A Transfiguração do Senhor
IX Retiro de Contemplação e Espiritualidade
OESI – Ordem Evangélica dos Servos Intercessores
24,25
e 26 de novembro de 2017
Local:
Casa de Retiro Madre Regina - Petrópolis - RJ
Diretor/facilitador:
irmão Edson Cortasio Sardinha
19:30 horas - Sexta-feira
Transfiguração: Cesaréia, o Monte
e o Vale
Orlando
Lima Junior
Na sua carta aos
Filipenses Paulo faz a seguinte declaração: "
Apesar de ele [Jesus] viver na forma de Deus [nos Céus], não considerou a
igualdade com Deus algo a ser mantido pela força [violência]. Ao contrário,
esvaziou a si mesmo, ao assumir a forma de um escravo, tornando-se como os
seres humanos são. E, quando ele surgiu como um ser humano, humilhou-se ainda
mais, tornando-se obediente até a morte - morte na estaca como um criminoso!
" (Fl. 2:6-8. BJC).
As palavras de Paulo nos revelam que
quando Jesus veio a este mundo pela primeira vez, ele tomou a forma humana
completa menos em relação ao pecado, algo toalmente ausente nele até o seu
sacrificio na cruz em nosso favor. (Is. 53:4,5).
Uma leitura simples dos Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), mostra-nos o modo favorito de
Jesus fazer referência a si mesmo usando a expressão Filho do Homem. "Os
Evangelhos o colocam nos lábios de Jesus mais de sessenta e cinco vezes.".
"Jesus Cristo é o Filho do Homem por ser participante da humanidade, o homem representativo de toda a raça humana,
mas sem pecado."
O Evangelho de João também faz a seguinte
declaração acerca de Jesus: "E o
Verbo se fez carne [tornou-se um ser humano] e habitou entre nós, e vimos a sua
glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e verdade." (João
1:14).
Os textos acima comprovam que através da
pessoa e missão de Jesus O Reino de Deus entrou neste mundo. O próprio Rei da
Glória veio a terra, nasceu, viveu, morreu e ressuscitou, mas não se deixou ser
reconhecido como tal enquanto aqui esteve, pelo contrário esvaziou-se da sua
glória e escondeu a sua verdadeira identidade dentro do seu próprio espírito, a
fim de que esta não se colocasse acima do propósito da sua primeira vinda, cujo o
objetivo, não era reinar no sentido mais amplo da palavra, porém sofrer e
morrer para nos redimir de todos os nossos pecados.
Por este motivo, segundo os Evangelhos, a
transfiguração, foi a única ocasião durante o seu ministério que Cristo revelou
sua glória na terra, mesmo assim não a todos, mas somente a um estreito círculo
de discípulos - Pedro, Tiago e João .
Cada um dos evangelhos sinóticos ( Mateus, Marcos e Lucas), narram essa
experiência extraordinária, ocorrida no alto do grande Monte Tabor.
Podemos dividir
o acontecimento da transfiguração em três importantes períodos: Antes, durante
e depois da transfiguração. Analisemos abaixo mais detalhadamente cada
um desses períodos:
I-
O PERÍODO EM CESARÉIA DE FILIPOS
Um segredo ja foi definido por alguém como "algo que contamos a uma pessoa de cada
vez." Durante o ministério de Jesus na terra houve ocasiões especiais onde ele compartilhou
alguns segredos com seus discípulos. Uma dessas ocasiões foi em Cesaréia de
Filipos e a outra foi no monte, o Monte Tabor (segundo a tradição do II
século), o monte da transfiguração. Nós cristãos da atualidade, precisamos
compreender e aplicar esses segredos espírituais ali revelados por Jesus, a fim
de nos tornarmos cada vez mais as pessoas que Deus quer que sejamos.
1.
O SOFRIMENTO CONDUZ A GLÓRIA.
Uma semana antes
de Jesus revelar-se a Pedro, Tiago e João de uma forma jamais vista, ele
primeiro teve uma reunião em particular apenas com a presença de seus
discipulos com os quais pretendia revelar o que aconteceria com ele em
Jerusalém. Jesus ja dera algumas pistas
ao longo do caminho, mas agora pretendia falar abertamente com todos eles
acerca do seu sofrimento e morte na capital de Israel, Jerusalém. Como local
para isso escolheu Cesaréia de Filipe, uma cidade cerca de 40 quilômetros ao
norte de Betsaída, construida aos pés do Monte Hermon. O nome da cidade vem de
Cesar Augusto e de Herodes Filipe, e nela havia um templo de marmore consagrado
a Augusto. Era um lugar dedicado a glória de Roma, glória esta que ja não
existe; mas a Glória de Jesus Cristo permanece e se estenderá por toda a
eternidade.
A primeira coisa que Jesus fez ao iniciar
aquela reunião em Cesaréia, foi interrogar aos seus discípulos acerca do que as
pessoas andavam pensando ao seu respeito e logo em seguida os perguntou o que
eles mesmos pensavam acerca de seu Senhor."Interrogou
seus discípulos, dizendo: Que dizem os homens ser o Filho do Homem? E eles lhe
disseram: Uns, João Batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos
profetas. E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro disse: Tu és o Cristo, o
Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem aventurado és tu,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que
esta nos céus." (Mateus 16:13-17).
Através de uma revelação no seu interior
dada pelo Pai, Pedro declara pela fé que Jesus é o Cristo. A sua confissão foi
ousada e inflexivel, como deve ser também a nossa profissão de fé. A designação
Cristo significa "O Ungido de Deus, o Messias prometido", "O Rei
Ungido". Sacerdotes, Profetas e Reis eram ungidos com óleo ao serem
escolhidos para os cargos, e Jesus exerceu de uma só vez esses três oficios pela
unção do Espírito Santo.
Como já
dissemos anteriormente, esta declaração foi feita pela fé naquilo que Pedro
ouviu no seu espírito pelo Espírito Santo, ou seja, não havia nenhuma
comprovação visivel desde o nascimento de Jesus até aquele momento que Jesus era realmente quem ele
dizia ser, mas Pedro creu naquilo que lhe foi dito pelo Pai em segredo, e no
momento certo declarou como O Pai havia lhe revelado. (2Cor.4:13). Esta
declaração de fé baseada naquilo que o próprio Deus lhe contou, rendeu a Pedro
não só o reconhecimento e as honras dadas por Jesus (Mateus 16:17-19), mas também sete dias mais
tarde, o privilégio de ver com seus
próprios olhos aquilo que ele havia declarado pela fé com a sua boca na Palavra
de Deus. (Rm 8:24,25).
Logo após esta afirmação feita por Pedro,
Jesus pediu aos seus discípolus que guardassem segredo a seu respeito. Isso
porque os discípulos ainda tinham muito o que aprender sobre Ele e sobre o que
significa seguir o Senhor. Os lideres religiosos de Israel já haviam formado
seus próprios conceitos sobre Jesus, e declara-lo publicamente como Messias não
fazia parte do plano de Deus. O povo em geral queria ver Jesus realizar
milagres, mas não se mostrava tão interessado em suas menssagens, algo que
ainda acontece em nossos dias. Anuncia-lo como Messias poderia muito bem
resultar numa revolta política prejudicial a todos.
Geroge Eldon Ladd em seu livro Teologia
do Novo Testamento, também afirma que " o reconhecimento que Pedro fez da
messianidade de Jesus marcam um ponto que se constitui em uma nova direção da
auto-revelação de Jesus aos seus discípulos. Depois do evento em Cesaréia de
Filipe, são introduzidas duas novas notas: O Filho do Homem deve sofrer e
morrer, mas posteriormente ele viria como o Filho do Homem escatológico, para
julgar e governar no Reino de Deus escatológico."
"Mas a idéia de que O Filho do Homem
Celestial deveria primariamente viver como um homem entre os homens e
submeter-se ao sofrimento e morte foi uma idéia completamente nova para seus
discípulos"² (ibdem pg.148)
Esta nova idéia de sofrimento e morte
introduzida por Jesus ao seu ministério antes da sua glorificação, causou
grande repúdio e pavor entre os discípulos, como sabemos muitos o abandonaram
depois que esta nota foi introduzida permanentemente ao seu ministério. Pedro,
não o abondonou, assim como os onze, porém passou a repreender publicamente o seu Senhor por tais
declarações assustadoras. O
protesto de Pedro nasceu de sua ignorância
quanto a vontade de Deus e de seu profundo amor pelo Senhor. Num minuto Pedro
mostrou-se uma "rocha", logo em seguida uma pedra de tropeço! Nas
palavras de G.Campbell Morgan: " O
homem que ama a Jesus, mas se afasta dos metodos de Deus trabalhar, é uma pedra
de tropeço para o Senhor." Pedro ainda não tinha compreendido a
relação entre sofrimento e glória. No devido tempo aprenderia essa difícil
lição, e lhe daria grande ênfase em sua primeira epístola (1Pe 1:6-8;4:13 -
5:10).
Convém
observar, porém que, ao repreender Pedro, Jesus também "fitou" seus
discípulos, pois concordavam com as palavras de Pedro! Imbuídos da tradição
judaica de interpretação, foram incapazes de entender o porque, seu messias
iria sofrer e morrer. Por certo, alguns dos profetas escreveram sobre o
sofrimento do Messias, mas as Escrituras
ressaltavam muito mais a glória do Messias. Não é de se admirar que os
discípulos estivessem confusos com o discurso do Salvador.
No entanto o problema vai muito além dos
aspectos teológicos no coração e na mente daqueles discípulos. tratava de
questões práticas, Jesus chamara aqueles homens para segui-lo, e eles sabiam
que tudo o que acontecesse ao Mestre também aconteceria a eles. Se havia uma
cruz no futuro de Jesus, também haveria sofrimento para eles. Como mostra a
tradição, Pedro morreu mais tarde também em uma cruz, e só isso já era motivo
suficiente para discordar do Mestre! apesar de sua devoção a Jesus, os
discípulos continuavam ignorando a verdadeira relação entre a cruz e a coroa.
Seguiam a filosofia de Satanás (glória sem sofrimento) em vez da filosofia de
Deus (sofrimento transformado em glória). A filosofia que se escolhe determina
a forma de viver e de servir.
O
verdadeiro discípulo recebe alguma recompensa? Sim. Faz com que aquele (a) que
crê se torne cada vez mais semelhante a Cristo e, um dia, compartilhe
completamente de sua glória. Satanás promete glória, mas no final o que se
recebe é apenas sofrimento. Deus promete sofrimento, mas por fim esse
sofrimento será transformado em glória. Quem reconhece a Cristo e vive para Ele também será reconhecido por Ele e compartilhará da sua glória. (Rm. 8:18)
As
ultimas palavras ditas por Jesus na reunião de Cesárea de Filipos foram: "E
em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte
até que vejam o Reino de Deus." (Lc. 9:27)
II
- O MONTE DA TRANFIGURAÇÃO
O Evangelho de
Lucas nos diz " que, quase oito dias
depois dessas palavras, Jesus, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago e subiu
ao monte a orar." (Lc. 9:28) O "clima" entre os discípulos e
Jesus naqules dias que antecederam aquela subida, deveriam
estar tensos. Os discípulos que antes estavam confiantes, alegres e esperançosos quanto ao futuro de
que Jesus logo reinaria sobre a nação de
Israel e os colocaria em posições de honra no seu governo agora encontrava-se bastante sombrio. As palavras de Tomé, quando
Jesus decidiu ir a Judéia com a intensão de
ressuscitar a Lázaro expressam bem esta nova realidade entre eles. (Jo.11:16)
Apesar de tudo isto estar ocorrendo, os
doze continuavam a seguir a Jesus, certamente não por vontade própria apenas,
mas porque O Pai assim os levava. Deus nos bastidores continuava a
conduzir a vida dos discípulos que Ele
escolheu na direção certa independente das dúvidas, medos e frustrações que
eles enfrentavam e o mesmo ele faz em nós hoje.
