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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e
Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Oração do
Senhor (12-13)
12.
Mas livra-nos do mal.
Depois disso tudo, completando a oração, vem a petição final
que, numa síntese brevíssima, conclui todos os nossos pedidos e súplicas.
Dizemos, pois, em último lugar: “Mas livra-nos do mal”, compreendendo [aqui]
todas as adversidades que o inimigo pode maquinar contra nós neste mundo.
Podemos ter proteção firme e segura contra elas se Deus nos
livrar delas, se ele o conceder aos que suplicam e imploram o seu auxílio. Tendo
dito “livra-nos do mal”, nada mais resta que se deva pedir, pois já pedimos, numa
só vez, a proteção de Deus contra o mal.
Conseguida essa proteção, estamos seguramente guardados
contra as maquinações do diabo e do mundo.
Com efeito, que medo do mundo poderia existir para quem, no
século, tem a Deus por guarda?
Que há de estranho, irmãos caríssimos, que seja as sim a
oração que Deus ensinou, reunindo, com o seu ensinamento, toda a nossa prece
nestas palavras salutares?
Isso já fora anunciado pelo profeta Isaías, quando, cheio do
Espírito Santo, falou da majestade e da misericórdia de Deus: “O Senhor resume
a justiça numa palavra perfeita, pois pronunciará uma lei breve em toda a
terra”.
E quando o Verbo de Deus, Jesus Cristo Senhor Nosso, veio
para todos, reunindo doutos e indoutos, os sexos e as idades, e deu a todos os
seus preceitos de salvação, fez desses seus preceitos uma grande síntese, de
maneira a não exigir grande memória daqueles que os aprendem na disciplina celeste,
mas que rapidamente se retivesse o que é necessário para a fé simples.
Assim, ao ensinar o que é a vida eterna, condensou todo o
mistério dessa sublime e divina vida, dizendo: “Esta é a vida eterna, que te
conheçam a ti como único e verdadeiro Deus e Aquele que enviaste, Jesus
Cristo”. (Jo 17.3).
E novamente, quando indagou pelos primeiros e maiores
preceitos da lei e dos profetas: “Ouve Israel, o Senhor teu Deus é o único Deus”
(Dt 6.4).
“E amarás ao Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a
tua alma e com toda a tua força. Esse é o primeiro mandamento. O segundo é
semelhante a esse: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os
profetas decorrem desses dois mandamentos”. (Lc 10.27).
E mais uma vez: “Todo o bem que quiserdes que os homens vos
façam, fazei-o igualmente a eles; pois nisso consistem a lei e os profetas”.
(Mt 7.12).
O Senhor nos ensinou a orar não somente por palavras, mas
igualmente por fatos. Orando e suplicando frequentemente, ele nos demonstrou,
pelo seu exemplo, o que era necessário que fizéssemos; conforme está escrito:
“Ele, porém, retirou-se para um lugar solitário, onde se pôs a orar”. (Lc 5.16).
Outra vez: “Subiu [o Senhor] ao monte para orar e passou a
noite em oração a Deus” (Lc 6.12).
Portanto, se Ele, que não tinha pecado, orava, quanto mais o
devemos fazer nós pecadores! Se ele orava sem descanso, em noites inteiras sem
dormir e com preces contínuas, quanto mais nós devemos passar as noites em
vigília para orar!
O Senhor orava e suplicava, mas não para si. De fato, que
poderia suplicar para si, se era inocente? Suplicava pelos nossos pecados,
conforme ele mesmo declara, quando diz a Pedro: “Eis que Satanás pediu para vos
peneirar como trigo; eu, entretanto, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça”. (Lc 22.31,32).
E, em seguida, ora ao Pai por todos, dizendo: “Rogo não
apenas por eles, mas por aqueles que, pelo anúncio deles, virão a crer em mim,
para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, a fim de
que sejam um em nós”. (Jo 17.20).
Grande é a bondade e a misericórdia do Senhor para nossa
salvação, de modo que, não contente em redimir-nos com o seu sangue, roga ainda
por nós mais largamente.
Notai bem, porém, qual era o seu desejo ao rogar: assim como
o Pai e o Filho são um, assim também nós permaneçamos na unidade.
Daí podemos compreender a gravidade da falta de quem quebre
a paz e a unidade. Por elas rogou o Senhor, isto é, desejando que o seu povo as
vivesse, sabendo que a discórdia não entra no Reino de Deus.
13.
Ao orar, evitem-se as distrações
Quando nos dispomos à oração, irmãos diletíssimos, devemos
estar atentos e entregar-nos à prece de todo o coração.
Que se afaste de nós todo pensamento carnal e mundano, e que
a nossa mente não se desvie um só instante do objeto de nossa oração.
Por isso, o sacerdote prepara o espírito dos irmãos para a
oração, no prefácio que a precede, dizendo (Hipólito Romano – 170-235):
“Corações ao alto”.
Assim, ao responder “O nosso coração está em Deus”, o povo
sabe que não deve pensar senão no Senhor. Cerre-se o peito ao inimigo e abra-se
exclusivamente a Deus.
Que o inimigo nem sequer possa aproximar-se no tempo da
oração. Pois ele se insinua frequentemente, penetra enganando-nos sutilmente e
desvia de Deus as nossas orações, para que tenhamos uma coisa no coração e
outra na voz, quando devemos orar a Deus com intenção sincera, não pelo som da voz,
mas pelo espírito e o sentido.
Que negligência é, pois, distrair-te, deixar-te conduzir por
pensamentos tolos e profanos quando oras, como se pudesse haver algo em que
mais devesses pensar que naquilo que falas a Deus.
Como pedes a Deus que te ouça, se tu mesmo não te ouves? Queres
que o Senhor se lembre de ti quando tu mesmo não te lembras de ti?
Isso é não acautelar-se com o inimigo; isso é ofender, pela
negligência no orar, a majestade de Deus; isso é estar vigilante com os olhos e
dormir com o coração, enquanto o cristão deve estar em vigília com o coração, mesmo
quando os olhos dormem, conforme está escrito da figura da Igreja, da qual se
fala no Cântico dos Cânticos: “Eu durmo, mas meu coração vigia” (Ct 2.5).
Por causa disso o apóstolo adverte solícita e
cautelosamente, dizendo: “Sede perseverantes e vigilantes na oração (Cl 4.2)”,
ensinando e mostrando que só podem conseguir o que pedem aqueles que Deus vê
vigilantes em oração.
14.
Oração e caridade
15.
As horas canônicas
O que você
destaca no texto?
Como ele te
auxilia em sua vida espiritual?