domingo, 24 de fevereiro de 2019

86 - Tertuliano de Cartago (155-220) Apologia (Capítulo 17-19)


Resultado de imagem para oesi Grupo de estudo
86
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Tertuliano de Cartago (155-220)
Apologia (Capítulo 17-19)


CAPÍTULO XVII 
O objeto de nossa adoração é um Único Deus que, por sua palavra de ordem, sua sabedoria ordenadora, seu poder Todo-Poderoso, tirou do nada toda a matéria de nosso mundo, com sua lista de todos os elementos, corpos e espíritos, para glória de Sua majestade.
A essa criação, por tal razão, também os gregos lhe deram o nome de Cosmos. Os olhos não podem vê-Lo, embora seja (espiritualmente) visível. Ele é incompreensível, embora tenha se manifestado pela graça. Está além de nosso mais elevado entendimento, embora nossas faculdades humanas o concebam.
Ele é, portanto, igualmente real e magnífico. Mas o que, pelo senso comum, pode ser visto, percebido e concebido, é inferior ao que Ele é, ao que d'Ele se percebe, ao que d'Ele as faculdades vislumbram. Mas o que é infinito é conhecido somente por Ele mesmo.
Assim, damos alguma noção de Deus, enquanto, contudo, ele permanece além de todas as nossas concepções - nossa real incapacidade de completamente compreendê-Lo permite-nos ter a idéia do que Ele realmente seja. Ele se apresentou ao nosso conhecimento em sua transcendental grandeza, sendo conhecido e sendo desconhecido.
E tal coisa é a suma culpa dos homens, porque eles não querem reconhecer o Único a quem não podem ignorar. Poderíeis ter a prova pelas obras de Suas mãos, tão numerosas e tão grandes, que igualmente vos contém e vos sustentam, que proporciona tanto vosso prazer quanto vos comove com temor.
Ou poderíeis melhor senti-lo pelo testemunho de vossa própria alma? Embora sob o opressivo cativeiro do corpo, embora transviada por costumes depravados, embora enfraquecida pela concupiscência e paixões, embora na servidão de deuses falsos, contudo, quando a alma O procura, libertando-se do tédio e do torpor, movida por uma doença, e consegue um pouco de sua pureza natural, ela fala de Deus, não usando nenhum outro nome, porque este é o nome próprio do verdadeiro Deus.
"Deus é imenso e bom", "Que possa Deus dar", são as palavras que brotam de cada boca. Dão testemunho d'Ele, também, quando exclamam: "Deus vê", "Eu me recomendo a Deus" e "Deus me recompensará". Ó nobre testemunho da alma, por natureza cristã! Então, igualmente, usando palavras semelhantes a essas, a pessoa olha não para o Capitólio mas para os céus. Ela sabe que ali está o trono do Deus vivo, como se d'Ele e dali tudo proviesse. »

CAPÍTULO XVIII 
Mas, porque podemos alcançar um maior e mais autorizado conhecimento tanto d'Ele mesmo quanto de Seus apelos e desejos, Deus acrescentou uma revelação escrita para o proveito de todos aqueles cujos corações se colocam à sua procura, que procurando podem encontrá-lO e encontrando acreditar e acreditando obedecer-Lhe.
Porque primeiro Ele mandou mensageiros ao mundo - homens cuja pura retidão os tornaram dignos de conhecer o Altíssimo e de revelá-Lo - homens abundamtemente iluminados pelo Santo Espírito, que alto proclamaram que há um só Deus que fez todas as coisas, que formou o homem do pó da terra.
Ele é o verdadeiro Prometeu que ordenou o mundo, estabelecendo as estações em seu curso. Aqueles homens mais provas ainda nos deram. Deus mostrou Sua majestade em seus juízos, por inundações e fogo, nos mandamentos indicados por Ele para se obter seu favor, assim como a retribuição guardada para quem os ignora, os renega ou os guarda, pois que quando chegar o fim de todas as coisas, julgará seus adoradores para a vida eterna e os culpados para a mansão do fogo eterno e inextinguível, ressuscitando todos os mortos desde o início dos tempos, reformando-os e renovando-os com o objetivo de premiá-los ou castigá-los.
Um dia, tais coisas foram para nós, também, tema de ridículo. Nós somos de vossa geração e natureza: os homens se tornam, não nascem cristãos!
Os pregadores dos quais temos vos falado são chamados profetas, por causa do ofício que lhes pertence de predizer o que virá. Por sua palavras, tanto quanto pelos milagres que fizeram, esses homens podem merecer fé em sua autoridade divina.
Conservamos, ainda, em tesouros literários que permanecem disponíveis a todos, o que eles transmitiram. Ptolomeu, dito Filadelfo, o mais letrado de sua raça, uma homem de vasto conhecimento em toda a literatura, que se iguala, acho, pelo seu amor aos livros, com Pisístrato, entre outros, sobreviveu aos tempos, e, seja por sua antigüidade, seja por seu peculiar interesse, se tornou famoso.
Esse Ptolomeu, por sugestão de Demétrio de Falero, que foi reconhecido superior a todos os gramáticos de seu tempo, lhe entregou a tarefa de tratar do assunto relacionado aos escritos dos judeus. Isto é, aos característicos escritos dos judeus e de sua língua, que somente eles falavam, como povo querido de Deus, demonstrado isso na salvação de seus antepassados, povo do qual os profetas sempre se provieram e ao qual sempre pregavam.
Nos tempos antigos, o povo que chamamos judeus usavam o nome de hebreus e falavam o hebraico, língua em que foram redigidos seus escritos. Mas como para o entendimento de seus livros assim se fizesse necessário, os judeus pediram a Ptolomeu que lhe deixassem indicar setenta e dois tradutores, homens que o filósofo Menedemos, reconhecido como indicado por uma Providência, aceitou com respeito, já que compartilhava de seus pontos de vista.
A mesma história é contada por Aristos. Assim, o rei desvendou aquelas obras a todos, na língua grega. Até nossos dias a biblioteca de Ptolomeu se encontra à disposição de todos, no templo de Serápis, na qual estão também os originais idênticos hebreus.
Os judeus, por sua vez, lêem esses livros publicamente. Pagando uma taxa de liberação, têm o hábito de ir ouvi-los todos os sábados. Quem quer que tenha ouvidos neles encontrará Deus, quem quer que se aplica em entendê-los, será levado a crer. »