Ali em cima,
Jesus apresentou uma prova maravilhosa e irrefutável de que Deus de fato, transforma o sofrimento
em glória (em seus "oito dias", Lucas inclui o dia da lição e também
o dia da glória - Lc 9:28).Como ja dissemos, Jesus levou Pedro, Tiago e João
para um alto monte e lá revelou a eles sua glória. A mensagem aqui é clara:
Primeiro o sofrimento , e depois a
glória.
As palavras de Jesus em Lucas 9:27 indicam
que esse acontecimento foi uma demonstração (ou ilustração) do Reino de Deus
prometido. Parece lógico, uma vez que os discípulos estavam confusos em relação
ao Reino de Deus por causa das palavras
de Jesus acerca da cruz. (Não devemos julga-los com severidade, pois os profetas
também ficaram perpeplexos - 1 Pe 1:10-12) Jesus lhes garantiu que as profecias
do Antigo Testamento se cumpririam, mas, antes de entrar na glória era preciso
que ele sofresse (2Pe 1:12-21).
No relato de Lucas sobre a teansfiguração,
"Lucas não usa o termo transfigurar, mas descreve a mesma cena de Mateus
17:2 e Marcos 9:2. O Termo significa "uma mudança de aparência que ocorre
de dentro para fora" ( o oposto de "mascara" - uma mudança
exterior sem qualquer origem interior), o radical grego de transfigurar, da origem
a nossa palavra metamorfose."
Note, que Lucas declara que a
transfiguração do Senhor aconteceu
enquanto ele orava, ou seja, em um momento de intimidade com O Pai através da
oração. Estando ele orando, transfigurou-se
a aparência do seu rosto, e as suas vestes ficaram brancas e mui
resplandescentes." (Lucas 9:29). A transfiguração segundo a narrativa de
Lucas não foi algo instantâneo, mas
progressivo, a medida que O Senhor orava. Isso nos dá a entender, que quanto mais Jesus se
aproximava da vida interior oculta nas profundezas do Seu Espírito, mais esta
aproximação de si mesmo e da sua glória
oculta aos homens, se tornavam visiveis pela graça de Deus aos olhos dos seus
discipulos que ali estavam.
Jesus permitiu também que sua glória
irradiasse por meio de todo o seu ser, e o topo da montanha, transformou-se
naquele instante no Santo dos santos celestial, assim como era em seu interior! Observamos nas Escrituras
Sagradas, que uma vida espiritual ativa de comunhão intima com O Pai, O Filho e
O Espírito Santo, tem em si a capacidade de transformar e santificar não só aquele que busca, mas o
ambiente onde este se encontra. Somos nós que transformamos o lugar através
daquilo que trazemos em nossos corações. (Salmo 57:1-11; 84:6; At.16:25-26;
Gl.5:25).
Ao meditarmos
sobre este grande acontecimento, devemos lembrar que Jesus compartilhou essa
mesma glória conosco,através do seu Espírito Santo que em nós habita. Moisés no
Antido Testamento, e nenhum dos que viveram no Antiga Aliança, gozaram do mesmo
privilégio que nós Povo da Nova Aliança adquirimos pela fé em Cristo Jesus. O
rosto de Moisés somente resplandeceu por algum tempo devido ao fato de ele ter
estado diante do Senhor no Sinai (Ex.34:29,30,33-35), ou seja, sua glória se
deu devido a um encontro transitório e externo com Deus. No Novo Israel de Deus, a metamorfose se dá
progressivamente, devido a uma vida interior de comunhão e celebração
constantes com O Pai que agora habita
dentro de nós os salvos em Cristo Jesus. (Rm.12:2;14:17; 2Co3:12-18)
1-
A TRANSFIGURAÇÃO NAS VIDAS DE MOISÉS E ELIAS
O surgimento de Moisés e de Elias
próximos a Jesus naquele instante de glória, foi bastante significativo, pois
Moisés representava através da sua pessoa a Lei e Elias os Profetas; e Jesus
que veio cumprir a ambos a Lei e os profetas (Lc 24:25-27;Hb1:1,2), porém o
grande assunto ali em questão naquele instante era A "partida" de
Jesus, que se daria em Jerusalém. Moisés havia guiado o povo para fora da escravidão
do Egito, e Elias os havia livrado da escravidão dos falsos deuses; mas Jesus
estava prestes a morrer para livrar um mundo pecador da esvravidão do pecado e
da morte. (Gl 1:4; Cl1:13; Hb2:14,15).
É relevante destacarmos aqui, que em Mateus 17:9 Jesus diz aos seus
discípulos que a ninguém contassem "a visão", esta pequena palavra
desfaz qualquer base de apoio a doutrina da reencarnação como alguns a querem
afirmar.
Moisés morrerá, e seu corpo fora sepultado, mas Elias havia
sido arrebatado (2Re 2:11). Quando Jesus voltar, ressuscitará o corpo dos
santos que morreram nele e arrebatará os santos que vivem nele. (1Ts 4:13-18).
É muito signicativo a forma que a
Bíblia Judaica Completa (BJC) narra a aparição e o propósito de Moisés e Elias junto a Jesus na
transfiguração, diz o texto: "Eles
apareceram em um esplendor glorioso e falavam sobre seu êxodo, que deveria ser
cumprido brevemente em Yerushalayim.".
(Lc 9:31). Em muitas versões biblicas em português, diz que eles falavam
acerca de sua morte que deveria se cumprir
em breve em Jerusalém, mas a BJC
faz uma substituição de vocábulo
muito interessante, em vez de morte, ela
diz êxodo (grego=saída), ou seja, o sofrimento e morte de Jesus em Jerusalém, na realidade
seria a forma de sua saída, libertação
deste mundo juntamente conosco que Nele cremos para a plena liberdade e vida
eterna em Jesus. (Cl.2:12).
A palavra êxodo, quando é retirada do Antigo Pacto para o Novo
feito em Cristo Jesus, faz também com
que este momento de grande sofrimento, medo e tristeza o qual todos nós estamos
sujeitos a passar por ele, ganhe um novo
significado para todos aqueles que acreditam no
Senhor Jesus Cristo, e se torne
um momento não só de sofrimento e de dor, mas também de fé, de paz em Cristo e de esperança na presença de Deus. (Hb.12:2).
As ultimas palavras Jonh Wesley, pai do Metodismo, em seu êxodo
para o Céu expressam bem o que queremos dizer. "O melhor de tudo é que
Deus esta conosco."
2-
A TRANDFIGURAÇÃO NA VIDA DE PEDRO, TIAGO E JOÃO
Enquanto todos estes acontecimentos
ocorriam os três discípulos dormiam (Lc 9:32), falha que repetiriam no jardim
do Getsêmani (Mc 14:32-42), por pouco não perderam a oportunidade de ver Moisés
e Elias com Jesus em sua glória! A sugestão de Pedro reflete, mais uma vez, o
pensamento humano, não a sabedoria divina (Lc 9:33). Como seria maravilhoso
permanecer bem no alto do monte e desfrutar da sua gloria, no entanto como
sabemos este desejo é impossivel de ser realizado aqui. O discípulado significa
negar-se a si mesmo, pegar a cruz e seguir ao Senhor. É impossivel fazer isso
e, ao mesmo tempo, desejar egoisticamente permanecer deitado no monte da
glória, pois existe necessidades a serem supridas por nós no vale logo abaixo.
Quem deseja compartilhar da glória de Cristo no monte, deve estar disposto a
segui-lo também nas adversidades e sofrimentos do vale.
O Pai interrompeu o discurso de Pedro
envolvendo a maravilhosa cena numa nuvem de glória e mudou o foco dos
discípulos da visão de glória para as Palavras de Jesus: "a ele ouvi"
(Lc 9:34,35). É uma oração imperativa, ou seja, uma ordem que deve ser cumprida
diligentemente por todos os soldados de Cristo em todas as gerações, afim de
agradar aquele que os alistou para a guerra. (2Tm2:4) A memória da visão se
dissiparia, porém o caráter imutável da Palavra permaneceria para sempre. A
visão da glória não era um fim em si, mas a forma de Deus confirmar sua Palavra
(2 Pe 1:12-21). O discipulado não é construido sobre visões ou milagres
espetaculares, mas sobre a Palavra inspirada de Deus. Tambem não devemos
colocar Moisés e Elias no mesmo nível como Pedro fez. É "somente
Jesus" : Sua Palavra,sua vontade, seu Reino e sua Glória.Quando a nuvem se
foi, Moisés e Elias também não estavam mais lá, apenas Jesus e os seus três
discípulos.
III
- O RETORNO AO VALE
Jesus não permitiu que Pedro,
Tiago e João contassem aos outros nove o que havia se passado no monte, esse
foi o motivo do seu silêncio ao voltarem para casa (Mc 9: 9,10; Lc 9:36).
Certamente, a revelação e explicação
desse acontecimento depois da ressurreição de Jesus serviu de grande
encorajamento para os cristãos que sofreriam e entregariam a vida por amor ao
seu Senhor. Mas os três ainda estavam perplexos. Haviam aprendido que Elias
viria primeiro em preparação a fundação do Reino. A presença de Elias no monte
seria o cumprimento dessa profecia? (Ml 4:5,6).
Jesus
responde essa pergunta de duas maneiras. Sim, Elias viria conforme profetizado
em Malaquias 4:5,6, mas, em termos espirituais, Elias já havia vindo na pessoa
de João Batista (Mt 11:10-15; Lc 1:17).
A nação permitiu que João fosse decapitado e pediria que Jesus fosse morto na cruz. Apesar de tudo que os líderes
perversos fariam, Deus ainda assim realizaria seu grande plano de salvação.
A
vida cristã é uma "terra de montes e de vales" (Dt 11:11). Num único
dia um discípulo de Jesus pode ir da glória do céu aos ataques do inferno na
terra. Quando Jesus e os três discípulos voltaram para junto dos outros
encontraram-nos envolvidos com dois problemas: foram incapazes de libertar um
garoto possesso e se viram discutindo com os escribas, que provavelmente
zombavam muito deles por causa desse insucesso. Como sempre, Jesus entrou em
cena para resolver o problema.
