O livro VIII trata da unidade do Pai e do Filho. O Espírito
Santo é demonstração e manifestação desta unidade.
Capítulo
30.
1. O que
aparece em quarto lugar, a saber, a manifestação do Espírito na doação do que é
útil, se entende com toda clareza, pois se recordou por meio de que dons se dá
a manifestação do Espírito.
2. Em
meio à diversidade de dons, aparece, sem dúvida nenhuma, aquele dom do que o
Senhor falou aos Apóstolos, quando mandou que não saíssem de Jerusalém: No
decurso duma refeição da qual participou, ordenou-lhes que não se afastassem de
Jerusalém, mas que esperassem a realização da promessa do Pai, a qual, disse
ele, “ouvistes da minha boca”. Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e dele
recebereis força. Sereis, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia
e Samaria, e até os confins da terra” (At 1,4.8).
3. Ordena
que esperem a promessa do Pai que foi ouvida de seus lábios. Também agora se
trata, certamente, da promessa do Pai, e, através dessas obras de poder, dá-se
a manifestação do Espírito, pois não está oculto o dom do Espírito quando se
ouvem as palavras de sabedoria e de vida e quando se dá a ciência do
conhecimento divino para que, ignorando a Deus, não ignoremos, como os animais,
o Autor de nossa vida.
4. O dom
do Espírito não está oculto na fé em Deus, para que não estejamos fora do
Evangelho de Deus, por não termos acreditado no Evangelho: nem também no dom
das curas, para que demos testemunho da graça daquele que concede estas coisas,
com a cura das doenças; nem no poder de fazer milagres, para que se compreenda
que o que fazemos é força de Deus; nem na profecia, para que, com o nosso
conhecimento da doutrina, se conheça que fomos ensinados por Deus; nem no
discernimento dos espíritos, para que não sejamos inábeis para julgar se alguém
fala em espírito bom ou mau; nem na variedade de línguas, de tal modo que o
falar em línguas nos seja concedido como sinal de que o Espírito Santo foi dado;
nem na interpretação das línguas, para que não se ponha em risco a fé dos ouvintes,
por causa da ignorância, pois o intérprete explica a língua aos que ignoram.
5. Em todas
essas coisas, distribuídas a cada um para utilidade, é dada a manifestação do Espírito.
Por tais dons maravilhosos, dados a cada um para utilidade, manifesta-se o dom do
Espírito.
Capítulo
31.
6. Quando
o santo Apóstolo Paulo falou dos mistérios celestiais, ocultos e dificílimos para
a compreensão humana, manteve, ao mesmo tempo, a clareza da exposição e uma prudência
cautelosa, mostrando que os diversos dons são dados no Espírito e pelo Espírito
(pois não é a mesma coisa serem dados pelo Espírito e no Espírito), porque o dom
que se recebe no Espírito é dado por meio do Espírito.
7. E
assim conclui o Apóstolo sua exposição sobre os diferentes dons: Mas isso
tudo, é o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus
dons, conforme lhe apraz (1Cor 12,11).
8. Por isso,
pergunto: que Espírito opera essas coisas distribuindo-as a cada um conforme
lhe apraz, o Espírito pelo qual se faz a distribuição dos dons ou o Espírito no
qual ela se faz?
9. Se
alguém se atrever a dizer que se trata da indicação do mesmo Espírito, o
Apóstolo contradirá o leitor que o interpreta de maneira errada, pois antes já
dissera: Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos (1Cor
12,6).
10. Um é o
que distribui e outro é Aquele no qual é feita a distribuição. Deves entender
que é Deus que sempre opera, porém de tal maneira que Cristo opera, e o Filho,
ao operar, realiza a ação do Pai.
11. Se, no
Espírito Santo, confessas a Jesus como Senhor, deves entender o valor da tríplice
indicação do Apóstolo, pois na diversidade de dons há um mesmo Espírito, na diversidade
de ministérios, é o mesmo Senhor, na diversidade de operações, é o mesmo Deus.
12. O
mesmo Espírito realiza todas as coisas, distribuindo-as a cada um conforme lhe apraz.
Compreende, se puderes, que o Senhor, na diversidade dos ministérios, e Deus, na
diversidade de operações, são um e o mesmo Espírito que opera e distribui
conforme lhe apraz, porque na distribuição de dons é um só e o mesmo Espírito
que opera e distribui.
Capítulo
32.
