domingo, 6 de julho de 2025

285 - SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379) - Tratado sobre o Espírito Santo - (Capítulos 61 - 68)

 

Marleide, frei Isaac, Luiz Daniel, Genisson, Nathalie, Marisa e Edson


285

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA

(330-379)

Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulos 61 - 68)

 

Solicitação do Tratado: Bispo Anfilóquio de Icônio.

 

Basílio escreve: “Há pouco, estava orando com o povo. Glorificava a Deus Pai com ambas as formas de doxologia: ora com o Filho, com o Espírito Santo; ora pelo Filho, no Espírito Santo. Alguns dos presentes nos acusaram de empregar palavras estranhas e até contraditórias entre si. Tu, porém..., ...pediste um ensinamento bem claro sobre o alcance destas sílabas”.

 

26. Os diversos sentidos da partícula em podem todos eles ser aplicados ao Espírito

Santo

Capítulo 61.

1.     Examinando melhor, esta partícula, que se emite de maneira simples e rápida, abrange, a meu ver, vários significados. Os diversos sentidos da palavra em encontram-se a serviço dos conceitos sobre o Espírito.

2.     Diz-se que a forma está na matéria, a potência em um “receptáculo”, o modo de ser em um sujeito etc. Assim, o Espírito Santo, enquanto perfaz os seres dotados de inteligência, e completa a sublimidade deles, faz as vezes de forma. Efetivamente, não se denomina “espiritual” alguém que não viva mais segundo a carne, e sim o que é movido por ação do Espírito de Deus, tem o nome de filho de Deus e se torna conforme a imagem do Filho de Deus (Rm 8,13; 8,29).

3.     Como a capacidade de ver se encontra no olho sadio, assim a operação do Espírito acha-se na alma purificada. Por isso, Paulo deseja aos efésios que tenham os olhos iluminados no Espírito de sabedoria (Ef 1,17).

4.     E assim como a arte permanece no que a adquiriu, igualmente a graça do Espírito está em quem a acolhe, sempre presente, embora nem sempre atuante. A arte, também, está no artista em potência; em ato, porém, quando o artista a emprega para operar. Assim igualmente o Espírito está sempre presente aos que são dignos, opera conforme a necessidade, por meio das profecias, ou das curas, ou de algumas outras ações miraculosas.

5.     Assim como a saúde, a temperatura, enfim, as outras disposições transitórias estão no corpo, o mesmo acontece com o Espírito, que muitas vezes está presente, mas não permanece na alma dos que, por instabilidade de ânimo, facilmente rejeitam a graça recebida. Assim eram Saul e os setenta anciãos dos filhos de Israel, exceto Eldad e Medad (Nm 11,25-26ss LXX) (evidentemente, dentre todos, neles apenas o Espírito permaneceu); tais, de fato, são os que se lhes assemelham, por livre escolha.

6.     A palavra está na alma, ora como pensamento no coração, ora como termo proferido pelos lábios; igualmente o Espírito Santo, ao dar testemunho a nosso espírito e clamar em nosso coração: “Abba, Pai”, ou ao falar por nós, como está escrito: “Não sereis vós que falareis naquela hora, mas o Espírito de vosso Pai é que falará em vós” (Mt 10,20).

7.     Como um todo em suas partes, entende-se também ser o Espírito relativamente à distribuição dos carismas. Pois somos todos membros uns dos outros, tendo, porém, carismas diferentes segundo a graça de Deus que nos foi concedida (Rm 12,5).

8.     Por conseguinte, “não pode o olho dizer à mão: ‘Não preciso de ti’; tampouco pode a cabeça dizer aos pés: ‘Não preciso de vós’ ” (1Cor 12,21).