A lição principal desse milagre é
o poder da fé para vencer o inimigo (Mc. 9:19,23,24; ver Mt.17:20) Por que os
nove discípulos falharam enquanto Jesus estava ausente? Porque negligenciaram
sua vida espiritual e a pratica da oração e do jejum (Mc 9:29). A autoridade
que Jesus havia lhes dado era eficaz somente quando exercida pela fé, mas a fé
deve ser cultivada por meio da devoção e das disciplinas espirituais. É
possível que a ausência do Senhor, tenha diminuído seu fervor espiritual e sua
fé. Esse insucesso não apenas os envergonhou, como também tirou a glória do
Senhor e deu ao inimigo uma oportunidade
de criticar. É a nossa fé em Cristo e a nossa devoção a Ele que glorifica o
Senhor (Rm 4:20-25). Novamente O Senhor se envolve no problema e concede a cura e a libertação
do jovem. (Lc. 9:41,42)
CONCLUSÃO
O Senhor sempre
da algum tipo de sinal, de garantia com
relação as suas palavras e promessas feitas a aqueles que o seguem. Quando Ele fez aliança com Abrãao, como não
tinha ninguém que pudesse garantir seu dito jurou por si mesmo e fez passar um
fogo pelo meio do sacrificio de Abraão. (Gn.15:17,18).
A Tranfiguração era também uma garantia aos
discípulos de que Deus cumpriria sua promessa, da mesma forma que O Espírito Santo o é na vida dos cristãos do
Novo Testamento. O Espírito Santo é a nossa maior garantia dada pelo Senhor Jesus da nossa glória futura no Reino dos Céus. (2Co
1:22; 5:5; Ef 1:13,14). É importante frizar que embora os sinais e as
revelações especiais dadas por Deus sejam importantantes em nossas vidas, tais
experiências jamais devem substituir as Palavras de Jesus em nossos corações,
como o próprio Pai já nos advertiu: "Este é o meu Filho amado; a ele
ouvi." (Lc 9:35)
Atualmente
muitas pessoas e denominações tem se levantado e também caido, pois estão baseadas apenas no desejo e nas experiências
pessoais de uma pessoa ou de um grupo e não na genuina Palavra de Deus. Não
podemos de forma alguma desconsiderar ou anular a importância das revelações e
sinais, mas também não podemos coloca-las como unicas e principais alicerces de nossa fé e acima da Palavra de
Deus e também da orientação já dadas
por Ele a nós. Essas revelações devem ser confirmadas pelo próprio
Espírito Santo em nós e pela analise da própria Palavra de Deus, devem se encaixar, somar com aquilo que já temos
recebido do Senhor, caso contrario devem ser desconsideradas e descartadas.
Notemos também a
presença marcante do número sete antes e durante a transfiguração. Os
evangelhos de Mateus Marcos e Lucas concordam entre si, apesar de o número de
dias variar de um para o outro, a transfiguração ocorreu sete dias após o discurso de Jesus em Cesaréa e se observamos
a quantidade de pessoas presentes na transfiguração, incluindo o próprio Deus
veremos que havia um total de sete. O número "sete" no hebraico,
significa o mesmo que jurar, "garantir", tambem tem um sentido de
perfeição, totalidade, a
consciência, a intuição, a espiritualidade e a vontade. Sete é o numero de
Deus, da plenitude, da completude, da manifestação do que Deus é da sua glória.
O sete simboliza também o fim de um ciclo e o inicio de outro. A semana tem 7 dias, o que tem um
significado muito importante, pois quando se chega ao sétimo dia, voltamos ao
primeiro e todas as vezes que o sete se “manifesta” indica o fim de um tempo e
o início de outro. É como o virar de uma página. A transfiguração de Jesus
marca também o fim de um ciclo em seu ministério e o começo de outro, e o fim
desse ciclo termina com glória e marca o começo do outro que apesar de ser de
sofrimento e de morte para Jesus, marcará o começo de outro majestoso com a
ressurreição do Senhor dentre os mortos.
A transfiguração mostra-nos que toda a
transformação real na vida do ser humano ocorre de dentro para fora e jamais ao
contrario. O texto de Gary R. Collins
falando sobre a paz nas relações interpessoais corrobora bastante para esta
afirmação: "Quando o interior das
pessoas muda, surge uma mudança em seu comportamento exterior. Para que exista
a verdadeira paz, é preciso que haja também paz no coração, do individuo.
Segue-se então a paz entre as pessoas.Tanto a paz interna como a interpessoal
devem ser precedidas de uma entrega a Cristo que é seguida de crescimento
espiritual. Este crescimento surge quando os indivíduos e grupos adoram juntos,
oram e meditam na Palavra de Deus."
O apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos capítulo 12: 1,2 pede com
grande insistência aos discípulos de Cristo, que deixem Deus transformar
completamente suas mentes, para que assim possam conhecer plenamente a vontade de
Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a Ele.
O
que fica bem claro, através de tudo o que temos visto e ouvido até aqui é que a
experiência da transfiguração, ou seja, da metamorfose - interior exterior,
começa a acontecer na vida do cristão na medida que este se entrega sem
reservas a vontade do Pai, ainda que isso venha a acarretar para ele em perdas
pessoais, sofrimento e até mesmo a morte. Sem uma entrega total a cada dia das nossas vidas a Jesus, e a sua
vontade já explicitada na sua Palavra, não há como experimentar em plenitude da
glória de Deus e isso é algo imutável.
Ao encerrar esta palestra quero
dizer a todos o seguinte: ame sua cruz, aceite-a, entregue-se a ela, dedique-se
a ela, como uma dádiva de Deus, pois é esta cruz que lhe conduzira a glória
eterna de Deus. Não existe como ver a glória de Deus sem passar pela dor e o
sofrimento e é isto que O Filho do Homem também queria mostrar a aqueles que
estavam lá em cima no monte com Ele. Se queremos ver e experimentar a glória dos Céus em nossas vidas necessário se
faz que cada um de nós passemos pela Via Dolorosa e até mesmo o Calvário antes.
No entanto passemos sem nunca esquecer, que logo após a isto tudo, existe uma
glória divina logo ali nos esperando em
Cristo. (Hb.12:2)
"Sejam
pacientes diante de todo sofrimento; se o amor por Deus é puro, não irão
procurá-Lo menos no calvário do que no Tabor; certamente Ele deve ser mais
amado nos momentos difíceis do que em outros, já que foi no Calvário que deu a
maior demonstração de amor."
Madame Guyon
NOTAS
BIBLIOGRAFICAS
STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal 1. ed. Revista e Corrigida. Deerfield,
Florida - EUA : Editora CPAD, 1995. 2.190p.
STERN,
David H. Bíblia Judaica Completa 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2010. 1.630p.
TURNER,
Donaldo D. Introdução ao Novo Testamento 1. ed.São Paulo: Imprensa Batista
Regular, 1987. 370p.
WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: vol.1. 1. ed. São
Paulo: Geográfica Editora, 2006. 952p.
LADD,
George Eldon. Teologia
do Novo Testamento 2. ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1985. 584p.
WIERSBE,
Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: vol.1. 1. ed. São
Paulo: Geográfica Editora, 2006. 952p.
Disponível
na Internet via
http://averdadeestampada.blogspot.com.br/2011/09/misterios-do-numero-7.html.
Arquivo capturado em 18 de julho 2017.
COLLINS,Gary
R. Aconselhamento Cristão 1. ed. São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida
Nova, 1984. 389p.
20h – Sexta-feira
Filme: Eu prefiro o Paraíso -
Parte I
A vida de Felipe Néri abarca quase todo o século XVI, um dos
mais turbulentos da Idade Moderna, época do Renascimento e da Reforma Protestante.
Nasceu em Florença no dia 21 de julho de 1515, numa família
profundamente cristã. Seus membros haviam exercido cargos na magistratura da
“cidade das flores”, por muitas gerações, o que lhes permitiu ocupar um lugar
na nobreza toscana. Mas isso não dispensava o pai, Francisco Néri, de trabalhar
arduamente como tabelião para sustentar a família.
Felipe perdeu a mãe muito cedo, mas encontrou na madrasta
uma digna sucessora que o amou como filho. O menino era tão amável, jovial e
terno, que logo tornou-se conhecido como Pippo Buono, “o bom
Felipinho”. Essa bondade de coração e amabilidade contagiantes seriam o grande
segredo de suas conquistas no ministério.
Tendo estudado humanidades com os melhores professores da
cidade, por volta dos 16 anos seu pai o enviou para São Germano, aos pés de
Monte Cassino, para aprender a arte do comércio com seu tio Rômulo. Apesar de
Felipe se dedicar com empenho ao negócio, suas cogitações estavam muito acima
das mercadorias com que tratava. Logo se viu que ele não tinha senso comercial,
mas divino. Apenas terminado o trabalho do dia, retirava-se para alguma igreja
ou um dos oratórios abundantes na Itália.
Servia-se também do emprego para cumprir seu ministério.
Perguntava aos fregueses se sabiam o Pai-Nosso ou se haviam feito a Páscoa. O
tio comentava: “Felipe nunca será um bom comerciante. Eu deixaria a ele
toda minha herança, se não fosse essa mania de orar”. Para Felipe isso
não era uma “mania”, mas necessidade. “Nada ajuda mais o homem do que a
oração”, dirá mais tarde.
Por isso, quando fez 20 anos, deixou a casa do tio e foi
para Roma.
Santa
alegria dos filhos de Deus
Em Roma estudou filosofia na universidade La
Sapienza, e teologia na de Santo Agostinho, mantendo-se
com aulas particulares.Os que tratavam com ele ficavam admirados de
sua sabedoria, profundidade de pensamento e vida santa. Nessa época ele já
vivia a pão e água uma vez só por dia, dormia apenas algumas horas no chão
duro, e passava parte da noite em oração.
À noite costumava visitar as sete principais igrejas de
Roma, retirando-se depois para a catacumba dos cristãos. Seu exemplo atraiu
muitos companheiros, que se juntaram a ele nesses santos exercícios.
Apesar de sempre sorridente e amável, sua modéstia e
virginal pudor faziam-no ser respeitado até pelos mais dissolutos. Via-se
sempre a alegria transparecer em seu rosto, e a doçura estava de tal modo em
seus lábios, que era uma grande satisfação estar com ele.
O que é mais curioso é que Felipe, nessa época, não pensava
em fazer-se sacerdote. Julgava acertadamente que se pode servir a Deus e ao
próximo muito bem, permanecendo leigo.
Entrou para a Companhia do Divino Amor, irmandade cujo
objetivo era atender espiritual e materialmente os pobres, os doentes, os
órfãos e os encarcerados. No Hospital dos Incuráveis, cuidou
dos enfermos até o fim de sua vida, e para lá enviaria os seus seguidores.
Entre estes encontrava-se um que é considerado o maior compositor do século
XVI, Giovanni Pierluigi da Palestrina, cujas músicas passaram a fazer
parte do repertório dos seguidores de Felipe. Pois a música desempenhava papel
importante em seu ministério.
Não contente com a visita a hospitais, Felipe punha-se
também a percorrer ruas e praças, falando às pessoas sobre o Evangelho e as
coisas de Deus, da maneira mais comovedora e cativante. A um perguntava: “Então,
meu irmão, quando é que começaremos a amar a Deus?”. A outro: “É
hoje que nos decidimos a comportar-nos bem?”. Ele era sobretudo um
apóstolo e um semeador da santa alegria dos filhos de Deus.
