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História Eclesiástica de Eusébio de
Cesaréia
Livro III
- Capítulos 01 a 05
Texto Bíblico: I Pedro
5.10
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I - Em que
partes da terra os apóstolos pregaram sobre Cristo
II - Quem foi o primeiro que
presidiu a Igreja de Roma
III - Sobre as cartas dos
apóstolos
IV - Sobre a
primeira sucessão dos apóstolos
V - Sobre o último assédio dos judeus depois de Cristo
I - Em que partes da terra os apóstolos
pregaram sobre Cristo
1.
Esta era a situação dos judeus,
enquanto os santos apóstolos e discípulos de nosso
Salvador haviam se espalhado por toda a terra: a Tomás, como quer uma tradição, coube a Partia; a André a Cítia, a João a Ásia, entre os
quais[1] se estabeleceu,
morrendo em Éfeso.
2.
Pedro, segundo parece, pregou no Ponto, na Galácia e na
Bitínia, na Capadócia e na Ásia[2], aos judeus da
diáspora; por fim chegou a Roma e foi
crucificado com a cabeça para baixo, como ele mesmo pediu para sofrer.
3. E o que dizer de
Paulo, que desde Jerusalém até o Ilírico cumpriu com a pregação do Evangelho de Cristo[3] e finalmente
sofreu martírio em Roma sob Nero? Isto é dito por Orígenes literalmente
no tomo III de seus Comentários ao Gênesis[4].
II - Quem foi o primeiro que presidiu a Igreja de Roma
1. Depois do martírio de Paulo e de
Pedro, o primeiro a ser eleito para o episcopado
da Igreja de Roma foi Lino. Ele é mencionado por Paulo quando escreve de Roma a Timóteo, na despedida ao final
da carta[5].
III - Sobre as cartas dos apóstolos
1.
De Pedro reconhecemos uma única carta, a chamada I de
Pedro. Os próprios presbíteros antigos utilizaram-na como algo
indiscutível em seus próprios escritos. Por outro lado, sobre a chamada II
carta, a tradição nos diz que não é
testamentária[6];
ainda assim, por parecer proveitosa a muitos, é tomada em consideração
junto com as outras Escrituras.
2. Quanto aos Atos que levam seu nome e o Evangelho dito como
seu, assim como a Pregação que se diz ser sua
e o chamado Apocalipse, sabemos que de modo algum foram
transmitidos entre os escritos católicos, pois nenhum autor eclesiástico, nem antigo nem moderno, utilizou testemunho tirado
deles.
3.
À medida em que avance esta História
farei propositadamente que, junto às sucessões, sejam indicados
os escritores eclesiásticos, segundo as épocas, que
utilizaram os livros discutidos e quais deles, e também o que dizem dos escritos
testamentários e admitidos, e dos que não o são.
4.
Pois bem, os escritos que levam o
nome de Pedro, dos quais somente uma única carta
conhecemos como autêntica e admitida pelos presbíteros antigos, são os já
referidos.
5.
Por outro lado, é evidente e claro
que as catorze cartas são de Paulo. Contudo, não é justo ignorar que alguns
rechaçaram a carta aos Hebreus, dizendo que a Igreja de Roma não a admite por crer que não é de Paulo. O que
foi dito sobre ela por aqueles que me precederam será exposto a seu
devido tempo. Naturalmente, também não
aceitei entre os escritos indiscutidos os Atos que se dizem ser
dele.
6.
Mas, como ocorre que o mesmo apóstolo, nas despedidas finais
da carta aos Romanos, menciona, junto com
outros, a Hermas - de quem se diz que é o livro do Pastor-, deve-se
saber que alguns também rechaçam este livro e que por causa deles não se
pode contá-lo entre os admitidos; por outro lado,
outros julgam-no muito necessário, especialmente para os que precisam
de uma introdução elementar. Por esta razão sabemos que foi lido publicamente
nas igrejas e comprovamos que alguns escritores dos mais antigos fizeram uso
dele.
7. Baste o dito como exposição de quais são as divinas Escrituras não
discutidas e quais são as que nem todos admitem.
IV - Sobre a primeira sucessão
dos apóstolos
1.
Que Paulo pregou aos gentios e que,
desde Jerusalém até o Ilírico, deitou os alicerces das igrejas, está bem claro
em suas próprias palavras[7] e no que Lucas narra nos Atos.
2. Pelas palavras de Pedro em sua Carta, da qual já dissemos que é
aceita, e que escreve aos hebreus da diáspora, moradores do Ponto, da Galácia,
da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, percebe-se claramente em que províncias ele pregou a
Cristo e transmitiu a doutrina do Novo Testamento aos que procediam da
circuncisão[8].
3.
Não é porém fácil dizer quantos e
quais destes, convertidos em homens de zelo genuíno, foram
considerados capazes de apascentar as igrejas fundadas por estes apóstolos, a não ser os que podem ser vistos nos escritos de
Paulo.
4.
Este realmente teve inúmeros
colaboradores e - como ele mesmo os chama - companheiros de luta[9]. A maior parte
ele considera digna de memória imorredoura e em suas próprias
cartas dá contínuo testemunho deles. E não somente isto, mas
também Lucas nos Atos dá uma lista dos discípulos de Paulo e os
menciona pelo nome.
5.
Pelo menos sobre Timóteo refere-se que foi o primeiro a ser
designado para o episcopado da igreja de
Éfeso[10], assim como
Tito, das igrejas de Creta[11].
6.
