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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Teófilo de Antioquia (†181)
Segundo Livro a Autólico (Capítulo 8 - 11)
Capítulo VIII – As contradições
dos escritores profanos (cont.)
Para
que prosseguir enumerando a multidão dessas denominações e genealogias?
Concluindo, todos os chamados historiadores, poetas e filósofos se enganam de
todos os modos, e o mesmo acontece com aqueles que lhes dão atenção. Com
efeito, escreveram apenas contos, ou melhor, tolices sobre seus deuses. Não
demonstraram que são deuses, mas homens, alguns bêbados, outros dissolutos e
assassinos.
Da
mesma forma, o que disseram sobre a origem do mundo é contraditório e sem
valor. Em primeiro lugar, alguns afirmaram que o mundo é incriado, corno antes
notamos, e os que disseram que o mundo é incriado e que a natureza é eterna
estão em contradição com aqueles que têm por dogma a criação. Com efeito,
falaram tudo isso por conjecturas e imaginação humana, e não conforme a
verdade. Uns disseram que existe providência e outros lançaram por terra as
doutrinas destes. Arato, por exemplo, diz: “Comecemos por Zeus, a quem nós,
homens, jamais devemos deixar sem nomear, pois todas as ruas estão cheias de
Zeus e também todas as praças dos homens, e cheios estão o mar e os portos; em
todo lugar nos valemos todos de Zeus. E somos da sua mesma raça. Ele é benigno
para com os homens, com augúrios favoráveis, e desperta as pessoas para o
trabalho, recordando-lhes a vida. Ele nos diz quando a terra é melhor para os
bois e para as enxadas; diz-nos qual é a melhor estação, seja para recolher
feixes, seja para lançar toda semente.”
Em
quem vamos crer? Em Arato ou em Sóflocles, que diz: “Não existe em nada
providência clara; o melhor é viver ao acaso, cada um corno puder.” Homero,
porém, não concorda com este, pois diz: “Zeus aumenta ou diminui o valor dos
homens”. E Simônides: “Ninguém recebeu valor sem os deuses, nenhuma cidade,
nenhum mortal; Deus é a inteligência universal, enquanto nada está sem defeito
nos mortais”. O mesmo diz Eurípides: “Sem Deus não existe nada para os homens”.
E Menandro: “Além de Deus, ninguém cuida de nós”. E de novo Eurípides: “Quando
agrada a Deus salvar-nos, ele nos dá muitas ocasiões de salvação.” E Téstio:
“Se Deus quer, tu te salvarás, mesmo que navegues sobre uma esteira”.
Com
sentenças infinitas não como essas, eles não concordam em suas declarações.
Sófocles, que em outra passagem fala contra a providência, agora diz: “O mortal
não pode se esquivar dos golpes divinos”. De outro lado, algumas vezes
apresentam uma multidão de deuses, outras falam do poder de um só; os que
afirmam que existe providência são contraditos por aqueles que afirmam a
improvidência. E daí Eurípides confessa: “Nós nos afanamos em muitas coisas por
causa de nossas esperanças trabahando em vão, sem nada saber ao certo”.
Mesmo
sem querer, eles confessam que não conhecem a verdade. São os demônios que os
inspiram, que os fazem dizer o que lhes inspiram.
Os
poetas, como Homero e Hesíodo, não são, como dizem, inspirados pelas musas,
para fazer palavreados, conforme as divagações da imaginação? Aí não há um
espírito puro, mas enganador. Prova clara disso temos em que às vezes os
endemoninhados, e há casos até hoje, conjurados em nome do Deus verdadeiro,
confessaram que os espíritos do erro são demônios, os mesmos que agiram em
outros tempos sobre os poetas. Algumas vezes, porém, certos poetas tiveram a alma
livre desses demônios e falaram coisas no mesmo sentido que os profetas, a fim
de que servissem de testemunho para eles e para todos os homens a respeito do
poder de um só Deus, do seu julgamento e do resto que disseram.
