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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 5 a 7)
Capítulo V – As contradições dos
escritores profanos (cont.)
Assim, a opinião dos filósofos e
escritores é contraditória. Tendo esses feito tais afirmações, o poeta Homero
vai por outro caminho para cantar-nos a origem não só do mundo, mas também dos
deuses. Ele diz em algum lugar: “Ao Oceano, origem dos deuses, e à mãe Tétis,
donde se originam os rios e todo ornar.” Na verdade, assim falando, ele não nos
apresenta nenhum Deus, pois quem não sabe que o oceano é água? Ora, se é água,
conclui-se que não é Deus. E se Deus é o criador do universo, como de fato o é,
também é criador da água e dos mares.
Quanto a Hesíodo, ele não só explicou a
origem dos deuses, mas também do próprio mundo. Ele disse que o mundo foi
criado, mas não teve coragem de dizer por quem. Além disso, disse que são
deuses, Cronos e seu filho Zeus, Posêidon e Plutão, e vemos que estes foram
posteriores ao mundo. Conta-nos também como Cronos foi combatido pelo seu
próprio filho Zeus, pois diz o seguinte: “Vencendo seu pai Cronos por sua
própria força; de- pois, devidamente imortal, ordenou tudo e delimitou as
honras”.
Depois continua falando das filhas de
Zeus, às quais chama de Musas e diante das quais se apresenta como suplicante,
querendo saber delas de que modo tiveram princípio todas as coisas. Ele diz:
“Salve, filhas de Zeus, dai-me o amável canto. Celebrai a linhagem dos
afortuna-dos imortais, os que existem para sempre, que nasceram da terra, do
céu estrelado, da noite tenebrosa e os que foram criados pelo mar salgado.
Dizei-me como primeiro nasceram os deuses, a terra, os rios e o mar infinito,
que ferve de ondas, os astros brilhantes, o céu estendido lá em cima, como
repartiram a opulência e distribuiram honras, e também como chegaram a possuir
o Olimpo de mil recantos. Dizei-me isso, Musas, que tendes as moradas olímpicas
desde o princípio, e dizei o que existiu primeiro.” Todavia, como as Musas
poderiam saber isso se são posteriores ao mundo? Como poderiam contar isso a
Hesíodo, se o pai delas ainda não havia nascido?
Capítulo VI – As contradições dos
escritores profanos (cont.)
De certo modo, ele supõe a matéria e a
criação do mundo, quando diz: “Primeiro existiu o Caos e depois a terra de
largo seio, assento firme para sempre de todos os imortais, que ocupam os cumes
do Olimpo nevado e o tenebroso Tártaro, seio da terra de largos caminhos; e foi
Eros, o mais belo dos deuses imortais, que afrouxa os membros e vindo ao
coração de todo ser, homem ou deus, domina a razão e o discreto conselho. O
Erebo e a Noite negra nasceram do Caos: a Terra gerou primeiro aquilo que é
semelhante a si, o Céu estrelado, para que ele lhe servisse como cobertura, e
fosse para sempre assento firme para os afortunados deuses. Gerou as altas
montanhas, graciosas moradas de deusas e das ninfas que habitam pelos montes
escarpados. Pariu também o Mar infecundo, que ferve de ondas, o alto Mar, sem
paixão amorosa; mas depois, em relação com o Céu, pariu o Oceano de profundos
turbilhões”.
Dizendo tudo isso, nem mesmo assim
declarou por quem foram feitas as coisas. Com efeito, se antes existia o caos e
preexistia certa matéria incriada, quem foi que estabeleceu esta e depois a
ordenou e transformou? Teria sido, por acaso, a matéria, que se transformou e
ordenou a si mesma? De fato, Zeus aparece muito depois, não só da matéria, mas
do mundo e da multidão de homens, e o próprio Crono, seu pai. Ou não foi antes
algo principal que a criou, isto é, Deus que a pôs em ordem?
Além disso, vê que Hesíodo diz apenas
bobagens e contradiz a si próprio de mil maneiras. Com efeito, tendo falado da
terra, do céu e do mar, quer que deles nasçam os deuses e destes nos anuncia
alguns homens extraordinários, parentes dos deuses, a raça dos titãs, dos
ciclopes, a multidão dos gigantes e dos demônios egípcios, ou homens vãos,
mencionados por Apolônides, de sobrenome Horápio, no livro intitulado Semenuthi
e noutras histórias suas sobre a religião e seus reis.
Capítulo VII – As contradições
dos escritores profanos (cont.)
Que necessidade tenho de falar dos
mitos gregos e de sua futilidade? Plutão, rei das trevas; Posêidon que se
coloca sob o mar e se abraça com Melanipa, gerando um filho que devora os
homens! E o que dizer das tragédias que os vossos escritores compuseram sobre
os filhos de Zeus? Como nasceram homens e não deuses, eles nos podem traçar sua
genealogia. Ai está o cômico Aristófanes que na sua peça Os pássaros, pondo-se
a contar a criação do mundo, disse que no princípio nasceu um ovo como
composição única do mundo: “Antes de tudo, a de negras asas pariu um ovo”. E
Sátira, historiador das famílias alexandrinas, começando por Filopátor, chamado
também Ptolomeu, afirma que este se originou de Dioniso, e daí Ptolomeu deu o
primeiro lugar à tribo dionisíaca. Sátira, portanto, diz o seguinte: De Dioniso
e Altéia, filha de Téstio, nasceu Dejanira; desta e Héracles, filho de Zeus,
nasceu Hilo; deste nasceu Cleodemo; deste nasceu Aristômaco; deste nasceu
Têmeno; deste nasceu Criso; deste nasceu Marão; deste ansceu Téstio; deste
nasceu Acoos; deste nasceu Cena; deste nasceu Tirimas; deste nasceu Perdicas;
deste nasceu Filipe; deste nasceu Aéropo; deste nasceu Alceta; deste nasceu
Amintas; deste nasceu Bocro; deste nasceu Meleagro; deste nasceu Arsinoe; desta
e de Lagos nasceu Ptolomeu Soter; deste e de Berenice nasceu Ptolomeu
Filadelfo; deste e de Arsinoe nasceu Ptolomeu Evergetes; deste e de Berenice,
filha de Magas, rei de Cirine, nasceu Ptolomeu Filopátor. Esse é, portanto, o
parentesco entre Dioniso e os reis de Alexandria. Daí também a tribo dionisíaca
toma a sua divisão em famílias: a Altaida, de Altéia, que foi mulher de Dioniso
e filha de Téstio; a Dejanírida, da filha de Dioniso e Altéia, mulher de
Héracles, de onde recebem também seus nomes as famílias que deles descendem; a
Ariádnida, da filha de Minos, mulher de Dioniso, filha enamorada de seu pai,
que se uniu com Dioniso, este sob a forma de marinheiro; a Téstida, de Téstio,
o pai de Altéia; a Toântida, de Toante, filho de Dioniso; a Estafília, de
Estáfilo, filho de Dioniso; a Evênida, de Eunoo, filho de Dioniso; a Marônida,
de Marão, filho de Ariadne e Dioniso. Todos esses foram filhos de Dioniso.
Existem ainda muitas outras denominações que se conservam até o presente: os
Heráclidas, de Héracles; os Apolônidas, de ApoIo; os Poseidônidas, de Posêidon;
os Diones e Diógenes, de Zeus.
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O que desejo destacar no texto?
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Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?