sábado, 5 de junho de 2021

169 - Atanásio de Alexandria (285-373) - A Vida de Santo Antão (Parte II: 4,5 – Parte III)

 


169

Atanásio de Alexandria (285-373)

A Vida de Santo Antão (Parte II: 4,5 – Parte III)

 

Parte II

 

4 - Perseverança e vigilância

1.      "Com estes pensamentos cada qual deve convencer-se de que não deve descuidar-se, mas considerar-se servo do Senhor e preso ao serviço de seu Mestre.

2.      Um servo, porém, não se atreve a dizer: "Já que trabalhei ontem, não vou trabalhar hoje".

3.      Tampouco vai se por a calcular o tempo em que já serviu e descansar durante os dias que lhe ficam pela frente; não, dia após dia, como está escrito no evangelho ( Lc 12.35-38; 17.7-10; Mt 24.45), mostra a mesma boa vontade para que possa agradar a seu patrão e não causar nenhum incômodo.

4.      Perseveremos, pois, na prática diária da vida ascética, sabendo que se somos negligentes um só dia, Ele não nos vai perdoar em consideração ao tempo anterior, mas vai aborrecer-se conosco por nosso descuido.

5.      Assim o ouvimos em Ezequiel (Ez 18.24-26; 32.12s); assim Judas, numa só noite, destruiu o trabalho de todo o seu passado.

6.      Por isso, filhos, perseveremos na prática do ascetismo e não desanimemos.

7.      Também nisso temos o Senhor que nos ajuda, diz a Escritura: 'Deus coopera para o bem de todos os que o amam' (Rm 8.28).

8.      E quanto a não devermos descuidar-nos, é bom meditar o que diz o Apóstolo: 'Morro cada dia' (1Co15.31).

9.      Realmente se também nós vivêssemos como se cada novo dia fôssemos morrer, não pecaríamos. Quanto à citação, seu sentido é este: ao despertarmos cada dia, deveríamos pensar que não vamos viver até à tarde; e de novo, quando vamos dormir, deveríamos pensar que não chegaremos a despertar.

10.  Nossa vida é insegura por natureza, e diariamente nos é medida pela Providência.

11.  Se com esta disposição vivemos nossa vida diária, não cometeremos pecado, nada cobiçaremos, não nos mancharemos com ninguém, não acumularemos tesouros na terra; mas como quem cada dia espera morrer, seremos pobres e perdoaremos tudo a todos.

12.  Desejar mulheres ou outros prazeres desonestos, tampouco teremos semelhantes desejos mas lhes voltaremos as costas como coisas transitórias, combatendo sempre e tendo ante os olhos o dia do juízo.

13.  O maior temor ao juízo e o desassossego pelos tormentos dissipam invariavelmente a fascinação do prazer e fortalecem o ânimo vacilante.

 

5 - Objeto da virtude

14.  Agora que temos um começo e estamos na senda da virtude, alarguemos ainda mais nosso passo para alcançar o que temos adiante (cf Fl 3.13).

15.  Não olhemos para trás, como o fez a mulher de Lo (Gn 19.26), sobretudo porque o Senhor disse: "Quem põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino dos céus" (Lc 9.62).

16.  E este olhar para trás não é outra coisa senão arrepender-se do começado e lembrar-se de novo do que deixara no mundo.

17.  Quando ouvirem falar da virtude, não se assustem nem a tratem como palavra estranha.

18.  Realmente não está longe de nós nem seu lugar está fora de nós; está dentro de nós, e sua realização é fácil contanto que tenhamos vontade (cf Dt 30.11ss).

19.  Os gregos viajam e cruzam o mar para estudar as letras; nós, porém, não temos necessidade de nos por a caminho pelo reino dos céus nem de cruzar o mar para alcançar a virtude.

20.  O Senhor no-lo disse de antemão: 'O Reino dos céus está dentro de vós' (Lc 17.21).

21.  Por isso a virtude só necessita de nossa vontade, já que está dentro de nós e brota de nós. A virtude existe quando a alma se mantém em seu estado natural. É mantida nesse estado natural quando permanece como veio a ser. E veio a ser limpa e perfeitamente íntegra (cf Ec 7.30).

22.  Por isso Josué, o filho de Nun, exortou ao povo com estas palavras: 'Mantenham íntegros seus corações diante do Senhor, o Deus de Israel (Js 24.23); e João: 'Endireitem seus caminhos' (Mt 3.3).

23.  A alma é reta quando a mente se mantém no estado em que foi criada. Mas quando se desvia e se perverte de sua condição natural, isso se chama vício da alma.

24.  A tarefa não é difícil: se ficamos como fomos criados, estamos no estado de virtude; mas se entregamos nossa mente a coisas baixas, somos considerados perversos.

25.  Se esse trabalho tivesse de ser realizado de fora, seria em verdade difícil; mas estando dentro de nós, acautelemo-nos contra os pensamentos maus.

26.  E tendo recebido a alma como sendo confiada a nós, guardemo-la para o Senhor, a fim de que Ele possa reconhecer sua obra, tal qual a fez.

 

Parte III

27.  Lutemos, pois, para que a ira não nos domine nem a concupiscência nos escravize; pois está escrito que 'a ira do homem não faz o que agrada a Deus' (Tg 1.20).

28.  E a concupiscência 'depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte' (Tg 1.15).

29.  Vivendo esta vida, mantenhamo-nos cuidadosamente atentos e, como está escrito, 'guardemos nosso coração com a máxima vigilância' (Pv 4.23).

30.  Temos inimigos poderosos e fortes: são os malvados demônios; e contra eles é nossa luta', como diz o Apóstolo, 'não contra gente de carne e osso, mas contra forças espirituais de maldade espalhados nos ares, isto é, os que têm autoridade e domínio sobre este mundo tenebroso (Ef 6.12).

31.  Grande é seu número no ar e em redor de nós, e não estão longe de nós.

32.  Mas a diferença entre eles é considerável. Levaria muito tempo para dar uma explicação de sua natureza e distinções, e tal investigação é para outros mais competentes do que eu; o único urgente e necessário para nós agora é só conhecer suas vilanias contra nós.

 

O que você destaca no texto e como ele serve para sua espiritualidade?

O que você destaca na fala do seu irmão/irmã?

 

 

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