domingo, 7 de junho de 2020

138 - Cipriano de Cartago (210-258) A Unidade da Igreja – Partes 9 e 10



Teologia Luterana: Comemoração de Cipriano de Cartago, Pastor e ...

138
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Unidade da Igreja – Partes 9 e 10



9. Reconduza-se à unidade quantos possível
Quanto a mim, irmãos caríssimos, desejo e igualmente aconselho e exorto a que, na medida do possível, não pereça um só irmão; que a mãe (a Igreja) acolha em seu seio, cheia de alegria, o corpo indiviso do povo cordato.
Caso, porém, não se possa reconduzir ao caminho da salvação alguns chefes cismáticos e provocadores de separação que permaneçam cega e obstinadamente em sua insânia, ao menos vós, surpreendidos pela boa-fé e que fostes induzidos ao erro e enganados por alguma trapaça de desconcertante astúcia, ao menos vós, desatai-vos dos laços da mentira, libertai-vos dos passos incertos no erro, reconhecei o caminho seguro da estrada celestial.
Eis a palavra do Apóstolo que testemunha: “Nós vos ordenamos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, afastai-vos de todos os irmãos que andam sem ordem, em desacordo com a tradição de nós recebida”.[ 2Ts 3,6.]
E ainda: “Ninguém vos engane com palavras vãs; por causa disto a ira de Deus vem sobre os filhos da rebeldia. Não vos torneis seus cúmplices”.[ Ef 5,6-7.]
Deve-se, pois, afastar, fugir mesmo, dos delinquentes, para que não se venha a desviar do caminho, cair no mesmo crime dos que se associaram num péssimo caminhar e, juntos, andam pelas estradas do erro e do crime.
Há um só Deus e um só Cristo; uma só é sua Igreja, uma só é a fé [Cf. Ef 4,4-6.] e o povo reunido na sólida unidade do corpo pelo vínculo da concórdia.
A unidade não pode ser cindida; um corpo não pode ser dividido pela separação dos órgãos, nem despedaçado à vontade pela dilaceração das vísceras arrancadas.
Tudo que for separado violentamente do seio materno não pode continuar a viver e a respirar, perde a substância da salvação.
O Espírito Santo nos admoesta, dizendo: “Quem é o homem que quer a vida e deseja viver dias felizes? Domina tua língua quanto ao mal e não falem insidiosamente os teus lábios. Desvia do mal e faze o bem, busca a paz e segue-a”.[ Sl 34(33),13-15.]
O filho da paz deve buscar e seguir a paz; todo aquele que conhece e ama o vínculo da caridade deve dominar sua língua quanto ao mal da discórdia.
Já próximo de sua paixão o Senhor acrescentou aos mandamentos divinos e preceitos salutares o seguinte: “Eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz”.[ Jo 14,27.]
Deu-nos, portanto, esta herança, assegurando-nos, pela conservação da paz, todos os dons de sua promessa.
Se somos co-herdeiros de Cristo, permaneçamos na paz do Cristo; se somos filhos de Deus, devemos ser pacíficos. “Felizes”, disse Ele, “os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus”.[ Mt 5,9.]
Convém que os filhos de Deus sejam pacíficos, mansos de coração, simples no falar, concordes no afeto, aderindo-se mútua e fielmente pelos laços de unanimidade.

10. A custódia da unidade, imitando o exemplo da Igreja apostólica, salvaguarda do mal
Esta unanimidade outrora existiu, nos tempos apostólicos; o novo povo dos fiéis, cumprindo os mandamentos do Senhor, manteve sempre sua caridade.
A Escritura o prova dizendo: “A multidão dos que acreditavam, agiam numa única alma e intenção”.[ At 4,32.]
E de novo: “E todos perseveravam unanimemente em oração com as mulheres, com Maria, que fora mãe de Jesus, e seus irmãos”.[ At 1,14.]
Oravam, pois, com preces eficazes, podiam firmemente alcançar tudo que pedissem da misericórdia do Senhor.
Entre nós esta unanimidade está tão diminuída quanto debilitada está a liberalidade das boas obras.
Eles vendiam suas casas e suas riquezas; e, reservando para si tesouros no céu, ofereciam o preço aos apóstolos para que fosse distribuído em benefício dos necessitados.
Agora, porém, não só não damos nem os dízimos, como ainda, apesar do Senhor nos mandar vender,[ Cf. Mt 19,21.] compramos, para aumentar o nosso patrimônio.
Murchou-se em nós o vigor da fé, abateu-se a robustez dos fiéis. Por causa disso, olhando para os nossos dias, o Senhor exclama no seu Evangelho: “Quando o Filho do Homem vier, pensas que encontrará fé na terra?”.[ Lc 18,8.]
Assistimos ao que ele predisse. Não há mais fidelidade no modo de agir, nem no amor, no cumprimento da justiça, nem mesmo no temor de Deus.
Ninguém reflete no pavor das coisas futuras, ninguém considera o dia do Senhor, a ira de Deus, os suplícios que hão de vir para os incrédulos e os castigos eternos estabelecidos para os infiéis.
Se acreditássemos, por certo nossa consciência temeria; entretanto, como não cremos, também não tememos; se acreditássemos, por certo tomaríamos cuidado; se acreditássemos, libertar-nos-íamos.
Estejamos acordados, pois, irmãos caríssimos, tanto quanto podemos. Vigiemos, sacudido o sono de nossa antiga inércia, na observação e cumprimento dos preceitos do Senhor.
Sejamos tais quais ele nos mandou ser quando disse: “Estejam cingidos os vossos rins e acesas vossas lâmpadas; sede semelhantes a homens que esperam seu Senhor que deve voltar das núpcias, para que, quando ele vier e bater à porta, possam abri-la. Felizes os servos que o Senhor encontrar vigilantes quando voltar”.[ Lc 12,35-37.]
Convém que permaneçamos cingidos para que, ao chegar o dia, a partida não nos surpreenda impedidos ou embargados.
Que nossa luz brilhe e se irradie nas boas obras e nos conduza desta noite do século à luz da eterna claridade.
Aguardemos sempre, solícitos e precavidos, a vinda do Senhor que vem inesperadamente; assim, quando ele bater, nossa fé acordará para receber do
Senhor o prêmio de sua vigilância.
Se estes mandamentos forem guardados, se forem mantidas estas admoestações e estes preceitos, não poderemos, enquanto dormimos, ser oprimidos pela falsidade do diabo; e, quais servos vigilantes, reinaremos com o Cristo triunfante!

O que você destaca no texto?
Como ele te ajuda em sua espiritualidade?

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