segunda-feira, 4 de maio de 2020

133 - Cipriano de Cartago (210-258) A Oração do Senhor (15-16) - última parte.






JESUS O HOMEM CONTEMPLATIVO | O CAMINHO DO CORAÇÃO

133
Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
A Oração do Senhor (15-16)




15. Oração e caridade
Quem ora não venha a Deus com preces estéreis e despidas. É ineficaz o pedido dirigido a Deus em oração estéril.
Pois, se toda árvore que não produz frutos será cortada e lançada ao fogo, (Mt 3.10) certamente também a palavra sem fruto não pode ser acolhida por Deus, porque nenhuma boa obra a tornou fecunda.
Por isso, a Escritura Divina nos instrui, dizendo: “A oração é boa com o jejum e a esmola”. (Tobias 12.8 / At 10.2)
 Pois aquele que no dia do juízo vai premiar as boas obras e as esmolas vai ouvir hoje quem vem à oração com boas obras.
Dessa maneira o Centurião Cornélio mereceu ser ouvido quando orava. Ele distribuía muitas esmolas ao povo e sempre orava a Deus. Apareceu-lhe quando orava, na hora nona, um anjo que deu testemunho de suas obras, dizendo: “Cornélio, as tuas orações e esmolas subiram à presença de Deus”. (At 10.31)
Sobem rapidamente a Deus as orações elevadas pelos méritos das nossas boas obras.
Assim, declarou o anjo Rafael a Tobias, que sempre orou e praticou boas obras, dizendo: “É honroso revelar e confessar as obras de Deus. Pois quando tu estavas com Sara, eu fiz menção da tua oração diante da glória divina. Quando sepultavas com simplicidade os teus mortos, quando não hesitavas em levantar-te e abandonar a tua refeição para sair e velar um morto, fui enviado para provar-te. Agora de novo me mandou Deus para curar a ti e a tua nora Sara. Eu sou Rafael, um dos sete anjos santos que assistem e habitam diante da glória divina” (Tobias 3.16,17).
O Senhor também adverte e ensina coisas semelhantes por Isaías: “Rompe todas as cadeias da injustiça, dissolve as sufocações das relações deprimentes. Manda em paz os oprimidos e destrói o tratado injusto. Reparte o teu pão com o faminto e recolhe em tua casa o sem-teto. Se vires alguém nu, veste-o; não desprezes os domésticos de tua espécie. Então, a tua luz aparecerá bem cedo, surgirá prontamente a veste para ti, a justiça andará à tua frente e a glória de Deus te guardará. Então Deus te ouvirá quando o invocares, de novo ele dirá: ‘Eis-me aqui’”. (Is 58.7,8).
Diz o Senhor ouvir e proteger os que rompem do seu coração as cadeias da injustiça e fazem esmolas aos domésticos de Deus segundo o preceito e promete estar ao seu lado.
Merecem ser ouvidos por Deus os que ouvem o que ele preceituou. O bem-aventurado apóstolo Paulo, quando foi ajudado pelos irmãos nas necessidades da desventura, chama de sacrifício a Deus a boa obra que praticavam: “Estou na abundância”, diz ele, “depois que recebi o que me enviaste por Epafrodito, esse perfume suave, esse sacrifício grato e agradável a Deus”(Fp 4.18).
Pois quando alguém se compadece do pobre, empresta a Deus (Pv 19.17); quando alguém dá aos pequenos, doa a Deus e sacrifica-lhe espiritualmente um sacrifício de suave odor.