Sua
vocação
Felipe Néri se sentia chamado especialmente para cuidar da
juventude. Para colocar os jovens em guarda contra as seduções da idade e
conservar todo frescor da virtude, ele lhes dizia para se lembrarem sempre das
palavras do profeta: “Bem-aventurado o homem que leva o jugo do Senhor
desde sua adolescência”. Havia em sua voz e em suas maneiras tanto
atrativo, que muitos, cedendo ao ascendente que Felipe tinha sobre eles,
renunciavam às frivolidades do mundo e se entregavam inteiramente a Deus. Assim
ele enviou a Inácio, para sua recém-fundada Companhia de Jesus, muitos novos
recrutas.
A
grande graça de Pentecostes
No dia de Pentecostes de 1545, quando suplicava ardentemente
ao Espírito Santo que lhe enviasse seus dons, viu de repente uma bola de fogo
que lhe entrou boca adentro, descendo até o coração. Tal foi a veemência de
amor de Deus que sentiu, que julgou que iria morrer. Caiu no chão,
gritando: “Basta, Senhor, basta! Não resisto mais!”
O mais notável é que seu peito dilatou-se, mesmo
fisicamente, na altura do coração. Isto foi constatado depois da morte pelo
médico Andréa Cesalpino, que fez a autópsia: “Percebi que as costelas
estavam rompidas naquele ponto, isto é, estavam separadas da cartilagem. Só
dessa maneira era possível que o coração tivesse espaço suficiente para
levantar-se e abaixar-se. Cheguei à conclusão de que se tratava de algo
sobrenatural, de uma providência de Deus para que o coração, batendo tão
fortemente como batia, não se machucasse contra as duras costelas”.
“Durante seus últimos dias como leigo, o ministério de
Felipe cresceu rapidamente. Em 1548, junto com seu confessor Persiano Rosa, fundou
a Confraternidade da Santíssima
Trindade para cuidar de peregrinos e convalescentes. Seus membros se
reuniam para a Comunhão, oração e outros exercícios espirituais na igreja de
São Salvador. Embora ele ainda fosse leigo, fazia a pregação, e sabemos que
numa só ocasião ele converteu trinta jovens dissolutos”.
Quando Felipe tinha 36 anos, seu confessor Persiano
ordenou-lhe, em nome de Deus, que se fizesse sacerdote. Depois de mais alguns
estudos, ordenou-se, celebrando sua primeira missa no dia 23 de maio de 1551.
Felipe entrou então para a comunidade de Presbíteros de São
Jerônimo, que gozava merecida fama pelas virtudes de seus componentes.
Estes, embora vivessem em comunidade e tivessem mesa em comum, não se obrigavam
a nenhum voto. Este será o berço do Oratório de Felipe Néri.
Ouvindo contar as maravilhas operadas por Francisco Xavier
na Índia, Felipe pensou muito em ir também para o Oriente. Dirigiu-se então a Agostinho
Ghattino, pedindo-lhe que consultasse o Senhor sobre esse seu projeto. A
resposta divina foi: “Felipe não deve buscar as Índias, mas Roma, onde
o destina Deus, assim como a seus filhos, para salvar almas”.
Como sacerdote, Felipe dedicou-se especialmente ao
confessionário, onde passava grande parte do dia.
Muitos de seus seguidores, levados pelo desejo de receber
orientação espiritual passaram a ir diariamente visitá-lo, passando a uma grande
multidão.
Como todos os santos, teve que enfrentar muitas calúnias. O
próprio cardeal vigário de Roma, levado por um certo parti-pris
(opinião precipitada) e pelos rumores de que mantinha assembleias
perigosas e semeava novidades entre o povo, chegou a repreendê-lo severamente,
retirando-lhe a licença para atender confissões durante quinze dias. Mas, tendo
o cardeal falecido repentinamente, o papa Paulo IV, chamado a julgar o caso,
não só absolveu Felipe como recomendou-se às suas orações.
Um dos principais discípulos de
Felipe foi Cesare Barônio, depois cardeal, autor dos Annales Ecclesiastici
(constituído
por doze volumes, é uma história dos primeiros 12 séculos da Igreja Cristã), trabalho que marcou época na historiografia e mereceu para
seu autor o título de “Pai da História Eclesiástica”.
Felipe Néri entregou sua alma a Deus no dia 26 de maio de
1595.
Foi um homem com vida Transfigurada pelo amor ao Senhor.
8:45h - Sábado
O Monte Tabor: A Oração como
fonte de Transfiguração!
O
arquiteto italiano fantástico Antonio Barluzzi projetou a Igreja da
Transfiguração no Monte Tabor, assim também como outras igrejas na Terra Santa.
Ele projetava essas igrejas com a Bíblia na mão e passava para arquitetura a
experiência essencial daquele lugar.
Nesta
linda Igreja as duas colunas representam Moisés e Elias. Respectivamente a Lei
e a Profecia e ao centro em forma de tenda. Cada coluna daquela tem uma capela
para Moises e Elias e a maior ao centro a sugerida por Pedro, que é o próprio
Jesus.
No
interior da Igreja uma luminosidade proporcional, por se tratar da
Transfiguração do Senhor, ela é clara, cheia de luz, pois diante do Mistério de
Cristo tudo se transfigura se revela, se ilumina.
A
Tradição diz que neste Monte o Senhor levou Pedro, Tiago e João.
A
montanha é o lugar místico por excelência na Bíblia, nelas durante a História
da Salvação houveram vários episódios da intervenção de Deus e Nosso Senhor
Jesus no cimo de algumas, como o Monte Tabor, realizou milagres, fez
maravilhosos discursos e ensinou os seus discípulos a buscar sempre ouvir a voz
de Deus.
Jesus
manifestou aos seus discípulos este mistério no monte Tabor. Havia andado com
eles, falando-lhes a respeito de seu reino e da segunda vinda na glória. Mas
talvez não estivessem muito seguros daquilo que lhes anunciara sobre o reino.
Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as
realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a
divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus. Foi
como se dissesse: Para que a demora não faça nascer em vós à incredulidade,
logo, agora mesmo, eu vos digo alguns dos que aqui estão não provarão a morte
antes de verem o Filho do homem vindo na glória de seu Pai (cf. Mt 16,28).
Mostrando
o Evangelista ser um só o poder de Cristo com sua vontade, acrescentou: E seis
dias depois, tomou Jesus consigo Pedro, Tiago e João e levou-os a um monte alto
e afastado. E transfigurou-se diante deles; seu rosto brilhou como o sol, as
vestes se fizeram alvas como a neve. E eis que apareceram Moisés e Elias a
falar com ele (cf. Mt 17,1-3).
São
estas as maravilhas da presente solenidade, é este o mistério de salvação para
nós que agora se cumpriu no monte: ao mesmo tempo, congregam-nos agora a morte
e a festa de Cristo. Para penetrarmos junto àqueles escolhidos dentre os
discípulos, inspirados por Deus, na profundeza destes inefáveis e sagrados
mistérios, escutemos a voz divina que do alto, do cume da montanha, nos chama
instantemente.
Para
lá, cumpre nos apresarmos, ouso dizer, como Jesus, que agora nos céus é nosso
chefe e precursor, com quem refulgiremos aos olhos espirituais – renovadas de
certo modo as feições de nossa alma – conformados à sua imagem; e à semelhança
dele, incessantemente transfigurados, feitos consortes da natureza divina e
prontos para as alturas.
Para
lá corramos cheios de ardor e de alegria; entremos na nuvem misteriosa,
semelhantes a Moisés e Elias ou Tiago e João. Sê tu também como Pedro,
arrebatado pela divina visão e aparição, transfigurado por esta linda
Transfiguração, erguido do mundo, separado da terra.
Deixa
a carne, abandona a criatura e converte-te para o Criador a quem Pedro, fora de
si, diz: Senhor é bom para nós estarmos aqui (Mt 17,4).
Sim, Pedro,
verdadeiramente é bom para nós estarmos aqui com Jesus e aqui permanecermos
pelos séculos. Que pode haver de mais delicioso, de mais profundo, de melhor do
que estar com Deus, conformar-se a ele, encontrar-se na luz?
De
fato, cada um de nós, tendo Deus em si, transfigurado em sua imagem divina,
exclame jubiloso: É bom para nós estarmos aqui, onde tudo é luminoso, onde está
o gáudio, a felicidade e a alegria. Onde no coração tudo é tranquilo, sereno e
suave. Onde se vê a Cristo, Deus. Onde ele junto com o Pai tem sua morada e ao
entrar, diz: Hoje chegou a salvação para esta casa (Lc 19,9). Onde com Cristo
estão os tesouros e se acumulam os bens eternos. Onde as primícias e figuras
dos séculos futuros se desenham como em espelho.
14 horas – Sábado
Leitura em Grupo
A Transfiguração e o Êxtase sem
Entendimento
Harry
Tenório
O
homem é um ser religioso. Desde os tempos mais remotos, ele tem levantado
altares. Há povos sem leis, sem governos, sem economia, sem escolas, mas jamais
sem religião. O homem tem sede do Eterno. Deus mesmo colocou a eternidade no
coração do homem. Cada religião busca oferecer ao homem o caminho de volta para
Deus. As religiões são repetições do malogrado projeto da Torre de Babel. O homem é um ser confuso espiritualmente. Só
há duas religiões no mundo: a revelada e aquela criada pelo próprio homem. Uma
tenta abrir caminhos da terra ao céu; a outra, abre o caminho a partir do céu.
Uma é humanista, a outra é teocêntrica. Uma prega a salvação pelas obras; a
outra, pela graça.
O
cristianismo é a revelação que o próprio Deus faz de si mesmo e do seu plano
redentor. As demais religiões representam um esforço inútil de o homem chegar
até Deus através dos seus méritos. O homem é um ser que idolatra a si mesmo. A
religião que prevalece hoje é a antropolatria. O homem tornou-se o centro de
todas as coisas. Na pregação contemporânea, Deus é quem está a serviço do homem
e não o homem a serviço de Deus. A vontade do homem é que deve ser feita no céu
e não a vontade de Deus na terra. O homem contemporâneo não busca conhecer a
Deus, mas sentir-se bem. A luz interior tornou-se mais importante do que a
revelação escrita. O culto não é racional, mas sensorial. O homem não quer
conhecer, quer sentir. O sentimento prevaleceu sobre a razão. As emoções
assentaram-se no trono e a religião está se transformando num ópio, um
narcótico que anestesia a alma e coloca em sono profundo as grandes
inquietações da alma.
Pedro,
Tiago e João sobem o Monte da Transfiguração com Jesus, mas não alcançam as
alturas espirituais da intimidade com Deus. Há uma transição bela entre o
capítulo 8 de Marcos e este capítulo 9; no anterior Cristo falou da cruz, agora
ele revela a glória. O caminho da glória passa pela cruz. A mente dos
discípulos estava confusa e o coração fechado. Eles estavam cercados por uma
aura de glória e luz, mas um véu lhes embaçava os olhos e tirava-lhes o
entendimento.