CAPÍTULO XIX 
A grande antigüidade, antes de tudo, dá autoridade àqueles escritos. Vossa religião, também, pede fé baseada no mesmo fundamento.
Sim, todas as substâncias, todos os materiais, as origens, classes, conteúdos de vossos mais antigos escritos, além da maioria das nações e cidades ilustres que recordam o passado e são notáveis por sua antigüidade nos livros de anais, as próprias formas de vossas cartas, tudo que revela e conserva os acontecimentos, e - penso que falo coerentemente - vossos próprios deuses, vossos próprios tempos, oráculos e ritos sagrados são menos antigos do que a palavra de um único profeta, no qual encontrareis o tesouro da integral religião judia e, consequentemente, da nossa.
Caso tenhais ouvido falar de um certo Moisés, digo-vos que ele é muitíssimo mais antigo do que o argeu Ínaco, em aproximadamente quatrocentos anos. Ele é anterior a Dânaos, vosso mais antigo nome. Antecedeu por um milênio a morte de Príamo. Posso afirmar, também, que viveu quatrocentos anos antes de Homero, existindo fundamentos para essa afirmação.
Os outros profetas, também, embora de datas posteriores, são, mesmo os mais recentes, tão antigos quanto o primeiro de vossos filósofos, legisladores e historiadores. Aqui faço apenas uma afirmação, não apresentando as provas, não tanto porque isso é difícil, mas devido à amplitude da apresentação de toda a fundamentação.
O trabalho não seria somente árduo, mas sobretudo tedioso. Requereria o apressado estudo de muitos livros, os dedos ocupados em folheá-los. As histórias das mais antigas nações, tais como dos Egípcios, dos Caldeus, dos Fenícios teriam de ser exploradas.
Igualmente teriam de ser consultados para apresentarem seus testemunhos homens dessas várias nações, com suas informações. Mâneto, o Egípcio, Beroso, o Caldeu, e Hierão, o Fenício, rei de Tiro, assim como seus sucessores, Ptolemeu o Mendesiano, Demétrio de Falero, O Rei Juba, Apião, Thallo, e o crítico de todos eles, Josefo, da própria nação judia, o pesquisador da história antiga de seu povo, que os confirma ou os refuta. Igualmente, deveriam ser postas lado a lado as listas dos censores gregos, e esclarecidas as datas dos acontecimentos, para que as conexões cronológicas pudessem ser feitas, bem como usadas as narrativas dos vários anais para lançar mais luz sobre o assunto.
Deveríamos seguir aprofundando as histórias e literaturas de todas as nações. Mas, de fato, já vos trouxemos a prova parcial, fornecendo-vos as sugestões de como o estudo poderia ser realizado.
Parece-nos melhor deixarmos para outra ocasião a discussão disso tudo, com receio de que em nossa pressa não possamos aprofundá-lo suficientemente, ou de que no manuseio disso tudo façamos uma digressão demasiadamente extensa. »

O que você destaca no texto?
Como ele serviu para sua espiritualidade?




Nenhum comentário:

Postar um comentário