16. As horas canônicas
Encontramos, ainda, que, na celebração das orações, os três jovens e Daniel, fortes na fé e vitoriosos no cativeiro, observaram as horas terça, sexta e nona, (Dn 6.10) prefigurando, com isso, o mistério da Trindade que nos últimos tempos havia de manifestar-se.
Com efeito, da primeira até a terceira hora vemos completar-se o número trinitário.
Novamente aparece uma segunda trindade da quarta até a sexta hora.
Igualmente, partindo da sétima até a nona hora, realiza-se uma nova trindade e assim verificamos pela disposição ternária destas três horas a perfeita trindade.
Já há muito tempo os adoradores de Deus haviam determinado espiritualmente estas disposições das horas e as observaram como tempos legítimos para a oração.
Tornou-se claro, mais tarde, ter sido apenas em figura que antigamente os justos oravam dessa maneira. Pois, na terceira hora, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos, (At 2.1-5) enchendo-os com a graça que o Senhor prometera.
Na sexta hora, Pedro, que até então duvidara da salvação dos gentios, subindo ao teto, é advertido e instruído por uma voz e um sinal de Deus que devia admitir todos à graça da salvação (At 10.9).
Na sexta hora, ainda, o Senhor é crucificado, (Mc 15.25 / Jo 19.14-18) lavando com seu sangue, até à nona hora, os nossos pecados, e consumando, então, pela sua paixão, a vitória para que nos pudesse reunir e vivificar.
Para nós, porém, irmãos caríssimos, além das horas antigamente observadas na oração, aumentaram os tempos e os mistérios.
Com efeito, devemos orar de manhã, para celebrar com a oração matutina a Ressurreição do Senhor.
O Espírito Santo outrora indicou [isso] nos Salmos, dizendo: “Meu Rei, meu Deus, porque é a ti que eu orarei, Senhor, desde a manhã; desde a manhã estou diante de ti e te contemplo e ouvirás a minha voz” (Sl 5.3).
Novamente, pelo profeta, diz o Senhor: “Ao romper da aurora estarão vigilantes sobre mim, dizendo: vamos, voltemos ao Senhor Nosso Deus” (Os 6.1).
Assim [também], quando o sol se põe e termina o dia, novamente é necessário que se ore.
Pois, como o Cristo é o verdadeiro sol e o verdadeiro dia, oramos e pedimos, no momento em que desaparecem o sol e o dia, segundo o tempo, que a luz reapareça sobre nós; suplicamos pelo advento do Cristo que nos dará a graça da luz eterna.
E o Cristo é, de fato, declarado “o dia” pelo Espírito Santo nos Salmos: “A pedra desprezada pelos edificadores tornou-se uma pedra angular. Foi pelo Senhor que isso foi feito e é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que fez o Senhor; alegremos e jubilemos nele” (Sl 117.22-24).
Igualmente Malaquias afirma que ele é chamado “o sol”, dizendo: “Para vós, porém, que temeis o nome do Senhor, nascerá o sol da justiça e nas suas asas estará a salvação” (Ml 3.2).
Portanto, se o Cristo é chamado, nas Escrituras Santas, o verdadeiro sol e o verdadeiro dia, não há hora em que o cristão possa ser menos frequente e contínuo na adoração a Deus.
Nós que vivemos no Cristo, isto é, no verdadeiro sol e no verdadeiro dia, devemos permanecer em prece, o dia inteiro na oração.
Mesmo quando, seguindo o curso da lei do universo, vem a noite, as suas trevas não acarretarão o menor prejuízo aos que oram; pois, para os filhos da luz, até durante a noite é dia.
Com efeito, quando poderá estar sem luz quem a tem no coração? Quando não haverá sol, quando não será dia, para quem o Cristo é o sol e o dia? Nós que estamos sempre no Cristo, isto é, na luz, nem de noite interrompamos a oração.
Assim Ana, a viúva, orando e vigiando sempre e continuamente, perseverava na graça de Deus, como está escrito no Evangelho: “Não se afastava do templo, servindo noite e dia com jejuns e orações” (Lc 2.37).
Digam o que quiserem os gentios que ainda não foram iluminados pela luz, ou os judeus que, desprezando-a, se entregaram às trevas e [nelas] permaneceram. Nós, irmãos diletíssimos, que estamos sempre na luz do Senhor, que lembramos do que começamos a ser pela graça e o conservamos, contemos a noite como dia.
Creiamos andar sempre na luz, e não nos deixemos penetrar novamente pelas trevas que já afugentamos.
Que a nossa prece não sofra diminuição nas horas noturnas, que não haja uma perda preguiçosa e fraca nas orações.
Renascidos e recriados espiritualmente pela indulgência de Deus, imitemos o que havemos de ser no futuro.
Iremos habitar um Reino que é só dia, sem noite.
Velemos, pois, durante a noite como se estivéssemos na luz.
Nele estaremos continuamente em oração e ação de graças a Deus, aqui também não deixemos de orar e dar graças.

O que você destaca no texto?
Como este texto serviu para sua espiritualidade?



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