terça-feira, 26 de maio de 2020

136 - Cipriano de Cartago (210-258) A Unidade da Igreja – Partes 5 e 6

Frases de São Cipriano de Cartago (†... - Apologética Católica ...
136
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Unidade da Igreja – Partes 5 e 6




5. Unidade e sectarismo, as interpretações legítima e incorreta de Mt 18,20
Nem venha alguém se enganar por uma superficial interpretação do que disse o Senhor: “Onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou com eles”.[ Mt 18,20.]
Os corruptores do Evangelho, falsos intérpretes, aproveitam a conclusão desprezando o que a precede; recordam-se de uma parte, e ardilosamente suprimem a outra; assim como se separam da Igreja, separam as sentenças de um único capítulo.
O Senhor, aconselhando paz e unanimidade a seus discípulos, disse: “Eu vos asseguro que se dois de vós concordarem em todas as coisas na terra, tudo o que pedirdes servos-á dado por meu Pai que está nos céus. Onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou no meio deles”.[ Mt 18,19-20.]
Mostrou assim ser ouvida não a multidão, mas a unanimidade dos que imploram.
“Se dois de vós concordarem na terra”: primeiro colocou a unanimidade, impôs a concórdia da paz como condição; desse modo nos ensina como nos podemos reunir fiel e firmemente. Como, porém, pode alguém concordar com outro se discorda do corpo da Igreja mesma e da comunidade dos irmãos?
Como podem dois ou três se associarem em nome de Cristo, se permanecem separados do Cristo e de seu Evangelho? Foram eles que se separaram, não nós; pois as heresias e os cismas são posteriores; foram eles que, ao constituírem para si pequenas e diversas assembleias, abandonaram o princípio e a origem da verdade.
O Senhor, no entanto, fala de sua Igreja, daqueles que estão na Igreja; se estes, ainda que sejam só dois ou três, concordarem em se unirem para orar juntamente, segundo ele mandou e aconselhou, obterão o que pedem da majestade de Deus.
“Onde quer que estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou entre eles”: entre os simples e pacíficos, os que temem a Deus e guardam seus preceitos.
Deus declara estar entre estes dois ou três como esteve entre os três jovens da fornalha  ardente.[ Cf. Dn 3,49.]
Concordes diante de Deus, permaneciam eles unânimes entre si, por isso foram confortados no meio das chamas pelo sopro da brisa. [Cf. Dn 3,50.]
 Igualmente o Senhor esteve presente entre os dois apóstolos fechados na prisão,[ Cf. At 5,18-19.] pois mantinham-se eles unânimes e concordes; depois, aberto o recinto do cárcere, enviou-os à praça pública para transmitirem à multidão a palavra que fielmente pregavam.[ Cf. At 5,20-21.]
Quando, portanto, colocou entre seus preceitos e declarou: “Onde estiverem dois ou três, estou entre eles”,[ Mt 18,20.] não separou os homens da Igreja que instituíra e fundara; mas, exprobrando a discórdia dos infiéis, recomendou a paz aos fiéis. Mostrou que é melhor estar entre dois ou três unânimes na oração, que entre muitos dissidentes;  mostrou mais valer a oração concorde de poucos que a prece turbulenta de muitos.
Por conseguinte, ao dar a lei da oração, acrescentou dizendo: “Quando vierdes para orar, perdoai o que acaso possais ter contra alguém, para que também o vosso Pai que está nos céus perdoe vossos pecados”.[ Mc 11,25.]
Ele afasta do altar quem vem ao sacrifício com alguma desavença e ordena que vá primeiro reconciliar-se com o irmão e então, de posse da paz, volte para oferecer a Deus seus dons.[ Cf. Mt 5,23-24.]
Com efeito, Deus não considerou as ofertas de Caim,[ Cf. Gn 4,4-5.] pois não pode encontrar a paz em Deus quem, por dissentimento da inveja, não estiver em paz com o irmão.
Que paz podem prometer-se os inimigos dos irmãos? Que sacrifício podem celebrar os imitadores dos sacerdotes? Os que se reúnem fora da Igreja de Cristo julgam acaso ter consigo, em suas assembleias, o Cristo?