Os discípulos andam com Jesus, mas não
conhecem a intimidade do Pai – (Lc 9.28,29). Jesus subiu o Monte da
Transfiguração para orar. A motivação de Jesus era estar com o Pai. A oração
era o oxigênio da sua alma. Todo o seu ministério foi regado de intensa e
perseverante oração. Jesus está orando, mas em momento nenhum os discípulos
estão orando com ele. Eles não sentem necessidade nem prazer na oração. Eles
não têm sede de Deus. Eles estão no monte a reboque, mas não estão alimentados
pela mesma motivação de Jesus. Os discípulos estão diante da manifestação da
glória de Deus, mas, em vez de orar, eles dormem – (Lc 9.28,29). Jesus foi
transfigurado porque orou. Os discípulos não oraram e por isso foram apenas
espectadores. Porque não oraram, ficaram agarrados ao sono. A falta de oração
pesou-lhes as pálpebras e cerrou-lhes o entendimento. Um santo de joelhos
enxerga mais longe do que um filósofo na ponta dos pés. As coisas mais santas,
as visões mais gloriosas e as palavras mais sublimes não encontraram guarida no
coração deles. As coisas de Deus não lhes davam entusiasmo; elas cansavam seus
olhos, entediavam seus ouvidos e causavam-lhes sono.
Os
discípulos experimentam um êxtase, mas não têm discernimento espiritual –
(9.7,8). Os discípulos contemplaram quatro fatos milagrosos: a transfiguração
do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e Elias, a nuvem luminosa que
os envolveu e a voz do céu que trovejava em seus ouvidos. Nenhuma assembleia na
terra jamais foi tão esplendidamente representada: lá estava o Deus triúno,
Moisés e Elias, o maior legislador e o maior profeta. Lá estavam Pedro, Tiago e
João, os apóstolos mais íntimos de Jesus.
Apesar
de estar envoltos num ambiente de milagres, faltou-lhes discernimento em quatro
questões básicas: Em primeiro lugar, eles não discerniram a centralidade da
Pessoa de Cristo (9.7,8). Os discípulos estão cheios de emoção, mas vazios de
entendimento. Querem construir três tendas, dando a Moisés e a Elias a mesma
importância de Jesus. Querem igualar Jesus aos representantes da Lei e dos
Profetas. Como o restante do povo, eles também estão confusos quanto à
verdadeira identidade de Jesus (Lc 9.18,19). Não discerniram a divindade de
Cristo. Andam com Cristo, mas não lhe dão a glória devida ao seu nome (Lc
9.33). Onde Cristo não recebe a preeminência, a espiritualidade está fora de
foco. Jesus é maior do que do Moisés e Elias. A Lei e os Profetas apontaram
para ele. Warren Wiersbe diz que tanto Moisés como Elias, tanto a lei como os
profetas tiveram seu cumprimento em Cristo (Hb 1.1-2; Lc 24.25-27). Moisés
morreu e seu corpo foi sepultado, mas Elias foi arrebatado aos céus. Quando
Jesus retornar, ele ressuscitará os corpos dos santos que morreram e arrebatará
os santos que estiverem vivos (1 Ts 4.13-18). O Pai corrigiu a teologia dos
discípulos, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi” (Lc
9.34,35).
Jesus
não pode ser confundido com os homens, ainda que com os mais ilustres. Ele é
Deus. Para ele deve ser toda devoção. Nossa espiritualidade deve ser
cristocêntrica. A presença de Moisés e Elias naquele monte longe de empalidecer
a divindade de Cristo, confirmava que de fato ele era o Messias apontado pela
lei e pelos profetas.
Em
segundo lugar, eles não discerniram a centralidade da missão de Cristo. Moisés
e Elias apareceram para falar da iminente partida de Jesus para Jerusalém (Lc
9.30,31). A agenda daquela conversa era a cruz. A cruz é o centro do ministério
de Cristo. Ele veio para morrer. Sua morte não foi um acidente, mas um decreto
do Pai desde a eternidade. Cristo não morreu porque Judas o traiu por dinheiro,
porque os sacerdotes o entregaram por inveja nem porque Pilatos o condenou por
covardia. Ele voluntariamente se entregou por suas ovelhas (Jo 10.11), pela sua
igreja (Ef 5.25). Toda espiritualidade que desvia o foco da cruz é cega de
discernimento espiritual. Satanás tentou desviar Jesus da cruz, suscitando
Herodes para matá-lo. Depois, ofereceu-lhe um reino. Mais tarde, levantou uma
multidão para fazê-lo rei. Em seguida, suscitou Pedro para reprová-lo. Ainda
quando estava suspenso na cruz, a voz do inferno vociferou na boca dos
insolentes judeus: “Desça da cruz, e creremos nele” (Mt 27.42).
Se
Cristo descesse da cruz, nós desceríamos ao inferno. A morte de Cristo nos
trouxe vida e libertação. A palavra usada para “partida” é a palavra êxodo. A
morte de Cristo abriu as portas da nossa prisão e nos deu liberdade. Moises e
Elias entendiam isso, mas os discípulos estavam sem discernimento dessa questão
central do Cristianismo (Lc 9.44,45).
Hoje
há igrejas que aboliram dos púlpitos a mensagem da cruz. Pregam sobre
prosperidade, curas e milagres. Mas, esse não é o evangelho da cruz, é outro
evangelho e deve ser anátema!
Em
terceiro lugar, eles não discerniram a centralidade de seus próprios
ministérios – (9.5). Eles disseram: “Bom é estarmos aqui”. Eles queriam a
espiritualidade da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Queriam as visões
arrebatadoras do monte, não os gemidos pungentes do vale. Mas é no vale que o
ministério se desenvolve. É mais cômodo cultivar a espiritualidade do êxtase,
do conforto. É mais fácil estar no templo, perto de pessoas co-iguais do que
descer ao vale cheio de dor e opressão. Não queremos sair pelas ruas e becos.
Não queremos entrar nos hospitais e cruzar os corredores entupidos de gente com
a esperança morta. Não queremos ver as pessoas encarquilhadas nas salas de
quimioterapia. Evitamos olhar para as pessoas marcadas pelo câncer nas
antecâmaras da radioterapia. Desviamos das pessoas caídas na sarjeta. Não
queremos subir os morros semeados de barracos, onde a pobreza extrema fere a
nossa sensibilidade. Não queremos visitar as prisões insalubres nem pôr os pés
nos guetos encharcados de violência. Não queremos nos envolver com aqueles que
vivem oprimidos pelo diabo nos bolsões da miséria ou encastelados nos luxuosos
condomínios fechados.
É
fácil e cômodo fazer uma tenda no monte e viver uma espiritualidade escapista,
fechada entre quatro paredes. Permanecer no monte é fuga, é omissão, é
irresponsabilidade. A multidão aflita nos espera no vale!
Em
quarto lugar, eles estão envolvidos por uma nuvem celestial, mas têm medo de
Deus – (Lc 9.34). Eles se encheram de medo (Lc 9.34) ao ponto de caírem de
bruços (Mt 17.5,6). A espiritualidade deles é marcada pela fobia do sagrado.
Eles não apenas não encontram prazer na comunhão com Deus através da oração,
mas revelam medo de Deus. Veem Deus como uma ameaça. Eles se prostram não para
adorar, mas para temer. Eles estavam aterrados (9.6). Pedro, o representante do
grupo, não sabia o que dizia (Lc 9.33).
Deus
não é um fantasma cósmico. Ele é o Pai de amor. Jesus não alimentou a patologia
espiritual dos discípulos; pelo contrário, mostrou sua improcedência:
“Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus, dizendo: Erguei-vos, e não temais” (Mt
17.7). O medo de Deus revela uma espiritualidade rasa e sem discernimento.
19:15 horas – Sábado
A Transfiguração do Senhor e a Espiritualidade
Cristã.
Mateus 17: 1-9
Gleisto
Sérgio
Esta
passagem é em minha opinião trata de um dos momentos mais místicos de todo o Novo
Testamento, onde eu me arriscaria a dizer que depois da morte e ressurreição do
Senhor Jesus, talvez seja juntamente com o batismo, a Ceia e o Nascimento de
Cristo os momentos mais Místicos do Novo Testamento. A palavra mística ou
místico, vem de mistério, algo que não é deste mundo. Cristo tinha uma vida
completamente mística.
O
apóstolo Paulo declarou isso em sua carta aos Colossenses 1.26 “Ele é o
mistério que esteve oculto dos séculos e das gerações, mas que agora foi
manifesto aos seus santos”.
E
que aprendemos com a Transfiguração do Senhor?
Em
primeiro lugar, toda a experiência verdadeiramente mística é Divina. A
iniciativa sempre é totalmente de Deus. O próprio texto declara isso quando diz
que Jesus tomou os discípulos e os levou em particular. Tenho aprendido que, na
espiritualidade cristã, tudo vem dEle pois tudo é para Ele, por Ele e pra
Glória Dele, Ou seja, nada vem de nós, é pura graça!
Em
segundo lugar, temos que ter muito cuidado para não ficar fissurado em repetir
a Transfiguração que foi do Senhor e dada pelo Senhor. Algumas atitudes nossas,
por mais bem-intencionadas que sejam, podem nos levar a algo que eu
particularmente chamaria de ‘’simonia pós-moderna’, pois a etimologia da
palavra vem de Simão mago onde a sua
história está registrada em atos 8.9-25 em que ele após largar a vida de mago e
abraçar a fé cristã e andar com Felipe e ficar impressionado com o poder na
vida deste, tentou “negociar” para que o mesmo transferisse tal poder a ele. A
intenção de Simão foi boa mas o seu erro foi tentar conseguir literalmente a
qualquer preço essa experiência. Quantos de nós alguns momentos não tivemos
essa boa intenção em comprar e ler e reler o livro daquele pregador querendo de
fato conseguir o tal poder ou tal experiência que o mesmo teve? Ou quem sabe participar daquela campanha de
poder realizado por aquele ministério famoso no intuito de sair dali com a tal
experiência mística “em mãos”, ou talvez aquela campanha de jejum ou campanha
no monte não que essas coisas sejam erradas, mas temos sempre que lembrar que
tudo vem dEle e que nunca e jamais, poderemos “torcer” o braço de Deus na busca
alucinada para tal ou tais experiências.
Em
terceiro lugar, observamos que o texto diz que uma voz saiu da nuvem que os
cobria e dizia: ’’Este é o eu filho amado, em quem me comprazo, escutai-o! Neste
texto eu entendo que escutar não é simplesmente o ato de ouvir, e sim ouvir e
atender as palavras do mestre. É ser todos os dias radicalmente discipulado por
Cristo. Uma linda canção de uma igreja muito conhecida, diz em um dos seus
trechos: ’’te ouvir, te conhecer é a maior experiência que um homem pode ter’’
e eu penso que isso é uma grande verdade, pois acho que não há experiência
maior para o homem do que o impacto da Palavra de Deus, do que ser radicalmente
transformado pelo Evangelho. Apóstolo Paulo disse isso em Romano 1.16, que o Evangelho
é o poder, que em grego é Dúnamis, original das palavras dinamite e dínamo
elétrico. É isso mesmo que o Evangelho faz em nossas vidas uma explosão de
poder! Por falar em poder e experiências místicas, eu creio que o povo de Deus
na saída do Egito até Canaã, talvez foi testemunha das maiores e mais
assustadoras experiências e
manifestações místicas da Bíblia e creio que da história da humanidade, mas a Bíblia
diz que a maioria ficou no deserto, não chegou à terra prometida, simplesmente
por seu pecado e incredulidade. Pereceram no deserto. Por isso o mais
importante para os discípulos de Cristo é escutar! Não escutemos ao lobo, ao mercenário, ao
falso profeta, ao mentiroso. Escutemos a Cristo através de sua Palavra!
