quarta-feira, 3 de junho de 2020

137 - Cipriano de Cartago (210-258) A Unidade da Igreja – Partes 7 e 8


São Cipriano - O Bispo Abençoado De Cartago - Conheça Sua História ...


137
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Unidade da Igreja – Partes 7 e 8




7. A rebelião à autoridade divina é pior que o pecado dos lapsos
Outrora, caríssimos irmãos, já surgira este mal; mas agora agravaram-se suas investidas cruéis; surgem mais frequentemente, pululam os pestíferos venenos das perversas heresias e dos cismas.
O próprio Apóstolo anunciara, o Espírito Santo o predissera, assim haveria de ser o fim do mundo: “Nos últimos tempos virão dias difíceis, os homens serão egoístas, soberbos, arrogantes, ambiciosos, blasfemos, desobedientes a seus maiores, ingratos, ímpios, desafeiçoados, desleais, delatores, incontinentes, indóceis, sem amor ao bem, traidores, pertinazes, inchados de imbecilidade, antepondo o prazer ao amor de Deus, deformando a religião, rejeitando seu poder. Dentre eles, muitos se introduzirão nas casas e seduzirão mulheres cheias de pecados, que se hão de submeter a toda espécie de desejos; buscando sempre, e nunca alcançando a ciência da verdade. Assim como Janes e Jambres resistiram a Moisés, eles resistirão à verdade, sem nenhuma vantagem para si, pois sua estultice será manifesta a todos, assim como foi a daqueles outros”.[ 2Tm 3,1-9.]
Tudo o que foi predito está sendo cumprido para que, ao aproximar-se o fim deste mundo, os homens e os tempos sejam igualmente postos à prova.
Com o ataque cada vez mais cruel do adversário, o erro ilude, a estupidez se envaidece, a inveja se exaspera, a ambição cega a mente, a impiedade a deprava, a soberba a incha, a discórdia traz o furor com que a cólera arrebata.
Que a ilimitada e temerosa perfídia de muitos não nos abale nem nos perturbe, mas sirva para corroborar nossa fé que verazmente previu estes acontecimentos.
Assim como em muitos se cumprem as profecias, também os demais irmãos se acautelem segundo a instrução do Senhor, quando predisse dizendo: “Acautelai-vos portanto, tudo vos predisse”.[ Mc 13,23.]
Evitai, vos peço, semelhantes homens; apartai de vosso lado e de vossos ouvidos as conversas pestíferas e o contágio da morte, assim está escrito: “Cerquei com espinhos teus ouvidos, não ouças a língua criminosa”.[ Eclo 28,24, conforme a Vulgata.] E de novo: “As conversas más corrompem os bons engenhos”.[ 1Cor 15,33.]
O Senhor admoesta e ensina que devemos nos afastar de tais homens ao dizer: “Cegos condutores de cegos. Quando um cego conduz outro cego, caem ambos na fossa”.[ Mt 15,14.]
Desviai e fugi de quem estiver separado da Igreja; ele é um perverso, peca e se condena a si mesmo.[ Cf. Tt 3,11.]
Quem hostiliza os sacerdotes do Cristo e se subtrai ao convívio do clero e do povo do Cristo pode julgar que está com Cristo?
Quem se revolta contra a disposição de Deus levanta armas contra a Igreja. Inimigo do altar, rebelde ao sacrifício do Cristo, infiel à fé, sacrílego nas coisas santas, servo desobediente, filho ímpio, irmão inimigo que, desprezando os bispos e abandonando os sacerdotes de Deus, ousa elevar um outro altar, exprimir em termos faltosos uma outra prece, profanar com falsos sacrifícios a veracidade da hóstia do Senhor sem refletir que quem se opõe a ordenação de Deus é punido pela correção divina por causa da audácia de sua temeridade.
Coré, Datã e Abiram, que tentaram usurpar para si a licença de sacrificar,[ Cf. Nm 16,8-11.] contrariando Moisés e o sacerdote Aarão, sofreram logo o castigo de sua empresa.
A terra, quebradas as junturas, abriu-se em um profundo abismo e a fenda do solo que se rachava absorveu-os vivos.
A cólera da vingança divina não castigou somente os responsáveis; todos os outros duzentos e cinquenta participantes e cúmplices da revolta, que se associaram a eles para cometer aquela temeridade, todos foram consumidos pelo fogo que saiu do Senhor, cuja vingança não se fez esperar.[ Cf. Nm 16,27-35.]
Eis uma admoestação e uma prova de que é diretamente contra Deus tudo aquilo que os maus experimentam fazer por vontade humana para desacreditar as disposições divinas.
Do mesmo modo o rei Osias, ao levar o turíbulo atribuindo a si com violência a oferta do Sacrifício, e não querendo obedecer e ceder ao sacerdote Azarias, que lhe resistia, foi confundido pela indignação divina e manchado na face com os matizes da lepra. [Cf. 2Cr 26,16-20.]
Sua ofensa ao Senhor foi gravada na parte do corpo em que são assinalados os que se tornam dignos do Senhor.
Também os filhos de Aarão que impuseram no altar um fogo estranho, contra os preceitos do Senhor, foram imediatamente exterminados, na presença do Senhor [Cf. Lv 10,1-2; Nm 3,4.] que se vingava.
Todos aqueles que, tendo desprezado a tradição de Deus, desejam novas doutrinas e introduzem ensinos de instituição humana imitam e seguem estes exemplos.
O Senhor os exprobra e os repreende no seu Evangelho: “Rejeitastes o mandamento de Deus, para instituirdes a vossa tradição”. [ Mc 7,9.]
Esse crime é maior que a admissão dos lapsos que, apesar de tudo, imploram a Deus com abundantes satisfações, submissos à penitência do crime. Aqui, [neste caso,] busca-se e suplica-se à Igreja, lá [no primeiro caso] repele-se a Igreja; aqui pode ter sido por necessidade, lá voluntariamente se adere ao mal; aqui o lapso apenas prejudica a si mesmo, lá quem tentou uma heresia ou cisma ilude e arrasta muitos consigo; aqui há condenação para uma alma, lá, perigo para muitas.
O primeiro, [o lapso,] compreende e chora ter pecado; o segundo, ensoberbecendo-se em seu pecado, comprazendo-se em suas faltas, subtrai os filhos à mãe, lança as ovelhas para longe de seu pastor, perturba os mistérios de Deus.
Enquanto o lapso pecou uma só vez, este peca diariamente. Finalmente, o lapso pode depois conseguir o martírio e alcançar as promessas do Reino; aquele, porém, que foi morto fora da Igreja jamais alcançará os prêmios da Igreja.