Capítulo IX – Os autores sacros
Em
troca, os homens de Deus, que foram portadores de um espírito santo e profetas,
recebendo de Deus inspiração e sabedoria, tomaram-se discípulos de Deus, e
santos e justos. Por isso foram considerados dignos de receber a recompensa de
se converterem em instrumento de Deus e terem parte em sua sabedoria. É sob a
influência dessa sabedoria que falaram sobre a criação do mundo e sobre tudo o
mais. Também profetizaram sobre pestes, fomes e guerras. E os profetas não
foram um ou dois, mas muitos que, conforme as circunstâncias, se encontraram
entre os hebreus, como também entre os gregos a Sibila, e todos disseram coisas
que concordam entre si, tanto sobre os acontecimentos anteriores a eles, como
sobre aqueles que sucederam depois e ainda os acontecimentos do seu tempo e os
que se realizam entre nós no presente. Também estamos persuadidos de que assim
acontecerá com as coisas que estão por vir do mesmo modo que se realizaram
antes.
Capítulo X – Ensinamento dos
autores sacros sobre cosmologia (cosmologia é o estudo da criação do mundo).
Em
primeiro lugar, eles estão de acordo em nos ensinar que do nada Deus tirou
todas as coisas. Com efeito, nada foi coetâneo com Deus: ele próprio é o seu
lugar, não conhece a necessidade e é anterior a todas as coisas. Mas ele quis
criar o homem, que o conheceu. Finalmente, foi para o homem que ele preparou o
mundo, pois aquele que é criado tem necessidades; mas o incriado de nada
necessita.
Tendo
Deus o seu Verbo imanente em suas próprias entranhas, gerou-o com a sua própria
sabedoria, emitindo-o antes de todas as coisas. Teve este Verbo como ministro
da sua criação e por meio dele fez todas as coisas. Este se chama Princípio,
pois é Príncipe e Senhor de todas as coisas por ele feitas. Este, portanto, que
é espírito de Deus e Princípio e Sabedoria e Força do Altíssimo, desceu sobre
os profetas, e por meio deles falou sobre a criação do mundo e tudo o mais. De
fato, não existiam profetas quando o mundo era feito; existia, porém, a
sabedoria que nele estava, e o seu Verbo santo, que sempre estava presente a
ele. Daí ele dizer por meio do profeta Salomão: “Quando ele preparava o céu, eu
estava com ele, e quando ele afirmava os alicerces da terra, eu estava junto
dele, harmonizando tudo”.
Moisés,
que viveu muitos anos antes de Salomão, ou melhor, o Verbo de Deus, que se
serve dele como instrumento, diz: “No princípio fez Deus o céu e a terra”. Suas
primeiras palavras são para o princípio e a criação, e depois acrescenta o nome
de Deus, porque não se deve tomar o nome de Deus em vão ou sem motivo. A
sabedoria divina sabia antecipadamente que alguns iriam dizer tolices e dar o
nome de Deus a muitas coisas que não têm ser. Portanto, para que o verdadeiro
Deus fosse conhecido por suas obras e para que se saiba que em seu Verbo Deus
fez o céu e a terra e tudo o que eles contêm, disse: “No princípio fez Deus o
céu e a terra”. Depois, a respeito da sua criação, ele nos explica: “A terra
era invisível e informe, as trevas estavam sobre o abismo, e um espírito de
Deus pairava acima da água”.
É
assim que se inicia o ensinamento da Escritura divina: como foi criada e
nascida de Deus uma matéria, com a qual Deus fez e formou o mundo.
Capítulo XI – Ensinamento dos
autores sacros sobre cosmologia (cont.)
O
começo da criação foi a luz, porque é ela que manifesta o ornamento da criação.