Em
quarto e último lugar, observamos que o texto também diz que Jesus recomenda
que não contassem a ninguém até a sua ressureição e o texto de Lucas expressa
que eles ficaram em silencio por aqueles dias. Os discípulos simplesmente
tiveram uma experiência espetacular. Sem apelar para nenhuma interpretação
teológica. Eles tiveram uma “palhinha” sobre o que é a dimensão da eternidade,
tendo Cristo se encontrado com Elias e Moisés na frente deles. Porém, depois de
tudo aquilo, Cristo deu uma ordem de ficarem em silêncio.
Eu
creio que por maiores que possam ser as nossas experiências, por mais
espetacular que sejam, tudo é dEle.
Traçando
um paralelo com o tema do retiro da OESI anos atrás que o tema foi o silencio;
tem momentos quem é exatamente isso que Cristo exige de nós: o silêncio.
Corremos
o risco de deixar o ‘’eu’’ prevalecer, como quem diz: “eu vi, eu estava lá, foi
comigo, eu vivi esta experiência”.
Creio
que os discípulos estiveram desesperados de vontade para dizer o ‘’eu vi’’, mas
permaneceram em silêncio. Foram obedientes.
E
se fosse à gente? Talvez também teríamos muita vontade de sair testemunhando e
dizendo: “eu vi’’!
Por
mais espetaculares que possam ser as experiências, nada é para nós ou para o
nosso ‘’eu’’. Tudo tem que ser para o engrandecimento do Reino e da Gloria do
nosso Deus.
Paz e bem.
8:45h – Domingo
Pessoas Transfiguradas na
História da Igreja
Filipe Maia
O termo transfigurar vem de uma palavra
grega “metamorphoõ”, que gerou nossa
palavra “metamorfose”, que significa “mudar em outra forma”.
No sentido bíblico mais estrito é
aplicada à experiência descrita na Bíblia nos Evangelhos sinóticos (Mt 17:1-13;
Mc 9:2-13; Lc 9:28-36). Jesus conduz três de seus discípulos a um monte e
diante de seus olhos é transfigurado (mudado de forma): seu rosto se torna
resplandecente como o sol e suas vestes de uma brancura como a luz.
Apesar de esse evento ter acontecido uma
única vez, somente com Jesus e o transfigurar-se se referir literalmente a uma
mudança de aparência física, podemos afirmar, sem dificuldade alguma, que a
obra do Evangelho na vida do fiel é uma obra de transfiguração: não
necessariamente do exterior, mas, sobretudo do homem interior. (cf. 2Co 4:16)
No momento em que recebemos a Cristo
como único Senhor e suficiente Salvador e o Espírito Santo passa a fazer morada
em nós, começa-se a boa obra de que o apóstolo São Paulo nos fala (cf. Fp 1:6).
Obra esta de mudanças profundas em nosso eu mais oculto, de formação espiritual
à imagem do próprio Filho de Deus, Jesus. Você e eu através do mover do
Espírito em nós somos “transfigurados” em um novo homem, em uma nova mulher.
Somos, na linguagem paulina, novas criaturas no Cristo!
“Agora olhamos
para dentro, e o que vemos é que qualquer um, unido a Cristo, tem a chance de
um novo começo e é criado de novo. A velha vida se foi. Uma nova vida floresce”
(2Co 5:17 – A Mensagem).
A história da igreja é uma história que está
sendo ainda escrita por e acerca de pessoas que tiveram suas vidas
profundamente transfiguradas a partir do seu encontro pessoal com Jesus e,
posteriormente, com o desenvolvimento de uma profunda espiritualidade marcada
por amor, paixão, devoção, disciplina e amizade cristocêntrica.
Nossa proposta, na presente reflexão, é
de olharmos para a vida espiritual de personagens da história da igreja como
exemplos de vidas que passaram por aquilo que poderíamos chamar de uma
“transfiguração cristificante”, ou seja, pessoas como você e eu que foram
profundamente transformadas em alguém semelhante a Jesus.
Que nós sejamos desafiados a passamos
também por semelhante transfiguração!
Os Padres do Deserto – Vidas Transfiguradas a partir
do domínio das paixões (espiritualidade a partir da base).
Os padres do deserto, como são comumente
chamados, foram cristãos, muitos deles monges, freiras e eremitas, que por
volta do século III d.C. mudaram-se para o deserto da Nítria, no Egito, para
dedicarem-se a solitude, ao silêncio e a oração. O mais conhecido deles foi
Antão (ou Antônio, o Grande) que mudou-se para o deserto em 270 e ficou
conhecido como o fundador do monasticismo no deserto.
Os padres do deserto tiveram uma grande
influência no cristianismo primitivo. Os
encontros entre esses monges eremitas formaram comunidades posteriormente que
se tornaram o modelo para o monasticismo cristão. A tradição dos padres do
deserto também influenciou outros movimentos como a tradição monástica oriental
(Hesicasmo – Monte Atos), a ocidental sob a regra de São Bento. Mesmo
renascimentos religiosos mais modernos, como os evangélicos alemães, os
pietistas da Pensilvânia e o renascimento metodista na Inglaterra foram vistos
por estudiosos atuais como tendo sido, em alguma medida, influenciados pelos
padres do deserto.
Com a legalização do cristianismo pelo
Império Romano, e a cessação do martírio de fiéis, os padres do deserto viram
na fuga para o ermo a alternativa e possibilidade de um novo “martírio”. Agora
o que haveria de morrer não seria mais o corpo, mas, as paixões carnais que
guerreiam com a alma. E os instrumentos do martírio também seriam outros: não mais as presas das feras
no Coliseu e sim as ascese profunda.
Os padres do deserto nos ensinam aquilo
que é chamado de uma “espiritualidade a partir da base”. Esse tipo de
espiritualidade leva em consideração nossas paixões carnais, as áreas cinza e
tenebrosas de nossas almas, o que difere da espiritualidade que estamos
acostumados a qual trata de grandes ideais acerca de Deus e da vida espiritual.
No confronto com nossos “demônios
internos”, ou seja, o pecado, acabamos nos conhecendo a nós mesmos, ao
mergulharmos em nossas “profundidades mais abissais”, e ascendemos para Deus.
Pois, no entendimento deles, “é a partir
do mais baixo que podemos ascender até Deus” (Grun, Anselm – O Céu começa em
você).
Essa espiritualidade é um caminho que
conduz à humildade de coração, pois, somos confrontados pelo nosso
autoconhecimento o qual denuncia que toda a nossa ambição espiritual anterior
não passava de mero orgulho e vaidade.
Bento de Núrsia – Vida Transfigurada pela Obediência
a Regra.
Bento nasceu em Núrsia, próximo à cidade
italiana de Espoleto, e era filho de um
nobre romano. Ele era irmão gêmeo de Santa Escolástica que fundou o ramo
feminino do movimento beneditino.
Bento foi enviado a Roma para estudar
retórica e filosofia. No entanto, em função da corrupção moral que encontrou
ali, retira-se e foge para Enfide no ano 500. Naquele lugar deserto, instala-se
numa gruta de difícil acesso e passa três anos como eremita dedicando-se à
oração e o autosacrifício.
No ano de 503 ele recebe uma grande
quantidade de pessoas desejosas de serem seus discípulos e funda 12 mosteiros.
Em 529 em decorrência da inveja de um sacerdote muda-se para o Monte Cassiano
onde funda um mosteiro que viria a ser o fundamento da expansão da Ordem dos
Beneditinos.
Bento foi profundamente influenciado por
João Cassiano e pelo monasticismo do Egito. Em função disso incorporou muitas
das práticas do deserto nos mosteiros que ajudou a fundar no sul da Europa.
Os mosteiros fundados por Bento eram
cuidadosamente organizados e conhecidos por práticas específicas como, por
exemplo, a escolha de 12 monges que formavam a comunidade, sendo que o 13º
monge era o líder do mosteiro, ou abade. Esse abade era escolhido com base na
demonstração das qualidades de Jesus encontradas em sua prática de vida.
No ano de 534, Bento começa a escrever
sua Regula Monasteriorum (Regra dos
Mosteiros).
A regra que Bento escreveu ao mesmo tempo
em que é simples é muito profunda. De tantas contribuições que nos deixou
podemos destacar seu entendimento de que o principal objetivo de nossa vida
espiritual é que ela se torne vida
eterna.
Na regra o caminho para essa
“transfiguração” é a ordenação de nossa vida através da oração, trabalho,
estudo e descanso, tudo isso interligado a um contexto de humildade e
comunidade.
Trata-se de um processo de formação
espiritual que se desenvolvia de diversas maneiras:
Através
da Bíblia. Principalmente
na prática antiga da Lectio Divina, uma forma de ler e meditar nas Escrituras
com sabedoria e entendimento, utilizando-se da mente e do coração. Na Lectio o
monge aprendia a intuir suas ideias e sentimentos e a desenvolver uma
compreensão holística da vida com Deus.
Através
dos santos e mestres espirituais do passado. Bento exigia atenção especial a
João Cassiano e sua leitura regular nos mosteiros.
Através
da Vida Espiritual. Bento
acreditava que poderíamos aprender verdades profundas ao levarmos em
consideração às nossas motivações mais profundas, aos pensamentos espontâneos e
às reações emocionais. Segundo ele ao examinar essas dinâmicas de nossa alma
ficamos mais atentos aos movimentos de Deus e aprendemos a imitar Cristo.
Através
do Comprometimento com a Comunidade. Bento compreendia que a vida em
comunidade era a expressão mais elevada da vida espiritual, principalmente por
sua característica de forçar seus membros a crescerem através da mudança. Viver
assim permitia enxergar a vida numa ótica sacramental e sagrada.
O caminho proposto pela Regra que Bento
escreveu visa conduzir-nos à uma atitude de humildade perante Deus, a vida e ao
próximo. Quando ficamos expostos a ela por algum tempo, seu conteúdo torna-se
uma fonte de sabedoria que nos orienta em nossa vida com Deus.
Francisco de Assis – Vida Transfigurada pela
Imitação de Cristo.
Francisco de Assis, nascido Giovanni di
Pietro di Bernardone em 5 de Julho de 1182, talvez seja o santo mais amado e
popular tanto entre cristãos católicos, ortodoxos e protestantes. Filho de um
rico comerciante de tecidos na cidade de Assis, antes de sua conversão a Cristo
viveu uma vida mundana de exageros e noitadas. Ele era o líder dos jovens de
sua cidade.