13. Se não
aceitas, em Deus e no Senhor, pelo mistério do nascimento, este único Espírito
da divindade, mostra que Espírito opera e reparte entre nós esta diversidade de
dons e em que Espírito se realiza isto.
14. Não
poderás mostrar nada diferente daquilo que pertence à nossa fé, porque o
Apóstolo mostra a quem se refere quando diz: o corpo é um e, não obstante,
tem muitos membros, mas os membros do corpo, apesar de serem muitos, formam um
só corpo. Assim também acontece com Cristo (1Cor 12,12).
15. Indica
que os diversos carismas vêm do único Senhor Jesus Cristo, que é o corpo de
todos, pois, ao mostrar o Senhor no ministério, mostrou também a Deus nas
operações e ensinou que um só Espírito opera e distribui todas as coisas
dividindo as graças para a perfeição dos membros de um só corpo.
Capítulo
33.
16. Talvez
penses que o Apóstolo não levou em conta a unidade quando disse: há diversidade
de ministérios, mas um mesmo Senhor (1Cor 12,5), pois referiu os ministérios
ao Senhor e as operações a Deus.
17. Pode
parecer que não pense em um e o mesmo quando fala dos ministérios e das
operações. Observa, porém, como os membros que exercem os ministérios são os
mesmos que realizam as operações: vós sois o corpo de Cristo e sois os seus
membros, cada um por sua parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são,
em primeiro lugar, os apóstolos, nos quais está a palavra da sabedoria,
em segundo lugar, os profetas, nos quais está o dom da ciência, em
terceiro lugar, os doutores, nos quais está a doutrina da fé... Vêm, a
seguir, os dons dos milagres (1Cor 12,27-28).
18. Entre
esses dons estão a cura das doenças, o poder da assistência e de governar
profeticamente e os dons de falar e de interpretar diversas línguas.
19. Estes são
ministérios e operações da Igreja e neles está o corpo de Cristo. Tudo isso foi
estabelecido por Deus, mas talvez afirmes que não foi estabelecido por meio de
Cristo, porque foi Deus que estabeleceu.
20. Escuta,
porém, o mesmo Apóstolo: a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida
do dom de Cristo (Ef, 4,7), e: o que desceu é também o que subiu, acima
de todos os céus, a fim de levar à plenitude todas as coisas. A uns ele deu ser
apóstolos, a outros, profetas, a outros, evangelistas, a outros pastores e
doutores para a perfeição dos santos na obra do ministério (Ef 4,10-12).
21. Acaso
os ministérios não são dons de Cristo, embora sejam também dons de Deus?
Capítulo
34.
22. Se a
heresia se baseia no fato de Paulo ter dito o mesmo Senhor e o mesmo Deus (1Cor
12,5-6), para afirmar que não há neles unidade de natureza, acrescentarei a
esta interpretação argumentos que tu consideras mais consistentes, pois o mesmo
Apóstolo diz: para nós, contudo, existe um só Deus, o Pai, de quem tudo
procede e para quem nós somos, e um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo
existe e por quem nós somos (1Cor 8,6), e: há um só Senhor, uma só fé,
um só batismo; há um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de
todos e em todos (Ef 4,5-6). Ao dizer um só Deus e um só Senhor,
parece que atribui só a Deus Pai, como Deus único, o ser propriamente Deus,
pois o que é próprio a um só não admite a participação de outro.
23. Como
são raros e difíceis de obter os dons carismáticos e a manifestação do Espírito
na concessão desses bens úteis para todos, a ordem nas graças que se distribuem
mantém-se, de modo que a primeira seja a palavra da sabedoria porque é
verdadeira esta afirmação: ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor” a não ser no
Espírito Santo (1Co 12,3) e não se pode entender que Cristo seja o Senhor,
senão por meio da palavra de sabedoria.
24. Vem
depois a palavra da ciência, para que possamos falar do que sabemos com
conhecimento.
25. Em
terceiro lugar, vem o dom da fé, porque os dons principais e mais elevados
perderiam sua utilidade se não se acreditasse que Jesus é Deus.
26. Fundamentados no ensinamento contido nessas
belas palavras do Apóstolo, podemos concluir que os hereges não têm a palavra da
sabedoria nem da ciência nem têm a fé que corresponde à verdadeira religião.
27. A heresia,
incapaz de entendimento, está longe do conhecimento da palavra e da simplicidade
da fé, pois ninguém pode falar do que não sabe nem acreditar naquilo de que não
pode falar.