9.      Mas, os membros todos juntos compõem o corpo de Cristo na unidade do Espírito, e prestam-se mutuamente os serviços necessários, segundo os carismas recebidos. Pois Deus dispôs os membros no corpo, cada qual como ele quis. Por isso, os membros preocupam-se uns com os outros igualmente, segundo a mútua afeição, proveniente da comum união espiritual. Deste modo, “se um membro sofre, todos os membros compartilham o seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros compartilham a sua alegria” (1Cor 12,26).

10. Como as partes no todo, somos todos um no Espírito, pois nós todos, que formamos um só corpo, fomos batizados num só Espírito.

 

Capítulo 62.

11. Eis um paradoxo, contudo, nada de mais verdadeiro: muitas vezes se diz ser o Espírito como que o lugar dos seres santificados. Verificar-se-á não ser um modo de falar que rebaixe o Espírito; antes o glorifica. Frequentemente a Palavra de Deus emprega nomes de seres corporais para noções espirituais, a fim de torná-las acessíveis. Observamos, de fato, dizer o salmista referindo-se a Deus: “Sê para mim um Deus protetor e um lugar fortificado que me salve” (Sl 30,3).

12. E a respeito do Espírito: “Eis aqui um lugar junto a mim; põe-te sobre a rocha” (Ex 33,21).

13. Que é este lugar a não ser a contemplação no Espírito, contemplação na qual Deus distintamente apareceu a Moisés? É o lugar próprio à adoração verdadeira. Diz a Escritura: “Fica atento a ti mesmo. Não oferecerás teus holocaustos em qualquer lugar que vejas, pois é só no lugar que o Senhor houver escolhido, que deverás oferecer” (Dt 12,13-14).

14. Qual é o holocausto espiritual? É o sacrifício de louvor. Em que lugar o ofereceremos? No Espírito Santo. Quem nos ensinou isso? O Senhor mesmo, que disse: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e verdade” (Jo 4,23).

15. Jacó viu este lugar e disse: “Na verdade o Senhor está nesse lugar” (Gn 28,16). Assim, o Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos. Também o santo é lugar adequado para o Espírito, que se prontifica a habitá-lo com Deus, e dá a si mesmo o nome de templo de Deus. Ora, Paulo fala em Cristo: “Falamos, na presença de Deus, em Cristo” (2Cor 2,17).

16.  E Cristo fala em Paulo, segundo ele próprio declara: “Pois procurais uma prova de que Cristo fala em mim?” (2Cor 13,3). De idêntica maneira, é no Espírito que ele revela os mistérios, e por sua vez o Espírito é quem fala nele.

 

Capítulo 63.

17. Quanto às criaturas, diz-se frequentemente e de muitos modos que o Espírito nelas está; quanto ao Pai e o Filho, mais conforme à piedade é dizer que o Espírito está com eles do que afirmar que se acha neles. Efetivamente, afirma-se melhor que a graça do Espírito, habitando naqueles que dela são dignos, e agindo neles, acha-se nos seres capazes de o receber.

18. Ao contrário, a existência antes dos séculos, e a permanência sem fim com o Filho e o Pai, se bem consideradas, reclamam palavras que exprimam união eterna. De fato, diz-se com propriedade e verdade que seres existentes inseparavelmente uns dos outros, existem com. Afirmamos que o calor existe no ferro abrasado, mas que existe com o fogo.

19.  Declaramos que a saúde existe no corpo; de outro lado, dizemos que a vida existe com a alma. Deste modo, onde há propriamente união natural e indissolúvel, o termo com é mais expressivo, por sugerir união indissolúvel.

20. Onde, porém, a graça do Espírito pode sobrevir e depois afastar-se, emprega-se com propriedade e verdade de termos: existir em, mesmo se acontecer frequentemente, devido às boas disposições dos que a recebem, que a graça perdure. Assim, quando pensamos na dignidade própria do Espírito, contemplamo-lo com o Pai e o Filho.