8. Confessores não estão livres do erro; cuidado com seus maus exemplos.
Nem ninguém se admire, irmãos caríssimos, terem alguns dentre os confessores se rebaixado a pecar tão vergonhosamente e gravemente.
A confissão não imuniza contra as insídias do diabo, nem protege quem ainda está no mundo com definitiva segurança contra as tentações, os perigos, os ataques e as investidas do mundo; não fosse isso, nunca registraríamos entre os confessores as mentiras, as infâmias e os adultérios que agora constatamos em alguns, choramos e lamentamos.
Quem quer que seja o confessor, não há de ser maior, melhor ou mais caro a Deus que Salomão; ele, enquanto marchou nos caminhos do Senhor, obteve a graça que merecera do Senhor; logo, porém, que abandonou o caminho do Senhor, perdeu também sua graça.
Por isso está escrito: “Guarda o que tens para que outro não receba tua coroa”.[ Ap 3,11.] Sem dúvida o Senhor não ameaçaria tirar a coroa da justiça, senão porque, cessando a justiça, esvai-se também a coroa.
A confissão é o princípio da glória e não a consecução da coroa; ela não completa o louvor, apenas inicia a dignidade; assim como está escrito: “Quem perseverar até o fim, este será salvo”.[ Mt 10,22.]
Tudo o que acontece antes do fim, e por que se passa enquanto se sobe ao cimo da salvação, não é o termo no qual já se tem a sumidade do cume.
Chegou-se [porém] à confissão; mas depois da confissão o perigo é maior, pois o adversário foi provocado mais ainda. Chegou-se à confissão; mantenha-se mais ainda no Evangelho do Senhor quem conseguiu a glória do Senhor pelo Evangelho. Diz, de fato, o Senhor: “A quem mais é dado, mais será exigido; a quem é constituído em maior dignidade, mais serviço lhe será exigido”.[ Lc 12,48.]
Que ninguém pereça pelo exemplo de algum confessor, que ninguém aprenda a injustiça, a insolência e a infidelidade com o procedimento de algum confessor. Que o confessor seja humilde e cordato, modesto e disciplinado em suas ações; imite o Cristo que confessa para que seja chamado confessor. Pois se ele ensina que “Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”,[ Lc 18,14.] também ele próprio, palavra, força e sabedoria de Deus Pai,[ Cf. 1Cor 1,24.] é exaltado pelo Pai porque se humilhou na terra; se promulgou para nós a lei da humildade e recebeu do Pai, como prêmio da humildade, um magnífico nome,[ Cf. Fl 2,6-10.] como pode amar a soberba?
[Verdadeiramente] é confessor do Cristo quem, depois da confissão, não admite blasfêmias contra a majestade e a dignidade do Cristo. Não seja maldizente a língua que confessou o Cristo; não seja turbulenta, não seja ouvida na celeuma das injúrias e disputas, nem, velado em palavras elogiosas, lance o veneno da serpente contra os irmãos e os sacerdotes de Deus.
Finalmente, se se tornar de todo culpado e detestável um confessor, se dissipar sua confissão com péssimo comportamento, se macular sua vida com infames indignidades, se, enfim, desprezando a Igreja onde confessou, dividindo o consenso da unidade, trocar pela infidelidade a antiga fé, não poderá se iludir com sua confissão e se julgar eleito para o prêmio da glória, pois, justamente por causa dela, maiores se tornaram os motivos de seus castigos.
O Senhor escolheu Judas entre os doze Apóstolos. Mas Judas traiu o Senhor.[ Cf. Mt 10,2-4; Mc 3,14-19; Lc 6,13-16.]
No entanto, a fé e a firmeza dos apóstolos não caíram pela defecção do traidor Judas dentre sua companhia. Igualmente, a dignidade e santidade dos confessores não se prejudica simplesmente por ter se quebrado a fé de alguns deles.
O santo apóstolo Paulo o declara em sua epístola quando diz: “Ora essa! Se alguns deles deixaram de crer, sua infidelidade tornou vã a fidelidade de Deus? De modo nenhum; Deus é veraz, todo homem, ao contrário, é mentiroso?”.[ Rm 3,3-4.]
A maior e melhor parte dos confessores está de pé na fortaleza de sua fé, na veracidade da lei e disciplina do Senhor. Não se afastam da paz da Igreja, estão lembrados que por mercê divina conseguiram na Igreja a graça de Deus. Desse modo cresce o louvor de sua fé, pois souberam se afastar do contágio do crime evitando a infidelidade daquele que juntos confessaram unanimemente. Vencendo o diabo no combate, e tornando-se dignos de louvor na conservação da paz do Cristo, iluminam-se com o verdadeiro lume do Evangelho, brilham à luz pura e cândida do Senhor.

O que você destaca no texto?
Como foi útil para sua espiritualidade?

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