terça-feira, 7 de setembro de 2021

Encontro 181 - Atanásio de Alexandria (285-373) - Sobre a Encarnação - Introdução


 



Encontro 181

Atanásio de Alexandria (285-373)

Sobre a Encarnação

Introdução

 

Introdução à Obra Encarnação do Verbo

1.      Por volta de 320, antes mesmo de seu episcopado e da controvérsia ariana, Atanásio, ainda jovem diácono, teria composto sua primeira obra, uma apologia em dois livros intitulada: Discurso contra os pagãos e Sobre a encarnação do Verbo.

2.      É um tratado redigido segundo todas as regras da arte. Estes dois títulos são frequentemente aceitos como compondo uma obra única em dois volumes.

3.      O primeiro livro é uma refutação do paganismo. O segundo, isto é, Sobre a encarnação do Verbo, pode ter sido escrita depois de um intervalo, pois apresenta algumas diferenças de posições, explica as razões da encarnação e a demonstração do cristianismo.

4.      No centro da história está a cruz e a ressurreição de Jesus: “A redenção não é obra de um morto, mas de um vivo que é Deus”.

5.      A encarnação sublinha, contra judeus e pagãos, a fraqueza humana e a iniciativa divina do Verbo e é, sem dúvida, sua obra mais original e significativa.

6.      Sua datação, a de 320, não é segura porque não há nela nenhuma referência clara à controvérsia ariana.

7.      Ário negava a consubstancialidade do Pai e do filho, afirmando, pelo contrário, que o Verbo — embora superior às criaturas — é inferior ao Pai. Mas, como também as Cartas Festivas (Pascais) não mencionam Ário e sua doutrina, antes de 338, muitos estudiosos preferem a data de 335 ou 337 para a redação da Encarnação do Verbo.

8.      Outro elemento da argumentação para uma data mais tardia é a sua relativa dependência da Teofania de Eusébio de Cesaréia, escrita por volta de 333.

9.      O certo é que, devido especialmente a esta obra, Atanásio é considerado o pioneiro da nova teologia da trindade.

10.  Defensor da tradição eclesial, está muito menos aberto às sugestões provenientes da filosofia. Enquanto os arianos sustentavam que o Logos é uma criatura trazida à existência antes da criação do mundo, como prelúdio da obra criadora de Deus, Atanásio ensinava que ele é plenamente divino e coeterno ao Pai.

11.  Defendia a igualdade de natureza, de substância e de dignidade com o Pai. Atanásio diz que a essência do Pai com toda a bondade, sabedoria e poder que lhe pertencem é, necessária, plena e eternamente, comunicada ao Filho.

12.  O que é reservado ao Pai é seu título de Pai e sua posição como origem última de todas as coisas.

13.  Ário sustentava que o Filho era uma criatura, um produto da vontade do Pai. Atanásio contestava: o nome de “Filho” encerra o conceito de ser gerado. Ser gerado não significa provir da vontade do Pai, mas da substância do Pai.

14.  Em consequência, o Filho de Deus não pode ser chamado apenas criatura do Pai, visto que tem com ele a plenitude da divindade.

15.  Deus sendo espírito é indivisível, sua geração portanto, é comparada com a irradiação da luz do sol, ou exteriorização do pensamento que vem da alma. Pai e Filho são dois, mas têm a mesma natureza.

16.  Quando Jesus diz: “O Pai é maior do que eu”, não revela, como dizia Ário, a superioridade do Pai sobre o Filho, mas significa: o Pai é a origem, o Filho, a derivação (3,3; 4).

17.  A doutrina de Atanásio acerca do Logos, enraíza-se na ideia de Redenção. Assim ele afirma: não teríamos sido resgatados se Deus mesmo não houvesse assumido nossa natureza humana. Portanto, se Cristo não fosse Deus. O Logos, que é Deus, unindo-se à natureza humana, divinizou a humanidade. Se fosse Deus, não por natureza, mas por participação, não teria podido comunicar essa divinização. Graças à encarnação, a alma é regenerada, criada de novo à imagem de Deus.