21. Mas se refletimos sobre a graça produzida nos participantes dela, diz-se que o Espírito está em nós. A doxologia: no Espírito não é, pois, afirmação de sua dignidade, e sim confissão de nossa fraqueza. Mostramos que, por nós mesmos, somos incapazes de dar glória, mas podemos dá-la no Espírito Santo. Fortificados nele, damos graças a nosso Deus por seus benefícios.

22. À medida que formos purificados do mal, uns mais, outros menos, recebemos o auxílio do Espírito para oferecermos hóstias de louvor a Deus. Desta forma piedosamente damos graças no Espírito. Ora, não seria agradável poder dar a si mesmo o testemunho de possuir em si o Espírito de Deus, e, instruído por sua graça, glorificá-lo? É linguagem digna de Paulo: “Julgo que também eu possuo o Espírito de Deus” (1Cor 7,40).

23. E em outro lugar: “Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós” (2Tm 1,14). De Daniel também se afirmou que o Espírito Santo de Deus habitava nele (Dn 5,11), e o mesmo se pode dizer dos que se lhes assemelham pela virtude.

 

 

Capítulo 64.

24. Existe, porém, outro sentido que não é de forma alguma inaceitável. Assim como no Filho se vê o Pai, assim vê-se o Filho no Espírito. Então, adorar no Espírito significa que nosso espírito age na luz, como se depreende do que foi dito à samaritana. Induzida em erro pelo costume de sua terra, pensava que se devia adorar em determinado lugar.

25. Nosso Senhor desiludiu-a, dizendo ser necessário adorar em Espírito e verdade, e declarando ser ele mesmo indubitavelmente a verdade. Referimo-nos a uma adoração no Filho, Imagem de Deus Pai, e no Espírito, como sendo quem mostra em si a divindade do Senhor. Por isso, na adoração, o Espírito é inseparável do Pai e do Filho.

26. Efetivamente, fora dele, não se adora absolutamente; quem está nele, de maneira alguma o separa de Deus, assim como a luz é inseparável das coisas visíveis. É impossível ver a Imagem do Deus invisível, a não ser por iluminação do Espírito.

27. Quem fixa o olhar na Imagem não pode separá-la da luz. Com efeito, abrange-se a causa da visão necessariamente com aquilo que se vê. Consequentemente, em propriedade de termos, pela iluminação do Espírito, divisa-se a irradiação da glória de Deus e, através da marca, atingimos a glória daquele a quem pertencem o sinete que a imprime e a impressão.

 

 

27. Donde deriva a partícula com e qual seu sentido. Também se trata das leis eclesiásticas orais

 

Capítulo 65.

28. Por que motivo, perguntam eles, visto que a partícula em se adapta tão bem ao Espírito, e é suficiente para exprimir todas as noções a seu respeito, introduzis esta nova partícula, dizendo: “com o Espírito”, e não: “no Espírito Santo”, utilizando termos desnecessários e não aprovados pelas normas das Igrejas? Já dissemos mais acima que não é fortuito o emprego de em relativamente ao Espírito Santo, e que a partícula é comum ao Pai e ao Filho.

29. Mas, acredito que suficientemente afirmei não somente que ela nada rouba à dignidade do Espírito, mas ainda, ao contrário, contribui para que tenham pensamentos sublimes os que não estão completamente no erro. Resta explicar de onde se origina a partícula com, qual seu sentido e como concorda com as Escrituras.

 

Capítulo 66.

30. Entre as verdades conservadas e anunciadas na Igreja, umas nós as recebemos por escrito e outras nos foram transmitidas nos mistérios, pela Tradição apostólica. Ambas as formas são igualmente válidas relativamente à piedade.

31. Ninguém que tiver, por pouco que seja, experiência das instituições eclesiásticas, há de contradizer. De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos o anúncio em palavras ocas.

32. Por exemplo (para relembrar o que vem primeiro e é o mais comum), quem ensinou por escrito a assinalar com o sinal-da-cruz aqueles que esperam em nosso Senhor Jesus Cristo? Que passagem da Escritura nos instruiu a nos voltarmos para o Oriente durante a oração? Qual dos santos nos deixou por escrito as palavras da “epíclese” no momento da consagração do pão na Eucaristia e do cálice da bênção?