28. O
Apóstolo, que vinha da Lei e foi chamado para o Evangelho de Cristo, ao
anunciar um só Deus, manteve a profissão da perfeita fé.
29. E para
que a simplicidade de uma linguagem, que poderemos chamar de incauta, não desse
aos hereges nenhuma ocasião para negar o nascimento do Filho, por causa da
pregação do Deus único, professou a fé no Deus único mencionando o que lhe é
próprio: um só Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos (1Co
8,6), a fim de que se acreditasse que é Pai Aquele que é Deus.
30. Visto
que acreditar unicamente em Deus Pai não basta para a salvação, acrescentou: e
um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e por quem nós somos (1Cor
8,6).
31. Mostrou
assim a pureza da fé salvífica, na pregação de um só Deus e de um só Senhor,
para que se acredite em um só Deus Pai e um só Senhor Jesus Cristo, pois não
ignorava que o Senhor tinha dito: esta é a vontade de meu Pai: quem vê o
Filho e nele crê tem a vida eterna (Jo 6,40).
32. Para
estabelecer o sentido da fé da Igreja e fundamentar nossa fé no Pai e no Filho
expressou o mistério da unidade e da fé inseparável e indivisível dizendo: um
só Deus e um só Senhor (1Cor 8,6).
33. Reconhece,
antes de tudo, tua insensatez, ó herege, que vives afastado do espírito dos Apóstolos,
pois usas a confissão de um só Deus para que Cristo não seja considerado Deus.
Visto que, para ti, onde há um só, deve-se entender um solitário e que ser
único é uma característica própria e exclusiva do que é um só, qual será tua
opinião a respeito de ser Jesus Cristo o único Senhor?
34. Para
ti, o fato de ser o Pai um só não permite que Cristo seja Deus. Por isso, em
tua opinião, o fato de Jesus Cristo ser o único Senhor impede necessariamente
que Deus seja Senhor, já que queres que o ser único seja próprio do que é um
só.
35. Assim,
negando que o único Senhor Jesus seja também Deus, negarás igualmente que o
único Deus Pai seja também Senhor.
36. Portanto,
que poder terá Deus, se não é Senhor, e que força terá o Senhor, se não é Deus,
já que o ser Senhor aperfeiçoa o ser Deus, e o ser Deus é o fundamento do ser
Senhor?
Capítulo
35.
37. O
Apóstolo se mantém fiel ao mistério da palavra do Senhor: Eu e o Pai somos
Um (Jo 10,30).
38. Enquanto
professa que os dois são a mesma coisa, dá a entender que são Um, não na
solidão de uma única pessoa, mas na unidade do Espírito, pois há um só Deus Pai
e um só Cristo Senhor e um e outro são Deus e Senhor.
39. Contudo,
nossa fé não admite que haja dois deuses e dois senhores. Um e outro são um só
e, sendo um só, nenhum dos dois está só.
40. Não
podemos expressar o mistério da fé, senão com a palavra apostólica: há um só
Deus e um só Senhor.
41. Precisamente
porque há um só Deus e um só Senhor, fica claro que em Deus está o ser Senhor
como no Senhor está o ser Deus.
42. Não se
deve sustentar a unicidade de pessoa, de tal modo que Deus seja solitário, mas também
não se pode dividir o Espírito, de tal modo que um e outro não sejam um só Deus.
43. Não se
pode separar o poder do único Deus e do único Senhor, como se Aquele que é
Senhor não fosse também Deus, e o que é Deus não fosse também Senhor.
44. Quando
mencionou estes nomes, o Apóstolo teve o cuidado de não pregar nem dois deuses
nem dois senhores e serviu-se deste modo de propor a doutrina para mostrar o único
Deus também no único Senhor Cristo e o único Senhor também no único Deus Pai.
45. Professou
a fé no Pai e em Cristo para não nos induzir à ímpia confissão da unicidade de
pessoa e à negação do nascimento do Deus Unigênito.
Capítulo
36.
46. Talvez
a loucura de quem se encontra no último grau do desespero ouse afirmar que, embora
o Apóstolo tenha dito que Cristo é Senhor, ninguém deve confessá-lo mais do que
como Senhor e que, possuindo a qualidade de Senhor, Ele não tem a verdadeira condição
de Deus.
47. Paulo,
porém, mostra não ignorar que Cristo seja Deus quando diz: aqueles aos quais
pertencem os patriarcas, e dos quais descende o Cristo, segundo a carne, que é,
acima de tudo, Deus bendito pelos séculos (Rm 9,5).
