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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Policarpo de Esmirna (69-155)
Epístola de Policarpo aos Filipenses
Policarpo
e os presbíteros que estão junto dele, à Igreja de Deus que está em Filipos:
Piedade a vocês, e paz do Todo-poderoso Deus, e do Senhor Jesus Cristo, nosso
Salvador, sejam multiplicadas.
I.
Exortação aos Filipenses Tenho me alegrado grandemente convosco em nosso Senhor
Jesus Cristo, pois vocês têm seguido o exemplo do verdadeiro amor [como
mostrado por Deus], e tenho acompanhado, assim como vocês, todos aqueles que
estão acorrentados, os ornamentos dos santos, e aqueles que são de fato os
diademas dos verdadeiros eleitos de Deus e de nosso Senhor; e porque as fortes
raízes de vossa fé, falando de dias a muito tempo transcorridos, suportaram até
agora, e trouxeram frutos a nosso Senhor Jesus Cristo, que por nossos pecados
sofreu até a morte, [mas] "que Deus ressuscitou da morte, tendo afrouxado
as faixas do túmulo". "No qual, embora não O vejam, acreditem, e
acreditando, regojizem-se em inexprimível alegria e cheios de glória";
onde todos os homens desejam entrar, sabendo que "pela graça vocês serão
salvos, não pelas obras", mas pela vontade de Deus através de Jesus
Cristo.
II.
Exortação à Virtude. Por causa disso, cinjam suas cinturas, "sirvam o
Senhor no temor" e na verdade, como aquele que tem renunciado ao inútil,
as conversas vãs e os erros da multidão, e "acreditado nAquele que
ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo da morte, e Lhe deu a glória", e um
trono a sua direita. Por Ele todas as coisas no Céu e na Terra estão
subordinadas. A Ele todo espírito serve. Ele vem como o Juiz dos viventes e dos
mortos. Deus pedirá conta do sangue dEle por aqueles que não acreditam nEle.
Mas Aquele que ressuscitou dentre os mortos também nos ressuscitará, se
fizermos sua vontade e seguirmos seus mandamentos, e se amarmos o que Ele amou,
abstendo-nos de toda injustiça, arrogância, amor ao dinheiro, murmurações,
falsos testemunhos, "não pagando mal por mal, injúria por injúria",
golpe por golpe, maldição por maldição, mas sendo misericordiosos por causa do
que o Senhor disse em seus ensinamentos: "Não julguem para não serem
julgados; perdoem e serão perdoados; sejam misericordiosos e alcançarão
misericórdia; pois com o que medirem vocês serão medidos"; e uma vez mais:
"Abençoados são os pobres, e aqueles que são perseguidos por causa da
verdade, pois deles é o Reino de Deus".
III.
Fé, esperança e caridade. Não é por mim mesmo, irmãos, que lhes escrevo sobre a
justiça, e sim porque vocês me pediram primeiro. Pois nem eu, nem ninguém como
eu, pode chegar a sabedoria do abençoado e glorificado Paulo. Ele, estando entre
vocês, comunicou com exatidão e força a palavra da verdade na presença daqueles
que estão vivos ainda. E quando vos deixou, escreveu-lhes uma carta, que, se a
estudarem com cuidado, encontrarão o sentido de terem sido erguidos na fé que
lhes foi dada, e que, sendo seguida da esperança e precedida pelo amor para com
Deus e Cristo, assim como para nosso próximo, "é a mãe de todos nós".
Pois todo aquele que permanecer nessas virtudes, este cumpriu os mandamentos da
justiça. Pois quem permanece na caridade está longe de todo pecado.
IV.
Várias exortações. "Mas o amor pelo dinheiro é a raiz de todo os
males". Sabendo, por tanto, que assim como nós não trouxemos nada ao
mundo, nós não podemos levar nada dele", revistamse com a arma da justiça;
e aprendamos nós mesmos, antes de tudo, a caminhar nos mandamentos do Senhor.
Depois, [ensinem] suas esposas [a andar] na fé dada a elas, e na caridade e na
pureza, amando ternamente seus únicos maridos com toda a fidelidade, e amando
todos [os outros] igualmente com toda a castidade; e a educar suas crianças no
conhecimento e no temor de Deus. Ensinem as viuvas a serem discretas, como diz
a fé de nosso Senhor, orando continuamente por todos, permanecendo longe de
toda calúnia, murmuração, falso testemunho, amor ao dinheiro, e todo tipo de
mal; sabendo que são o altar de Deus, que percebe claramente todas as coisas, e
que nada Lhe é escondido, nem raciocínios, nem pensamentos, nem as coisas
secretas do coração.
V.