33. Não nos bastam as palavras referidas pelo Apóstolo e pelo evangelho; antes e depois proferimos outras, recebidas do magistério oral, por terem grande importância para o mistério. Benzemos também a água batismal e o óleo do crisma e além disso o próprio batizado. Conformamo-nos a que escrito?

34. Não é por causa da tradição secreta e mística? E então? Qual a palavra escrita que prescreveu a própria unção com o crisma? Donde se origina a tríplice imersão? De que trecho da Escritura provêm as cerimônias complementares do batismo, como a renúncia a Satanás e a seus anjos? Não se originam desta instrução particular e secreta, que nossos Pais guardaram num silêncio tranquilo e isento de inutilidades, cônscios de que assim salvaguardavam o caráter sagrado dos mistérios? Com efeito, como seria razoável divulgar por escrito aquilo que de forma alguma é permitido aos não-iniciados contemplar?

35. Qual o fim que tinha em mira o grande Moisés quando determinou que nem todas as partes do templo seriam acessíveis a todos? Estabeleceu que ficassem fora do recinto sagrado os profanos, permitindo apenas aos mais puros o acesso aos primeiros átrios, enquanto só os levitas foram considerados dignos do serviço divino.

36. Para os sacrifícios, porém, os holocaustos, e o restante desempenho do culto foram designados os sacerdotes. Não admitiu no santuário senão um só, escolhido dentre eles; além disso, não em qualquer tempo, mas apenas num só dia do ano, em hora determinada por ele, a fim de contemplar o Santo dos Santos com assombro, por ser evento estranho e insólito.

37. Em sua sabedoria, Moisés estava bem ciente de que facilmente se menospreza o que é habitual e de pronto acesso, enquanto uma raridade, conservada à parte, desperta como que naturalmente uma ardorosa procura. Foi igualmente desta forma que os Apóstolos e os Padres, que desde os primórdios dispuseram tudo o que se refere às Igrejas, sob silêncio e segredo conservaram também o caráter sagrado dos mistérios.

38. Pois já não é mistério absolutamente o que chega aos ouvidos do vulgo. É o seguinte o motivo da tradição não escrita: impedir que, por descuido, o conhecimento da doutrina seja menosprezado por muitos, devido à rotina. De fato, uma coisa é a doutrina, e outra o anúncio.

39. Cala-se a primeira, enquanto o anúncio é proclamado. Constitui igualmente uma forma de silêncio na obscuridade empregada nas Escrituras, que torna mais difícil à mente apreender a doutrina, para proveito dos leitores. Eis por que, apesar de todos nós olharmos para o Oriente ao rezarmos, poucos sabem que estamos procurando nossa antiga pátria, o paraíso que Deus plantou no Éden, na direção do Oriente (Gn 2,8).

40. De pé fazemos nossas orações, no primeiro dia da semana, mas nem todos conhecem a razão disso. Não é somente porque, ressuscitados com Cristo e devendo procurar as coisas do alto (Cl 3,1), relembramos, ao rezarmos de pé, o dia dedicado à ressurreição, a graça que nos foi dada, mas porque este dia parece ser, de algum modo, a imagem do século futuro. Visto que é o começo dos dias, Moisés não o denominou “primeiro”, e sim “um”: “Houve uma tarde e uma manhã: um dia” (Gn 1,5), como se muitas vezes voltasse o mesmo dia.

41. Ainda, esse dia “um” identifica-se com o oitavo, que significa por si mesmo o dia realmente único e verdadeiramente oitavo, que o salmista comemora no título de alguns salmos (Sl 6 e 12): a “catástasis” após este tempo, o dia sem fim que não terá tarde, nem amanhã, o século sem termo, sem envelhecimento.