Lucas, por outro lado, oriundo de
Antioquia por sua linhagem e médico de profissão[12], foi durante a
maior parte do tempo companheiro de Paulo. Mas seu trato com os outros apóstolos
também não foi superficial: deles adquiriu a terapêutica das almas, da qual nos
deixou exemplos em dois livros divinamente
inspirados: o Evangelho, que ele confessa ter composto segundo o
que lhe transmitiram os que foram testemunhas oculares e se fizeram servidores
da doutrina, dos quais ele diz que seguiu já desde o começo[13],
e os Atos dos Apóstolos que compôs, já não com o que tinha ouvido,
mas com o que viu com os próprios olhos.
7. Diz-se também que
Paulo costumava mencionar o Evangelho de Lucas sempre que, escrevendo,
dizia como se se tratasse de um evangelho seu: segundo meu Evangelho[14].
8. Dos restantes seguidores de Paulo, está provado que Crescente foi enviado por ele à Gália[15]; e Lino, que é
mencionado na II carta a Timóteo indicando que se encontra com ele em Roma[16], já foi
demonstrado anteriormente que foi designado para o episcopado
da igreja de Roma, o primeiro depois de Pedro.
9.
Paulo também atesta que Clemente -
instituído terceiro bispo da Igreja de Roma - foi seu colaborador e companheiro
de luta[17].
10. Além destes há também o areopagita chamado Dionísio, sobre o qual Lucas escreve nos Atos[18] que foi o
primeiro que creu depois do discurso de Paulo aos atenienses no Areópago, e de
quem outro antigo Dionísio, pastor da igreja de Corinto, conta que foi o
primeiro bispo de Atenas.
11.
Mas, à medida que avançarmos no caminho, diremos
oportunamente, segundo as épocas, o
referente à sucessão dos apóstolos. Agora sigamos o fio da narrativa.
V - Sobre o último assédio dos judeus depois de Cristo
1.
Depois de Nero ter exercido o poder
durante treze anos, e tendo os reinados de Galba e Oto durado um ano e seis meses,
Vespasiano, que havia se distinguido nas
operações bélicas contra os judeus, foi nomeado imperador na própria
Judéia, após ser proclamado senhor absoluto pelo exército ali acampado. Encaminhando-se então a Roma, pôs em
mãos de seu filho Tito a guerra contra os judeus.
2.
Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram
ao crime cometido contra ele a invenção de
inúmeras ameaças contra seus apóstolos: Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o[19]; depois dele,
Tiago, filho de Zebedeu e irmão de
João, a quem decapitaram[20]; e depois de
todos, Tiago, o que depois da
ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono episcopal de Jerusalém e morreu da
forma que já descrevemos. E os demais apóstolos sofreram milhares de
ameaças de morte e foram expulsos da terra
da Judéia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de todas as nações
em meu nome [21], dirigiram
seus passos para todas as nações
para ensinar a mensagem.
3.
E não apenas eles. Também o povo da igreja de Jerusalém, por
seguir um oráculo enviado por revelação aos
notáveis do lugar, receberam a ordem de mudar de cidade antes da guerra e habitar certa cidade da Peréia
chamada Pella. Tendo os que creram em Cristo emigrado até lá desde
Jerusalém, a partir deste momento, como se
todos os homens santos tivessem abandonado por completo a própria metrópole real dos judeus e toda a região da
Judéia, a justiça divina alcançou os
judeus pelas iniqüidades que cometeram contra Cristo e seus apóstolos, e apagou dentre os homens toda aquela geração
de ímpios.
4. Quem pois quiser saber com
exatidão os males que então caíram sobre a nação
em todo lugar, e como especialmente os habitantes da Judéia viram-se
empurrados ao fundo das calamidades, quantos milhares de jovens, de mulheres e de crianças morreram pela espada, pela
fome, e inúmeras outras formas de morte, e quantas e quais cidades da
Judéia foram sitiadas, e também quantos horrores e pior do que horrores
atingiram os que se refugiaram na mesma
Jerusalém, por ser um metrópole muito fortificada, assim como a índole
de toda a guerra, os acontecimentos que nela se sucederam e como, finalmente, a abominação da desolação anunciada pelos
profetas se instalou no próprio templo de Deus, tão célebre antigamente,
que sofreu todo tipo de destruição e, por
último, foi aniquilado pelo fogo: tudo isso encontrará na narrativa
escrita por Josefo.
5.
Mas é necessário assinalar que este
mesmo autor refere que o número dos que se concentraram nos dias da festa da
Páscoa, vindos de toda a Judéia para
Jerusalém, como num cárcere, para usar suas palavras, era de uns três milhões.
6.
Era necessário pois, que nos dias
em que causaram a paixão do Salvador e benfeitor de todos e
Cristo de Deus, nestes mesmos, encerrados como num cárcere,
recebessem a ruína que os alcançava da justiça de Deus.
7. Mas passando por
alto o que lhes sobreveio e o que lhes foi feito pela espada e de outras
maneiras, acho necessário apresentar apenas as calamidades causadas pela fome,
para que os que leiam este escrito possam saber em parte como não tardou muito
para que os alcançasse o castigo divino por seu crime contra o Cristo de Deus.
O que mais te chamou a
atenção neste texto?
O que o texto contribui
para a sua espiritualidade?
[1] O autor
provavelmente estava pensando nos habitantes, escrevendo "entre os
quais" e não "onde".
[2] 1 Pe
1:1.
[3] Rm
15:19.
[4] Esta
obra de Orígenes está perdida.
[5] 2 Tm
4:21.
[6] Isto é,
canônica.
[7] Rm 15:19.
[8] Gl 2:7-10.
[9] Fp 2:25.
[10] 1 Tm 1:3.
[11] Tt 1:5.
[12] Cl 4:14.
[15] 2 Tm 4:10.
[16] 2 Tm 4:21.
[17] Fp 4:3.
[18] At 17:34.
[19] At 7:58-60.
[20] At 12:2.
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