Desde cedo desejou tornar-se um
cavaleiro a serviço de um nobre senhor. Sempre fora fascinado por aventuras e
histórias de cavalaria.
Sendo assim, alistou-se em 1202 na
guerra de Assis contra Perugia. Ele acabou capturado e ficou preso aguardando
resgate por um ano. Ao ser libertado voltou doente, o que durou quase o ano
todo de 1204.
Depois que se recuperou alistou-se
novamente para fazer parte do exército papal que guerreava na época contra
Frederico II, incentivado por um sonho que teve. A caminho, durante o trajeto,
teve outro sonho em que uma voz lhe dizia: “Francisco,
a quem queres servir, ao servo ou ao Senhor?”. Confundido ele respondeu: “o que queres que eu faça?”. Ao que a
voz novamente lhe disse: “Volta para a
tua terra, e te será dito o que haverás de fazer.”
Já em Assis durante uma de suas
festanças com os amigos foi tocado pela presença divina e, a partir daí,
começou a perder seu interesse pelo antigo estilo de vida ao mesmo tempo em que
lhe surgiu uma grande preocupação com os necessitados.
Certo dia saiu para passear de cavalo e
encontrou-se com um homem leproso, o que lhe causaria naturalmente repulsa. No
entanto Francisco desce do cavalo e coloca seu manto sobre o homem e lhe dá um
beijo no rosto deformado. Os estudiosos apontam essa mudança de atitude de
Francisco em relação aos leprosos como o ponto que demarca sua conversão
pessoal a Cristo.
Numa outra ocasião entrou na igreja de
São Damião para orar e ouviu a voz de Cristo que vinha de um crucifixo a lhe
instar que reconstruísse a igreja que estava em ruínas. Interpretando aquele
pedido literalmente, parte para a cidade e vende os tecidos de seu pai a preço
popular e leva o montante de dinheiro e o entrega ao padre da igreja.
Ao saber disso seu pai o conduz até o
bispo da cidade acusando-o de dissipar sua fortuna. Para a surpresa de todos
ali, diante de uma multidão de pessoas, Francisco se despe e entrega suas
roupas ao pai, abrindo mão assim de seu direito a seu nome e bens. Ali, pedindo
a benção do bispo partiu nu, para viver uma vida de pobreza entre os excluídos
e necessitados da sociedade.
A vida de Francisco foi verdadeiramente
muito inspiradora e impactante. Tanto que três ordens principais se formaram em
torno dele: a Ordem dos Frades Menores (OFM), a Ordem das Clarissas e a Ordem
Franciscana Secular (OFS).
Parte do encanto da vida de Francisco se
encontra exatamente na forma que ele viveu. Um estilo de vida transfigurada na
busca em imitar a Jesus vivendo seu Santo Evangelho de forma literal.
Num certo dia enquanto, durante um
ofício divino, ele lia e escutava um sermão, três passagens atingiram-lhe
profundamente o coração: “Vá, venda os
seus bens e dê o dinheiro aos pobres” (Mt 19:21); “Não levem nada pelo caminho”
(Lc 19:21); “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo” (Mt 16:24).
Esses três textos bíblicos não apenas se
tornaram, posteriormente, o fundamento da espiritualidade franciscana, mas
também o norte de Francisco para o seu desejo mais arrebatador: imitar seu
amigo e Senhor, Jesus Cristo.
Francisco sempre se referia a seu estilo
de vida e de seus companheiros como “evangélico”. Com isso ele queria dizer o
resgate da vida e dos ensinamentos de Jesus contidos nos Evangelhos. Francisco
não se preocupava com as interpretações do Evangelho tanto quanto com a busca
de vivê-lo na sua literalidade. Ou seja, ele via o que estava escrito, ia e
coloca em prática!
Encontramos nos ensinamentos de
Francisco alguns pilares que sustentavam essa Imitatione Christi. Um deles era a Obediência: devemos ser obedientes a Deus em tudo o que significa
seguir sempre a vida e o espírito de Jesus. Outro pilar era a necessidade de se
estar constantemente aberto para o
ministério e inspiração do Espírito Santo: a capacidade de imitar a Cristo
é resultado direto do poder do Espírito em nossa vida. A honra e o respeito à igreja era outro pilar dos ensinos de
Francisco: a comunidade cristã é o contexto propício para que encontremos o
companheirismo em Cristo. Precisamos
de companheiros que possam nos encorajar e ajudar na nossa caminhada com Deus.
E por fim, a manifestação do evangelho
vivo através do autocontrole, da paciência, da humildade e da prática de
outras virtudes cristãs.
Em síntese, para Francisco o principal
impacto do Evangelho para uma vida transformada na semelhança de Cristo, é uma
atitude de simples obediência à vontade de Deus.
João Wesley – Vida Transfigura por um Coração em
Chamas.
João Wesley era o quinto filho de um
ministro anglicano chamado Samuel e de sua esposa Susana. Ele nasceu em 17 de
Junho de 1703 em Epworth, Inglaterra.
A sociedade na época de seu nascimento
passava por um momento conturbado por causa da Revolução Industrial que fazia
crescer o número de desempregados. As ruas da Inglaterra estavam cheias de
mendigos e o cristianismo nas igrejas completamente ineficaz e definhando.
Por questões da vida ministerial de seu
pai, sua mãe, Susana, assumiu a administração do lar bem como o ensino secular
e religioso dos filhos.
Ainda na infância foi o último filho a
ser salvo, de maneira miraculosa, de um incêndio que destruiu toda a casa da
família. Depois disso João Wesley ficou conhecido como “um tição tirado do fogo”.
João Wesley estudou com sua mãe até os
11 anos de idade. Depois entrou para uma escola pública onde estudou por seis
anos. Aos 17 anos ingressa na Universidade de Oxford.
Na universidade graduou-se em teologia.
Foi lá que se formou o famoso “clube santo”, expressão zombeteira que foi dada
aos encontros de Wesley e outros rapazes para o estudo e a oração. Como eles
tinham horários e métodos para tudo que faziam acabaram por serem chamados de
“metodistas”.
Um dos principais episódios que marcaram
o início do movimento metodista foi a viagem que Wesley fez à Virgínia com o
objetivo de evangelizar o índios, o qual foi fracassado.
Durante a travessia do Atlântico, perante
o risco iminente de um naufrágio, Wesley fica impactado pela paz e alegria de
um grupo de morávios que viajavam no mesmo navio. Ao passo em que essa mesma
atitude não se encontrava presente em seu coração.
Após alguns anos, em 24 de Maio de 1738,
numa reunião na rua Aldersgate, Londres,
ao ouvir a introdução do comentário de Lutero da carta aos Romanos,
Wesley sente “seu coração estranhamente aquecido”. Através desta experiência
ele experimentou grande confiança em Cristo e recebeu a segurança de que Deus
havia perdoado seus pecados. E a partir de então se acendeu um fogo ardente
começando por ele, o qual varreu dois continentes com a glória de Deus através
de um grande despertamento que conquistou milhares de almas para o Senhor
Jesus.
Com a experiência do “coração aquecido”
Wesley percebeu que a experiência não se contradizia a Bíblia. Pelo contrário,
servia para organizar, iluminar e a plicar a verdade das Escrituras a nossa
própria vida. Até aquele momento ele tinha sido fiel aos três pontos do anglicanismo
que eram a autoridade primária da Bíblia, as autoridades secundárias da razão e
da tradição. Agora a experiência proporcionava o quarto caminho para se
conhecer a Deus.
Esse novo destaque à experiência
religiosa inaugurou uma nova dimensão de entendimento teológico. Wesley chega a
afirmar que o centro da religião é confirmado por experiências diretas,
imediatas e internas com Deus. Da mesma forma que conhecemos as realidades
físicas pelos sentidos físicos, também conhecemos as realidades espirituais
através dos sentidos sobrenaturais. Segundo ele esse tipo de experiência
determina a “religião verdadeira, bíblica e experimental”.
Ao usar o termo “experimental” Wesley se
refere a que toda a nossa vida com Deus está construída sobre o poder de nossas
experiências com Deus. E essa experiência deve fazer uma clara coligação com
outras experiências já registradas na história da igreja.
Sendo assim, para Wesley o papel das
experiências religiosas, perante a supremacia da Bíblia e a autoridade secundária
tanto da razão quanto da tradição, era de confirmar a verdade de Deus contida
nas mesmas.
A experiência espiritual, segundo ele,
serve para misturar nossas sensações naturais, percepções e observações,
organizando-as afim de que sejamos capazes de perceber a presença e o agir de
Deus.
Deus não pode ser discernido por nossos
sentidos naturais. Por isso, o Espírito Santo age em nós, testemunhando ao
nosso espírito, através de uma impressão interior, de que estamos num
relacionamento com Deus.
Isso nos transfigura fazendo com que
experimentemos a certeza de nossa salvação. E nos traz a alegria, a paz, o
contentamento e o ardor que tanto buscamos.
14h –
Domingo
A
Espiritualidade do Tabor
Edson Cortasio Sardinha
O Tabor é um monte majestoso, alcançando 660 metros de
altitude. É o lugar consagrado pela Tradição como o Monte Santo da
Transfiguração. Maravilhoso panorama se descortina do alto, vendo-se o relevo
ondulado da Galiléia, o lago de Genezaré, o cimo nevado do monte Hermon, o
monte Carmelo e o Mar Mediterrâneo.
No dia 05 de agosto os cristãos árabes sobem o Monte e fazem
uma vigília de comunhão. Às 10 horas da manhã do dia 06, ocorre uma celebração
litúrgica em memória a Transfiguração do Senhor na nova Igreja de Antonio
Barluzzi
construída sobre ruínas de igrejas antigas.
Na liturgia bizantina, na vigília do Dia da Transfiguração a
igreja faz a seguinte oração:
«Hoje, em tua
divina transfiguração, a inteira natureza humana
brilha de divino resplendor e exclama com
júbilo: O Senhor transfigura-se salvando todos os homens».
A parte final da
liturgia é repetida várias vezes até o dia 13 de agosto. Eles repetem com
alegria:
«Ó
Cristo Deus, te transfiguraste sobre a montanha, mostrando aos discípulos
tua glória, à medida que lhes era possível contemplá-la. Também sobre nós,
pecadores, deixa brilhar tua luz eterna...
«Sobre
o monte te transfiguraste e os teus discípulos, à medida que o podiam, viram a
tua glória, ó Cristo Deus, a fim de que quantos te vissem crucificado,
compreendessem
que a tua paixão era voluntária e proclamassem ao mundo
que tu és verdadeiramente o resplendor do Pai.»
A
Espiritualidade do Monte Tabor é profunda, simples e complexa. É um poço que
nunca falta água. Todas as vezes que subirmos ao Monte Tabor retiraremos águas
cristalinas e preciosas.
O
Monte Tabor fala de intimidade.
Mt
17.1 diz que Jesus chamou em particular Pedro, Tiago e João para subir a um
alto monte. Esta intimidade é relacional. Só existe intimidade mediante
relacionamento e amizade.