Os deveres dos diáconos, jovens e virgens. Sabendo, portanto, que "Deus
não é fingido", precisamos caminhar dignos de Seus mandamentos e de sua
glória. Da mesma maneira os diáconos devem ser inocentes diante da face de Sua
justiça, como sendo servos de Deus e de Cristo, e não dos homens. Eles não devem
ser caluniadores, falsos, ou amantes do dinheiro, mas temperados em tudo,
misericordiosos, trabalhadores, andando de acordo com os mandamentos do Senhor,
que foi o servo de todos. Se lhe somos agradáveis no tempo presente, também
receberemos o mundo vindouro, de acordo com o que Ele prometeu a nós, de que
Ele nos ressuscitará da morte, e que se nós vivemos condizentes com Ele,
"nós reinaremos junto com Ele" se ao menos tivermos fé. Da mesma
maneira, que os jovens também sejam irrepreensíveis em todas as coisas, sendo
especialmente cuidadosos para preservar a pureza, e mantendo-se, como que um
freio, de todo tipo de mal. Pois é bom que eles cortem fora toda a luxúria que
existe neste mundo, pois "todo desejo da carne luta contra o
espírito"; e "nenhum fornicador, nem efeminado, nem aquele que abusa
de si mesmo com os outros terá parte no reino de Deus", nem quem faz ações
inconsistentes e indevidas. Por isso, é preciso que eles se abstenham de todas
essas coisas, permanecendo obedientes aos presbíteros e diáconos, assim como a
Deus e a Cristo. As virgens devem andar com uma consciência inocente e pura.
VI.
Os deveres dos presbíteros e dos outros. Os presbíteros devem ser compassivos e
misericordiosos com todos, trazendo de volta aqueles que sairam do caminho
reto, visitando os doentes, sem desprezar a viúva, o órfão, ou o pobre, mas
sempre "provendo a estes o que é bom diante de Deus e dos homens";
abstendo-se de toda cólera, respeitando as pessoas, e não fazendo julgamentos
injustos; mantendo-se longe de toda cobiça, sem pensar mal rapidamente de
ninguém, sem serem severos demais nos julgamentos, sabendo que nós todos
estamos sobre o débito do pecado. E se nós suplicamos ao Senhor para nos
perdoar, também nós devemos perdoar os outros; pois nós estamos diante dos olhos
de nosso Senhor e Deus, e "todos nós deveremos comparecer ao tribunal de
Cristo, e deveremos todos dar conta de nós mesmos". Por isso devemos
serví-lo no temor, e com toda e reverência, conforme Ele mesmo nos manda, da
mesma maneira que os apóstolos nos ensinaram no Evangelho, e da mesma maneira
que os profetas proclamaram a vinda do Senhor. Sejamos zelosos na busca do que
é bom, mantendo-nos longe das causas de ofensa, de falsos irmãos, e daqueles
que hipocritamente proclamam o nome do Senhor, fazendo os homens vãos caírem no
erro.
VII.
Contra o docetismo. Perseverar no jejum e na oração. "Pois que não
confessar que Jesus Cristo veio na carne [encarnou], este é anticristo"; e
quem não confessar o testemunho da cruz, este é do demônio; e quem perverter as
profecias do Senhor para sua própria satisfação, e diz que não há nem
ressurreição nem julgamento, este é o primeiro nascido de Satanás. Por isso
abandonemos os discursos vãos das multidões, e suas falsas doutrinas, e
voltemos aos ensinamentos que nos foram dados desde o princípio;
"permaneçamos sóbrios na oração", e perseveremos no jejum; suplicando
em nossas orações ao Deus que vê tudo "para que não nos deixe cair em
tentação", pois o Senhor disse: "O espírito está pronto, nas a carne
é fraca".
VIII.
Perseverar na esperança e na paciência. Continuemos perseverando em nossa
esperança, nas primícias da justiça, que é Jesus Cristo, "que carregou
nossos pecados em seu próprio corpo no madeiro da cruz", "que não
cometeu pecado, nem foi achada astúcia em Sua boca", mas suportou todas as
coisas por nós, para que pudéssemos viver nEle. Sejamos imitadores de Sua
paciência; e se nós sofremos pelo nome dEle, seremos glorifiquemos Ele. Pois
este é o exemplo que Ele mesmo nos deu, e que nós temos acreditado.
IX.
Exortação à paciência. Eu os exorto, portanto, a obedecerem atenciosamente à
palavra da justiça, e a exercitarem a paciência, assim como vocês têm visto
diante de seus olhos, não somente no caso dos abençoados Inácio, Zózimo e Rufo,
mas também no caso dos outros que estão entre vocês, no próprio Paulo, e no restante
dos apóstolos. [Façam isso] na certeza de que todos estes não caminharam em
vão, mas na fé a na justiça, e na certeza de que eles estão [agora] no lugar
que lhes corresponde na presença do Senhor, com quem eles também sofreram. Eles
não amaram o século presente, mas Aquele que morreu por nós e que, por nossa
causa, foi ressuscitado por Deus da morte.
X.