Por isso diz: “E disse Deus: ‘Haja luz’, e a luz se fez. E Deus viu que a luz
era boa”. -Evidentemente, foi criada como coisa boa para o homem. -“Colocou uma
separação entre a luz e as trevas, e Deus chamou a luz dia e as trevas chamou
noite. Houve uma tarde e houve uma manhã: um dia. E disse Deus: ‘Haja um
firmamento no meio da água e separe entre água e água. E assim se fez. E fez
Deus o firmamento e colocou uma separação entre a água que estava por cima do
firmamento e a água que estava por baixo do firmamento. E Deus chamou o
firmamento céu. E Deus viu que era bom. Houve tarde e houve manhã: segundo dia.
E disse Deus: ‘Reúna-se a água que está debaixo do céu numa só reunião, e
apareça a terra seca’. E assim se fez. A água se reuniu em suas reuniões, e a
terra seca apareceu. E chamou Deus a terra seca terra e as reuniões de águas
chamou mares. E Deus viu que era bom. E Deus disse: ‘Que a terra faça brotar
toda erva verdejante, produzindo semente conforme a sua espécie e semelhança, e
árvores frutíferas que produzam frutos, que tragam em si a sua semente conforme
a sua semelhança’. E assim se fez. A terra produziu erva verdejante que produz
semente conforme a sua espécie, e árvores frutíferas que produzem frutos, que
trazem em si sua semente conforme a sua espécie, sobre a terra. E Deus viu que
era bom. Houve tarde e houve manhã: terceiro dia.
E
disse Deus: ‘Haja luzeiros no firmamento do céu para iluminar a terra e para
separar o dia e a noite, e servir como sinais para as estações, para os dias e
para os anos, e para iluminar no firmamento do céu e para brilhar sobre a
terra’. E assim se fez. E Deus fez os dois grandes luzeiros, o luzeiro maior
para governar o dia, e o luzeiro menor para governar a noite, e também as
estrelas. E Deus os colocou no firmamento do céu, para iluminar a terra e
governar o dia e a noite, e colocar uma separação entre a luz e as trevas. E
Deus viu que era bom. Houve tarde e houve manhã: quarto dia.
E
disse Deus: ‘Que as águas produzam répteis de alma vivente e aves que voam
sobre a terra debaixo do firmamento do céu’. E assim se fez. E Deus fez os
monstros grandes do mar, e toda alma dos animais que se arrastam, que as águas
produziram conforme suas espécies, e todo volátil alado segundo a sua espécie.
E Deus viu que era bom. E Deus os abençoou, dizendo: ‘Crescei e multiplicai-vos
e enche i as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra’. Houve
tarde e houve manhã: quinto dia.
E disse Deus: ‘Que a terra produza alma
vivente conforme a sua espécie, quadrúpedes e répteis e feras da terra segundo
a sua espécie’. E assim se fez. E Deus fez as feras da terra conforme a sua
espécie e os animais segundo a sua espécie, e todos os répteis da terra. E Deus
viu que era bom. E disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e que
ele comande os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, toda a
terra e todos os répteis que rastejam sobre a terra’. E Deus fez o homem, à
imagem de Deus o fez, homem e mulher os fez. E os abençoou, dizendo: ‘Crescei e
multiplicai-vos; enchei a terra e dominai-a, ordenai aos peixes do amar, às
aves do céu, a todos os animais, a toda a terra e a todos os répteis que se
arrastam sobre a terra’. E Deus disse: Vede! Eu vos dei toda planta que traz
semente, que espalha semente sobre toda a terra e toda árvore que tem fruto com
semente, para que vos sirvam de alimento, e a todos os animais da terra, a
todas as aves do céu e a todo réptil que se arrasta sobre a terra, que tem em
si alento de vida, toda erva verde para alimento’. E assim se fez. E Deus viu
tudo o que ele havia feito; e eis que isso era muito bom. Houve uma tarde e uma
manhã: sexto dia. E o céu e a terra foram terminados, juntamente com todo o seu
ornamento. E Deus terminou no sexto dia as obras que fizera, e descansou no
sétimo dia de todas as obras que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o
santificou, porque nele descansou de todas as obras que Deus começara afazer.”
·
O que desejo destacar no texto?
·
Como este texto serviu para a
minha espiritualidade?
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