18.  O homem é renovado. Não é o corpo somente, mas o homem inteiro que tem necessidade de redenção. Só um Deus podia nos resgatar “Uma criatura não podia unir a criatura a Deus; uma parte da criação não pode alcançar a salvação à criação, ela mesma tendo necessidade de salvação (Contra arianos II, 69).

19.  Uma criatura não teria podido criar. Uma criatura não podia de modo algum nos resgatar” (Ad Adelphium, 8: Ad Maximum, 3).

20.  A cristologia de Atanásio proclama o Verbo divino operante em três âmbitos: Ele é eternamente unido ao Pai; governa o mundo que criou como Logos; no tempo oportuno, nasce como homem e se une à nossa estirpe. Seu significado é universal, e é evidente que ele tomou o corpo de um homem individual ( Sobre a encar. 9, l7,42)., o santificou, realizou através dele milagres e o ofereceu em sacrifício.

21.  Sublinhando o corpo humano ou a carne de Cristo, Atanásio pode apresentar a ínfima natureza humana como capaz de salvação, enquanto platônicos afirmavam que só a alma racional sobreviveria.

22.  “O tratado sobre a encarnação examina a manifestação do Verbo do Pai não mais na alma do homem ou no criado, mas no corpo, como coroamento da obra de Deus e via suprema para o conhecimento de Deus. (...) Esta obra é uma criação original de Atanásio e a primeira tentativa de expor organicamente a fé cristã tomando como ponto de referência a manifestação do Verbo na carne” (Enzo Bellini. L’Incarnzione del Verbo. Collona di testi patristici 2. Roma, Città Nuova Edittrice, 1993, p. 11)

 

 

INTRODUÇÃO

Unidade da obra divina

23.  Na obra precedente, tratamos suficientemente apenas de mínima parte de vasta matéria: o erro e o temor supersticioso dos gentios relativamente aos ídolos, e a invenção primitiva deste erro, pois a malícia dos homens induziu-os a conceber a idolatria.

24.  Além disso, com a graça de Deus, demos algumas indicações sobre a divindade, a providência e o poder universais do Verbo do Pai. O Pai, em sua bondade, por meio dele tudo ordenou, por ele tudo move e nele vivifica (cf. At 17,28a).

25.  Vamos prosseguir, caríssimo e verdadeiro amigo de Cristo, e, de acordo com a fé de nossa religião, narrar cuidadosamente a encarnação do Verbo, e expor a epifania divina em nosso favor.

26.  Os judeus a caluniam, os gregos dela zombam (cf. 1Cor 1,22), quanto a nós, nós a adoramos. Desta forma, a aparente humilhação do Verbo, ao invés, dar-te-á relativamente a ele piedade maior e mais intensa.

27.  Com efeito, quanto mais a ridicularizam os infiéis, tanto mais se atesta a sua divindade. De fato, o Verbo revela a possibilidade do que os homens não admitem e julgam impossível, zombam e reputam inconveniente, mas ele mostra ser perfeitamente adequado à sua bondade.

28.  O Verbo por seu poder revela ser divino (cf. 1Cor 1,22.24) aquilo de que se ri a sabedoria dos homens, tendo-o por fraqueza humana. A pretendida humilhação da cruz derruba os ídolos ilusórios. Converte ocultamente os zombadores e descrentes e faz com que nele reconheçam divindade e poder.

29.  Faz-se mister, em vista desta exposição, recordar o que dissemos mais acima, a fim de conheceres a causa da manifestação corporal deste Verbo do Pai, tão grande e poderoso, e não cogitares ter sido por consequência natural que o Salvador teve um corpo; ao invés, embora seja por natureza incorpóreo e Verbo, devido à filantropia e bondade do Pai e em prol de nossa salvação, manifestou-se num corpo humano.

30.  Convém, portanto, ao enunciar essas questões, falar primeiro da criação do universo e de Deus Criador, para em seguida poder contemplar devidamente a renovação operada pelo Verbo que tudo criara no princípio. Não se encontrará contradição alguma no fato de que o Pai opera a salvação da criatura por meio do mesmo por quem ele a fizera.

 

O que você destaca no texto?

Como ele serve para sua espiritualidade?

 

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