48. Aqui
não se trata de considerar que uma criatura seja Deus, mas de afirmar que o
Deus das criaturas é Deus acima de todas as coisas.
Capítulo
37.
49. Aprende
também, por estas mesmas palavras, que Jesus é Deus sobre todas as coisas,
inseparável do Pai no Espírito, pois o Apóstolo confessou a um só Deus Pai
do qual tudo procede e um só Senhor, Jesus Cristo, por meio do qual tudo
existe (1Cor 8,6).
50. Pergunto:
que diversidade na natureza introduziu ao dizer que tudo procede de Deus e tudo
foi feito por meio de Cristo? Acaso podem considerar-se como separáveis entre
si, na natureza e no Espírito, Aquele de quem tudo procede e Aquele por meio de
quem tudo foi feito?
51. Tudo
recebeu, do nada, a sua consistência, por meio do Filho, e o Apóstolo disse de
Deus: do qual tudo procede, e, do Filho: por meio do qual tudo
existe.
52. Não
posso compreender que diferença pode haver quando a obra realizada por um e outro
é realizada pelo mesmo poder. Se, para explicar a subsistência do universo, bastasse
dizer que as criaturas procedem de Deus, que necessidade haveria de lembrar que
o que procede de Deus foi feito por meio de Cristo, se não fosse a mesma coisa existir
por meio de Cristo e proceder de Deus?
53. Como
os nomes Senhor e Deus se atribuem a cada um, de modo a
pertencerem aos dois, igualmente as expressões do qual e por meio do
qual se referem aos dois. Isto indica a unidade de um e de outro, mas não significa
que se deva entender um singular.
54. Suas
palavras não oferecem ocasião à impiedade. A fé apostólica é objeto de uma
pregação cuidadosa, limitando-se o Apóstolo a empregar palavras que não
permitissem pensar que falava de dois deuses ou de um Deus solitário.
55. Enquanto
recusa a unicidade de pessoa, não divide a unidade divina, pois as palavras do
qual tudo procede e por meio do qual tudo existe não permitem que se
pense em um ser singular na força de seu poder, mas também não falam de dois
seres diversos na sua eficiência.
56. As
palavras do qual e por meio do qual indicam um Criador de uma
única natureza para todo o universo. O Apóstolo manifestou claramente que a mesma
natureza é própria dos dois e, depois de ter proclamado a profundidade da riqueza
e sabedoria de Deus e de ter confessado a impossibilidade de compreender seus juízos
inescrutáveis e de ter mostrado a ignorância de seus caminhos impenetráveis, reconhecendo
a obrigação da fé humana, rendeu homenagem à profundidade dos mistérios
celestes impenetráveis e inescrutáveis dizendo: porque tudo é dele, por Ele
e para Ele. A Ele a glória pelos séculos! Amém (Rm 11,36). Com estas
palavras, Paulo atribui à unidade de natureza o que só pode ser a obra de uma
única natureza.
Capítulo
38.
57. Paulo
atribuiu especialmente a Deus as palavras: do qual tudo procede, e
referiu a Cristo a expressão: por meio do qual tudo existe.
58. O fato
de dele, por Ele e para Ele existirem todas as coisas, é motivo para
honrar a Deus.
59. Como o
Espírito de Deus é o mesmo que o Espírito de Cristo e como, no ministério do
Senhor e na atuação de Deus, o único Espírito opera e reparte os dons, é
necessário que sejam um só aqueles que têm como próprio o que pertence a um só,
pois o Espírito, que é o mesmo, repartindo seus dons no mesmo Espírito Santo,
leva à perfeição todas as coisas.
60. Aquele
que foi arrebatado e eleito para ser participante dos segredos de Deus foi
digno de conhecer os grandes mistérios celestiais, mas guardou o devido
silêncio sobre aquelas coisas de que não se pode falar.
61. Foi
verdadeiramente Apóstolo de Cristo, aquele que soube refutar os argumentos
engenhosos da perversidade humana com palavras claras, ao confessar um só Deus
Pai e um só Senhor Jesus Cristo, para que ninguém possa confessar dois deuses ou
uma só pessoa, porque o que não é uma única pessoa não pode converter-se em
dois deuses nem os que não são dois podem ser considerados como um solitário, e
a revelação de Deus Pai revela, ao mesmo tempo, a perfeita natividade de
Cristo.
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O que você destaca no Texto?
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Como ele serve para sua
espiritualidade?
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O que você destaca na fala do
seu irmão/ã?
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