42. Faz-se mister, pois, que a Igreja ensine seus filhos a rezar de pé, naquele dia, a fim de que, lembrados incessantemente da vida sem fim, não descuidemos de preparar o viático, em vista de nossa partida.

43. O período de cinquenta dias (Pentecostes) representa uma memória da esperada ressurreição no século futuro. Efetivamente, este dia que é um e primeiro, sete vezes sete, completa as sete semanas do santo período de Pentecostes, que começa do primeiro e termina por este, desenrolando-se nesse intervalo cinquenta vezes em dias semelhantes.

44. Assim, assemelha-se um tanto à eternidade, pois termina no ponto de onde começa, num movimento circular. Neste dia, é a posição ereta na oração que as leis da Igreja nos ensinaram a preferir. Essa memória tão evidente faz com que, de certo modo, a mente emigre do presente em direção ao futuro.

45. Doutro lado, cada vez que dobramos os joelhos e depois nos reerguemos, mostramos pelos gestos que o pecado nos jogou por terra e que o amor de nosso Criador para com os homens (philanthropía) novamente nos chamou para o céu.

 

Capítulo 67.

46. Um dia inteiro não nos bastaria se quiséssemos expor os mistérios da Igreja que não constam das Escrituras. Deixando de lado tudo mais, pergunto de quais passagens retiramos a profissão de fé no Pai e no Filho e no Espírito Santo.

47. Se a extraímos da tradição batismal, de acordo com a piedade (pois devemos crer segundo a maneira como fomos batizados), para entregarmos uma profissão batismal, essencial ao batismo, consequentemente nos seja permitido também glorificar conforme nossa fé. Mas, se esta forma de dar glória nos é recusada, por não constar das Escrituras, sejam-nos mostradas provas escritas da profissão de fé e de todo o restante, que enumeramos.

48. Desde que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas tão importantes para o mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só palavra, proveniente dos Pais, que nós vemos persistir por um uso espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma palavra muito razoável, e que muito contribui para a força do mistério?

 

Capítulo 68.

49. Foi explicado o sentido de cada uma das expressões. Agora vamos expor em que pontos são concordantes e em que diferem. A oposição não faz com que se levante uma contra a outra, mas cada qual contribui para a piedade com seu sentido particular. Em antes demonstra o que para nós é relativo, enquanto com proclama a comunhão do Espírito com Deus.

50. Por conseguinte, usamos os dois termos: um para indicar a dignidade do Espírito, e o outro para anunciar a sua graça em nosso favor. Assim, glorificamos a Deus no Espírito e com o Espírito.

51. Nada falamos de nosso próprio alvitre, mas utilizamos uma palavra dos ensinamentos do Senhor, regra para nós, e a aplicamos a realidades entre si estreitamente ligadas, necessariamente unidas nos mistérios. Pois, o que é “co-enumerado” no batismo, julgamos necessário uni-lo também na fé.

52. Quanto à profissão de fé, nós a fizemos qual começo e origem da doxologia. Mas que fazer? Que eles agora nos convençam a não batizarmos como aprendemos; a não crer como fomos batizados; a não dar glória como acreditamos!

53. Demonstrem-nos, pois, que não existe sequência necessária, inquebrantável, ou ainda que inovar nesta questão não será tudo dissolver. Eles, contudo, não se cansam de repetir em tons altos e baixos que a doxologia com o Espírito Santo não é atestada, não se acha nas Escrituras etc. Já foi, porém, assegurado ser indiferente, quanto ao sentido, dizer: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo”, e: “Glória ao Pai e ao Filho, com o Espírito Santo”.

54. Não se pode, portanto, rejeitar ou apagar a partícula e, proferida pela boca do próprio Senhor, bem como nada impede de se aceitar a preposição equivalente. Demonstramos mais acima em que ela é diversa da outra, e em que ela se lhe assemelha.

