7).
44. Repara nos Apóstolos: o servo de Cristo, Paulo, nas cadeias
se gloria (cf. Fl 1,1; 2Cor 11,30). Vejamos se o prisioneiro de Cristo Jesus
realiza aquilo que dissera Deus sobre seu Filho Deus: Suplicarão, porque em ti está
Deus (Is 45,14).
45. Reconhece a palavra do Apóstolo, e entende o que reconheces:
Deus
estava em Cristo reconciliando o mundo consigo (2Cor 5,19). Segue-se
depois: não há
Deus fora de ti (Is 45,14). Logo,
o mesmo Apóstolo acrescenta, pois um é o nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi
feito (1Cor 8,6); e não
parece haver outro, porque é Um.
46. Pela terceira vez diz: Tu és Deus, e não o sabíamos. Pelo antigo perseguidor da Igreja é dito: Aos quais pertencem os patriarcas, e dos quais
descende Cristo, que é Deus acima de todas as coisas (Rm 9,5). Isto proclamavam os que estavam algemados, isto é, os homens
de grande estatura, que, em doze tronos, iriam julgar as tribos de Israel e
seguiriam o seu Senhor pelo martírio da sua doutrina e de sua paixão.
Capítulo 40.
47. Deus está em Deus e Aquele no qual está Deus também é Deus.
E como não há
Deus além de ti, se nele Deus está?
Tu te vales erradamente, ó herege, da declaração de Deus Pai como se fosse
solitário: Não há
Deus além de mim.
48. Como interpretarás esta palavra, de Deus Pai: Não há Deus além de ti, se pelo fato de haver dito Não há Deus além de mim (Dt 32,39), insistes em afirmar que o Filho de Deus não é
Deus? A quem, então, Deus Pai teria dito: Não há Deus além de ti?
49. Não é possível atribuir isto à pessoa do solitário. O Senhor
disse ao rei que suscitara, por intermédio dos homens de grande estatura, que
adoravam e suplicavam: Porque
em ti está Deus (Is 45,14). Isto não
admite que se pense num solitário. Em ti,
se refere a alguém a quem se dirige a palavra. Em ti está Deus demonstra não apenas o que está presente, mas Aquele que
nele está presente; distinguindo o que habita daquele em quem habita, distinção
que se aplica somente às pessoas, não à natureza, pois Deus está nele, e Aquele
em quem Deus está é Deus.
50. Deus não habita uma natureza diferente e alheia à sua, mas
permanece no seu Filho de si gerado. Deus está em Deus porque o que é nascido
de Deus é Deus. Tu és
Deus, e não sabíamos, Deus de Israel salvador (Is 45,15).
Capítulo 41.
51. A palavra seguinte te contradiz, a ti, que negas que Deus
esteja em Deus: Hão de
enrubescer e envergonhar-se todos os que o combatem e sairão cheios de confusão
(Is 45,16).
52. Este é o decreto de Deus para tua impiedade. Combates
Cristo, a respeito de quem a declaração paterna te repreende. Pois é Deus
Aquele que tu negas ser Deus. Certamente negas, sob a aparência de honrar a
Deus (Pai), que diz: Não há
outro Deus além de mim. Mas
enrubesce, enche-te de confusão.
53. O Deus inascível não precisa receber de ti esta honra, não
solicita de ti a glória da solidão, não deseja a opinião de tua inteligência,
porque, por ter Ele dito: Não há
Deus além de mim, renegas o Deus que
Ele gerou de si mesmo. Querendo destruir a divindade do Filho, nada de especial
lhe conferirás. Ao dizer: E não
há Deus além de mim, cobriu o seu
Unigênito de glória pela honra da perfeita divindade.
54. Por que separas os iguais? Por que distingues o que está
unido? É próprio do Filho de Deus que não haja outro Deus além dele; e é
próprio de Deus Pai que não haja outro Deus além dele. Emprega as palavras de
Deus sobre Deus.