6. Não há verdadeiro martírio para quem abandona a Igreja
Esses tais, de fato, ainda que morram pela confissão do nome dele, nem pelo sangue terão essa mancha apagada. Nem mesmo o sofrimento purifica essa inexpiável e grave culpa da discórdia. Não pode ser mártir quem não está na Igreja; não pode alcançar o reino quem abandonou aquela que está destinada a reinar.
O Cristo nos deu a paz, deixou-nos o preceito da concórdia e unanimidade, o mandamento de uma incorruptível e inviolável aliança, no amor e na caridade.
Não se pode apresentar como mártir quem não possui a caridade fraterna. Eis o que ensina e testifica o Apóstolo ao dizer: “Ainda que eu tenha a fé para transportar montanhas, nada sou se não tiver caridade. Mesmo se distribuísse todos os bens em alimento, e entregasse meu corpo para ser queimado, nada me adiantaria.
A caridade é magnânima, a caridade é benigna, a caridade não disputa, não se incha, não se irrita, não age perversamente, não pensa o mal, tudo ama, em tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade nunca acabará”.[ 1Cor 13,2-5; 7-8.]
Nunca, diz o Apóstolo, nunca cessará a caridade. Ela permanecerá no Reino para sempre, durará eternamente na unidade coesa da comunidade dos irmãos.
A discórdia não pode alcançar o Reino dos céus; quem, dissentindo perfidamente, violou o amor do Cristo não pode participar do prêmio de Cristo, que disse: “Este é o meu mandamento, amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.[ Jo 15,12.]
Quem não tem a caridade não tem Deus. Eis o que diz o beato apóstolo João: “Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus permanece nele”.[ 1Jo 4,16.]
Já que não podem, pois, permanecer em Deus aqueles que não quiserem ficar unânimes na Igreja de Deus – embora se queimem, entregues ao fogo e às chamas, ou lançados às feras deponham suas almas –, não terão a coroa da fé nem o trânsito magnífico da religiosa coragem, mas o castigo da infidelidade e a morte do desespero. Pode ser morto, mas não pode ser coroado.
Assim, não importa que se digam cristãos, pois muitas vezes o diabo ilude com o próprio Cristo, conforme admoestou e declarou o Senhor mesmo: “Muitos virão em meu nome dizendo: ‘Eu sou o Cristo’, e enganarão a muitos”.[ Mc 13,6.]
Assim como não é o Cristo, malgrado a aparência do nome, também não pode ser tido como cristão quem não permanece na verdade da fé e do Evangelho.
Com efeito, profetizar, expulsar demônios, fazer grandes prodígios na terra, não há dúvida, é coisa admirável e sublime; mas não conseguirá o reino celeste, apesar disso tudo, senão quem marchar pela observância no caminho da retidão e da justiça.
O Senhor nos previne, dizendo: “Muitos me hão de dizer naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, em teu nome não expulsamos demônios, não fizemos, em teu nome, grandes prodígios?’. Dir-lhes-ei então: ‘Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade’”.[ Mt 7,22-23.]
É preciso justiça para ser julgado digno por Deus; seus preceitos e admoestações devem ser obedecidos para que nossos méritos recebam a recompensa.
O Senhor, orientando nosso caminhar com um resumo da fé e da esperança, declarou no Evangelho: “O Senhor teu Deus é um só, amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma, com toda tua força. Esse é o primeiro; o segundo é semelhante a esse: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois preceitos estão toda a lei e os profetas”.[ Mc 12,29; Mt 22,40.]
Assim ensinou, com sua autoridade, a união e o amor, incluindo a lei e os profetas em dois preceitos. Acaso conserva a unidade, guarda o amor quem divide a Igreja com insensata e furiosa discórdia, destrói a fé, perturba a paz, malbarata a caridade e profana o sacramento?


O que destaco no texto?
Como o texto me auxilia em minha espiritualidade?

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