55. Reforça o que dizemos o exemplo do Apóstolo, que emprega indiferentemente uma ou outra palavra, ora dizendo: “em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1Cor 6,11), ora: “Estando vós e o meu espírito reunidos em assembleia com o poder do Senhor Jesus” (1Cor 5,4). É indiferente usar a conjunção ou a preposição para unir os Nomes.

 

 

O que você destaca neste texto?

Como serve para a sua espiritualidade?


Destaques do Texto: 


Palavra de Deus

Frequentemente a Palavra de Deus emprega nomes de seres corporais para noções espirituais, a fim de torná-las acessíveis. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 62)

 Lugar de Adoração

Qual é o holocausto espiritual? É o sacrifício de louvor. Em que lugar o ofereceremos? No Espírito Santo. Quem nos ensinou isso? O Senhor mesmo, que disse: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e verdade” (Jo 4,23).  Jacó viu este lugar e disse: “Na verdade o Senhor está nesse lugar” (Gn 28,16). Assim, o Espírito é verdadeiramente o lugar dos santos. Também o santo é lugar adequado para o Espírito, que se prontifica a habitá-lo com Deus, e dá a si mesmo o nome de templo de Deus. Ora, Paulo fala em Cristo: “Falamos, na presença de Deus, em Cristo” (2Cor 2,17). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 62)

 

Espírito Santo - dignidade

Assim, quando pensamos na dignidade própria do Espírito, contemplamo-lo com o Pai e o Filho. Mas se refletimos sobre a graça produzida nos participantes dela, diz-se que o Espírito está em nós. A doxologia: no Espírito não é, pois, afirmação de sua dignidade, e sim confissão de nossa fraqueza. Mostramos que, por nós mesmos, somos incapazes de dar glória, mas podemos dá-la no Espírito Santo. Fortificados nele, damos graças a nosso Deus por seus benefícios. À medida que formos purificados do mal, uns mais, outros menos, recebemos o auxílio do Espírito para oferecermos hóstias de louvor a Deus. Desta forma piedosamente damos graças no Espírito. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 63)

 

Adoração e Lugar

Assim como no Filho se vê o Pai, assim vê-se o Filho no Espírito. Então, adorar no Espírito significa que nosso espírito age na luz, como se depreende do que foi dito à samaritana. Induzida em erro pelo costume de sua terra, pensava que se devia adorar em determinado lugar. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 64)

 Adoração e Lugar

Nosso Senhor desiludiu-a, dizendo ser necessário adorar em Espírito e verdade, e declarando ser ele mesmo indubitavelmente a verdade. Referimo-nos a uma adoração no Filho, Imagem de Deus Pai, e no Espírito, como sendo quem mostra em si a divindade do Senhor. Por isso, na adoração, o Espírito é inseparável do Pai e do Filho. Efetivamente, fora dele, não se adora absolutamente; quem está nele, de maneira alguma o separa de Deus, assim como a luz é inseparável das coisas visíveis. É impossível ver a Imagem do Deus invisível, a não ser por iluminação do Espírito.  SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 64)

 

 Tradição

De fato, se tentássemos rejeitar os costumes não escritos, como desprovidos de maior valor, prejudicaríamos imperceptivelmente o evangelho, em questões essenciais. Antes, transformaríamos o anúncio em palavras ocas. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 

Tradição

Por exemplo (para relembrar o que vem primeiro e é o mais comum), quem ensinou por escrito a assinalar com o sinal-da-cruz aqueles que esperam em nosso Senhor Jesus Cristo? Que passagem da Escritura nos instruiu a nos voltarmos para o Oriente durante a oração? Qual dos santos nos deixou por escrito as palavras da “epíclese” no momento da consagração do pão na Eucaristia e do cálice da bênção? Não nos bastam as palavras referidas pelo Apóstolo e pelo evangelho; antes e depois proferimos outras, recebidas do magistério oral, por terem grande importância para o mistério. Benzemos também a água batismal e o óleo do crisma e além disso o próprio batizado. Conformamo-nos a que escrito?  Não é por causa da tradição secreta e mística? E então? Qual a palavra escrita que prescreveu a própria unção com o crisma? Donde se origina a tríplice imersão? De que trecho da Escritura provêm as cerimônias complementares do batismo, como a renúncia a Satanás e a seus anjos? Não se originam desta instrução particular e secreta, que nossos Pais guardaram num silêncio tranquilo e isento de inutilidades, cônscios de que assim salvaguardavam o caráter sagrado dos mistérios? SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 Tradição