Precisamos,
todos os dias, subir ao monte com Jesus. Ter momentos de relacionamentos
profundos. Precisamos separar um rito próprio dentro do nosso cotidiano para
subir ao Monte Tabor. Se não tivermos estes momentos diários nossa fé ficará
engessada a uma simples doutrina ou tradição. É uma desgraça a fé ser
transformada em um número, em nossa identidade religiosa.
Precisamos
ouvir o convite de Jesus e diariamente parar para ver e ouvir seu Evangelho,
seus olhos, sua voz e seus direcionamentos. É no Evangelho que encontraremos o
Antigo Testamento. É um momento de encontro com Moisés e Elias. Falando e
apontando para o sacrifício em Jerusalém. Vemos todo o Antigo Testamento com os
óculos do Evangelho. Nosso encontro com Moisés e Elias aponta para Jesus. Jesus
transfigurado transfigura o Antigo Testamento e nos faz enxergar a fé Nele
próprio como cumprimento do propósito do Pai.
O Monte Tabor fala de Experiência.
Mt 17 relata diversas experiências
espirituais que os apóstolos tiveram: viram Jesus ser transfigurado (2) ao
ponto do seu roto resplandecer como o sol e suas vestes tornarem-se brancas
como a luz.
Viram
Moisés e Elias conversando com Jesus sobre os acontecimentos de Jerusalém (3).
Viram
uma nuvem de luz envolvendo-os (5) e ouviram a voz do Pai como Moisés no monte
Sinai. Foi tão sobrenatural e impactante que caíram de bruços (6).
Quando olhamos para uma luz por
muito tempo ou até mesmo ficamos em frente a uma TV de Tubo de Imagem (as
antigas), saímos com a imagem em nossa mente. Para onde olhamos a imagem vai
junto.
Cientificamente o nome que se dá é
Ilusão por Persistência de Imagem.
A
influência de um estímulo luminoso na retina provoca uma sensação luminosa. Em
consequência da inércia, decorre um determinado intervalo de tempo até a retina
ser impressionada. A excitação sobrevive ao estimulo provocado durante um breve
período.
A experiência dos apóstolos foi
tremenda. Viram o rosto de Jesus brilhando e este brilho os seguiu para sempre.
Quando olhavam para Jesus o seu rosto brilhava. Para onde olhavam o rosto
brilhante de Jesus era projetado.
Quando temos uma experiência com a
face de Cristo nossa forma de olhar a vida muda totalmente. Até mesmo nossa
relação com o pecado. Diante das tentações, olhamos e o brilho do rosto de
Jesus ofusca as imagens e cenas do pecado. Quando olhamos as pessoas e as
situações difíceis, o rosto de Jesus é projetado na frente.
Precisamos desta experiência. Que o
rosto de Cristo brilhe em nossos olhos. Que sejamos transfigurados pelo brilho
do rosto, das vestes e da nuvem de luz.
Que fiquemos impactados e selados
pelo brilho do rosto de Jesus. Que venhamos ficar mais tempo olhando para sua
face. Que nossos momentos de adoração possam ser longos e de qualidade quanto
nosso momento de intercessão.
Nesta experiência os apóstolos não
pedem nada. Nada lhes é prometido em questão material. Apenas são transformados
e saem com o rosto brilhando de Jesus em sua alma. São transfigurados pela
experiência da transfiguração.
O
Monte Tabor fala de Mandamentos
Os apóstolos recebem três
mandamentos:
(5)
“Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo;
a ele ouvi”.
(7) “Erguei-vos e não temais”!
(9)
“A ninguém conteis a visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os
mortos”.
O
primeiro mandamento é ouvir o Filho. Pedro não o quis ouvir quando falou do
sofrimento e da cruz em Jerusalém. Mas o Pai diz: a Ele ouvi. Precisamos ter os
ouvidos abertos para ouvir tudo que Jesus fala. Não podemos tentar interpretar
aquilo que Jesus fala com clareza. Ouvi é sinônimo de observar, obedecer.
Precisamos ser a geração dos obedientes. Santidade também é sinônimo de
obediência.
O
Monte Tabor não trouxe revelações e direcionamentos para os apóstolos como o
Sinai trouxe para Moisés. Eles recebem a ordem de ouvir Jesus e aparentemente
Jesus nada fala a não ser exigir que nada digam. Muitas vezes estamos ansiosos
para receber profecias precisas sobre nossa vida. Mas o silêncio de Deus também
é profético e pedagógico. Precisamos aprender a esperar em Deus. Muitas vezes
Ele irá falar por meios diferentes dos nossos meios comuns. Precisamos ouvir
com o Espírito o que Jesus irá falar e quando Ele falar. Mesmo que nada fale
agora, nosso espírito precisa estar na disposição de ouvir.
O
segundo mandamento é não temer. Muitas vezes não mergulhamos mais fundo nos
mistérios de Deus porque tememos. Temos tanto medo que não nos aprofundamos.
Nosso medo é causado pelo nosso preconceito. Temos medo de estudar a
espiritualidade Clássica porque é um movimento antes da Reforma. Temos medo de
ouvir coisas que nos tiram de nossa zona de conforto. A voz do Pai gerou medo.
A nuvem de luz trouxe pavor. Muitas vezes fugimos de uma experiência mais
profunda com o Senhor por puro medo.
O
terceiro mandamento fala do silêncio. Não era momento de testemunhos e relatos.
Precisavam controlar a ansiedade e a necessidade de relatar a experiência. O
monte Tabor precisaria ser degustado. Degustado muitos dias. Só poderiam
relatar a experiência depois da ressurreição, justamente por que o monte Tabor
é uma antecipação da Glória do Cristo ressuscitado. Quantas vezes não sabemos
ficar em silêncio. O Silêncio é fonte de cura. O não compartilhar uma revelação
pode ser estratégia de Deus para nossa cura. Existem coisas que Deus tem
ministrado em minha vida que preciso curtir como um vinho antigo. Muitas vezes
preciso colocar minhas experiências na adega do meu coração. Um dia poderei
servir o bom vinho que foi depurado e preparado. Muitas vezes não consigo
discernir a vida e a minha história. Preciso ter certa distância para enxergar
melhor como uma presbiopia espiritual. Deve ter sido difícil Pedro, Tiago e
João guardar os acontecimentos do Tabor. Só depois de muito tempo que Pedro
escreve: “Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da
magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em
quem me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com
ele no monte santo - 2
Pedro 1:17,18. Pedro escreveu esta carta entre 65 e 68 dC. Ou seja, cerca de 34
anos depois do acontecimento. Os apóstolos relataram aos evangelistas. Mas
Pedro fala do seu discernimento somente 34 anos depois. Muitas vezes estamos
apressados para tentar discernir a voz de Deus. Queremos uma chave para
decifrar tudo. Mas não é assim a revelação. Deus deseja que estejamos abertos a
obedecer, esperar e ficar em silêncio. Um dia relataremos tudo. Um dia teremos
pleno discernimento. Precisamos aprender a praticar o silêncio. A terapia do
silêncio.
No Livro “O
Peregrino Russo”, um monge abre a Filocalia, e escolhe uma passagem de São
Simeão, o Novo Teólogo (949-1022 dC) e
ensina: "Permanece sentado no silêncio e na solidão, inclina a cabeça,
fecha os olhos; respira mais devagar, olha, pela imaginação, para o interior de
teu coração, concentra tua inteligência, isto é, teu pensamento, da tua cabeça
para teu coração. Dize, ao ritmo da respiração: "Senhor Jesus Cristo,
tende piedade de mim", em voz baixa, ou simplesmente em espírito.
Esforça-te para afastar todos os pensamentos, sê paciente e repete muitas vezes
esse exercício".
Depois de uma
longa caminhada o Peregrino relata: “eu sentia grande desejo de recolhimento,
de ficar em silêncio. A oração irrompia no meu coração e eu precisava de calma
e quietude para deixar essa chama subir livremente e para esconder um pouco os
sinais exteriores da oração: lágrimas, suspiros, expressões do rosto, murmúrios
dos lábios”.
A
espiritualidade do Silêncio está disponível a todos. O Peregrino diz: “Qualquer
pessoa pode fazer a mesma coisa. Basta mergulhar mais silenciosamente no fundo
do seu coração e invocar mais o nome de Jesus Cristo: imediatamente se descobre
a luz interior, tudo fica mais claro e, nessa clareza, aparecem certos
mistérios do Reino de Deus”.
Efrém, o Sírio
(306-373 dC) dizia: "Um bom discurso é de prata, mas o silêncio é de ouro
puro".
A recomendação
do Peregrino aos novos monges era: “Refugiai-vos no silêncio de vossa cela,
lede e relede o evangelho". E comenta: “Eis, pois, o motivo pelo qual me
prendo ao evangelho exclusivamente”.
A
conclusão do Impacto.
Pedro
não sabendo o que dizer falou (4): “Senhor,
bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra
para Moisés, outra para Elias”.
Jesus não o repreende pela sugestão.
Sabemos que o Pai não queria que Pedro construísse três tendas, mas que ouvi-se
Jesus. Contudo a experiência ficou em seu coração. “Bom é estarmos aqui”. E Pedro
ficou ali para sempre. Ele desceu do Monte, mas o Monte nunca desceu do seu
coração. Levou o rosto brilhante de Jesus.
Por isso, mesmo no pecado da madrugada da sexta-feira santa
quando negou Jesus três vezes, Pedro não desistiu de seguir o Senhor e se
arrependeu. O monte continuou em seu coração. Ainda via o rosto de Cristo
brilhando em sua frente. “Bom é estarmos aqui”.
A pessoa que um dia gozou da
experiência com Cristo e se perdeu no caminho, chora por dentro porque um dia
perdeu o que era “bom”.
Podemos e devemos descer do monte e enfrentar as situações
do cotidiano, mas o Monte nunca poderá descer da nossa vida. A face de Cristo
precisa continuar brilhando em nossos olhos e mentes. Mesmo vendo o Jesus
transfigurado pelas chicotadas e sangue, precisamos ver o brilho em seu rosto e
nos erguer. “Erguei-vos e não temais”.
Que saiamos do retiro da Transfiguração com o brilho do
Jesus ressuscitado em nossa face. Em Nome de Jesus. Amém.
Versículos Bíblicos sobre a Vida
Transfigurada:
Ainda um
pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós
vivereis. João 14:19
Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se
entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:20
Mas, como é
santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de
viver; 1 Pedro 1:15
Porque esta
é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da
fornicação; 1 Tessalonicenses 4:3
Porque não
nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. 1
Tessalonicenses 4:7
Segui a paz
com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; Hebreus 12:14
Mas agora,
libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para
santificação, e por fim a vida eterna.Romanos 6:22
Que cada um
de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra; 1
Tessalonicenses 4:4
Nem a
altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. Romanos 8:39
Porque
todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Gálatas 3:27
Mas agora
em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo
chegastes perto. Efésios 2:13
Bendito o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as
bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Efésios 1:3
Irmãos,
quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que,
esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante
de mim,
Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus.
Filipenses
3:13,14
Antonio Barluzzi (Roma, 26 de setembro de 1884 – 14 de dezembro de 1960) foi um frade
franciscano e arquiteto italiano, célebre como "arquiteto da Terra
Santa"