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Estudo sobre os Pais da Igreja: Vida e Obra
Cipriano de Cartago (210-258)
O
Bem da Paciência – 7-10
7. A
necessidade da paciência, nascemos para lutar contra as adversidades da vida mortal
A fim de que se
conheça mais clara e plenamente, irmãos diletíssimos, o quanto a paciência é
útil e necessária, considere-se a sentença de Deus que Adão, esquecido do
preceito e transgressor da lei promulgada, recebeu logo no início do mundo e do
gênero humano.
Então saberemos o
quanto devemos ser pacientes neste mundo, nós que assim nascemos: para aqui
lidar em apertos e embates.
Diz [a sentença
divina]: “Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste daquela árvore, da única
da qual te ordenara eu que não comesses, a terra será maldita em todas as tuas
obras: com tristeza e lamento, dela comerás todos os dias de tua vida; brotarão
para ti espinhos e abrolhos, e comerás erva do campo; com o suor do teu rosto
comerás o teu pão, até que voltes à terra da qual foste tirado: porque és terra
e irás para a terra”.[ Gn
3,17-19.]
Estamos todos
ligados e constrangidos pelos laços dessa sentença, até que, passada a morte,
nos retiremos deste mundo. É inevitável que estejamos, todos os dias da nossa
vida, na tristeza e no lamento, e também que comamos o pão com o suor do
trabalho.
Por isso, cada um de
nós, quando nasce e é recebido na hospedagem deste mundo, começa pelas
lágrimas. Se bem que ainda de tudo desconhecedor e ignorante, nada se sabe, por
ocasião daquele primeiro nascimento, senão chorar.
Por natural
providência, a alma recém-nascida, logo nos seus exórdios, lamenta as
ansiedades desta vida mortal e testemunha, pelo choro e pelo pranto, as fadigas
e as tempestades do mundo, nas quais ingressa.
Com efeito, se sua e
se labuta todo o tempo em que se vive por aqui. Não podem vir em socorro dos
que suam e se fadigam outros alívios melhores que os da paciência, os quais,
enquanto bons e necessários para todos neste mundo, o são mais ainda para nós que,
atacados pelo diabo, somos mais molestados.
[Os alívios da
paciência são bons e necessários mais ainda] para nós que, encontrando-nos
diariamente no combate, somos importunados pelos assaltos de um inimigo
experimentado e manhoso.
[Os alívios da paciência
são bons e necessários mais ainda] para nós que, além das diversas e frequentes
lutas das tentações, também temos, no certame das perseguições, de abandonar as
riquezas, de enfrentar o cárcere, de ser postos a ferros, de dar a vida, de suportar,
na fé e na virtude da paciência, a espada, as feras, as fogueiras, as cruzes e,
finalmente, todas as espécies de tormentos e de penas.
É o próprio Senhor
quem nos instrui, dizendo: “Falei-vos essas coisas para que em mim tenhais a
paz; no mundo, porém, tereis aflição, mas confiai, porque eu venci o mundo”.[ Jo 16,33.]
Se nós, que
renunciamos ao diabo e ao mundo, sofremos com maior frequência e violência os
apertos e vexames do diabo e do mundo, tanto mais devemos conservar a paciência,
com a qual, como auxiliar e companheira, aguentaremos todas as adversidades.
8. Paciência e esperança
É preceito salutar
de nosso Senhor e Mestre: “Aquele que aguentar até o fim, este será salvo”.[ Mt 10,22.]
E de novo: “Se
permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. [Jo 8,31-32.]
É preciso aguentar e
perseverar, irmãos diletíssimos, a fim de que, uma vez introduzidos na
esperança da verdade e da liberdade, possamos alcançar a própria verdade e a
própria liberdade. Pois o fato de sermos cristãos é questão de fé e de esperança.
Mas para que a esperança e a fé possam chegar ao seu fruto, é preciso paciência.
Com efeito, não
procuramos a glória presente, mas a futura, conforme o que o Apóstolo Paulo
adverte, dizendo: “Fomos salvos na esperança. Uma esperança, porém, que se vê,
não é esperança; o que alguém vê, por que esperá-lo? Se, porém, esperamos o que
não vemos, aguardamos na expectativa”.[ Rm 8,24-25.]
Por isto a
expectativa e a paciência são necessárias, para completarmos o que começamos, e
para nos apossarmos daquilo que, apresentado por Deus, cremos e esperamos.
Depois, noutro
lugar, o mesmo Apóstolo instrui e ensina os justos, os laboriosos e os que
ocultam para si tesouros celestes graças ao lucro dos juros divinos, para que
também sejam pacientes, dizendo: “Por conseguinte, enquanto temos tempo façamos
o bem a todos, sobretudo, porém, aos irmãos na fé. Não desanimemos ao fazer o bem;
com efeito, a seu tempo colheremos”.[ Gl 6,10.9.]
Adverte para que
nenhum impaciente desanime no trabalho, para que ninguém, distraído ou vencido
pelas tentações, desista a meio caminho do louvor e da glória, e assim venham a
perder-se as obras passadas, por não serem levadas a cabo as que tinham sido
começadas, conforme está escrito: “A justiça do justo não o livrará em qualquer
dia em que ele se perder”.[ Ez 33,12.] E outra vez: “Segura o que tens, a fim de que outro não tome a tua
coroa”.[ Ap 3,11.]
Estas palavras
exortam a perseverar corajosa e pacientemente, a fim de que seja coroado na
paciência quem se esforça, estando já próxima a glória, por obter a coroa.
9. A paciência luta contra o mal
E a paciência,
irmãos diletíssimos, não somente con serva as coisas boas, mas também afasta as
adversas. Bem disposta ao Espírito Santo e ligada ao que é celestial e divino
contra as obras da carne e do corpo, pelas quais é a alma atacada e seduzida, a
paciência resiste com a defesa de suas forças.
Consideremos, por conseguinte,
alguns dentre muitos casos que há, a fim de que, por esses poucos, [todos] os
demais sejam compreendidos.
O adultério, a
fraude e o homicídio são pecados mortais: haja uma sólida e constante paciência
no coração, e o corpo santificado e feito templo de Deus não será poluído pelo
adultério; a inocência consagrada à justiça não será corrompida pelo contágio
da fraude; e a mão, depois de trazer a Eucaristia, não será maculada pela
espada e pelo sangue.
10. A caridade se une à paciência
A caridade é vínculo
de fraternidade, fundamento de paz, vigor e firmeza de unidade; é maior do que
a fé e a esperança, sobrepuja as obras boas e os martírios, e, sendo eterna,
sempre permanecerá conosco nos reinos celestiais; tire-se-lhe a paciência e,
desamparada, não durará. Tire-se-lhe a capacidade de suportar e de aguentar e,
sem raízes nem forças, não perseverará.
Com efeito, o
Apóstolo, quando falou da caridade, lhe acrescentou a tolerância e a paciência.
Diz ele: “A caridade é magnânima, a caridade é benigna, a caridade não inveja,
não se envaidece, não se irrita, não pensa o mal, a tudo ama, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta”.[ 1Cor
13,4-7.]
Com isso, ele mostra
que ela pode perseverar sem desfalecimento, porque sabe suportar tudo. E noutro
lugar diz: “Suportando-se mutuamente na caridade, fazendo o possível para
conservar a unidade do Espírito na união da paz”.[ Ef 4,3.2.]
Provou que não se pode
conservar nem a unidade nem a paz, sem que os irmãos se tratem uns aos outros com
mútua tolerância, e guardem, por meio da paciência, o vínculo da concórdia.
O que você destaca no texto?
Como ele serve para sua espiritualidade?
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