Foi igualmente desta forma que os Apóstolos e os Padres, que desde os primórdios dispuseram tudo o que se refere às Igrejas, sob silêncio e segredo conservaram também o caráter sagrado dos mistérios. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 Tradição - Valor

É o seguinte o motivo da tradição não escrita: impedir que, por descuido, o conhecimento da doutrina seja menosprezado por muitos, devido à rotina. De fato, uma coisa é a doutrina, e outra o anúncio. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 Tradição e Oração virado para o oriente

Eis por que, apesar de todos nós olharmos para o Oriente ao rezarmos, poucos sabem que estamos procurando nossa antiga pátria, o paraíso que Deus plantou no Éden, na direção do Oriente (Gn 2,8). SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 Domingo

De pé fazemos nossas orações, no primeiro dia da semana, mas nem todos conhecem a razão disso. Não é somente porque, ressuscitados com Cristo e devendo procurar as coisas do alto (Cl 3,1), relembramos, ao rezarmos de pé, o dia dedicado à ressurreição, a graça que nos foi dada, mas porque este dia parece ser, de algum modo, a imagem do século futuro. Visto que é o começo dos dias, Moisés não o denominou “primeiro”, e sim “um”: “Houve uma tarde e uma manhã: um dia” (Gn 1,5), como se muitas vezes voltasse o mesmo dia. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 Domingo:

Ainda, esse dia “um” identifica-se com o oitavo, que significa por si mesmo o dia realmente único e verdadeiramente oitavo, que o salmista comemora no título de alguns salmos (Sl 6 e 12): a “catástasis” após este tempo, o dia sem fim que não terá tarde, nem amanhã, o século sem termo, sem envelhecimento.

Faz-se mister, pois, que a Igreja ensine seus filhos a rezar de pé, naquele dia, a fim de que, lembrados incessantemente da vida sem fim, não descuidemos de preparar o viático, em vista de nossa partida.

SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 

Pentecostes

O período de cinquenta dias (Pentecostes) representa uma memória da esperada ressurreição no século futuro. Efetivamente, este dia que é um e primeiro, sete vezes sete, completa as sete semanas do santo período de Pentecostes, que começa do primeiro e termina por este, desenrolando-se nesse intervalo cinquenta vezes em dias semelhantes. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66).

 

Domingo – Oração ereta

Assim, assemelha-se um tanto à eternidade, pois termina no ponto de onde começa, num movimento circular. Neste dia, é a posição ereta na oração que as leis da Igreja nos ensinaram a preferir. Essa memória tão evidente faz com que, de certo modo, a mente emigre do presente em direção ao futuro. Doutro lado, cada vez que dobramos os joelhos e depois nos reerguemos, mostramos pelos gestos que o pecado nos jogou por terra e que o amor de nosso Criador para com os homens (philanthropía) novamente nos chamou para o céu. SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 66)

 

 Tradição:

Desde que há tantas coisas que não foram escritas, e coisas tão importantes para o mistério da piedade, ser-nos-á recusada uma só palavra, proveniente dos Pais, que nós vemos persistir por um uso espontâneo nas Igrejas isentas de desvios, uma palavra muito razoável, e que muito contribui para a força do mistério? SÃO BASÍLIO MAGNO, ou de CESAREIA (330-379). Tratado sobre o Espírito Santo (Capítulo 67)

 

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