Exortação na prática da virtude. Permaneçam, portanto, nestas coisas, e sigam o
exemplo do Senhor, permanecendo firmes e imutáveis na fé, amando o próximo, e
permanecendo unidos uns aos outros, gozando juntos da verdade, mostrando a
mansidão do Senhor nas suas relações com o próximo, sem desprezar ninguém.
Quando puderem fazer o bem, não o posterguem, pois "a esmola livra da
morte". Todos vocês estão submetidos uns aos outros tendo uma conduta
justa entre os gentios, para que vocês recebam em dobro a recompensa de suas
boas obras, e para que o Senhor não seja blasfemado por causa de vocês. Mas
coitado é aquele por quem o nome do Senhor é blasfemado! Ensinem, portanto, a
sobriedade a todos, e a manifestem em sua própria conduta.
XI.
Expressão de pena por causa de Valente. Eu estou muito triste por Valente, que
foi presbítero entre vocês, pois ele não entendeu completamente o cargo que foi
lhe dado [na Igreja]. Exorto-os, portento, que se abstenham da avareza, e que
sejam castos e verdadeiros. "Abstenham-se de todo tipo de mal". Pois
se um homem não pode se governar nestes assuntos, como pode ensina-los aos
outros? Se um homem não se mantém longe da avareza, ele se desonra pela
idolatria, e deve ser julgado como um dos pagãos. Mas quem de nós está ignorando
o julgamento do Senhor? "Não sabemos nós que os santos devem julgar o
mundo?", como Paulo ensina. Mas eu nem vi nem ouvi nada semelhante entre
vocês, no meio daqueles com quem Paulo trabalhou, e que estão louvados no
início de sua epístola. Com efeito, ele se gloria de vocês diante de todas as
Igrejas que sozinhas conheciam o Senhor; mas nós [de Esmirna] ainda não O
conhecíamos. Eu estou profundamente entristecido, pois, irmãos, por ele
(Valente) e por sua esposa; a quem o Senhor talvez conceda uma penitência
verdadeira! E sejam vocês sóbrios em atenção e este assunto, e "não os
olhe como inimigos", mas chame-os de volta como membros sofredores e
perdidos, pois vocês devem salvar todo o corpo. Agindo assim vocês edificam-se
a si mesmos.
XII.
Exortação a várias virtudes. Por isso acredito que vocês estão bem versados nas
Sagradas Escrituras, e que nada é escondido de vocês; mas a mim este privilégio
não é ainda garantido. Pois está declarado nas Escrituras, "Enfureçam-se,
e não pequem mais", e "Não deixem que o Sol se ponha sobre sua
ira". Feliz é quem se lembra disso, o que eu acredito seja o caso de
vocês. Que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e Ele mesmo, que é o
Filho de Deus, e nosso eterno Pontífice edifique-os na fé e na verdade, e em toda
mansidão, gentileza, paciência, magnanimidade, tolerância e pureza; e Ele lhes
dê parte de sua herança entre os santos, e a nós convosco, e a todos os que
estão debaixo do céu, que crêem em nosso Senhor Jesus Cristo, e em Seu Pai, que
"O ressuscitou dentre os mortos". Orem por todos os santos. Orem
também pelos reis, e pelas autoridades, e príncipes, e por aqueles que vos
perseguem e vos odeiam, e pelos inimigos da cruz, de modo que seu fruto seja
manifestado a todos, e que vocês sejam perfeitos nEle.
XIII.
A respeito da transmissão das cartas. Vocês e Inácio escreveram-me, para que se
alguém for [daqui] para a Síria, que levassem a carta de vocês; eu atenderei
esta requisição se eu encontrar uma boa oportunidade, pessoalmente, ou através
de uma outra pessoa, que vos sirva de mensageiro. Quanto às cartas de Inácio,
as que ele nos enviou e as outras que pudermos ter aqui, nós vo-las enviaremos
como pedistes. Vão anexas. Podereis retirar delas grande utilidade; pois
encerram fé, paciência e toda espécie de edificação relativas a nosso Senhor.
Qualquer outra informação que vocês conseguirem a respeito de Inácio e daqueles
que estão com ele, tenham a gentileza de nos informar.
XIV.
Conclusão. Estas coisas eu tenho escrito a vocês através de Crescente, a quem
recentemente lhes recomendei e agora lhes recomendo novamente. Ele tem crescido
irrepreensível entre nós, e eu creio que será da mesma maneira entre vocês.
Também vocês irão receber sua irmã, quando ela chegar entre vocês. Sejam salvos
em nosso Senhor Jesus Cristo [Incolumes estote in domino Iesu Christo]. Que a
graça esteja com todos vocês. Amém.
Pergunta
ao Grupo:
1.
Qual
o versículo você deseja destacar neste texto?
2.
Quais
contribuições podemos retirar deste texto para a nossa espiritualidade?
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