55. Confessa deste modo e roga ao rei: Porque em ti está Deus, e não há Deus além de ti. Tu
és Deus, e não o sabíamos, Deus de Israel salvador. Não há vergonha nenhuma em prestar honra, não há ofensa na
confissão, principalmente quando a negação está plena de confusão e de
vergonha. Detém-te nas palavras de Deus, confessa com as palavras de Deus e
foge da indignidade da denúncia.
56. Por negares ser Deus o Filho de Deus, não veneras a Deus com
a honra de solitário, mas desprezas o Pai por desonrar o Filho. Com a homenagem
da fé, confessa o Deus inascível, declara que além dele não há nenhum Deus e
proclama o Deus unigênito, porque não há Deus separado dele.
Capítulo 42.
57. Depois de Moisés e de Isaías, escuta, em terceiro lugar, a
Jeremias, que ensina o mesmo: Este é o nosso Deus, e a seu lado não se contará
nenhum outro. Encontrou todo o caminho da ciência, e a deu a Jacó, seu servo, e
a Israel, seu dileto. Depois foi visto na terra, e conviveu com os homens (Br 3,36-38). Já
dissera acima: É um
homem, e quem o conhecerá?
(Jr 17,9; LXX).
58. Tens, portanto, um Deus visto na terra, morando entre os
homens. Pergunto então como pensas que se deve compreender esta palavra: Ninguém jamais viu a Deus, a não ser o Filho
unigênito que está no seio do Pai (Jo 1,18), quando Jeremias fala de um Deus que foi visto na
terra e conviveu com os homens. Certamente o Pai é visível somente para o
Filho.
59. Quem é, então, Aquele que foi visto e conviveu com os
homens? É, sem dúvida, o nosso Deus, visível como homem e Deus palpável. Escuta
o Profeta: Ao seu
lado não se contará nenhum outro. Se perguntas como, ouve o que se segue, sem que por isto
julgues que, por causa destas palavras, não se refere ao Pai o que foi dito: Ouve, Israel, o Senhor teu Deus é um só (Dt 6,4), pois em seguida vem: Ao seu lado não se contará nenhum outro. Encontrou todo
o caminho da ciência e a deu a Jacó, seu servo, e a Israel, seu dileto. Depois
foi visto na terra e conviveu com os homens.
60. Um só é o Mediador entre Deus e o homem (cf. 1Tm 2,5), o
Deus e Homem, mediador na doação da Lei e na assunção do corpo. Por
conseguinte, nenhum outro se contará ao lado dele. É Um só, nascido de Deus
para ser Deus, por quem tudo foi criado no céu e na terra, por quem foram
feitos os tempos e os séculos. Tudo o que existe subsiste por sua operação. É o
único, determinando a Abraão, falando a Moisés, entregando a Aliança a Israel,
presente nos Profetas, nascido do Espírito Santo pela Virgem.
61. Ele pregou no lenho da cruz todas as potências inimigas que
nos combatem, destruindo a morte no inferno, confirmando, pela ressurreição, a
fé de nossa esperança. Ele destruiu a corrupção da carne humana pela glória de
seu corpo. Nenhum outro se contará a seu lado. Estas coisas são próprias do
Deus Unigênito.
62. Só Ele, na privilegiada felicidade de seu poder, nasceu de
Deus. A Ele nenhum outro Deus se equipara, pois não é de outra substância, mas
é Deus que procede de Deus. Nele, nada há de novo, nada de estranho, nada de
recente.
63. Quando Israel ouve que, para si, Deus é um só e que não se
põe a nenhum outro Deus no lugar do Filho de Deus para que seja Deus, o Pai
Deus e o Filho Deus são Um, de modo absoluto, não pela unicidade de pessoas,
mas pela unidade de substância, porque o profeta não permite que se considere o
Deus Filho de Deus, como outro Deus, porque é Deus.
O que você destaca no texto e colo ele serve para sua
espiritualidade?
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